sábado, 20 de abril de 2024


20 DE ABRIL DE 2024
mARTHA MEDEIROS

Para sempre virgens

Já contei em entrevistas e talvez em alguma crônica, mas já que ninguém lembra de nada mesmo, vou contar outra vez. Tive um diário quando era adolescente, onde escrevi sobre meus 14, 15, 16 anos. Quando fiz 17, em uma determinada página daquela que já me parecia uma longa existência, registrei: "Tenho medo de nunca mais ser feliz como fui até agora". Chego a me comover com tamanha inocência.

Aos 17, eu era virgem. Nunca tinha saído do Brasil. Ainda não trabalhava. Não sabia o que seria quando crescesse. Não havia tido nenhum namoro que durasse mais do que duas semanas. Não havia sofrido, a não ser as angústias de qualquer adolescente. O que eu havia vivido de tão fenomenal até ali? Uma infância tranquila, confidências com as amigas, danças em festas, fins de semana na praia, shows e cinema, beijocas e paixonites. Quando passei a acreditar que não viveria nada mais empolgante que isso, envelheci. Ao terminar de escrever aquela frase absurda, meus ombros encurvaram e duas pantufas acolheram meus pés.

Velhice é quando o que ficou para trás torna-se superior ao que está por vir. Talvez aconteça com quem está chegando perto dos 90 anos: a improbabilidade de novas estreias conduz a um estado natural de nostalgia. Talvez, eu disse. Pode nunca acontecer: há pessoas que, mesmo com muita idade, estão focadas nos 10 minutos seguintes, onde novas estreias as aguardam. 

Uma tatuagem no pulso. Passar o aniversário em outro país. Escrever poemas eróticos. Fazer amizade com alguém 20 anos mais moço e mais inquieto. Mudar radicalmente de opinião (não há prazo para aprender sobre aquilo que não dominamos tanto assim). Uma emoção represada que enfim deságua. É tudo vida em frente.

Olhar para trás aos 17 anos? Apego às idealizações, covardia, medo. Olhar para trás aos 50, também, mesmo reconhecendo que é cansativo fazer planos e estar sempre a postos para os imprevistos. Eu mesma não vejo a hora de dar minha missão como cumprida e me instalar numa rede com vista para o mar, onde ficarei lembrando de tudo o que vivi dos 17 até aqui, e não foi pouca coisa. 

Tenho um patrimônio respeitável de acontecimentos na minha biografia de cidadã comum, e não acharia ruim viver de recordações entre um gole e outro de vinho. Mas as pantufas estariam ao pé da rede, e uma bengala também, já que viver de lembrança não tonifica os músculos.

Então sigo me prontificando a incluir páginas extras no meu diário sem fim. Quando fico tentada a achar que o melhor da vida já passou, como estupidamente achei aos 17 anos ("ninguém é sério aos 17 anos", escreveu Rimbaud), lembro que o dia de ontem é pré-história e listo as virgindades em mim que ainda aguardam serem rompidas. Amanhã mesmo posso vir a fazer algo que nunca fiz.

MARTHA MEDEIROS

20 DE ABRIL DE 2024
CLAUDIA TAJES

O PS

Um amigo disse que, em tempos de comunicação digital, o PS perdeu a sua razão de ser. PS, o post scriptum, aquela informaçãozinha que complementa uma carta, às vezes com objetividade, às vezes com graça, às vezes com poesia. Também pode ser com graça poética objetiva, depende de quem escreve.

Para o meu amigo, o PS fazia sentido quando, após escrever uma carta caprichosamente à mão, com caneta tinteiro ou Bic mesmo, o missivista percebia ter se esquecido de alguma coisa. Óbvio que, nessa situação, a pessoa jamais reescreveria tudo para acrescentar o que ficou para trás.

A missa da formatura começa às 19h. Tia Amélia está atacada do ciático. Adotamos um novo cãozinho, o Luizito. A solução era o PS que, dependendo do tom, podia ser até mais interessante que a própria carta. PS: Eu te amo. PS: Tirei teu nome do meu testamento. PS: Mamãe está tendo um caso com seu Odair, o vizinho do 602.

Uma professora do ensino primário, a Irmã Urbana, veio transferida para dar aulas em Porto Alegre. Ela tentou fazer com que eu, com uns 10 anos de idade, mantivesse correspondência com uma aluna dela do Pará. Podia ter sido uma boa experiência, mas tanto eu quanto a outra menina éramos pequenas demais para achar graça naquilo. Minha mãe sentava comigo para escrever e eu quase dormia, de tão chata que era a minha vida de criança de apartamento para contar. Quando chegava a resposta da menina, tão desinteressante quanto a minha, eu ia direto para o PS, que em geral dizia: um abraço para a Irmã Urbana.

O PS tinha essa função. Estando o assunto da carta enfadonho, ia-se direto para ele, para ver o que realmente importava daquelas páginas todas. O suco da carta. Isso, claro, se as cartas não fossem de amor. Se fossem, até as maiores banalidades mereciam a mais atenta das leituras.

Com as cartas na máquina de escrever, mesma coisa. O Errorex era ótimo para consertos em textos de trabalho, mas ficava feio mandar uma carta toda remendada. Fora a desconfiança: uma linha inteira apagada, o que será que ela se arrependeu de escrever? O PS continuou não apenas útil, mas indispensável. Parecia uma instituição eterna, como a própria carta. E mais, a gente podia se valer de vários PSs, se necessário fosse. PS2, PS3, PS4. Hoje em dia, os desavisados ficariam boiando: que que tem o PlayStation a ver com isso?

Então veio o computador. O ponto do meu amigo é: ninguém precisa mais recorrer ao PS se basta voltar atrás e acrescentar o que faltou e onde der. Como se escrever fosse isso, achar um lugar qualquer e enfiar uma informação à moda Miguelão. Não é assim que funciona. Independentemente da tecnologia, vida longa ao PS. Que ele continue colorindo as nossas cartas.

PS: Um abraço para a Irmã Urbana.

CLAUDIA TAJES

20 DE ABRIL DE 2024
CARPINEJAR

Nem sempre é amor

Nem sempre é amor. Às vezes, é obsessão. Você percebe que é obsessão por um traço específico: quando não consegue terminar o relacionamento. Parece estranho concluir isso, até porque você nunca se envolve pensando em se separar.

Mas não é querer terminar, é poder terminar. Na obsessão, você perde o livre-arbítrio, a escolha, o senso de medida, a condicional de permanecer numa convivência de acordo com a sua felicidade. A outra pessoa mentiu, e você persiste na relação. A outra pessoa quebrou sua confiança, pegou dinheiro emprestado, não devolveu, e você continua na relação. A outra pessoa foi infiel, e você prossegue na relação.

Nunca se separa, nada faz você se separar, nenhum motivo é graúdo o suficiente - é obsessão. Você se contenta com migalhas de atenção, suporta o comportamento indiferente, desatento e grosseiro do seu par, e se fecha na imobilidade. É uma teimosia que extrapola os limites do aceitável. É uma fantasia que não corresponde aos fatos. Você se submete a uma dependência em torno de um único objetivo: manter-se junto. Não importa o que aconteça, jamais prepara as malas.

