sábado, 25 de julho de 2020



25 DE JULHO DE 2020
MÚSICA

LIVE UNE DUAS LENDAS GAÚCHAS

Os Serranos e Os Monarcas farão show neste sábado. Neste sábado, a partir das 21h, fãs dde nativismo poderão conferir um momento histórico da música gaúcha, na live batizada de Grande Baile do Rio Grande. Transmitida pelos canais do YouTube e pelas páginas do Facebook dos grupos Os Serranos e Os Monarcas, direto do Centro de Eventos Sítio Novo, em Joinville, a apresentação trará dois dos mais longevos conjuntos musicais do Estado: Os Monarcas somam 48 anos de estrada e Os Serranos, 52.

Respeitando todos os protocolos de distanciamento social, por conta da pandemia de coronavírus, os grupos farão um baile de cerca de quatro horas, com início às 21h e término já na madrugada de domingo, por volta da 1h. Isso lembra uma velha tradição de bailes gaúchos, que duravam uma eternidade - no começo de suas trajetórias, os grupos faziam bailes de até oito horas.

Durante o espetáculo, cada trupe, inicialmente, se apresentará por uma hora. Depois das primeiras duas horas, o público verá uma alternância de Serranos e Monarcas, com cada grupo tocando meia hora.

- Considerando que o salão é muito grande, contaremos com dois equipamentos, independentes e similares. Um grupo estará de um lado, e o outro, do lado oposto - explica Edson.

Como só há um palco, esse ambiente não será usado, para evitar a proximidade. De acordo com Edson, serão montados dois equipamentos na pista do clube, que é ampla. Para os fãs que aguardam por canções dos Monarcas e dos Serranos de maneira conjunta, ele diz que a possibilidade é remota:

- Atuaremos independentemente, mesmo porque é quase impossível atuar conjuntamente. Por mais experientes que sejamos, daria um desacerto grande (risos). Ademais, são repertórios diferentes.

Expectativa

Como os dois grupos estão há mais de 120 dias sem fazer um show presencial, a expectativa das turmas lideradas por Edson Dutra e Gildinho é grande. Entre as canções mais aguardadas dos Monarcas (que há mais 40 anos toca em boa parte do país, sendo figura constante em bailes nas regiões Centro-Oeste e Norte), estão A Saudade Pega, Todo Mundo na Vanera, Para os Meus Braços e Trancão de Vanera.

- Será "a" live do ano na música gaúcha. Os Serranos são referência no que fazem, e os Monarcas, referência em fandango. Quem estiver em casa assistirá a um baile com muita música boa. Estamos preparando um repertório com as músicas mais fortes dos nossos 48 anos - adianta Gildinho.

Já Edson, que define o local como um dos mais lindos palcos do Sul, lembra que Os Serranos fizeram a inauguração do Centro de Eventos há alguns anos, e acredita que a apresentação proporcionará muitas emoções para os fãs. No repertório, devem estar sucessos como De Chão Batido, Tordilho Negro, Lembranças e Mercedita. Ele afirma:

- Imagino que, com essa apresentação, a gente proporcione muitas emoções para as pessoas que gostariam de estar ali e conferir a atuação dos dois grupos que, juntos, somam cem anos de música gaúcha. É uma iniciativa que antevejo vitoriosa.

JOSÉ AUGUSTO BARROS


25 DE JULHO DE 2020
MARTHA MEDEIROS

Inalterável gerúndio

Saudade do particípio. De quando uma etapa era vencida. Uma crise, superada. A coisa acontecida. Agora é esta estrada que não acaba, este mistério que se alonga. Tudo se arrastando como um rio no meio da tarde, como a formação de uma onda preguiçosa, como o passo de uma girafa em câmara lenta.

Estamos remoendo ideias e escrevendo uma parte da história do mundo. Povoando nossos sonhos com criaturas esquisitas. Alongando pensamentos, inventando verbos, espichando os dias e se perguntando: até quando?

Nenhum ponto final à vista. Nada, coisa nenhuma concluída, feita, resolvida. Ainda estamos aprendendo a lidar com os medos novos e com um futuro que, teimoso, não chega, ao contrário, olha lá ele, se afastando.

Talvez estejamos perdendo a calma - perdendo vagarosamente, pois ela ainda não está de todo perdida. Sempre há um restinho de serenidade sobrando. Os dias não começam nem terminam, eles vão se somando. As horas não se diferenciam umas das outras, vão se misturando.

O dia vai se enamorando da noite, a noite vai seduzindo as manhãs: promiscuidade de um tempo que não se define, prefere ir se enroscando.

Antes fazíamos aniversário. Em 23 de abril, 18 de maio, 11 de junho. Mas já não há mais datas marcadas, não há o antes e o depois destacados no calendário dos dias. Agora estamos continuadamente envelhecendo, de forma mansa e esparramada. O corpo da gente se gastando e o coração insistindo, batendo, batendo.

O frio e o calor andam transando. Ouço-os gemendo. Tiro o blusão depois do almoço, recoloco o blusão ao entardecer, acumulo cobertas e no meio da noite acordo suando, abro a janela e parece que vai chover, parece que não vai, a terra continua girando ao redor do sol e o inverno está brincando de se esconder.

Ando telefonando em vez de digitar mensagens. Ando lendo livros que já li. Ando doando roupas que não uso mais. Ando vestindo as mesmas camisetas. Ando matutando tanto. Ando gerundiando que nem sei. São muitas vozes me chamando de dentro do silêncio, e eu, alerta como nunca, ando me escutando.

As emissoras de rádio e TV seguem transmitindo boletins diários, e de madrugada ainda tem gente postando. Volta e meia, aproxima-se alguém vindo da extrema realidade, pedindo: dá uma moeda, alcança um pedaço de pão? Tudo segue doendo, e na região central do país, onde se resolvem os problemas, nada e coisa nenhuma se revezam: permanecem banalizando as responsabilidades e destruindo, desde o início, o que um dia foi começado. Pouco se tem enfrentado, debatido, solucionado, como deveria fazer quem fosse bem preparado.

Danado, sumido. Saudade do particípio.

MARTHA MEDEIROS


25 DE JULHO DE 2020
CLAUDIA TAJES

Na linha de frente da vida

Com Porto Alegre enfrentando uma fase crítica da contaminação pela covid-19, conversei com duas médicas que, se não estão na linha de frente, convivem com profissionais de saúde que lutam na guerra. Rosaura Rolim Cavalheiro é ginecologista há 30 anos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. É da chamada força de reserva do hospital e, junto com os colegas, mantém a normalidade do atendimento à população nas manhãs do HCPA. Cecilia Varella da Costa é internista e reumatologista, formada em 2011 na UFCSPA. Trabalha em seu consultório e nos hospitais Moinhos de Vento e Independência, esse último 100% SUS. É assim que depara, todos os dias, com as duas realidades distintas do sistema de saúde do Brasil.

Sobre trabalhar em um dos hospitais-referência desta pandemia, Rosaura diz que o HCPA tem oferecido todas as condições a seus profissionais. "Eu me sinto segura no hospital e também me sinto segura no meu consultório, com as minhas pacientes. Mas não me sinto segura do lado de fora." Cecilia: "As minhas consultas agora têm um tempo dedicado à covid. A gente acaba falando da situação atual. Eu costumo dar espaço para os meus pacientes expressarem o que estão sentindo e também divido os meus sentimentos com eles. É importantíssimo porque, na maioria dos casos, sou a única pessoa com quem eles têm contato. É uma troca muito rica".

