sábado, 30 de dezembro de 2017



30 DE DEZEMBRO DE 2017
CARPINEJAR

O presépio da família

Não tiramos o presépio depois do Natal. Ele fica até janeiro.

Transformamos a churrasqueira em gruta de igreja - sem carne espetada no período de um mês. É nossa pia de água benta à espera de benzer a testa.

É assim desde criança. Os rituais mantêm a família unida.

Somos mais do presépio do que do Papai Noel. O Bom Velhinho de vermelho nunca desceu pela chaminé porque tem uma criança surgindo na manjedoura.

Minha mãe me ensinou a montar o teatro bíblico, a fazer uma maquete do solo com papel especial, a colocar algodão imitando nuvens, a recolher pinhas, palha e barba-de-pau das árvores para compor o cenário rural. Nossos Reis Magos - Melquior, Baltazar e Gaspar - perderam as mãos e colamos com bonder. O burro e as ovelhas estão amarelados pelo tempo, mas seguem zunindo e balindo. O anjo caiu algumas vezes do prego do portal e rejuntamos as suas asas.

É a mesma turma desde pequeno. Bonita porque quebrou e se refez, humana e falível como a gente, com a história explicada dezembro a dezembro aos filhos e netos. Deixaram de ser apenas esculturas, porém réplicas em miniatura da resiliência familiar. São pedras onde depositamos os nossos laços. Há a casa no sangue e a casa no espírito, que começa com o presépio.

Não valorizamos as luzes piscando, não esnobamos com decoração o pinheiro na sala, mantemos o costume de privilegiar as sombras e a simplicidade da reencenação de Cristo, criada por Francisco de Assis.

E as crianças desfrutam do direito de colocar no presépio os seus brinquedos prediletos. Já teve Barbie ladeando a Nossa Senhora, já teve Playmobil ajudando o carpinteiro José, já teve miniaturas de Kinder Ovo puxando conversa com os pastores.

As modas mudam, as épocas variam, e amadurecer talvez seja não evoluir no amor: preservar o olhar puro e pobre do nascimento para todo o sempre.

CARPINEJAR


30 DE DEZEMBRO DE 2017
MARTHA MEDEIROS

Encontros e colisões


Tenho uma quedinha pelos significados antagônicos das expressões ao encontro de e de encontro ao. Perceba a sutileza, até parece poesia: ao encontro de/de encontro ao.

Arnaldo Antunes já terá se debruçado sobre isso? Adélia Prado? Antonio Cícero? Claro que não, eles não têm a obrigação de escrever um artigo edificante sobre o fim do ano. Mesmo que não pareça, é o que estou tentando fazer.

Uma pequena troca de posição ("de" no lugar de "ao", e vice-versa) e temos um mundo novo, outro olhar, tudo se transforma.

Ir ao encontro é abertura. Ir ao encontro de um novo amor, ou de um ex-amor, de um amor para sempre. Alguém que você sabe que está esperando sua chegada, que irá jogar tudo para o alto ao ver você entrar pela porta, que lhe dará a certeza confortante de que está sendo aguardado e de que nada, nada impedirá o happy end desta história.

Ir ao encontro de um sonho que estava criando mofo na sua imaginação. De repente, o sonho se realiza e uma chuva de papel picado cai sobre sua cabeça e você nem percebe o quanto isso é cafona, de tão inatingível que tudo parecia, mas aconteceu.

Ir ao encontro de um desafio que irá justificar sua passagem por este planeta. Escalar o Aconcágua? Apoiar uma organização humanitária? Fazer um teste para atriz? Ir ao encontro do que você intuiu antes mesmo de planejar, ir ao encontro daquilo que você queria ser antes mesmo de entender a fundo o que é ser alguém.

Ir ao encontro da serenidade, da angústia zero. Permitir que as perguntas fiquem sem respostas e não sofrer nem um pouco por isso. Ir ao encontro das surpresas que redefinirão quem você é, mesmo que você pense que já sabe quem é (não, nunca se sabe com certeza). Ir ao encontro do pânico e do êxtase que às vezes (quase sempre) reúnem-se no mesmo acontecimento.

