sábado, 1 de novembro de 2008



01 de novembro de 2008
N° 15776 - NILSON SOUZA


A casa de livros

Muito legal o anúncio da Feira, que mostra um sobrado construído inteiramente de livros. O visitante é recebido na escada por Raul Pompéia e José Clemente Pozenato, ingressa numa área edificada sobre um alicerce de Hemingways, Camões e Joyces, com uma guarnição de obras de Thomas Mann e Dante Alighieri.

Pára diante de uma porta de Ericos, observa uma parede inteira de Nabokovs e Conrads, e pode subir para um segundo andar de Tolstois ou até para um telhado de Cervantes.

Estão todos lá, os autores da História e de muitas histórias, e devem estar lá, também, seus personagens surpreendentes, emocionantes, inesquecíveis.

Mesmo sem ter visitado o seu interior, tenho certeza de que se trata de uma casa bem-assombrada – freqüentada por heróis e vilões, mas principalmente por pessoas comuns. E são essas pessoas do povo, gente como a gente, que constituem a matéria-prima da literatura.

Pegue, por exemplo, um velho pescador solitário, entre com ele no mar atrás de um marlim disposto a lutar incansavelmente por sua vida de peixe, e você terá um romance épico e inesquecível.

Na casa dos livros impera um fantasma poderoso chamado Imaginação. Haja criatividade para construir tantos mundos de letras, na forma de contos, crônicas, poesias e romances, que enchem páginas e páginas de informação e ficção.

Quem lê tanto livro em tempos de realidade virtual? Difícil saber, mas a verdade é que esse objeto medieval, quase tosco se comparado com a parafernália tecnológica dos nossos tempos, continua atraindo a atenção e a curiosidade das pessoas.

Borges, que deve estar em algum desvão daquela casa encantada, definiu magistralmente esta invenção humana: “Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensão do seu corpo... Mas o livro é outra coisa, o livro é um extensão da memória e da imaginação”.

Há, também, uma outra simbologia na construção de livros arquitetada pela Agência Matriz para convencer o público de que ler realmente enriquece.

A casa é a proteção, é o refúgio, é o lugar onde buscamos o descanso, o alimento, o afeto e o sonho. Nada mais adequado do que uma casa de histórias encadernadas, portanto.

Abrir um livro equivale a abrir uma janela para a vida, para a luz, para o infinito, para a inigualável aventura do conhecimento.

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