É o mesmo sentimento de Rosaura. "Nossa vida mudou e a dos pacientes, também. Eles nos buscam com o olhar e nós retribuímos com ciência e atenção." A defesa da ciência é mais uma afinidade, entre as tantas que elas têm. As duas acreditam, por exemplo, que o teleatendimento veio para ficar, uma opção a mais da Medicina que vai estabelecer uma nova relação médico-paciente. Rosaura: "Eu uso a ciência para me orientar e às minhas condutas. Sempre foi e sempre será assim".

Sobre a maneira como o Brasil tem tratado a pandemia, Cecilia diz: "O que me choca é ver discussões relacionadas à saúde serem pautadas por vieses ideológicos. A crise sanitária foi transformada em crise política. Acho que falta um alinhamento de discurso no nosso país. A gente tem um líder que está de um lado, e a ciência está no outro. Enquanto isso, a pandemia cresce com números absurdos e pessoas sem nenhum conhecimento técnico dão pitaco sobre o remédio X ou Y".

A reumatologia, especialidade da doutora Cecilia, é uma das que mais se utiliza da hidroxicloroquina. Com a recomendação indiscriminada do remédio, inclusive como prevenção, muitos pacientes ficaram sem a medicação, principalmente os do Interior. Ainda assim, no meio do caos, Cecilia é otimista. "Passamos por uma fase de negacionismo, de pensamento mágico, com blogueiros de jaleco defendendo o abandono da medicina tradicional, coisas sem evidência científica e que expõem o paciente a riscos. Agora a população está vendo profissionais sérios e éticos falando na televisão, dando entrevistas. O conhecimento científico nunca foi tão acessível quanto nessa crise. Espero que a ciência ganhe voz a partir de agora." O isolamento que receitam a seus pacientes, Rosaura e Cecilia também praticam. "Sinto falta de visitar minha tia da Cidade Baixa. A tia do Nordeste perdi agora em julho. Não foi covid, mas não pude me despedir. Sofri. Sofro. Estou sensível e me emociono com as homenagens aos profissionais de saúde. Até as palmas nas janelas me emocionam." Cecilia: "Não vejo minha família desde março. Meus pais, minha avó, meu irmão, todos são do grupo de risco, então eu optei por ficar distante. Ainda assim, tenho medo de trazer o vírus para casa, para o meu namorado, por mais que eu não tenha contato direto com a covid. Ocasionalmente avalio algum paciente com covid nos plantões e, claro, mesmo com todos os cuidados, a gente tem medo".

Rosaura, casada com um médico, lê desde pequena e tem ouvido muita música. "Meus filhos tiraram do baú velhas histórias nossas e velhos videogames. Sou péssima, eles riem e nos divertimos. Engordei um pouco, mas não aprendi a cozinhar, e tampouco bebo vinho tinto. Fiz uma listinha de coisas que eu pretendo fazer quando passar a pandemia. Mas isso eu não posso contar". Cecilia diz que nunca leu tanto como agora. "Os livros têm me ajudado a superar o isolamento social. Eu percebo agora que consigo viver sem muitas coisas materiais, mas não consigo viver sem música, sem filme, sem livro. E espero que, após tudo isso, a cultura seja reconhecida como um direito humano de primeira necessidade."

Apesar do cansaço e das incertezas, elas seguem firmes. Rosaura: "Todos os dias, quando saio de casa, levo no rosto, debaixo da máscara, um sorriso que agora anda escondido. Sorriso que traduz a felicidade que, para mim, é trabalhar". Cecilia: "Nós, médicos, não somos ensinados a lidar com a impotência, a gente se forma para lutar pela vida e, quando não se puder curar, ao menos, aliviar. Entendo as questões econômicas, mas eu sou médica. Por isso, prefiro acreditar que qualquer pessoa, com um mínimo de empatia, tem feito o possível para cuidar de si e das pessoas que ama".

Para as doutoras Rosaura e Cecilia, e a todas e todos profissionais de saúde, muito obrigada por não desistirem da gente.

CLAUDIA TAJES


25 DE JULHO DE 2020
CAPA

"Não compro briga, abraço causas"

A pandemia transformou a vida de Fernanda Gentil: substituiu Fátima Bernardes nas férias, estreou um quadro no "É de Casa" e lançou projetos de lives. Com o lema "ajudar a ajudar", ela fala dessas e de outras conquistas

O distanciamento social de Fernanda Gentil tem sido de muitos encontros. Antes de substituir por um período Fátima Bernardes nas manhãs da TV Globo, a apresentadora lançou um novo quadro no É de Casa, aos sábados, e já é quase da família de seus mais de 6 milhões de seguidores no Instagram. Na rede social, apresenta uma série com lives e vídeos para todas as faixas etárias e diferentes públicos. Vão de sessões de terapia, passando por leituras inclusivas para os pequenos a papos apimentados nas madrugadas.

Muitas de suas causas estão presentes, como no primeiro quadro criado, o Fato x Fake, um tema que toca especialmente Fernanda. Somado ao fato de ser jornalista de formação, ela própria é vítima frequente de notícias falsas e haters.

Desde que as gravações no Se Joga foram interrompidas em função da pandemia do coronavírus, a carioca está trabalhando de casa, na companhia da mulher, a jornalista Priscila Montandon, e do filho Gabriel, de quatro anos.

Na nova rotina, esticou ainda mais os dias que já eram longos ("não preciso dormir oito horas por noite", diz ela) e faz muito de tudo. Escreve, grava, edita, conversa com seus medos e agradece. Leve e franca, conversou com a Revista Donna sobre a importância de "perceber o seu lugar no mundo".

- Deus me livre chegar no fim da linha e não ter a sensação de que fiz a minha parte.

Tanto os projetos do Instagram quanto o novo quadro no É de Casa têm a vontade de ajudar como DNA. Como foram criados estes trabalhos?

No É de Casa, a ideia é ajudar a ajudar, seja lá da maneira que for. A mãe a criar uma brincadeira, os netinhos a matarem a saudade dos avós... Foi tudo muito rápido, em menos de uma semana conversei com o diretor, enviei o projeto e estreamos. Escrevo, produzo, gravo em casa e mando tudo pronto. Já no Instagram é mais variado, tento fazer um muito de tudo.

A live de terapia está entre os assuntos indicados pelo perfil do próprio Instagram. Como você faz a curadoria dos temas?

Costumo esperar o início da semana, pois a cada momento estamos passando por uma coisa diferente. Já falamos dos profissionais de saúde, de quem mora sozinho e está isolado, como isso vai mexer na sociedade de uma forma geral. Toda a montanha-russa das emoções. As pessoas estão solitárias e ansiosas, e acho que o quadro veio dessa necessidade. Conheço a Eda (Eda Fagundes, psicóloga) há anos. São 50 minutos e as perguntas são muitas. Eu já recomendava terapia em tempos normais, agora é quase uma obrigação.

Como é a troca das pessoas nesta live de terapia?

É livre e aberta, e o público está mais confiante, fala abertamente o que está sentindo. O que me impactou mais foi a questão da ansiedade: as pessoas estão sem o controle de nada e com medo de ser uma ameaça ambulante. O que prova como é necessário o que estamos fazendo neste formato de trabalho.

E em que momento as suas aflições aparecem nas conversas e você acaba fazendo a terapia junto?

Aparecem o tempo todo. Eu abro falando do meu dia, como estou naquela fase, exatamente para quebrar o gelo e mostrar que é um lugar seguro para todo mundo, que eles podem confiar. Na última, pedi desculpa, de tanto que falei de mim. Faço terapia total no quadro, como se fosse uma seguidora minha. Até me perco um pouco porque o papo é tão bom e uso muito a meu favor.