Quando é amor, você não sente medo de terminar. Não aceita ser maltratado. Não aceita qualquer coisa. Não aceita uma partilha em que você tem o que não merece. Não aceita gritos, ordens, brigas, discussões, pressão, ataque gratuito de ciúme. Vai exigir o melhor. Dará adeus se o outro pisar na bola.

Se você é afetuoso, se você se faz presente, e não há contrapartida, não verá condições de seguir adiante. Fechará a conta, a porta.

Você não jogará seu tempo e sua juventude fora com quem está pela metade ou com quem se revela egoísta. Quando existe uma obsessão, você exclusivamente se norteia pela idealização. Arrasta o romance. Não valoriza a qualidade da convivência. Não reage aos capítulos diários da troca.

Você não admite o término, bota na cabeça que aquele relacionamento é único e irrepetível, o mais importante de sua história. Não observa o que vem recebendo e acaba absolutamente bloqueado para o momento atual. Só envelhecendo na esperança, só mirando o futuro, só mirando uma promessa, só mirando a ideia fixa de um destino.

É uma obsessão, não amor, porque você é destratado, subestimado, posto de lado, excluído, e se devota a preservar uma aparência agradável de casal, uma fachada de harmonia, escondendo a explícita ausência de conteúdo.

Não mensurar o avanço do casamento, é sinal de que você se encontra obcecado. Acredita que achou a sua alma gêmea, e não identifica a precariedade em que se meteu. Não reconhece o pântano debaixo dos seus pés. Hipnotizado pelo sacrifício, abstraído pela crença da resiliência, apenas insiste em fazer o relacionamento durar.

Privilegia durar a dar certo, o que é muito diferente. Duração não significa que o relacionamento deu certo. Você pode partilhar o teto por 10, 15, 20 anos com alguém e ter sido infeliz. E ser com ele infeliz para sempre.

A duração não é sinônimo de felicidade. O que define a felicidade é o quanto você cresceu profissionalmente, o quanto fortaleceu os laços com a família, o quanto impulsionou a sua rede de afetos, o quanto passou a se mostrar mais sábio diante dos dilemas da existência.

O amor melhora você para todos, não somente para a parte interessada. Preso na teia da obsessão, você adia o fim, não é capaz de encerrar o ciclo de perdas. Pelo receio de morrer sozinho, desperdiça a sua vida com as piores companhias.

CARPINEJAR

20 DE ABRIL DE 2024
FLÁVIO TAVARES

EM DEFESA DA CIDADE

A velha canção Porto Alegre É Demais retrata aspectos tão positivos da cidade que seu autor, José Fogaça, foi eleito prefeito municipal anos atrás. O passar do tempo, porém, mostra declínios nunca previstos na Capital.

O mais saliente talvez seja a transformação do Parcão - o Parque Moinhos de Vento - para extinguir sua finalidade original de área verde de lazer, esporte e contato com a natureza, criando consciência ecológica nas crianças. Para reforçar essa situação, fundou-se a associação do parque, que ajuda na conservação e na manutenção, reconhecida como "de utilidade pública" pela Câmara Municipal. Em 1979 (com livros doados por empresas), ali se criou a Biblioteca Infantil Maria Dinorah, que funcionou durante anos e abriu caminhos na vida a crianças e adolescentes.

Conheci o terreno atual do Parcão quando ali se localizavam o hipódromo e o campo do Grêmio. Agora, querem explorar comercialmente a área, estabelecendo cafés e restaurantes permanentes (que abundam no bairro), com o que, aos poucos, será um "mercado persa" de bugigangas. Anos atrás, decidiu-se não autorizar ali nenhum ponto de comércio, a não ser em datas como o Natal. Agora, na atual gestão municipal, criou-se a Secretaria de Negócios, que busca abrir o parque ao comércio.

Os moradores da área, num abaixo-assinado, conclamaram a prefeitura a desistir de transformar o Parcão em área comercial. O médico Jaime Wageck, atual "prefeito" do Parcão, lembra, porém, que a reivindicação essencial é reabrir a biblioteca infantil.

No Centro Histórico, outro é o problema. Projeta-se construir um prédio em forma de L, com 41 andares e 115m de altura, na Rua Duque de Caxias, ao lado do Museu Júlio de Castilhos, que fará sombra à Catedral e ao Palácio Piratini.

O projeto foi aprovado pela prefeitura em janeiro de 2021 e as alterações foram feitas pela empresa construtora em 2023. O alerta lançado pela imprensa sobre os futuros problemas insolúveis de trânsito a serem criados, porém, fez os construtores adiarem o início da obra.

Mas burocraticamente, no Parcão e na Rua Duque, a ameaça continua.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

20 DE ABRIL DE 2024
OPINIÃO DA RBS

VIA PERIGOSA

Começa a aparecer a fatura do discurso descompromissado com as contas públicas e da desarticulação do governo no Congresso. Se no próprio Executivo predomina o princípio de que "gasto é vida", seria difícil ver no parlamento algum comedimento e zelo com a saúde fiscal do país.

Distribuir benesses, ainda mais em ano eleitoral, não é problema para deputados e senadores. Assim, as pautas-bomba começam a pipocar e o Planalto não tem forças para pôr um freio nas bondades com os recursos dos contribuintes. Pelo exemplo e pela base de apoio frágil.

O mais recente caso que foge à razoabilidade foi a aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado de uma Proposta de Emenda à Constituição para restabelecer quinquênios para juízes e promotores. Prevê 5% de reajuste salarial a cada cinco anos, sem qualquer vinculação a desempenho. Se justificaria apenas pela passagem do tempo, como era até 18 anos atrás, quando o benefício foi extinto. É ocioso lembrar que são categorias do topo da pirâmide social. O padrinho da iniciativa é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aliado do governo. Calcula-se que o custo, pelo efeito cascata, pode chegar a R$ 42 bilhões por ano. Espera-se melhor juízo quando a matéria for a plenário.

O Planalto também enfrenta resistência para encerrar o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos, criado para amparar empresas do setor na pandemia. A crise sanitária acabou, o segmento funciona a pleno, mas o Congresso dificulta o fim do benefício, mesmo de forma gradual. São mais R$ 20 bilhões em jogo. O governo caminha também para perder as quedas de braço em torno do veto a R$ 6,5 bilhões em emendas parlamentares e da reversão da desoneração da folha de pagamento de prefeituras. Neste caso, mais R$ 10 bilhões anuais.

Além da base parlamentar pequena, o governo enfrenta percalços na articulação com o Congresso, onde o apetite do centrão parece não ter limites. O presidente da Câmara, Arthur Lira, considera o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, um desafeto pessoal. O resultado de tamanha disfuncionalidade foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter de antecipar o retorno de uma viagem aos EUA para tentar melhorar a interlocução com os parlamentares sobre pautas com grande impacto no orçamento. Voltaram até sugestões de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se envolver mais no corpo a corpo com as lideranças partidárias.