Ir ao seu próprio encontro, ao encontro daquela faceta secreta que você ainda não trouxe à tona por medo de se conectar com as partes ignoradas da sua identidade. Há muitos "eus" dentro deste você que você é, mas que ainda não se permitiu ser por inteiro. Ir ao encontro deles, de todos esses eus desconhecidos, é um abraço gigantesco em si mesmo.

Que 2018 seja um esplendoroso "ao encontro de", e não um indesejado "de encontro ao". Crash! "De encontro" é colisão.

Bater de frente com a namorada, brigar com amigos por causa de política, ficar estremecido pela divergência de opiniões, mergulhar no estresse. Tivemos fartura dessas colisões em 2017, algumas necessárias, mas todas desgastantes. Ainda que 2018 seja um ano eleitoral (o que propiciará muitos "de encontro"), vale sonhar com um candidato que nos levará "ao encontro" de um ideal comum, de uma sensatez administrativa, de uma visão pluralista e de uma consciência social que beneficiará a todos. Estamos merecendo ir ao encontro desta utopia.

"De encontro" é conflito, choque, obstrução da caminhada. O que eu desejo para 2018? Que não seja atravancado por fake news, agressões, baixarias. Que seja leve e desimpedido. Que elegantemente flua.

MARTHA MEDEIROS


30 DE DEZEMBRO DE 2017
LYA LUFT

Novo ano novo

Primeiro, eu entendia que ano novo era mano novo, e ficava feliz com mais um bebê em casa, eu desde sempre louca por crianças e bebês. Até hoje, seguidamente, sonho que tenho um ou vários no colo. Depois, fui entendendo que não era mano, e sim ano, e também compreendi, vagamente, essa questão dos números com que demarcamos nossa vida - em geral, para nos atormentarmos um pouco mais.

O ano novo espia na esquina como um garoto arteiro, cheio de novidades malucas para nos surpreender.

O ano novo espreita nos espelhos como uma velha bruxa de longas unhas roxas para nos arranhar enquanto dá suas risadinhas sinistras.

O ano novo espera na porta da frente para a gente abrir, abraçar, aceitar e achar que vai ser feliz todos os trezentos e tantos dias - e algumas vezes, em muitos dias, e semanas, ou meses, a gente é feliz mesmo.

O ano novo é uma estrelinha que nos contempla lá do céu, como diziam, em tempos tão antigos: meu irmãozinho morto antes de eu nascer tinha virado estrelinha e cuidava de mim. (Me inquietava um pouco que também visse meus pecadinhos, que eram palavras feias, mentiras e botar a língua para os adultos pelas costas deles.)

O ano novo é uma esquisitice, mas vale porque, apesar de tudo, a gente celebra. Quase uma continuação do Natal, só que geralmente com mais festa, e dança, e espumante, promessas para os seres amados, e promessas para nós mesmos - mais cobrança do que promessa, aquela lista velha e chata como o mundo: fazer exercício, não beber, não comer, não ir demais às baladas, não fumar, não se matar com nenhuma droga, aliás, ser melhor filho, irmão, pai, mãe, colega, amigo, chefe, qualquer coisa dessas em que tantas vezes agimos como feitores de escravos ou carrascos.

E assim, dia a dia, o novo ano nos espera, e nós esperamos por ele.

Que Deus ou os deuses nos deem um aninho manso, colorido, bondosinho, gentil, não só para nós pobres humanos sempre tentando escapar dos males, mas para este mundo tão bagunçado, violento, chato, porque já nem as notícias de mortandades, desgraças, tufões, inundações, corrupções e bondades com os corruptos, e crueldades com os miseráveis pobres engaiolados como animais (não!, os direitos dos animais não permitiriam!), nos impressionam muito. Estamos calejados.

Enfim, que seja um aninho bem suportável para a maioria. Para alguns - os escolhidos -, que seja glorioso: a maioria do pessoal merece. Sobretudo os amados da minha família, os amigos, os leitores, e os homens justos que ainda sobrevivem nesta terra.

Um bom ano a todos nós.

LYA LUFT



42% das mulheres relatam ter sofrido assédio sexual, aponta Datafolha



Eram 5h40, ainda estava escuro. Maria, 45, caminhava as três quadras diárias até seu carro para mais um dia de trabalho quando um homem de moto parou ao seu lado. "Eu quero você", disse, sem rodeios, e começou a atirar dezenas de notas de dinheiro em sua direção. "Faz um boquete que eu te dou toda essa grana", ele falou. Depois desceu da moto e tocou em seus seios e em sua genitália. Só a soltou quando ela começou a chorar e implorar para que parasse.