Sobre o quadro de acessibilidade. Antes do trabalho nas redes, esse era um tema que já fazia parte do seu foco de alguma forma?

O quadro Leitura Acessível é o meu preferido, pois envolve criança, leitura, livro e uma bandeira que eu quero levantar, que é a da acessibilidade. É tradução em libras, sonoplastia e locução. Sempre falo que, para algumas crianças, vai chegar pelos olhos, para outras, pelos ouvidos, mas, para todas, pelo coração. Escolho as histórias com muito cuidado, pois as crianças estão em um momento delicado. Além de tudo isso, tem o retorno que recebo. Não é o que tem mais mensagens, mas as que chegam são vídeos de crianças e relatos das mães dizendo que muitas delas estavam com dificuldade de concentração e, com as histórias, acalmaram. Se não for isso que faz valer a passagem pela vida, não sei mais o que é.

Como surgiu o Fato x Fake?

O Fato x Fake foi o estreante, pois senti a necessidade de informações verdadeiras diante de uma coisa nova. Tenho essa batalha contra as fake news por ser vítima várias vezes, e isso mexe comigo. Então, fiz um vídeo dizendo para contarem comigo e como admiro os jornalistas que estão até hoje 24 horas sem parar. Falo com especialistas, apresento as fontes das minhas pesquisas ou os sites dos dados oficiais. Toma muito do meu tempo desde o início, e o meu lado jornalista fica muito feliz. Informação certa, oficial e verdadeira salva vidas, sim.

Você tem de fãs a haters. O quanto essa luta contra as fake news entra na rotina?

Eu respondi esses dias uma seguidora no Twitter. Chegou um momento da quarentena em que o meu nome começou a aparecer, um bafafá de que eu trocaria de emissora. Ela perguntou de uma maneira muito educada, queria saber com as minhas palavras. Fiz uma longa resposta. Disse que, para mim, é uma pena que muitas pessoas sigam acreditando que manchete ruim dá mais clique. Também respondi que as manchetes são muito mais atraentes do que o que está realmente acontecendo. Claro que é muito bom ver "botar fogo no parquinho", para usar uma expressão atual. Na época da Copa do Mundo, quando fui cumprimentar um convidado cego, que obviamente me deixou no vácuo, criei uma casca. Se eu não tivesse feito isso, não teria conseguido entrar no estúdio no dia seguinte. Mas, ao mesmo tempo que essa casca ajuda a não tirar o meu sono, entro no automático demais. Me comprometi que, sempre que achar necessário, vou usar minhas redes ou veículos que tenho carinho para usar as minhas palavras. Não vendo mais a minha paz.

Como é o público da madrugada? Mais carente? Mais apimentado?

O público da madrugada é zueiro. A maioria é para realmente resenhar, porque é no mesmo dia da terapia. Falamos coisa séria às 15h, e na madrugada a gente fala sobre um monte de coisa. Tem pergunta leve e umas para maiores de 18 anos.

Você é uma pessoa noturna ou se transformou nesse período?

Eu sempre fui de acordar cedo e dormir tarde, de aproveitar as 24 horas do dia o máximo que posso. Tenho muita energia, quero acordar cedo para malhar, mas, com a quarentena, tenho me liberado para dormir até mais tarde. Para as pesquisas do quadro de terapia eu uso a madrugada, quando a casa está em silêncio. Na edição do quadro do É de Casa também viro uma noite. A quarentena esticou um pouco os meus dias.

Como é pautado o Confinamento em Casal? Quais as rotinas que vocês percebem que as pessoas mais querem ver de vocês?

As pessoas gostam de ver os casais, eu sempre soube. Com o confinamento em casal não seria diferente, e é quase sempre uma surpresa para a Priscila. Estamos no meio de uma atividade, eu grito "livre", e ela sabe que eu já estou gravando. O que mais instiga é o assunto do dia, que é enviado pelos seguidores. O da louça suja rendeu muito: se um que lava, se parcela, se lava na madruga. A gente provoca quase uma DR. A Priscila tem dias e dias, porque deve ser um saco ser surpreendida (risos). Mas, mesmo que não esteja a fim, ela sabe que tem que parar.

Como está hoje a sua rotina com o distanciamento social?

A rotina agora está bem mais, digamos, natural. Já entrou em uma engrenagem que está rodando direitinho, mas o início foi caótico. Criança sem creche, eu e a Priscila trabalhando em casa, as questões psicológicas. Mas depois a gente entendeu que era importante ter uma rotina dentro da nova rotina. Não são férias, não pode ser tudo relaxado e liberado. Tem home office, almoço, jantar. Claro, dá para ver uma TV a mais, um desenho a mais, um joguinho extra. Mas já entendemos o que funciona e o que não funciona. Tenho até vergonha de reclamar, sei que sou privilegiada. Se o seu maior sintoma for tédio, é porque você tem muita gente para ajudar. E fazemos isso sempre com participação do Gabriel, para ele ver e entender bem o lugar dele e o que pode fazer pelos outros.

Com dois meninos em casa, como fica essa administração de rotina?

O Lucas está com o pai dele. Não estou mais morrendo de saudade, eu já morri mesmo. Com o Gabriel, estava me cobrando ficar com ele o tempo todo, tipo "já que eu estou aqui, vamos aproveitar". Um pouco de culpa com cobrança. Mas depois tive que aprender a trabalhar em casa, ele também começou a ter atividades da creche. Tem dia que está bem e faz, se não está bem, não faz. Enquanto eu quis enfiar à força a vida normal nessa nova rotina, bati cabeça, e isso passa por todas as tarefas de casa. Não tem como exigir comida fresca todo dia. É um congelado, um macarrão instantâneo, um lanche no jantar. É vida nova para todo mundo, tem que escolher do que vamos abrir mão e o que vamos remanejar.

Seu afilhado Lucas, que você tem como filho mais velho, está em uma idade de entender tudo o que está acontecendo. Como é conversar sobre toda essa transformação?

O Lucas tem 12 anos, explicar isso para ele não é fácil, é enriquecedor. Quase um retorno de que a gente fez as coisas certas até aqui: eu, meu tio que é o pai dele, a família toda. Ele entende tudo mesmo, mas é sempre uma caixinha de surpresa, não se sabe o nível de alcance. Foi muito gostoso, porque ele não só entendeu, mas viu o lugar dele, a sorte que tem por estar protegido. Já com o Gabriel, as crianças têm o poder de se adaptar, o desafio não é esse. É explicar que não é uma coisa pequena, como vai ser ir para a escola com máscara, o que é o adesivo no chão da farmácia.

Ainda incomoda todos os passos do seu relacionamento com a Priscila serem muito noticiados?

Se for com carinho e verdade, pode repercutir. Se tiver cuidado com o que eu falo ou publicar uma foto de um passeio, sem problema. Sei que minha vida pessoal causa representatividade. E representatividade salva vidas. Tive prova através de pessoas que achavam que estavam no final da linha até verem meu namoro e como minha família aceitou.

Vocês têm uma rotina tranquila e uma vida nada polêmica. Sente-se cobrada a se posicionar mais?

Se posicionar contra o preconceito é quase um pleonasmo. Deveria existir só um lado. Eu e Priscila concordamos muito sobre isso, a gente nunca foi a uma parada gay, por exemplo, porque não é um programa que faça o nosso perfil. Por outro lado, assumir uma relação gay, sendo mulher, no mundo esportivo, na maior emissora da América Latina, é um posicionamento, pois jamais cogitaria viver isso escondido. É a vida natural. Sabia que tinha que passar por essa onda, mas a gente sabe nadar. Acho muito cruel apontar o dedo, jamais apontaria dedo para alguém se posicionar, mas já vi gente fazendo. Não gosto muito de comprar brigas, abraço causas. Se a gente não usar essa visibilidade para falar coisas importantes, a gente não entendeu nada. Trabalhamos tanto, e quando conseguimos uma vitrine, que não é para sempre, não usamos para ajudar ao próximo? Deus me livre chegar no fim da linha e não ter essa sensação de que fiz a minha parte.