O governo teve, ao longo de 2023, relativo sucesso na negociação de pautas econômicas no Congresso, ao contrário de matérias de outras áreas. Haddad foi decisivo neste desempenho, embora muitas medidas tenham sido desidratadas. Será temerário se o Planalto também começar a sofrer derrotas em série em temas que afetem as finanças.

De outro lado, convém lembrar que o governo acaba de jogar a toalha quanto à meta de produzir um superávit fiscal de 0,5% em 2025, baixando o objetivo para zero. Ficou a mensagem de que, apesar de reconhecer ser impossível cumprir o compromisso original do novo marco fiscal apenas pelo caminho da arrecadação, não está disposto a cortar gastos na magnitude necessária para atingir o resultado prometido. Para ser mais convincente com o Congresso, o ideal seria o Planalto liderar pelo exemplo. Deve-se alertar que o caminho das pautas-bomba e da gastança desenfreada produz pressão sobre juros, dólar e inflação e, ato contínuo, afeta a economia real. É uma história conhecida.



20 DE ABRIL DE 2024
+ ECONOMIA

Luxo para +60 fora do RS

O endereço ainda não é certo, mas a ABF Developments construirá um edifício de luxo para pessoas de maior idade em Florianópolis. Foi o que revelou à coluna Alessander Bellaver, gerente de marketing da construtora gaúcha.

Chamado de senior living no setor imobiliário, o modelo já está consolidado em Porto Alegre, com três edifícios da ABF Developments. Trata-se do trio de Magnos: Três Figueiras, Moinhos de Vento e Menino Deus.

A avaliação da empresa é de que, depois dessas construções, Porto Alegre praticamente esgotará as oportunidades no nicho.

Ainda há pequena possibilidade de uma outra unidade na zona sul da Capital, mas está tomada a decisão de levar os projetos para outros Estados, a começar por Santa Catarina.

- Para proteger o próprio negócio, vamos buscar regiões que não estejam tão saturadas. Estamos cogitando também São Paulo, mas é uma questão mais complicada, porque exige uma operação e uma gestão fortes - afirma.

A ABF Developments ainda aguarda parceiros para efetivar o negócio, mas é "certo que sairá do Estado", segundo Bellaver. Na segunda-feira, a ABF lança oficialmente o projeto do Menino Deus, que tem parceria com a Unimed. Os outros dois residenciais têm gestão da São Pietro.

é o gasto anual extra estimado pelo Ministério da Fazenda com a proposta de emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio. A iniciativa aprovada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado cria um novo benefício salarial para juízes, magistrados e promotores.

Imobiliária duplica o faturamento

O faturamento do primeiro trimestre deste ano da imobiliária gaúcha de alto padrão Pier 36 dobrou em relação ao mesmo período de 2023. A empresa, que tem foco em imóveis da zona sul de Porto Alegre, planeja aumentar em cerca de 10% o faturamento do ano.

Segundo Daniel Machado, sócio da Pier 36 ao lado de Marcos Bassanesi, o cenário econômico mais estável do período contribuiu para o crescimento da empresa.

A expansão também foi impulsionada pelo aumento da procura por residências, com os bairros Vila Assunção, Tristeza e Ipanema atraindo mais compradores. Em meados do ano passado, a empresa chegou a vender um imóvel por dia. Além do crescimento no faturamento, o número de novos clientes apresentou alta de 19% em relação ao primeiro bimestre de 2023. O ticket médio de vendas registrou aumento de 10%. Fundada em 2015, tem cerca de 3 mil imóveis em carteira.

MARTA SFREDO

20 DE ABRIL DE 2024
DEMOGRAFIA E DINHEIRO

Com R$ 2.255 por mês, RS tem a quarta maior renda no Brasil

No Estado, 70,3% da população contou com algum tipo de ganho no ano passado. No Brasil, a média ficou em 64,9%

O Rio Grande do Sul teve a quarta maior renda domiciliar per capita mensal do país, em 2023. O valor de R$ 2.255, verificado no ano passado, supera em R$ 407 a média nacional, que ficou em R$ 1.848. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em termos percentuais, o avanço da renda domiciliar per capita no Estado foi mais contido no período, de 6,3% ante a alta de 11,46% no Brasil. Esse aumento mais contido no RS determinou a perda da terceira colocação no ranking para o Rio de Janeiro, onde a média dos ganhos mensais subiu 14,7% - de R$ 2.009 para R$ 2.305.

Por outro lado, o RS atingiu 70,3% da população com algum tipo de renda. É a primeira vez desde 2012 que esse percentual é alcançado no Estado. São mais de 7 milhões de gaúchos com rendimentos mensais, a proporção mais alta entre as unidades da federação. A mais baixa fica no Acre, onde somente 51,5% dos moradores, pouco mais da metade, contam com rendimentos. No país, a média é de 64,9%.

Um dos fatores que justificam o desempenho é o aspecto etário da população. Como há número maior de adultos no Estado, existe um percentual mais elevado de pessoas no mercado de trabalho, explica o pesquisador do IBGE e coordenador da pesquisa no Rio Grande do Sul, Walter Rodrigues. Além disso, a quantidade de pessoas com idade de aposentadoria influencia os dados do RS, diz.

Esse panorama também garante aos gaúchos o quarto maior rendimento médio mensal real de todas as fontes, com R$ 3.208, atrás de Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro, mas bastante acima dos R$ 2.846 apurados no país. Diferentemente da renda domiciliar, esse indicador considera os ganhos de cada pessoa e não a média dos moradores da mesma residência.

- Como por aqui não existe uma quantidade tão elevada de pessoas que recebem os benefícios sociais, o alto rendimento médio de todas as fontes faz com que o Estado suba em razão dos rendimentos vinculados às aposentadorias. Ou seja, temos um percentual elevado de pessoas idosas e que se aposentaram com rendimentos um pouco mais elevados - comenta Rodrigues.

Trabalho

De acordo com a pesquisa, no país, são cerca de 140 milhões de pessoas que tinham algum tipo de rendimento. Na passagem entre 2022 e 2023, os dados apontam para um aumento da parcela dos brasileiros com rendimentos provenientes do trabalho.

Segundo o coordenador do Data Social da PUCRS, André Salata, trata-se de uma tendência verificada desde 2021, após a queda de 2020, por fatores ligados à pandemia de coronavírus.

- Em geral, há um aumento da renda com a manutenção da desigualdade. Isso porque o que compensa a renda do trabalho são os programas sociais na base da pirâmide. Mesmo as faixas que estão no meio da pirâmide tiveram 10% de aumento. Os de baixo, um pouco mais, e são os mais afetados pela renda do Bolsa Família - afirma.

RAFAEL VIGNA

20 DE ABRIL DE 2024
POLÍTICA +

Qual é a senha?

Viajando só com uma mala de mão, a deputada Silvana Covatti (PP) ficou em apuros na conexão do Aeroporto Charles De Gaulle, em Paris, para Verona, na Itália.

Na inspeção, os fiscais estranharam a presença de potinhos com produtos de higiene e beleza e pediram que ela abrisse a mala.

Só então Silvana se deu conta de que tinha esquecido os números do cadeado codificado. Foi preciso ligar para o marido, o ex-deputado Vilson Covatti, para saber a senha. Menos mal que Covatti sabia.