Maria, que teve seu nome alterado para não ser identificada, não foi a única vítima desse assediador. "O guarda da rua disse que depois ele fez isso com mais cinco pessoas", conta ela. Tampouco foi a primeira ou a última vítima de assediadores no país.

Quatro em cada dez brasileiras (42%) relatam já ter sofrido assédio sexual, aponta pesquisa nacional do Datafolha –com 1.427 mulheres entrevistadas e margem de erro de dois pontos percentuais.

ASSÉDIO SEXUAL
Para especialistas e representantes de grupos feministas, o número não surpreende. Elas dizem, inclusive, que a quantidade real de vítimas deve ser maior, mas que há receio delas de contar e também falta de percepção do que é assédio ou não.

"O assédio sexual tem um problema que é a falta de entendimento de que ele é uma violência. As mulheres vivenciam isso, mas entendem que é algo que faz parte de ser mulher.

Essa identificação precisa ser trabalhada", afirma Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga. Os dados ligados ao tema costumam variar em diferentes pesquisas. Um estudo feito em 2016 pela organização ActionAid, por exemplo, mostrou um índice ainda maior: 86% das 503 brasileiras entrevistadas já haviam sofrido assédio em público.
Datafolha assédio
LOCAL, RENDA E COR
O levantamento do Datafolha mostra que um terço das mulheres (29%) conta ter sido assediada na rua, e um quinto (22%), no transporte público. O trabalho é citado por 15%, a escola ou faculdade, por 10%, e a violência em casa, por 6%. Uma mesma entrevistada pode ter relatado mais de um tipo de assédio.

Além das mais novas, quem sente mais o problema são as mais escolarizadas e as que têm maior renda familiar. Segundo a promotora Maria Gabriela Manssur, isso pode ser explicado principalmente pelo acesso à informação.

"A falta de campanhas educativas, de acesso à Justiça e de coragem para denunciar entre as mais pobres influencia. Elas podem perder o emprego, além de sofrer um julgamento social ainda maior."

A delegada Sandra Gomes Melo, chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher do Distrito Federal, ressalta que, apesar de haver uma diferença nos tipos e locais de violência, todos os estratos de mulheres sofrem assédio.

"A violência não escolhe só a pobre, só quem tem escolaridade, só a mais nova. Talvez a mulher rica não vá sofrer tanto nos meios de transporte, porque não usa, mas vai sofrer no trabalho, por exemplo."

A cor da pele, porém, é um fator influente. Entre as pretas e pardas, aproximadamente 45% dizem já ter sido assediadas, ante um índice de 40% entre as brancas.

"A mulher negra, como é hipersexualizada, sofre um assédio mais incisivo. O local dela não é o da beleza, é o de suprir necessidades carnais. Há uma dupla discriminação", diz a advogada Thayna Yaredy, que é negra e representante do coletivo Rede Feminista de Juristas.

A pesquisa também indicou aumento nos relatos de assédio conforme o tamanho da cidade. Nos municípios com até 50 mil habitantes, 30% dizem ter sido vítimas, enquanto nos que têm mais de 500 mil moradores a taxa sobe para 57%.
Datafolha assédio
CAMINHO DAS PEDRAS


Para estudiosas do tema, o combate ao problema passa inevitavelmente pela conscientização da população –tanto de homens quanto de mulheres– e por uma mudança na abordagem pelo poder público, seja nas polícias, na Justiça ou entre os legisladores.
O Código Penal só considera crime o assédio sexual quando há uma relação hierárquica entre as partes. A cantada na rua, por exemplo, é tida como contravenção penal, sujeita a multa. "Existe esse vácuo entre a importunação ofensiva ao pudor e o estupro", diz a promotora Maria Gabriela Manssur.

Dois projetos de lei que tramitam no Congresso pretendem preencher esse "vácuo" criando um novo tipo penal. Eles propõem no mínimo dois anos de prisão para quem constranger, molestar ou importunar sexualmente alguém, mesmo sem contato físico. Aprovados no Senado em outubro, os textos de autoria de Humberto Costa (PT-PE) e Marta Suplicy (PMDB-SP) agora estão na Câmara.
Juridicamente, o assédio que Maria sofreu ao ser abordada pelo motoqueiro é estupro, já que foram cometidos "atos libidinosos" por meio de ameaça –mesmo que não tenha havido "conjunção carnal".