Como é ser uma pessoa pública em um momento como esse? Quais causas você compra e como consegue fugir do radicalismo?

Que bom passar essa imagem. Sempre tento levantar as bandeiras e as causas que acho importante e escolhi lutar contra a homofobia da maneira que me distancie de quem é homofóbico. Não só pelos conceitos, mas pela forma como essa pessoa luta. Quero ser diferente do homofóbico não só pelas ideias, mas também pelo comportamento, geralmente agressivo. Não quero ter nada a ver com essas pessoas.

RENATA MAYNART


25 DE JULHO DE 2020
LEANDRO KARNAL

O SAL DA TERRA

Olhe na sua despensa, em um recipiente ao lado do fogão ou em sua mesa. Lá está um pequeno grão branco, única rocha mineral que comemos regularmente. É o sal. Há tamanha abundância de sal que não nos damos conta de que vivemos e morremos em função dele, há milênios.

Não sabemos quando ou o porquê de termos começado a ingerir sal. Realmente me impressiona imaginar um humano, sem nunca ter provado sal que, olhando uma pedra porosa, resolveu pôr aquilo na boca. O sabor é forte, especialmente em grande quantidade. Na biologia, existem vários animais que sentem necessidade fisiológica de fazer isso, para regular seus organismos. Conosco deve ter sido instintivo assim também. Uma bomba de sódio-potássio desregulada clamou para que um antepassado lambesse uma salina. Começou um caso de amor.

Na Antiguidade, no mundo todo, há casos de exploração de antigas salinas. Da China antiga, passando pelo mundo mediterrâneo, África até as Américas. Algumas das primeiras estradas do mundo foram feitas para se transportar sal, à época uma mercadoria rara (não há salinas em todo lugar) e, portanto, cara. A palavra salário deve sua etimologia aos pagamentos feitos em porções de sal aos soldados romanos. Nas Américas, sal também era moeda. Foi um dos responsáveis pelo renascimento do comércio de longa distância na Europa Medieval, sendo uma das commodities mais valiosas transportadas pela poderosa Liga Hanseática.

Servia para conservar alimentos, temperá-los, prepará-los e, em algumas culturas, envolvia curas. Até hoje, fazemos as mesmas coisas com o sal. Charque, bacalhau, arenque, presunto cru, conservas mil. O sal continua sendo uma geladeira. Desde cedo, era fundamental para curtir couro. Como tempero, sempre foi utilizado diretamente ou compondo molhos e bases. Em Roma, "a cebola e o alho", o tempero de todo dia, era o garo (ou liquamen), uma mistura de caldo de peixe fermentado com muito sal. Portugal era o lar dos melhores garos do Velho Mundo, transportado em ânforas por todo o Mediterrâneo e continente adentro. Por fim, uma das composições mais simples do mundo, o soro caseiro, salva mais vidas do que imaginamos. Estima-se em mais de 50 milhões, segundo a Unicef. Diarreia matou reis e príncipes durante toda a história. Para cada nobre falecido disso, milhões de plebeus. Uma mistura desenvolvida no mundo contemporâneo (água, açúcar e sal) foi revolucionária.

Erre a dose de sal, contudo, e enfrente as consequências: comida intragável ou insossa. Excesso e falta são pecados mortais no mundo do tempero. O consumo abundante de sal de cozinha pode causar hipertensão, problemas sérios de rins e danos à saúde. Remédio e veneno são a mesma coisa em doses diferentes, não é mesmo? Parte da sabedoria da cozinha e da vida está na administração da quantidade de uma pitada de sal para alegrar e dar sabor a tudo. É o sentido do ditado latino cum grano salis, com uma pitada de sal, significando dando um pouco mais de vida ao que, sem a pitada, seria destituído de encanto.

Se o sal foi tão valioso, também foi maldição. Os romanos, quando ganharam definitivamente a guerra contra a arquirrival Cartago, resolveram apagá-la do mapa. Destruíram cada construção da cidade. Equipes de engenheiros e soldados revezaram-se sem descanso para cumprir monstruosa tarefa. Ao fim, salgaram o chão do lugar para que, nunca mais, nada prosperasse ali. A prática de apagar sua memória foi usada por milênios. Em Ouro Preto, a casa de Tiradentes foi demolida e o terreno, "temperado" com o mesmo objetivo.

Sal, o prosaico grãozinho branco, foi política. Gandhi praticamente ganhou a independência da Índia por causa do produto. Proibidos de extrair a matéria em seu próprio país, os indianos eram obrigados a consumir produtos ingleses (pagando tributos sobre eles). Gandhi iniciou uma longa marcha de 400 quilômetros, à qual se juntaram milhares de seguidores em cada cidade de parada. A ideia era simples, recolher um pouco de sal no fim da marcha. Gesto simples, banal, mas contra a lei britânica. Milhares foram presos, incluindo o idealizador do protesto pacífico, outros tantos foram brutalmente espancados por soldados ingleses armados e com cavalos. A violência e a lógica colonial criaram uma avalanche na opinião pública. Um ano depois da marcha do sal, os proibitivos caíram e a marcha pela independência começara.

Jesus parece ter razão quando, em Marcos, nos diz que para sermos bem-aventurados precisamos ser o sal da terra. O sal ruim deve ser jogado fora. O bom fará o mundo. Padre Vieira pregou um lindo texto sobre o tema sermão de Santo Antônio aos peixes: "O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra não se deixa salgar". Trata-se de ótima reflexão do século 17 para os dramas do 21.

Salgue a vida. Olhe para os lados e perceba que tudo o que o cerca tem história. Tenha um pouco de tempero e muita esperança, cum grano salis. A vida e a comida precisam de tempero.

LEANDRO KARNAL


25 DE JULHO DE 2020
HISTÓRIA

Uma trama perversa

Até o fim do século 18, o Rio Grande do Sul era habitado por povos indígenas. Mas foi chamado de "terra de ninguém" pelos espanhóis que invadiram os pampas e se tornaram proprietários legais, criando um dos maiores genocídios da história da humanidade com a dizimação dos índios. Depois, no século 19, quando Portugal teve a posse definitiva do Estado, os massacres dos índios ainda eram uma realidade. Homens, mulheres e crianças torturados, estuprados, carbonizados em Caiboaté. Morreram mais de 1,5 mil guaranis nas Missões Jesuíticas por lanças, espadas, degolas e canhões.

A participação do Estado, com os escravizados para as charqueadas, gerou rios de sangue. A produção do charque era um trabalho pesado e prolongado. Os trabalhadores viviam na senzala ou no barracão pulguento dos enfermos. Recompunham-se minimamente até que o capataz viesse acabar com sua "malandrice".

A Revolução Farroupilha é outro incidente de proporções perversas considerado um ato heroico na história do Rio Grande do Sul, porém, um acontecimento de horror e tirania com o massacre dos Lanceiros Negros. Na Batalha de Porongos, ocorrida quando as negociações de paz já estavam em curso, os lanceiros se distribuíam em oito companhias de 51 homens cada, totalizando 426 pessoas. Todos foram traídos e massacrados em uma emboscada fomentada pelos dois lados do conflito.