Alemanha em flor

O interior da Alemanha está em flor neste início de primavera. Há desde macieiras que brotam nas pequenas propriedades ao longo das estradas, com suas flores rosadas, a pereiras que tingem de branco os pomares.

As lavouras de trigo e cevada estão exuberantes e formam um conjunto deslumbrante com as plantações de canola e suas flores amarelas.

Perdidos na tradução

Foi um alívio para os deputados estaduais que acompanham o governador Eduardo Leite na Europa a reunião na empresa Nordex, na sexta-feira, ter sido toda em português - ou portunhol.

Como a maioria deles não fala inglês, idioma em que o governador se comunica com a maioria dos interlocutores, a saída para quem tem interesse em saber do que está sendo tratado durante as conversas é gravar o diálogo e usar aplicativo de tradução.

Nos aeroportos, a salvação dos deputados monoglotas tem sido o jornalista Cristiano Guerra, assessor do líder do governo na Assembleia, Frederico Antunes (PP).

Guerra resolve todos os problemas - do check-in ao despacho de malas, passando pela salvação em caso de apuros quando a bagagem de mão cai na malha fina.

ROSANE DE OLIVEIRA


20 DE ABRIL DE 2024
CARTA DA EDITORA

CARTA DA EDITORA As características dos gaúchos

Quais são os anseios, os desejos e a personalidade dos moradores do Rio Grande do Sul em meios às grandes mudanças do mundo atual? Além dos tradicionais lenço, camisa, bombacha, chapéu e cuia na mão, quais são as outras facetas, adaptações e transformações que emolduram a imagem do gaúcho? Encomendada pelo Grupo RBS e realizada em parceria com as empresas de pesquisa Coletivo Tsuru e Cúrcuma, a segunda edição do estudo Persona mostra o que está por trás de uma imagem consolidada sobre o povo do Rio Grande do Sul - e o que se transformou ao longo dos tempos.

Conforme a reportagem do caderno DOC, da repórter Fernanda Polo, com ilustrações de Gilmar Fraga, o objetivo da pesquisa Persona é entender perfis, comportamentos e hábitos de consumo do gaúcho em meio às mudanças contemporâneas.

Como conta Fernanda, a tradição ainda está presente - mais para alguns, menos para outros - e "sentir-se gaúcho é um estado de pertencimento e uma condição coletiva". A diferença está, agora, na abertura a novidades e mudanças. E o período da pandemia acabou intensificando essa ampliação para o mundo e a essência afetuosa do gaúcho.

- Repetir o estudo Persona, cuja primeira edição ocorreu em 2017, além de contribuir para qualificar o nosso conteúdo, tem como objetivo posicionar a RBS junto ao mercado como especialista no comportamento e nos hábitos de consumo do público. Ao oferecermos este conteúdo aos nossos clientes, ampliando o entendimento das marcas sobre as pessoas que nasceram ou vivem no Rio Grande do Sul, potencializamos a geração de negócios - destaca a diretora-executiva de Marketing do Grupo RBS, Caroline Torma.

A pesquisa identificou três perfis de gaúchos: o Guardião, o Conciliador e o Explorador, como mostra a reportagem desta edição. Se o leitor quiser saber em qual dos perfis se encaixa, é só fazer um teste em GZH. Eu fiz, e o resultado apontou que eu sou uma baita conciliadora! Acesse o quiz pelo link ao lado.

DIONE KUHN

20 DE ABRIL DE 2024
MARCELO RECH

Longe do ideal

De todas as alternativas relacionadas à maconha, só há uma ideal: a de que não houvesse consumidores e, portanto, consumo de uma substância que faz mal ao corpo, ao bolso e à sociedade. Na prática, porém, o mundo se dividiu em três grandes blocos para lidar com a droga.

No primeiro, comércio e uso são vedados, com penas de prisão de assustar. Na Indonésia, o porte de algumas gramas pode levar a 25 anos de cadeia. Em ditaduras, como na China e no Oriente Médio, o uso é mínimo como resultado do controle sobre os indivíduos que criou Grandes Irmãos para a vigilância e a supressão de liberdades. Sociedades altamente tuteladas não são as únicas a banir a maconha. Na democrática Taiwan, virtualmente não há consumo porque a lei é dura e os acessos à ilha são mais facilmente monitorados.

No lado oposto, sobretudo em democracias ocidentais, a maconha vem sendo tolerada como um mal menor do que o encarceramento em massa e o tráfico. Em países como Holanda, Canadá, Uruguai, Portugal e, desde o mês passado, Alemanha, é possível se comprar maconha em pontos autorizados e fazer uso pessoal sem risco de ir para a cadeia.

Já no Brasil, vivemos no pior dos mundos e agora logramos a façanha de estarmos no meio de duas iniciativas antagônicas - uma no STF e outra no Congresso - que só tendem a agravar o que já é ruim. A Suprema Corte brasileira se encaminha para descriminalizar o porte de pequenas quantidades. Ou seja, na prática libera o consumo mas proíbe a produção e o comércio da maconha. Mas onde os ministros pró-descriminalização acham que os usuários vão comprar a droga?

Já o Senado aprovou de lavada um projeto que deixa a decisão de prender ou não o usuário pelas circunstâncias. Dado o histórico de achaques em Estados com polícias infiltradas pela corrupção, como o Rio, pode-se antever, caso a lei venha a vigorar, uma nova era da Prohibition, a lei seca contra bebidas alcoólicas nos EUA. De 1920 a 1933, a proibição tornou o álcool ainda mais desejado e esparramou uma onda de corrupção que corroeu polícias, promotores e políticos, além de encher as cadeias de beberrões pobres e enriquecer fabricantes e comerciantes clandestinos.

Diante de tudo isso, inclino-me pela legalização da maconha aos moldes do que já fizeram 23 dos 50 Estados norte-americanos. Lá, em geral, adultos com mais de 21 anos podem comprar pequenas quantidades em lojas autorizadas e plantar até meia dúzia de pés. Não se pode fumar em público e em veículos. Vendida em lojas especializadas, essa maconha tem origem em fazendas registradas, gera empregos e paga impostos bem acima da média. É o capitalismo e o mercado agindo contra o tráfico. Não é o ideal, mas inexiste saída ideal enquanto houver consumo.

MARCELO RECH

sábado, 13 de abril de 2024


13/04/2024
Martha Medeiros

Virgem Santíssima, e se ela seduzir nossos maridos?

Escutei de uma funcionária de uma indústria automotiva. “Depois de me separar, fiquei mais de 10 anos sem namorar. Minhas amigas não se conformavam, viviam perguntando: e aí, onde estão os crushs, vai ficar sozinha para sempre? Como insistiam nisso. Não aceitavam que eu estivesse legal comigo mesma. Até que conheci um cara e a gente começou a se relacionar. Parecia que eu tinha ganhado na loteria. Elas diziam: agora sim! Você está muito melhor!! Como podiam saber se eu estava melhor?”

Elementar: as amigas estavam falando delas mesmas. Elas, sim, agora se sentiam melhores. Uma mulher solta no bando é sempre inquietante.