Apesar das piadinhas que ouviu na delegacia, pelo menos desta vez ela foi denunciar. A situação 13 anos atrás foi diferente. Por mais de uma década, ela guardou para si o fim de tarde em que foi arrastada para debaixo de um viaduto e estuprada por um desconhecido.

Hoje, todos os dias ela pega carona com uma vizinha para percorrer os três quarteirões entre sua casa e seu carro. Seu filho, de dez anos, a acompanha a todo lugar.
*
Datafolha assédio



sábado, 23 de dezembro de 2017


Um símbolo que cai

Leonardo Benassatto/Reuters
Member of Brazil's Lower House of Congress Paulo Maluf (2nd R) is escorted by Federal Police as he leaves the Medical Legal Institute in Sao Paulo, Brazil December 20, 2017. REUTERS/Leonardo Benassatto ORG XMIT: SAO100
O deputado Paulo Maluf (PP-SP), após exame de corpo de delito nesta quarta (20)


Há muito de patético, sem dúvida, na imagem de um Paulo Maluf curvado, de bengala, sendo conduzido pela Polícia Federal para cumprir uma pena de prisão. Aos 86 anos, o deputado federal pelo PP de São Paulo não mais aparenta aquela indestrutível autoconfiança que, desde seu primeiro cargo na política, em 1969, surgia como afronta aos olhos de seus adversários e como sinal de determinação e empenho construtivo aos adeptos que nunca deixou de ter.

A avançada idade em que a sentença de sete anos, nove meses e dez dias de prisão atingiu o ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato à presidência da República termina por configurar um símbolo das muitas ambiguidades em que se debate o atual estado do combate à corrupção no país. Escancara-se o conhecido problema da lentidão judicial. O desvio de verbas de que Maluf é acusado remonta a sua segunda gestão como prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996.

Contra o engenho de sofisticados defensores a argumentação proverbialmente tosca do próprio réu (que desafiava as câmeras e o bom senso ao negar a existência de contas em seu nome da Suíça), o Supremo Tribunal Federal só conseguiu condenar Paulo Maluf graças ao extremo rigor da lei contra a lavagem de dinheiro.

Era de todo modo irônico, e o próprio Maluf cuidava de explorar a circunstância, que em meio à onda de escândalos e prisões que atingia tantos adversários —do PT, do PSDB, do PMDB—, um ícone dos desmandos desde o regime militar permanecesse impune.

Em 2005, após um período de detenção de 40 dias, interrompido por um habeas corpus, o político paulista disse ser vítima de pura perseguição —ostentando bom humor, tomando cerveja e comendo no estabelecimento que recebeu o nome de Pastelão do Maluf, em Campos do Jordão (SP).

Em março deste ano, gabou-se de não constar do rol de investigados na Lava Jato e no mensalão. As muitas suspeitas contra ele levantadas ao longo de décadas tendem, de fato, a se diluir na memória coletiva nacional. Que não se minimize, entretanto, a corrupção dos tempos da ditadura, facilitada pela prosperidade econômica, pela censura à imprensa e pelo controle da Justiça.

Se a democracia restaurada herdou os vícios do patrimonialismo, da megalomania estatal e da irresponsabilidade orçamentária, ao menos proporciona as vias para denunciá-los e corrigi-los.


Livro usa economia para falar de amor, drogas e amizades

Divulgação/Santosfc
O jogador de futebol Jean Chera, que tem a trajetória analisada em "Pode Não Ser o que Parece", em imagem de 2011
O jogador Jean Chera, que tem a trajetória analisada em "Pode Não Ser o que Parece", em 2011

Quando um tema ganha projeção no noticiário, é comum surgirem obras tentando surfar na popularidade do assunto para capturar a atenção de leitores. Isso, de uma maneira geral, acaba dando origem a uma série de publicações com variações do mesmo tópico –algumas melhores, outras piores. A economia comportamental, que rendeu ao americano Richard Thaler o Nobel de Economia neste ano, é a bola da vez no que diz respeito ao universo financeiro.