Em 1864, em Porto Alegre, eram produzidas as famosas linguiças humanas consumidas pela elite local. A polícia da cidade deparou com uma cena de crime horripilante: no porão da casa de José Ramos e Catarina Palse, as vítimas estavam degoladas, esquartejadas e descarnadas. Eram transformadas na linguiça vendida no açougue que ficava na Rua da Ponte (atual Riachuelo) e que era bem aceita no comércio pela alta burguesia.

Revolução Federalista, a "guerra das degolas": ocorrida de 1893 a agosto de 1895, foi a mais séria das contestações que a República brasileira, proclamada em 1889, enfrentou. A guerra chegou a Santa Catarina, em novembro de 1893, e ao Paraná, em janeiro de 1894. Além disso, uniu-se aos rebeldes da Revolta da Armada no Rio de Janeiro, colocando em risco a sobrevivência da jovem República brasileira. De um lado, estavam os republicanos históricos, adeptos do positivismo, membros do Partido Republicano Rio-grandense (PRR); no outro, os chamados liberais, que a partir de março de 1892 fundaram o Partido Federalista Brasileiro (PFB). A "guerra das degolas" durou 31 meses e deixou entre 10 mil e 12 mil mortos numa população de quase 1 milhão de habitantes, além de uma série de atrocidades nos campos de batalha. Foi a mais sangrenta guerra civil que assolou o Brasil republicano até hoje.

Na exportação das degolas para o conflito de Canudos, um novo marco na trama da maldade. Soldados dos pampas formaram uma especial tática na quarta expedição do governo republicano, após os canudenses imporem a este três humilhantes derrotas. Os gaúchos chamaram a atenção tanto por suas vestimentas exóticas quanto pela violência na tradição de barbárie das recentes guerras ocorridas no Sul.

Para mim, outro momento crucial da perversidade gaúcha: à morte de Lampião, de seu bando e de sua companheira Maria Bonita, derivaram-se suas cabeças, cortadas e expostas, como exemplo à população, durante o governo do presidente gaúcho Getúlio Vargas.

Depois veio a ditadura militar pós-1964, que no Rio Grande do Sul teve torturas, desaparecimentos e mortes. Criou-se uma rede, com 39 locais em Porto Alegre, onde pessoas eram presas e torturadas, desde o "primeiro soco" (interrogatório preliminar) até as confissões à base de choques elétricos e espancamentos. O maior centro perverso foi o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no Palácio da Polícia da capital gaúcha.

Talvez, de lá para cá, os espinhos dessa trama tenham se expandido na educação e no sistema de cárcere, duas áreas sincronizadas perversamente pelo sucateamento a que são submetidas. Atualmente, em episódios como a live do filme Inverno, promovida pela Associação dos Profissionais e Técnicos Cinematográficos (APTC-RS), são debatidos os sobrenomes da aristocracia "colonieuro", mas as riquezas materiais acumuladas pela sociedade "culta" gaúcha o foram à base de ganância, massacres e crimes engajados à maior pobreza de muitos. Também transmigrou a perversidade para as redes sociais, onde o mal se manifesta em forma de agressividade e absurdos diversos. A guerra do dedo no olho segue com alienação, abusos, machismo, feminicídio, racismo e hipocrisia. Talvez o amor precise ser reconfigurado. Precisamos do perdão, da cura, do renascimento. Estamos doentes de tanta perversidade.

Diretor e roteirista de curtas-metragens como ?Bacantes? (2019) e de HQs como ?Kardec?
CARLOS FERREIRA


25 DE JULHO DE 2020
REPORTAGEM

CRISE PODE IR ATÉ 2033

A desigualdade social do Brasil deve se aprofundar nos próximos anos pós-coronavírus. Com uma taxa de desemprego de 13,1%, o país vê cada vez mais a força de trabalho reduzir - só em uma semana, 1,5 milhão de pessoas ficaram desocupadas, segundo a Pnad Covid19, do IBGE.

Para piorar, as contas públicas do governo federal brasileiro devem ficar no azul apenas em 2033 ou 2034, aponta estudo da Instituição Fiscal Independente do Senado (IFI) divulgado em junho.

Por conta dos investimentos no combate à pandemia e da perda de arrecadação de impostos com a paralisação das atividades, a União deverá ter um déficit de R$ 912,4 bilhões nas contas públicas em 2020.

Segundo Felipe Salto, diretor-executivo da IFI, a melhora do PIB e das receitas e a contenção de gastos devem diminuir aos poucos o déficit, mas não de forma imediata e intensa. Para agilizar o equilíbrio fiscal, ele sugere reforma administrativa ou aumento da carga tributária e, para evitar a desigualdade, o fortalecimento de programas de transferência de renda.

- É possível que haja uma piora da desigualdade. O Estado deve atuar para dirimir esse fenômeno. Isso pode ser feito melhorando a qualidade dos programas de transferência de renda ou até mesmo ampliando esses recursos. Nesta segunda hipótese, seria importante obter financiamento cortando orçamento do andar de cima, a exemplo da fatia de dinheiro público que deixa de ser arrecadada com as desonerações tributárias, isenções e regimes especiais de tributação. Essa troca de renúncias fiscais por aumentos nas transferências de renda aos mais pobres seria muito salutar - afirma Salto.

Na educação, uma geração de estudantes será afetada pela pandemia. Para além do abismo acentuado pelo ensino remoto, a expectativa é de que haja uma migração considerável de alunos de escolas privadas para escolas públicas, pressionando a demanda por serviços do Estado. A fatura deve ser cobrada nos próximos anos, aponta Iana Gomes de Lima, professora da Educação da UFRGS e pesquisadora de políticas e gestão da educação.

- Vamos ter um aprofundamento das desigualdades. Já há salas superlotadas em escolas, mas teremos ainda mais crianças em salas de aula para um único professor, que terá de dar conta de tudo. Quem terá menos acesso são os mais pobres, negros e indígenas, que historicamente ficaram alijados do processo educacional. A grande chave, neste momento, é investir em educação pública, passando por salário de professores, formação docente e infraestrutura de escolas - defende Iana.

Enquanto o Brasil não se ajusta, cada um se vira como pode. Com a pandemia, fecharam-se as escolas e os centros de convivência onde ficavam os seis filhos de Daniela Rodrigues, 32 anos. Mãe solteira, ela sobrevive do auxílio-emergencial, do Benefício de Prestação Continuada (BPC) que recebe para cuidar de um filho no espectro autista e de doações.

- Quando chega leite, a gente dá para todas as crianças. Conforme vai acabando, dou só para os menores. Me viro daqui, dali, dou um jeito sempre. Mas não dá para reclamar, tem gente que está pior - ela afirma.


25 DE JULHO DE 2020
BEM-ESTAR

DESCOBRINDO MARIO QUINTANA

O leitor de poesia tem que ter poesia dentro de si. Ele entra num plano sutil, onde é capaz de escutar o inaudível, adentrar um ritmo emocional, ouvir uma música que aparentemente não existe.

Quem lê poesia sabe disso, mesmo sem saber. Compreende que toda música é apenas uma tradução de emoções e sentimentos que usa notas, sons e instrumentos para se comunicar. E cria assim uma das artes mais belas e universais, que ultrapassa fronteiras e pode ser entendida por todos.

A poesia também é assim, mas no plano sutil, no plano das coisas não materializadas, do mundo invisível, da vibração da energia, no mundo abstrato das sensações e dos sentimentos, das ideias e dos ideais.