Estimular as solteiras a formarem um par pode ser um carinho, mas também é um sintoma do medo que a sociedade tem das pessoas avulsas, principalmente se forem mulheres. As solteiras desapegaram do conceito arcaico de que uma mulher só tem valor com um homem do lado. Elas não topam qualquer arranjo para ter alguém. 

A solitude deixou de ser um bicho papão e ter filhos não é a única saída para dar sentido à vida: elas se sentem preenchidas pelo trabalho, pelas viagens, pelos livros e pelos amigos, inclusive aqueles que tentam “salvá-las” de tanta independência. A estrutura social do casal ainda embute a ideia de adequação, enquadramento – duas pessoas com o destino entrelaçado parecem previsíveis, nenhum susto virá dali.

Já a mulher avulsa é um enigma. O que faz, do que se alimenta, com quem acasala? Ela pode estar na cidade hoje e amanhã embarcar para a Índia. Não mora com ninguém, não dá satisfações, troca de planos em dois minutos. Se não tem um namorado, talvez tenha vários. Virgem Santíssima, e se ela seduzir nossos maridos?

Case logo, criatura. Case para deixar de ser um risco aos nossos casamentos. Case para que você se vista de forma menos extravagante e engorde um pouco. Para que você não nos faça lembrar de como era boa a liberdade de ir e vir, e de como a vida era mais barata quando não tínhamos que sustentar uma família. 

Case logo e tire esse sorriso do rosto, não fique escancarando que é possível ser feliz sozinha. Case e vamos jantar a quatro numa cantina, porque mesa com três pessoas desequilibra a ordem social. Case e contribua para a conversa da turma com as queixas habituais, em vez de falar sobre filmes que não vimos, cursos que não fizemos e noites bem dormidas, sem ninguém roncando ao lado. Não nos irrite.

Parece assunto do século passado, mas ainda há quem não sossegue antes de apresentar um bom partido para a coitada da amiga solteira, aquela que finge que está tudo bem. É CLARO QUE ELA ESTÁ MENTINDO!! Calma, não grite. Evite o descontrole. Eu sei, é um stress essa gente que se faz de moderna.


13/04/2024 - 09h00min
Claudia Tajes

Os pêssegos em calda sempre foram um doce sério

Eles fizeram parte dos almoços de família sempre que a minha mãe não estava inspirada para fazer a torta de bolacha dos domingos

O homem jovem, 40 e poucos anos, bonito, todo moderno em seus gostos culturais, sempre vestido com camisetas de bandas de rock – as mais clássicas ou as tão obscuras que só ele e mais meia dúzia de aficionados conhecem –, chegou ao churrasco dos amigos levando uma lata de pêssegos em calda e outra de creme de leite.

Pêssegos em calda com creme de leite.

Os convidados mais novinhos, muito provavelmente, jamais tinham visto uma lata daquelas fora das prateleiras do supermercado. E quase dá para apostar que nenhum havia parado no corredor das caldas de pêssegos, abacaxis, figos, goiabas, abóboras.

Que fique claro: não estou falando mal dos pêssegos em calda. Eles fizeram parte dos almoços de família sempre que a minha mãe não estava inspirada para fazer a torta de bolacha dos domingos. Mas então éramos crianças e os pêssegos em calda sempre foram um doce sério, não tinham o mesmo encanto do pudim, outra sobremesa que ela fazia bem.

A lata de pêssegos em calda me lembrou de outras coisas que eram parte da vida das famílias e que hoje amargam o ostracismo. Novamente: não que o pêssego em calda esteja arquivado, fabricantes e apreciadores, não me cancelem. Foi só que aquela lata me levou a uma viagem no tempo, e de repente me vi na casa dos meus pais, com tantos e diversos caprichos hoje desaparecidos.

A roupinha xadrez do liquidificador, que combinava com a roupinha do botijão de gás. O Fabrício Carpinejar escreveu que as famílias se transformaram na hora em que a mãe parou de vestir o botijão de gás.

Os conjuntinhos de privada. Uma capa sempre meio peluda que cobria a tampa do vaso sanitário e fazia par com o tapetinho peludo que tornava o ato de sentar ali mais reconfortante. O tal do conjuntinho acabava ficando meio nojento pela água que pingava da descarga e pela sua própria natureza, e de vez em quando era substituído por outro. O cheiro era o de um cachorro molhado eternamente deitado no banheiro.

O abajur de uísque. Esses dias vi um filme da diretora Lucia Murat sobre o golpe de 1964 e lá estava, na casa de uma das entrevistadas, o abajur de uísque JB, um clássico dos anos 1970. Quem não teve um não viveu um capítulo marcante da decoração da casa brasileira.

A TV ligada no programa Sílvio Santos da manhã até a noite. Tudo o que acontecia no domingo era em função do Programa Silvio Santos. Almoço na hora do Qual é a Música? – duas notas, Maestro Zezinho –, banho quando entrava algum quadro chato de competição entre estudantes, janta na mesa tão logo começava o Show de Calouros. Ninguém precisava de relógio no domingo, qualquer criança sabia que ia para a cama quando o Quem Quer Dinheiro? acabasse.

Depois, bem depois, veio o Fantástico e a terrível sensação de fim do mundo com aquela musiquinha da abertura anunciando que o domingo já era.

Para encurtar o caso, o churrasco dos amigos chegou ao fim, e a lata de pêssegos em calda se ofereceu para quem quisesse desbravar sabores de outros Carnavais. O creme de leite se mistura com a calda e ameniza a doçura, disse o homem da camiseta de banda, expert no assunto. E todos gostaram e repetiram até limpar a lata.

No próximo encontro com seus pais, os jovens presentes certamente contarão que naquele domingo, ao som de phonk, trap, hyperpop ou outra dessas modernidades, experimentaram uma sobremesa diferente, pêssegos em calda. Eles já ouviram falar?


13 DE ABRIL DE 2024
CARPINEJAR

De onde vem minha habilidade no futebol

Quem já me viu jogando futebol - sim, eu jogo bem, apesar da minha postura inofensiva e cômica de gafanhoto - sabe que evito cair. Não tombo com facilidade. Não rolo no chão. Posso levar peteleco no calcanhar, carrinho, trombada, voadora, e faço de tudo para me manter de pé. Cambaleio, porém jamais me entrego. Tento me segurar em corrimões imaginários ou nas costas dos meus adversários.

Eu mesmo me driblo, se for o caso. Prefiro seguir adiante a cavar uma falta ou um pênalti e parar o jogo. Minha resiliência partiu de um trauma, que me condicionou a jamais beijar o gramado na boca.

A quadra da escola em que estudei no Ensino Fundamental - Escola Municipal Imperatriz Leopoldina, no bairro Petrópolis - era simplesmente de piche e brita. Uma BR seria mais convidativa. Uma pista de aeroporto seria mais confortável.

As pedras saltavam do solo escuro, pequenas lâminas e facas refletindo o sol. Cair ali somente em último caso. Não fingia, não me dava ao luxo de fazer cera. Eu me desequilibrava, tonteava, e permanecia ereto, de queixo erguido, aos trancos e barrancos.