Sua ideia principal é que decisões são pautadas mais por emoções e vivências pessoais do que pelo racionalismo que marca outras correntes econômicas. "Pode não ser o que parece", de Samy Dana, professor da FGV, e Sérgio Almeida, professor da USP, parte dessa concepção para abordar as razões econômicas que estariam por trás da escolha dos amigos, dos parceiros afetivos e até do número de filhos de um casal.

São dez capítulos que recorrem a pesquisas, estudos e teorias para destrinchar como o comportamento molda decisões econômicas e influencia a sociedade. Um exemplo envolve as atualizações das leis de divórcio nos Estados Unidos, que eliminaram a necessidade de que um dos parceiros tenha feito algo errado para que a Justiça aceite dissolver a união. 

Os autores citam pesquisa que indica que as regras explicam parte (17%) do aumento da taxa de separação nos 30 anos seguintes ao surgimento das normas. Em outros casos, porém, o comportamento do consumidor fica em segundo plano, como ocorre na discussão sobre tráfico de drogas. A concentração de mercado –são poucas facções– e a lei da oferta e demanda estão entre os fatores que influenciam a procura pelos entorpecentes.

Segundo estudos mencionados pelos autores, as forças de combate às drogas têm sido mais bem-sucedidas em coibir maconha –mais fácil de detectar por causa do volume e do cheiro– do que cocaína. O resultado é que o preço da maconha sobe e o da cocaína cai –o que leva ao aumento do consumo da segunda. Nem o amor escapa da lógica econômica. O casamento, dizem os autores, acontece quando cada um decide parar de procurar o par perfeito, em uma decisão emocional, com um fundo racional.

O amor também tem influência sobre as desigualdades sociais, argumentam. Basta unir um parceiro mais endinheirado a um menos favorecido. É uma forma de distribuir melhor a renda. Rico casando com rico e pobre se unindo a pobre é uma equação que só perpetua a concentração de renda, de acordo com as teses econômicas. Se algumas comparações e analogias fazem sentido, outras acabam ficando deslocadas –e sem muita relação com a economia. Exemplo é o capítulo sobre boas intenções, que aborda como o comportamento de pais pode prejudicar os filhos.

NOVO NEYMAR



O livro exemplifica com a história do jogador de futebol Jean Chera, apontado como o novo Neymar. Aos 15, ganhava R$ 30 mil no Santos e passou a ser disputado por clubes estrangeiros.


As brigas que o pai tinha com a direção do clube santista fizeram o rendimento do atleta cair. Em 2011, ele deixou o Santos sem jogar uma partida oficial pelo clube e a sua carreira só foi decaindo desde então. É difícil entender o ponto dos autores com o relato.

Em outros capítulos, no entanto, fica mais fácil acompanhar o raciocínio. Isso acontece, por exemplo, na discussão sobre dinheiro e felicidade, que traz dados de um estudo que indica que a riqueza de um país não tem relação direta com a satisfação dos habitantes. E também a teoria do retorno marginal decrescente, simples de entender: R$ 1.000 fazem mais diferença para um morador de rua do que para o Bill Gates.

De maneira geral, o livro consegue mostrar como o comportamento influencia as decisões econômicas. Mas, em alguns casos, a relação direta não é tão trivial. 


Pode Não Ser o que Parece 
QUANTO: R$ 39,90 (176 PÁGS.)
AUTOR: SAMY DANA E SÉRGIO ALMEIDA
EDITORA: OBJETIVA


23 DE DEZEMBRO DE 2017
LYA LUFT

Pra quem acredita, Natal existe

Pois esta coluna vai aparecer exatamente na véspera de Natal. Ou nas vésperas, porque já sai no sábado. Muitos hão de pensar, ué, essa senhora, com tudo o que já viveu, experimentou, passou, leu, aprendeu, curtiu ou sofreu, ainda acredita nisso?

Pois esta senhora acredita em fadas e duendes que de noite cochicham entre as árvores do meu jardim no Bosque de Gramado, acredita em anjos da guarda, acredita em Deus, seja lá como o quiserem definir: força suprema, mistério que envolve o mundo, enigma que criou e observa o universo com ar de pai meio divertido, meio compadecido... não importa. Em deuses, desses bonitos e humanos, deuses da alegria e do consolo, da água doce, do mar, da floresta, dos tesouros, dos ventos.