Quando comecei a ler poesia ainda não sabia disso, era adolescente e, para mim, se descortinava um mundo novo, onde milhares de emoções ainda desconhecidas dançavam no ar na minha frente, sem que eu soubesse o que fazer com aquilo tudo. Era arrebatador. Era como entrar numa sala onde houvesse imagens 3D em volta de mim, com tamanha força, beleza e significado que eu precisasse entrar devagar, aos poucos, para não me dissolver.

A festa da minha imaginação e fantasia era infinita e eu, deslumbrada com essa explosão de tudo, ia descobrindo as vozes de cada um dos mestres da poesia que depois me acompanharam a vida toda.

Eu lia e escutava a música que havia em cada verso, o ritmo de cada impulso, o som, o tom, a vibração. Um deles foi Mario Quintana, um tesouro descoberto, com tantas variações de humor e amor que sua música era elegante e sutil. Nunca imaginei que um dia seria meu amigo.

Uma vez eu disse a ele que não tinha adjetivos para um poeta tão substantivo. Ele gostou tanto que repetia sempre, simulando um certo orgulho.

A gente ria dessas pequenas coisas que alimentam a poesia. O cotidiano é cheio delas. E ele era o melhor observador de todos. Um espião da vida.?

Eu sabia que aquela atitude de tanta simplicidade era uma grande conquista. Ele domava uma imensa complexidade. E assim, como todo poeta, fingia ser o que realmente acabou se tornando, a síntese do que é simples e puro. Como diz um verso de Drummond: "Manter a inocência depois de tudo tão atrozmente explicado."

Chegar nessa simplicidade requer muito trabalho. É preciso muito empenho para manter a inocência.

Ver o invisível, sentir o sutil requer um esforço danado. 

Tantas vezes contei como nos conhecemos na Feira do Livro em Porto Alegre, a amizade que durou a vida toda, nossa troca de cartas e poesia, nosso humor e sarcasmo para olhar certas coisas, nossas infinitas conversas nos cafés e bancos de praça.

Momentos preciosos. Eu nunca disse a ele especificamente que escutei a música atrás de cada poema seu, escutei o bater de asas de cada palavra e acompanhei a altura do voo, com os olhos molhados de emoção.

Acho que ele, na sua imensa sabedoria disfarçada, compreendeu isso antes do que eu. Ele sabia.

Mario Quintana sabia tudo e fingia não saber nada como faria qualquer anjo dissimulado que andasse com um paletó velho pelas ruas de Porto Alegre fingindo não ser anjo.

BRUNA LOMBARDI


25 DE JULHO DE 2020
EM FAMÍLIA

APRENDIZADO MÚTUO

COMEMORADO NESTE DOMINGO, O DIA DOS AVÓS REAFIRMA IMPORTÂNCIA DAS TROCAS ENTRE AS GERAÇÕES

Dona Maria mal pode esperar por ter sua casa cheia dos filhos e netos. Na sua família, aos domingos quem pode se reúne em sua residência, as crianças correm, os adultos conversam e assam churrasco. Matheus também sente muita falta de ir à casa da avó e abraçá-la. Pergunta recorrentemente quando esse bichinho irá embora.

Neste domingo é Dia dos Avós. Uma data que muitas vezes passa despercebida na rotina de encontros e trocas frequentes. No entanto, neste ano, a falta da possibilidade de convivência próxima entre avós e netos nos convida a pensar sobre o significado destas relações.

Em função do envelhecimento da população, tem sido possível que as crianças convivam mais com os avós e, com sorte, até com os bisavós. Em uma sociedade que cultua a juventude e teme o envelhecimento, as trocas entre gerações têm um grande valor. Talvez nos abram os olhos para a riqueza da passagem do tempo e o ganho que temos com as experiências acumuladas.

Para os avós, o convívio com netos pode significar ver a vida se renovando. As crianças podem trazer movimento, afeto e trocas pulsantes. Mas e para as crianças?

Muitos psicanalistas estudam a questão da transmissão psíquica intergeracional, e este é um tema interessante quando pensamos nos pequenos. Quando um avô convive com seu neto, está transmitindo valores, histórias e o jeito das gerações passadas. Nessas trocas, há o elo entre quatro gerações, já que os progenitores conviveram com seus pais e avós também.

Freud enfatizou a transmissão do narcisismo no convívio familiar. Nesse sentido, o bebê seria herdeiro de sonhos e desejos projetados pelos seus pais, ponto crucial a partir do qual o sujeito pode constituir sua subjetividade.

Em época de pandemia, repensar a importância de uma constituição psíquica sólida e rica em trocas afetivas é fundamental. Quais valores queremos deixar para a próxima geração é a questão, não é mesmo?

Ao estarmos mais isolados, talvez possa haver espaço para refletir sobre o bem-estar e os princípios que regem nossas vidas. Esse tema é perpassado pela singularidade e, por isto, torna-se extremamente particular. No entanto, examinar como estamos nos relacionando é crucial.

Conscientes da inestimável importância dessas transmissões, é fundamental a manutenção dos vínculos, mesmo que a distância. Neste momento em que os idosos já estão tão ameaçados pelo vírus, que os núcleos familiares encontrem meios de devolver o cuidado de outrora. Um feliz Dia dos Avós!

DÉBORA LAKS


25 DE JULHO DE 2020
J.J. CAMARGO

AS PIORES FRASES

A estimulação dos leitores em busca das piores frases a serem ditas, na coluna da semana passada, rendeu. Mais do que imaginava. E não escolheu idade.

Um menino de 11 anos selecionou: "Você quer que eu conte para o seu pai?". E um vovozinho, lúcido e determinado, pediu para a cuidadora mandar, por e-mail, seu modelo de frase deprimente: "O senhor tem que aprender a chamar antes que aconteça!".

Passando por esse consolo, uma raridade absoluta: "Isso acontece, daqui a pouco a gente tenta de novo!". O falso confidente se revelando: "Vem cá. Senta aqui. Deixa te contar uma coisa".

Afora o desespero, qual a justificativa para esta pérola: "Não é nada disso do que você está pensando!". Por que toda a relação tem que terminar com esta explicação cretina, "o problema não é você, sou eu"?

"Não entenda como uma crítica a você, mas com todo o respeito..." 

O leitor que escolha a pior frase entre a pergunta "você acha que eu estou gorda?" e a resposta "um vestido liso, de cor escura, combinaria melhor com seu tom de pele!".

Da namorada, esposa ou amante: "Eu preciso de alguém ao meu lado, que me compreenda...".

Político em campanha, entra no velório de um desconhecido e abraça a viúva: "De que morreu meu amigo?". "De pneumonia..." "Simples ou dupla?" "Simples." "Ainda bem!"

"Não toco mais no assunto enquanto sua mãe estiver viva! Um dia desses a gente conversa..."

A sogra, na primeira visita do candidato a genro: "Você é muito namorador?". E o sogro, na mesma situação: "Você trabalha em quê?".

O consolo fajuto de mãe: "O que estão falando de ti só pode ser por inveja!". "Antes de mais nada, deixa eu lhe dizer que achei a sua entrevista ótima, mas..."

Algumas frases têm a mesma força maligna: "Eu vou contar até três!" ou "Quer que eu conte daquela noite em que você bebeu?".

"Não que eu ache que você é, obrigatoriamente, racista!"

Que tal esta saia justa: "Se eu te fizer uma pergunta, você me responde com sinceridade?".

"Qual das duas notícias você quer ouvir primeiro?"

Casal habituado a chamar um ao outro por um apelido carinhoso e, de repente, o uso de nome correto, podendo piorar quando se inclui a aspereza do segundo nome, uma coisa do tipo: "Maria Cristina!!!".

É possível um médico acreditar que um paciente possa se tranquilizar com esta introdução? "O senhor deve saber que a medicina tem avançado muito!"