Tinha que sobreviver. Tinha noção do quanto custaria cada queda. Ficaria absolutamente esfolado, como presunto fatiado em guilhotina de açougue.

Você não se machucava, você se acidentava. Tão grave quanto cair de uma moto. As feridas terminavam absolutamente infeccionadas com o betume.

Havia a necessidade de limpar a pele com água oxigenada - e como ardia - e depois pincelar camadas de mercúrio-cromo - e como ardia. As sequelas continuavam doendo na hora de tomar o banho e de dormir.

Minha habilidade com a bola foi forjada a evitar aquela sensação da calça colando no corpo. Nenhum band-aid era capaz de cobrir os ferimentos. Ao me machucar, sofria para colocar ou tirar a roupa.

Isso quando o abrigo não rasgava por inteiro e vinha o suplício. Pois meus irmãos e eu contávamos com um par de abrigos para o ano, e os pais não compravam outro. Se estragávamos um deles em nossas peladas indevidas durante o recreio, a família mandava para a costureira com o propósito cafona de colocar remendo de couro.

Começava o bullying. Vivíamos vestidos para uma festa junina. Lembro que uma vez rasguei os fundilhos da calça descendo um barranco e, para minha surpresa, recebi de volta a peça com um remendo de couro no traseiro.

Eu entrava na escola já com uma sela embutida em mim. Diante da piada pronta, precisava ser, pelo menos, rápido como um cavalo nas notas, e nunca lento como um burro.

CARPINEJAR

13 DE ABRIL DE 2024
FLÁVIO TAVARES

MUDAR DE SEXO?

Existem posições que parecem conservadoras e atrasadas, mas que são um descobrimento positivo de algo que não vemos nem vislumbramos porque se esconde tal qual um ladrão noturno.

Isso é o que nos deixa o mais recente documento do papa Francisco, em que alerta sobre a "indignidade" das cirurgias de mudança de sexo e a "fluidez" de gênero. A "barriga de aluguel" torna-se também "mero meio subordinado ao ganho arbitrário ou desejo de outros" para quem carrega o bebê ou escolhe se submeter a isso livremente.

O documento é comparável à encíclica Laudato Sii, que nos fez conhecer o descaso com a defesa da vida do planeta e nos levou a identificar o perigo das mudanças climáticas.

Agora, o novo documento papal (preparado ao longo de cinco anos) qualifica o sexo de nascimento como "um presente irrevogável de Deus". De fato, trata-se de uma enciclopédia sobre a existência humana e, assim, critica com veemência também a exploração de pobres, mulheres, migrantes e pessoas vulneráveis.

"Toda intervenção de mudança de sexo corre o risco de ameaçar a dignidade única recebida pela pessoa desde o momento da concepção", adverte o documento. Faz ver ainda que todos aqueles que almejam "autodeterminação pessoal, como prescreve a teoria de gênero", arriscam-se a ceder "à tentação milenar de se fazerem Deus".

A posição do Papa me leva a recordar que só no reino vegetal existem hermafroditas, mas são plantas. É impossível encontrar um eucalipto que busque ser roseira ou vice-versa. Já pensaram se, no mundo animal, um sabiá buscasse virar canário? Cada um sabe cantar, mas cada qual tem um canto próprio e inconfundível que não imita nem se atrita com o outro.

Meses antes desse documento, o papa Francisco permitiu que os sacerdotes abençoassem a união de homossexuais e outros da chamada área LGBT+. O documento de agora pode ser só o início de uma verdadeira revolução na maior e mais influente confissão religiosa do mundo ocidental. É um novo aggiornamento do catolicismo, iniciado pelo papa João XXIII no final do século passado.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

13 DE ABRIL DE 2024
CONSELHO EDITORIAL

EDUCAÇÃO, INOVAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO

Os aspectos centrais da atividade jornalística estão relacionados com a busca da verdade, a transparência e o compartilhamento de valores globais fundamentais para a sociedade, como a paz, os direitos humanos e a liberdade. Ao definir suas bandeiras editoriais, as empresas de comunicação ao mesmo tempo refletem e pautam as discussões relevantes que ajudam a sociedade a se conhecer, a refletir criticamente sobre seu passado e a construir seu futuro. Emergem assim temas atuais como mudanças climáticas, energias renováveis, ESG, educação, inovação e desenvolvimento social.

Uma visão mais propositiva do papel do jornalismo profissional e de seu compromisso com a sociedade em que atua envolve uma dimensão pedagógica relevante. Sob um certo aspecto, significa uma busca constante de um novo jornalismo para uma sociedade em transformação para o tempo que vivemos. Para o nosso tempo.

E quanto mais se configura o mundo digital, em que as dimensões física, digital e social se confundem, mais importante é estarmos atentos aos vetores da transformação que vivemos. As redes sociais e as novas tecnologias, como inteligência artificial, terapias gênicas, ciência de dados e internet das coisas, não são elementos neutros ou passivos nos processos de comunicação e interação entre as pessoas. As novas tecnologias, em especial as deep techs, quanto mais pervasivas se tornam, mais influenciam e afetam nossas relações. E mais atentos devemos estar a elas.

Voltando ao tema da dimensão pedagógica do jornalismo profissional na busca da verdade com transparência, um bom exemplo envolve a discussão, tanto nacional como regional, da construção de planos e definição de estratégias de desenvolvimento. E a identificação das relações entre o desenvolvimento, a inovação e a educação. No tempo em que vivemos, desenvolvimento deve envolver sempre as perspectivas econômica, social, cultural e ambiental.

Quando falamos de inovação, globalmente aceita como um atributo essencial na busca de produtividade e de competitividade no mundo empresarial, devemos ter também em mente que ela (a inovação) sequer faz sentido se não se traduzir em impacto social e melhorias na qualidade de vida das pessoas ao longo do tempo.

A educação é em si o fator principal e preliminar para qualquer processo de desenvolvimento. Além de ser o mais eficaz processo de mobilidade e justiça social, a educação é fator crítico para o desempenho de uma economia e uma sociedade moderna. Uma educação inclusiva e de qualidade, que ofereça oportunidades para o pleno desenvolvimento das pessoas, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Todos os países do mundo que se desenvolveram de forma destacada a partir da revolução da tecnociência da metade do século 20, primeiro realizaram uma transformação na educação de seu povo. Somente depois definiram e implantaram planos nacionais de desenvolvimento, tendo a inovação como um dos pilares do processo. Não adianta a inovação ser uma prioridade sem ter a educação como o elemento central da estratégia de desenvolvimento.

Conectando novamente com o papel do jornalismo neste mundo cada vez mais complexo e com fontes de informações diversas e pouco confiáveis, os veículos de comunicação, ao darem espaço para discussões relevantes e atuais, como a do desenvolvimento, acabam atuando, também, como propulsores dessas transformações.