Acreditei em Papai Noel e Cegonha até uma idade vergonhosa na minha infância. O Coelho da Páscoa se foi mais cedo, pois ninguém me explicava como esse bicho, mesmo grandão, botava ou fabricava tanto ovo.

Seja como for, acreditar é bom, se for em coisas boas. Também acredito que, apesar de todo o mal que vejo no mundo - mais aquele de que não quero nem ouvir falar -, existe bondade, amor, solidariedade, compaixão. Também existe amigo, e família, e em horas difíceis, ah como é bom que existam. Não só pra curtir férias, churrascos, festas, praia, não-fazer-nada, como pra segurar a mão, dizer alguma coisa boa ou nem dizer nada, quando a dor aperta.

Então, como eu não acreditaria em Natal? Não sei se nasceu mesmo aquele menino lindo, de mãe virgem, me dava uma certa peninha de José não ser o pai, mas essas coisas a gente respeita e crença alheia pra mim é sagrada.

Mas acredito sobretudo no Natal como dia, noite, hora, em que se reúnem família e amigos, ou amigos e amigos, ou dois amantes, ou colegas, ou vizinhos, ou até desconhecidos, e trocam abraços, e se desejam um bom Natal, muitas vezes já incluindo um bom novo ano. Melhor do que este que está acabando, porque este quase acabou com a gente.

Mais honesto, mais confiável, mais leve, machucando menos, enganando menos, explorando menos, mutilando menos - ajudando mais, empurrando um pouquinho mais pra cima e pra frente os que estão no desalento. Sim, eu acredito que o novo ano deve ser abraçado nas pessoas queridas, que Natal é possível: pra quem deseja, gosta, acredita em solidariedade, alegria, convívio bom, e tudo que é jeito de amor.

Que este Natal seja manso.

LYA LUFT

23 DE DEZEMBRO DE 2017
OPINIÃO DA RBS

PAÍS SEM FORMAÇÃO


Sem um projeto articulado envolvendo União, Estados e municípios num horizonte mais amplo, o país não conseguirá assegurar padrões mínimos de qualidade,

que são imprescindíveis para o desenvolvimento

Além de contar com 7,2% de analfabetos na faixa de 15 anos de idade ou mais, o Brasil tem nada menos de 51% da população de 25 anos ou mais com apenas o Ensino Fundamental completo. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016 (Pnad Contínua), divulgada agora pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e ajudam a explicar por que o Brasil vem perdendo produtividade e competitividade na comparação com outros países. Gestores públicos nas três instâncias da federação precisam fazer com que essas estatísticas sejam usadas para o país se livrar dessa condição. Isso significa que, depois de universalizar a matrícula no Ensino Fundamental, é preciso investir em qualidade.

O mesmo país que conseguiu levar todas as crianças para a escola está agora diante do desafio de mantê-las atraídas pelo aprendizado quando chegam à adolescência. Essa missão não depende de oferta de vagas, pois elas existem, mas de qualificação dos professores, de motivação dos alunos e de conscientização dos pais sobre a importância da educação. 

O alcance da meta vai depender da capacidade das três instâncias da federação de se unirem em favor de uma política continuada de melhorias nessa área, independentemente de quem esteja no poder. Essa é uma precondição para a redução das desigualdades sociais e para a retomada do crescimento em níveis sustentáveis.

Um brasileiro de família de baixa renda que chega aos 15 anos analfabeto vai esbarrar em dificuldades que começam no cotidiano e se estendem ao ambiente de trabalho, pela incapacidade de entender até mesmo instruções elementares de um manual. Em consequência, é improvável que possa ascender socialmente. Na prática, acaba contribuindo para a manutenção e até mesmo o recrudescimento de desigualdades sociais crônicas.

Especialistas identificam que uma das razões fortes para os elevados índices de adultos que não leem é o fato de o processo de alfabetização não ocorrer no 1º e no 2º ano do Ensino Fundamental, mas no 3º. Entre as explicações para o fato de os adolescentes deixarem a escola e não voltarem mais, está o desinteresse pelos conteúdos, que precisam ser revistos.