Obrigado pela acolhida e pelo carinho reiterado das mensagens. Valeu!

J.J. CAMARGO


25 DE JULHO DE 2020
DAVID COIMBRA

A mancha

Já tinha saído de casa quando vi que havia uma mancha na minha camisa. Era uma mancha mais ou menos à altura do fígado, bem na frente, no lado direito. Uma mancha escura, e a minha camisa era clara. Uma camisa cor-de-rosa.

Homens antigos não usavam camisa cor-de-rosa. Aquela coisa da ministra Damares: "Meninos vestem azul, meninas vestem rosa". Por favor! Mulheres adoram homens vestidos de rosa, sabia?

Não sabia? Pois adoram.

Outra peça do vestuário masculino que é muito observada pelas mulheres: os sapatos. Algumas mulheres já me disseram que analisam a personalidade do homem pelo par de sapatos que ele calça. Elas olham para o sapato e já sabem que tipo de homem o cara é. Como elas fazem isso? Não sei. Estou apenas transmitindo a informação.

Compreenda, portanto, que muitas mulheres consideram homens de camisa rosa bastante másculos, e era assim que estava me sentindo, naquela manhã: másculo, selvagem, talvez provocador. Até que vi a maldita mancha.

Fiquei imediatamente irritado. Porque já estava chegando à Redação e usaria aquela camisa o dia inteiro, não havia possibilidade de trocar antes de a noite desabar atrás do Rio Guaíba. E mais: era provável que saísse direto do jornal para o bar. Ou seja: a mancha me acompanharia por horas, possivelmente madrugada adentro.

Aquele pensamento se transformou em outra mancha, uma nuvem negra que passou a pairar sobre mim e ensombreceu a manhã. Ao entrar no prédio da Zero Hora, percebi que a moça da portaria e o vigia olharam disfarçadamente para a mancha. Cumprimentei-os, desconfiado, e senti vontade de me debruçar no balcão e explicar:

"Olha só: tem uma mancha bem aqui na minha camisa, à altura do fígado. Não sei como essa mancha apareceu aí, quando vesti a camisa ela estava imaculada como uma freira, e agora isso. É muito desagradável. Vocês não têm, por acaso, um spray tira-manchas?"

Seria inteligente fazer essa antecipação. Mas depois pensei que ressaltar a mancha seria como ressaltar meus próprios defeitos. É ruim você ficar enfatizando os seus defeitos para os outros. Porque às vezes eles nem percebem e você é quem chama atenção para o erro. Então, não falei nada, segui em frente, comecei a subir as escadas. Mas tive a impressão de que eles riam à socapa, quando me afastei. Como as pessoas são cínicas.

Como seria visto, ao entrar na Redação? Essa pergunta me inquietava. Entenda: não há nenhum lugar do mundo mais crítico e ferino do que uma Redação de jornal. Além disso, as pessoas que trabalham lá são muito observadoras, faz parte da rotina delas observar. É certo que elas veriam a mancha.

"Olha ali o David, com uma mancha na camisa. Que relaxado! Isso é falta de higiene. Não deve ter nem sequer lavado a camisa, deve ser a camisa que ele já usou 10 vezes sem ter visto água. Ele usa e bota no roupeiro de novo".

Mas não é verdade! A camisa estava limpa. Deve ter sujado no café da manhã. Banana frita! Sim, eu havia comido banana frita na manteiga, temperada com canela, acompanhada de café preto. É algo que como, às vezes. E manteiga, é sabido, mancha irremediavelmente. Devia ser culpa da banana frita!

Sentei atrás do meu terminal. A Marta Gleich, por algum motivo, veio falar comigo. Não podia deixar que a diretora de Redação visse aquela mancha. O que ela ia pensar de mim? "Um cara que vem trabalhar com uma mancha na camisa é um cara que pouco se importa com o trabalho". Os chefes estão sempre nos avaliando.

Enquanto ela falava, peguei o bloco de anotações que estava na mesa e o coloquei bem na frente da mancha. Até pegava bem aquilo, era como se estivesse pronto para anotar as orientações dela. Ela falava e eu nem escutava. Só pensava: "Tomara que não veja a mancha".

Não viu. Se foi, na direção da sala dela. Ou será que viu, e agora estava rindo à sorrelfa? Por que não me disse que havia visto? Aí eu poderia explicar que foi a banana frita. Como as pessoas são cínicas!

Marchei para o banheiro. Ia remover a mancha agora mesmo, custasse o que custasse. Parei diante do espelho. Abri a torneira. Lambuzei a mão de sabonete. E ataquei a mancha com fúria. Esfreguei, esfreguei. Lavei bem lavado. Passei a toalha de papel para dar uma secada. Examinei a mancha. Parecia que se fora. David victor! Saí orgulhoso do banheiro. Estava pisando mais leve no corredor, estava quase sorrindo, quando ela apareceu de novo. A Marta Gleich. Olhou direto para o local onde antes reinava a mancha.

"O que aconteceu com a tua camisa, David?", perguntou, e nem esperou que respondesse, se foi sorrindo, decerto contar como sou negligente lá naquela reunião de diretores, eles todos balançando a cabeça em desaprovação.

Como as pessoas são cínicas!

DAVID COIMBRA

25 DE JULHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

Incentivo à energia solar

É consenso que as energias limpas serão pilares do futuro. A preocupação cada vez maior com a sustentabilidade dá um impulso a uma nova economia em escala global e o Brasil tem inigualáveis possibilidades de se inserir nessa nova ordem como protagonista pelas condições naturais favoráveis e, em algumas áreas, tecnologia de ponta. A geração de eletricidade a partir do sol, incipiente no Brasil há menos de uma década, hoje avança na velocidade da luz pelos incentivos, barateamento de equipamentos e, óbvio, pela generosa irradiação solar. Exatamente por ser uma frente em que o país reúne vantagens, agiu de forma acertada o governo federal ao incluir diversos equipamentos voltados à energia solar em uma lista de itens que terão, até 2021, imposto de importação zerado.

A medida dá fôlego extra ao setor e incentiva novos projetos. Boa parte dos equipamentos vem do Exterior, especialmente da China, e o corte nos tributos tenta compensar o efeito negativo causado pela alta do dólar ao longo de 2020. Os equipamentos tinham alíquota entre 12% e 14%, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

A isenção temporária beneficia particularmente o Rio Grande do Sul. O Estado, atrás apenas de Minas Gerais e São Paulo, é o terceiro em número de unidades geradoras. Beneficiam-se não apenas usinas, mas uma grande quantidade de pessoas físicas e pequenos negócios, no campo e na cidade, que apostam na chamada geração distribuída, em que o próprio consumidor origina sua energia e, em períodos de menor demanda, fornece o excedente para a rede, obtendo créditos que podem ser abatidos da conta. 

A energia elétrica é um dos principais custos para vários tipos de indústrias e um gargalo em propriedades rurais que gostariam de investir mais em irrigação, por exemplo. Com a instalação dos painéis solares, fábricas, agropecuaristas, donos de pequenos comércios, estabelecimentos de serviços e mesmo consumidores residenciais têm a oportunidade de economizar ao longo do tempo, enquanto contribuem para o ambiente. Um negócio que, sem dúvida, merece e precisa ser incentivado.