13 DE ABRIL DE 2024
OPINIÃO DA RBS

DILEMAS A PONDERAR

Há preocupações legítimas e boas razões elencadas por todos os envolvidos na controvérsia sobre a busca do Estado para elevar a arrecadação. De um lado, o Piratini quer assegurar um aumento de receitas que não ameace a manutenção de serviços básicos, salários em dia e a garantia de verbas para investimentos prometidos após perder recursos por uma decisão eleitoreira tomada em Brasília no período eleitoral.

No outro polo, empresários rejeitam qualquer aumento de carga por princípios e pelo temor de perda de competitividade das empresas gaúchas. Na posição alternativa, entidades ligadas especialmente ao agronegócio sugeriram a elevação da alíquota do modal de ICMS de 17% para 19% como opção ao corte de incentivos fiscais, o plano B do governo. Algo como um mal menor. 

O mais recente lance foi o envio pelo governo gaúcho de novo projeto de lei à Assembleia nos moldes propostos por esta última corrente empresarial, formada por setores que seriam os mais atingidos pelo fim abrupto de benefícios tributários. A principal diferença em relação à ideia inicial do Piratini, que sequer foi a votação em dezembro do ano passado pela alta resistência, é que a alíquota subiria para 19%, e não 19,5%.

Como o projeto de lei foi protocolado em regime de urgência, deve ser votado no próximo dia 14 de maio pelos deputados. As próximas semanas prometem ser de intensas negociações e pressões. Espera-se que exista, de parte a parte, disposição para preservar o espaço de diálogo e abertura para transigir. Parece claro que o governador Eduardo Leite está disposto a enfrentar o desgaste e, de alguma forma, obter o aumento de receita que diz necessitar. Assim, está posto o desafio de construir uma saída negociada, que contemple, da forma possível, as necessidades do Estado, sem que as atividades produtivas, geradoras de emprego e renda, sejam sufocadas.

Não há empresário que goste de pagar mais tributos ou cidadão que queira ver o preço dos produtos e serviços consumidos subir. Ainda assim, a vida em sociedade exige um poder público que consiga cumprir seus compromissos com a população, em especial os essenciais, como saúde, educação e segurança. Para isso, também é basilar que busque eficiência nas despesas para que se constate retorno dos impostos recolhidos.

Se é verdade que a maioria dos demais Estados do país fez o mesmo movimento de elevar o ICMS, também é fato que a vizinha Santa Catarina optou por permanecer com a alíquota de 17%. Pela proximidade, é a unidade da federação que mais compete com os gaúchos por investimentos. E o Rio Grande do Sul, pela posição geográfica, tem desvantagens logísticas que poderiam ser diminuídas pela manutenção do ICMS no patamar atual. Dilemas não faltam.

Ao fim, a definição sairá do parlamento, casa democrática onde estão representados todos os segmentos da sociedade. Aguarda-se ponderação e responsabilidade para se encontrar o desfecho menos traumático. Em caso de elevação da alíquota modal, é possível até que exista margem para negociar um patamar inferior a 19%. O tema da elevação da carga tributária se arrasta desde novembro do ano passado e chega a hora de uma definição. Por outro lado, deve ser cobrado do Estado máxima transparência em relação ao quadro e às perspectivas para as finanças públicas.

OPINIÃO DA RBS


13 DE ABRIL DE 2024
PRIMEIRO TRIMESTRE

Estado teve ao menos seis estupros por dia

Nos três primeiros meses deste ano, em média, seis mulheres procuraram a polícia por dia no RS para relatar um caso de estupro. Ou seja, um registro do crime foi realizado a cada quatro horas. Foram 559 ocorrências entre janeiro e março. No comparativo com o mesmo período de 2023, quando foram 739, houve redução de 24,3%. Os indicadores de violência contra a mulher são da Secretaria da Segurança Pública.

A média é formada só pelos casos que chegam à polícia. No entanto, boa parte dos delitos cometidos contra mulheres por razões de gênero é impactado pela subnotificação. Nos casos de crimes sexuais, isso não é diferente.

- Estima-se que só 10% dos casos (de violência contra a mulher) são notificados. Os crimes sexuais existem numa quantidade muito maior do que a gente imagina. As mulheres são estupradas dentro dos relacionamentos, e nem sequer sabem que é um estupro - alerta a promotora de Justiça do Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Ivana Battaglin.

Provas

Fatores como vergonha, medo, culpa e receio de ser vítima de violência institucional são apontados como aspectos que acabam influenciando as mulheres a não buscarem ajuda.

Nos casos de estupro, segundo a delegada Ana Luiza Caruso, que responde pela 1ª Delegacia da Mulher de Porto Alegre, quanto mais cedo a vítima pedir ajuda, maior a chance de coletar indícios para identificar e punir o autor. A maioria dos casos ocorre sem qualquer testemunha, fazendo com que a prova pericial seja ainda mais relevante.

- Depois que o fato já ocorreu, solicitamos que as vítimas façam uma coisa que muitas vezes é difícil, que é não tomar banho. Após um caso de estupro, a mulher quer retirar qualquer vestígio do corpo dela. Mas esse material genético do autor é muito importante como prova. A palavra da vítima vale muito, mas quanto mais elementos de prova conseguirmos, melhor - diz Ana Luiza.

LETICIA MENDES

13 DE ABRIL DE 2024
CARTA DA EDITORA

CARTA DA EDITORA A cobertura do Brasileirão

A dupla Gre-Nal inicia neste final de semana a participação no Brasileirão. O Inter, instável na Sul-Americana (dois pontos somados em seis disputados), estreia com o desafio de quebrar um jejum de 45 anos sem o título da competição nacional. O Grêmio, que preocupa a torcida na Libertadores (soma zero ponto em seis disputados), almeja encerrar a seca de 28 anos sem o título. Juventude, o terceiro representante gaúcho na Série A, tem outras pretensões, como seus próprios dirigentes dizem. O objetivo é a permanência na elite do futebol. Leitores, ouvintes e espectadores que acompanham os produtos da Redação Integrada terão ampla cobertura da competição, em diferentes plataformas.

O jornal que você tem em mãos, e que pode também ser acessado em GZH, tem um guia de oito páginas com todas as informações sobre os 20 clubes envolvidos na competição. O Guia do Brasileirão revela que o campeonato de 2024 será o mais "estrangeiro" da história. Nunca, desde que foi criado com este nome, ou desde 1959 com os nomes de Taça Brasil e Robertão, houve um número tão grande de jogadores nascidos fora do país.

- É um conteúdo que já consta no calendário de Zero Hora. Sempre no começo do campeonato, trazemos um diagnóstico de cada um dos adversários da dupla Gre-Nal na competição. Levamos o leitor para mais perto das facilidades e adversidades que nossos times vão encarar até dezembro - diz o narrador e comunicador Gustavo Manhago, responsável pelo guia.

Em GZH, além dos gols e dos melhores momentos das partidas, teremos o especial "palpitômetro": projeção da equipe de Esporte sobre times que "lutam por título", "disputam vaga na Libertadores", "tentarão vaga na Sul-Americana" e "lutarão contra o rebaixamento".