O fato concreto é que, mesmo diante de números semelhantes revelados em pesquisas anteriores, o Brasil tem demorado a reagir em relação às causas, que são conhecidas, e hoje segue atrás de muitos países da América do Sul nessa área. Sem um projeto articulado envolvendo União, Estados e municípios num horizonte mais amplo, o país não conseguirá assegurar padrões mínimos de qualidade, que são imprescindíveis para o desenvolvimento.


23 DE DEZEMBRO DE 2017
MARTHA MEDEIROS

Amiga oculta


Era 3 de dezembro de 2016, um sábado. Pra variar, eu estava diante do computador, quando entrou mais um e-mail em minha caixa postal. Era assinado por uma brasileira que eu não conhecia. Seu nome era Shayla Bittencourt, uma mulher que, educadamente, pediu meu endereço, pois gostaria de me presentear com um livro. Não costumo fornecer meu endereço assim, à toa, mas ela vivia em Londres (só de ouvir o nome da cidade, me derreto) e livro é coisa que não recuso, então dei a informação solicitada e depois os dias passaram em silêncio, o que me fez esquecer o assunto.

No dia 26 de dezembro, a campainha do meu apartamento tocou e do outro lado da porta havia um grande pacote. Quando percebi que vinha da Inglaterra, lembrei: é o tal livro. Quem será o autor da obra? A remetente estaria divulgando algum novo talento britânico? Ou estaria me oferecendo algum clássico de Jane Austen, de Edgar Allan Poe? Errado para ambas as suposições. Jamais imaginei que a autora do livro fosse eu mesma. Shayla havia traduzido minhas crônicas para o inglês e me enviava as cópias com um estupendo laço de fita vermelha e uma verve diabólica.

Por isso gosto tanto da vida: pelos imprevistos. Faz alguns anos que eu e minha família decidimos não mais trocar presentes no Natal, já que temos tudo o que precisamos e nos basta estar juntos. Mas, claro, sempre havia um ou outro que descumpria o trato. Porém, o Natal de 2016 havia sido o primeiro em que eu não havia recebido nenhum, nenhum, nenhum presente. Até que minha campainha tocou no dia 26 e descobri que Papai Noel existia.

Foi assim que Shayla entrou na sala da minha casa: não pela chaminé, mas pela via do afeto e da gentileza. Meus livros já foram traduzidos para o francês, o italiano e o espanhol, mas nunca para o inglês. Pois Shayla não só me traduziu, como conseguiu fechar contrato com uma editora independente, com sede em Londres e filiais em Nova York e Sidney, e, pra encurtar a história, o livro será lançado em 2018, mas isso nem é o presente maior.

O presente, de fato, é a própria Shayla, intérprete por profissão e dançarina de tango nas horas livres, a quem conheci pessoalmente, meses atrás, e descobri afinidades extraordinárias, do tipo que faz a gente se perguntar se não houve uma separação ainda no berço. Ela, catarinense; eu, gaúcha - pra quem não sabe, isso já configura um parentesco.

Mais do que a oportunidade de ter meu trabalho disponível nas livrarias espalhadas pela Charing Cross Road (não se impressione, edições estrangeiras dão charme aos nossos currículos, mas, na prática, não mudam a vida de ninguém, as vendas são pra lá de modestas - Paulo Coelho não confirmaria isso, claro), o que ganhei mesmo foi uma amiga secreta, uma amiga oculta, que se revelou de forma inesperada e com quem hoje troco longos e divertidos áudios pelo WhatsApp, além de fazer novos planos profissionais.

Presente é isso. A vida que a gente reza pra ter, mas que independe de orações - basta abrir a porta pra ela, sem medo.

MARTHA MEDEIROS


23 DE DEZEMBRO DE 2017
PIANGERS

A culpa é deles


A minha sogra é psicóloga especializada em crianças e, de vez em quando, vou até sua biblioteca descobrir algum livro que possa contribuir na educação das minhas filhas. Esses dias, achei um livrinho que na abertura tinha um desenho. Eram grupos de pais, professores e crianças, um grupo apontando para o outro e dizendo: A culpa é deles!. Pensei: Que desenho atual!. Mas, quando chequei a data do desenho, descobri que era de 1982.