O Brasil tem grande parte de sua matriz energética nas hidrelétricas, mas tanto a energia eólica quanto a solar avançam rapidamente. No caso da solar fotovoltaica, já são mais de 3 mil megawatts (MW), mais do que o dobro do final de 2017, mas ainda menos de 2% da capacidade de geração do país. Parece pouco, mas é preciso ter em perspectiva que era praticamente inexistente no alvorecer da década. As fontes verdes têm ainda enorme potencial para incentivar o desenvolvimento de inovação e tecnologia. Não por acaso, a União Europeia, ao aprovar nos últimos dias um pacote de incentivo de 750 bilhões de euros para recuperar sua economia no pós-pandemia, apontou energias renováveis e tecnologia como prioridades. É um caminho natural a ser seguido pelo país.

OPINIÃO DA RBS


25 DE JULHO DE 2020
TELECOMUNICAÇÕES

Experiência 5G será oferecida na Capital e Bento Gonçalves

A internet 5G, tecnologia que promete revolucionar a nossa relação com dispositivos móveis e produtos com inteligência artificial, aos poucos chega ao Brasil. A Vivo anunciou que ativará o serviço em Porto Alegre - e outras sete cidades brasileiras - até o final do mês. Já a TIM prometeu, para setembro, emplacar a novidade em Bento Gonçalves, na Serra, e em outros dois municípios no país.

O diretor regional Sul da Vivo, Ricardo Vieira, disse que o serviço oferecido contempla especificamente as regiões de Moinhos de Vento, Avenida Carlos Gomes e Shopping Iguatemi. A TIM informou que "vai utilizar a técnica DSS com os fornecedores Ericsson, Huawei e Nokia, que aproveita a agregação de frequências do espectro atual (4G) para chegar à velocidade do 5G" e que "em breve, anunciará mais detalhes".

O serviço que chega ao Estado e nas demais cidades-piloto não é o que se entende como 5G puro. É o 5G DSS. Essa modalidade é a de Compartilhamento Dinâmico de Espectro (DSS, na sigla em inglês), ou seja, usa pedaços de frequências excedentes das que foram destinadas para o 4G brasileiro, explica César Marcon, professor do programa de pós-graduação de Ciências da Computação da PUCRS:

- O 5G DSS aumenta a velocidade de upload e download, de transmissão de dados e melhora a transmissão de imagem. Entretanto, por não termos frequência própria para o 5G, as pessoas não vão conseguir sentir diferença na diminuição do tempo para receber uma resposta às informações entregues, característica que é a chave para o futuro. A iniciativa é boa, porque permitirá maior tráfego de dados e impulsionará a outra ponta, os usuários, a adquirirem aparelhos que suportem a tecnologia, mas tem limitações.

Jéferson Campos Nobre, professor do Instituto de Informática da UFRGS, destaca que dificilmente a cobertura do sinal 5G DSS ultrapassará os limites das localidades anunciadas pela Vivo.

- Provavelmente, serão implementadas estações somente nessas áreas, porque são tecnologias que exigem investimento alto. Mas essa também é uma forma de prospectar novos clientes para o serviço e sinalizar que a companhia está se preparando para a implementação do 5G posteriormente - pontua.

Leilão

O leilão da faixa de 3,5GHz, destinado ao 5G, está previsto para início de 2021. Uma vez implantada a tecnologia, haverá acesso à máxima potência, altíssimas velocidades de internet, maior confiabilidade e disponibilidade, além da capacidade para conectar massivamente aparelhos ao mesmo tempo.

IAREMA SOARES

25 DE JULHO DE 2020
CARTA DA EDITORA

Nossos dilemas


A redação de jornal sempre foi um ambiente vibrante, de interação, de troca de ideias e até de descontração, com barulho de teclados de computador, conversas ao telefone, rádio em volume alto e TVs espalhadas pelos quatro cantos permanentemente ligadas. Local propício para quem lida com a notícia e sabe que a qualquer momento imprevistos surgirão e tudo o que foi planejado não terá mais sentido.

Desde o final de março, porém, a Redação Integrada de ZH, GaúchaZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho está vazia. Poucos profissionais, cuja presença é imprescindível por questões técnicas, estão atuando no local. Os demais estão em teletrabalho. Situação que professores, engenheiros, psicólogos e tantos outros também estão vivenciando.

Essa mudança de rotina em razão da pandemia nos impôs desafios. Como evitar que a casa se transforme num ambiente permanente de trabalho? Como não perder a concentração com crianças correndo dentro de casa? Como arranjar tempo para se exercitar e evitar recorrer à geladeira a toda hora?

Para tentar entender um pouco desses novos dilemas provocados pelo isolamento social, convidamos na quarta-feira passada os psicanalistas Diana Corso e Mário Corso para um bate-papo pela internet com a Redação Integrada. Durante uma hora, tivemos a oportunidade de entender o que de fato está se passando em nossas mentes e de como aprender a lidar com situações adversas.

A conversa foi intensa, com dicas de como tornar a rotina mais leve. Um dos temas mais abordados foi como saber distinguir o que é trabalho e o que é casa. Diana citou seu próprio exemplo: ao acordar, se veste, se maquia e vai para uma das peças da casa onde passa a atender seus pacientes por videochamadas. Como se estivesse indo ao consultório:

- Precisamos de momentos distintos em casa. Temos de arrumar a cama para delimitar o que é o quarto do dia e o que é o quarto da noite, saber a hora de trocar o sapato pela pantufa, ter a hora do regramento e a do desregramento.

Mário ressalta que é preciso criar estratégias para diferenciar casa e trabalho.

- Temos que descobrir o momento de se desligar da tomada e buscar alienações boas. Quando consigo cuidar das minhas plantas, fico no meu estado alfa - conta o colunista de ZH e GZH.

Foram 60 minutos para recarregar as baterias e retomar a rotina com mais leveza e inspiração.

DIONE KUHN

25 DE JULHO DE 2020
CHAMOU ATENÇÃO

Susto grande pra cachorro


Um vídeo que circula pelas redes sociais causou aflição em Montenegro, no Vale do Caí. As imagens mostram um cachorro sendo arrastado por uma caminhonete pelas ruas da cidade.

Na gravação, é possível ver que o animal está preso a uma corda na traseira da caminhonete, uma Saveiro. Apesar de o veículo não estar em alta velocidade, o cão não consegue se manter caminhando na maior parte do trajeto.

O vídeo chegou à Delegacia de Polícia de Montenegro na quinta­feira. Conforme o delegado André Roese, os policiais conseguiram identificar a placa do veículo e, no mesmo dia, foram à casa do proprietário, um homem de 55 anos. Chegando ao local, encontraram o morador cuidando do animal, que sofreu ferimentos leves. O cão vive na rua, mas recebe cuidados de vários vizinhos:

- Ele pertencia a várias pessoas e, ao mesmo tempo, a ninguém. Os vizinhos cuidam, dão comida, permitem que durma em suas residências - explica o delegado.

O dono do veículo prestou depoimento e afirmou não ter visto que o cachorro estava amarrado à caminhonete. Ele também disse que não sabe quem prendeu o animal ao veículo.

- Ele é uma pessoa conhecida na cidade, não tinha informação de que maltratasse o animal. Agora, a investigação segue para tentar descobrir se a versão dele é verdadeira, se há outras testemunhas, quem amarrou e qual é o motivo - disse Roese.

O crime apurado é o de maus-tratos. Conforme Roese, o homem investigado se propôs a pagar pelo tratamento e a adotar o animal. No entanto, a polícia achou melhor encaminhar o cachorro a um abrigo.

- O cachorrinho teve algumas lesões nas almofadinhas plantares (parte debaixo da pata) e nas laterais do dorso. Ele teve muita sorte e acho que se defendeu muito, coitadinho. Deus iluminou, graças a Deus. Foi medicado e passamos um tratamento - diz o veterinário Raphael Zamboni.