Na Gaúcha, será mantida a tradição de narrar nos estádios todos os 38 jogos de Inter e Grêmio. Nos dois turnos, as equipes estarão em 11 cidades que hospedam clubes da Série A. Repórteres, técnicos e narradores percorrerão mais de 88 mil quilômetros (o equivalente a duas voltas ao redor do mundo) para narrar os jogos da Dupla e contar os bastidores.

- A riqueza de detalhes sobre o ambiente do jogo, seja ele no estádio ou na concentração, só é possível em função da presença da Gaúcha junto aos times - avalia Leonardo Acosta, um dos coordenadores do Esporte da Gaúcha.

E por falar em coberturas esportivas, em breve falaremos de Olimpíadas.

DIONE KUHN

sábado, 6 de abril de 2024



06 DE ABRIL DE 2024
MARTHA MEDEIROS

Caça aos avulsos

Escutei de uma funcionária de uma indústria automotiva. "Depois de me separar, fiquei mais de 10 anos sem namorar. Minhas amigas não se conformavam, viviam perguntando: e aí, onde estão os crushs, vai ficar sozinha para sempre? Como insistiam nisso. Não aceitavam que eu estivesse legal comigo mesma. Até que conheci um cara e a gente começou a se relacionar. Parecia que eu tinha ganhado na loteria. Elas diziam: agora sim! Você está muito melhor!! Como podiam saber se eu estava melhor?"

Elementar: as amigas estavam falando delas mesmas. Elas, sim, agora se sentiam melhores. Uma mulher solta no bando é sempre inquietante.

Estimular as solteiras a formarem um par pode ser um carinho, mas também é um sintoma do medo que a sociedade tem das pessoas avulsas, principalmente se forem mulheres. As solteiras desapegaram do conceito arcaico de que uma mulher só tem valor com um homem do lado. Elas não topam qualquer arranjo para ter alguém. 

A solitude deixou de ser um bicho papão e ter filhos não é a única saída para dar sentido à vida: elas se sentem preenchidas pelo trabalho, pelas viagens, pelos livros e pelos amigos, inclusive aqueles que tentam "salvá-las" de tanta independência. A estrutura social do casal ainda embute a ideia de adequação, enquadramento - duas pessoas com o destino entrelaçado parecem previsíveis, nenhum susto virá dali.

Já a mulher avulsa é um enigma. O que faz, do que se alimenta, com quem acasala? Ela pode estar na cidade hoje e amanhã embarcar para a Índia. Não mora com ninguém, não dá satisfações, troca de planos em dois minutos. Se não tem um namorado, talvez tenha vários. Virgem Santíssima, e se ela seduzir nossos maridos?

Case logo, criatura. Case para deixar de ser um risco aos nossos casamentos. Case para que você se vista de forma menos extravagante e engorde um pouco. Para que você não nos faça lembrar de como era boa a liberdade de ir e vir, e de como a vida era mais barata quando não tínhamos que sustentar uma família. 

Case logo e tire esse sorriso do rosto, não fique escancarando que é possível ser feliz sozinha. Case e vamos jantar a quatro numa cantina, porque mesa com três pessoas desequilibra a ordem social. Case e contribua para a conversa da turma com as queixas habituais, em vez de falar sobre filmes que não vimos, cursos que não fizemos e noites bem dormidas, sem ninguém roncando ao lado. Não nos irrite.

Parece assunto do século passado, mas ainda há quem não sossegue antes de apresentar um bom partido para a coitada da amiga solteira, aquela que finge que está tudo bem. É CLARO QUE ELA ESTÁ MENTINDO!! Calma, não grite. Evite o descontrole. Eu sei, é um stress essa gente que se faz de moderna.

MARTHA MEDEIROS

06 DE ABRIL DE 2024
CLAUDIA TAJES

Pêssegos em calda

O homem jovem, 40 e poucos anos, bonito, todo moderno em seus gostos culturais, sempre vestido com camisetas de bandas de rock - as mais clássicas ou as tão obscuras que só ele e mais meia dúzia de aficionados conhecem -, chegou ao churrasco dos amigos levando uma lata de pêssegos em calda e outra de creme de leite.

Pêssegos em calda com creme de leite.

Os convidados mais novinhos, muito provavelmente, jamais tinham visto uma lata daquelas fora das prateleiras do supermercado. E quase dá para apostar que nenhum havia parado no corredor das caldas de pêssegos, abacaxis, figos, goiabas, abóboras.

Que fique claro: não estou falando mal dos pêssegos em calda. Eles fizeram parte dos almoços de família sempre que a minha mãe não estava inspirada para fazer a torta de bolacha dos domingos. Mas então éramos crianças e os pêssegos em calda sempre foram um doce sério, não tinham o mesmo encanto do pudim, outra sobremesa que ela fazia bem.

A lata de pêssegos em calda me lembrou de outras coisas que eram parte da vida das famílias e que hoje amargam o ostracismo. Novamente: não que o pêssego em calda esteja arquivado, fabricantes e apreciadores, não me cancelem. Foi só que aquela lata me levou a uma viagem no tempo, e de repente me vi na casa dos meus pais, com tantos e diversos caprichos hoje desaparecidos.

A roupinha xadrez do liquidificador, que combinava com a roupinha do botijão de gás. O Fabrício Carpinejar escreveu que as famílias se transformaram na hora em que a mãe parou de vestir o botijão de gás.

Os conjuntinhos de privada. Uma capa sempre meio peluda que cobria a tampa do vaso sanitário e fazia par com o tapetinho peludo que tornava o ato de sentar ali mais reconfortante. O tal do conjuntinho acabava ficando meio nojento pela água que pingava da descarga e pela sua própria natureza, e de vez em quando era substituído por outro. O cheiro era o de um cachorro molhado eternamente deitado no banheiro.

O abajur de uísque. Esses dias vi um filme da diretora Lucia Murat sobre o golpe de 1964 e lá estava, na casa de uma das entrevistadas, o abajur de uísque JB, um clássico dos anos 1970. Quem não teve um não viveu um capítulo marcante da decoração da casa brasileira.

A TV ligada no programa Sílvio Santos da manhã até a noite. Tudo o que acontecia no domingo era em função do Programa Silvio Santos. Almoço na hora do Qual é a Música? - duas notas, Maestro Zezinho -, banho quando entrava algum quadro chato de competição entre estudantes, janta na mesa tão logo começava o Show de Calouros. Ninguém precisava de relógio no domingo, qualquer criança sabia que ia para a cama quando o Quem Quer Dinheiro? acabasse.

Depois, bem depois, veio o Fantástico e a terrível sensação de fim do mundo com aquela musiquinha da abertura anunciando que o domingo já era.

Para encurtar o caso, o churrasco dos amigos chegou ao fim, e a lata de pêssegos em calda se ofereceu para quem quisesse desbravar sabores de outros Carnavais. O creme de leite se mistura com a calda e ameniza a doçura, disse o homem da camiseta de banda, expert no assunto. E todos gostaram e repetiram até limpar a lata.

No próximo encontro com seus pais, os jovens presentes certamente contarão que naquele domingo, ao som de phonk, trap, hyperpop ou outra dessas modernidades, experimentaram uma sobremesa diferente, pêssegos em calda. Eles já ouviram falar?

CLAUDIA TAJES