Ou seja: nunca chegaremos a um ponto de satisfação plena com a escola. O aprendizado está em constante adaptação, essa é que é a verdade. E nunca chegaremos à escola ideal, precisamos reconhecer. Escolas são tentativas e, certamente, não será uma escola que vai formar seu filho. Serão seus exemplos. Da escola levamos amigos e, se tivermos sorte, professores inspiradores que nos deram caminhos para desenvolver nossas potencialidades. Mas, no final do dia, cada pai poderá ser esta inspiração.

Quando minha primeira filha nasceu e estava chorando nos meus braços pela primeira vez no hospital, fui até o corredor falar com a enfermeira pra que me ajudasse a cuidar do bebê. Ela então me disse, educadamente: "Agora é com você, papai". Fiquei assustado naquele momento, mas hoje entendo. Ela queria que eu aprendesse a ser pai sendo.

Agora é com você.

Não é com a escola, o tablet, o celular, o Peppa Pig, o YouTube ou a Netflix. Não é com a sua sogra ou com os vizinhos que seu filho vai aprender sobre as coisas da vida. Agora é com você. Falar sobre a importância de entender as coisas, sobre estudo, sexo, drogas, consequências do que fazemos, vício em tecnologia, bullying. Agora é com você! A gente precisa parar de ter medo e encarar as questões mais desafiadoras relacionadas à criação dos nossos filhos.

Se não, será para sempre como naquele desenho. Apontaremos para todos os lados dizendo, eternamente: "a culpa é deles".

PIANGERS

23 DE DEZEMBRO DE 2017
CARPINEJAR

O cheiro da mãe

Logo que a criança nasce, nas primeiras semanas depois do parto, a mãe deve evitar o uso de perfume. Para não confundir o filho.

O cheiro do corpo materno será a maior ligação que o bebê terá com o mundo. Tanto que ele costuma chorar no colo de qualquer um, menos no colo da mãe, pois reconhecerá imediatamente o cheiro do pescoço. Só o olfato já o acalmará.

Pôr o pequeno no peito, ainda que não seja para mamar, trará o conforto da pele conhecida, o agrado de pertencer a um lugar definido depois do ventre.

É pela respiração que nos sentimos amados, antes das palavras, antes dos gestos.

O bebê mal pode enxergar, mas já sabe quem é quem pelo suor, pela química dos poros. É uma conexão primitiva, quase inexplicável, de animal com o seu ninho.

Quando ele inspira a pele da mãe, estabelece um endereço de proteção. Talvez represente o momento oficial de seu nascimento: quando ele liga o wi-fi da personalidade. Todo perigo se apresentará fora daquele corpo, daqueles quadrantes, daquela bússola.

A maior parte de suas lágrimas decorre de quando se vê distante do seu cheiro de existir, presente na mãe. É o seu primeiro cueiro, a sua primeira manta. É o seu esconderijo na luz, o seu ferrolho para entender o que está acontecendo e onde veio parar.

Suas lembranças primevas descendem do faro, o seu canal de comunicação com os outros.

Não é por menos que, adultos, nos comovemos com um olor, sem fixar a origem da atração. Surgiu certamente do berço, da nossa fulminante e arrebatadora estreia. Eu, por exemplo, sou apaixonado por hortelã. Numa conversa à toa com a mãe, descobri que era o seu chá predileto nas minhas semanas iniciais de vida.

Dos 3 mil odores que um ser humano pode colecionar ao longo de sua trajetória, há um apenas que lhe dará segurança.

Quando abraçamos a nossa mãe, refazemos a mágica da fragrância fundadora. Não há melhor abrigo para nascer de novo.

CARPINEJAR

23 DE DEZEMBRO DE 2017
NATAL

SHANA MÜLLER Música e apresentadora da RBS TV


Impossível fazer esse desejo sem olhar para trás. O ano de 2017 foi aquele em que eu disse alto a frase que comanda muito do meu dia a dia: "Não vim ao mundo a passeio!". Serviu para que eu mesma entendesse que tenho voz e que ela precisa ser ouvida. Expus minhas reflexões, correndo o risco do desagrado, da crítica, da piada. Afinal, que mulher se atreve a apontar o dedo para essa ou aquela canção, desse ou daquele consagrado artista? Afinal, "isso é tradição e ninguém deve se atrever a questionar", conforme pensaram e expressaram muitos.

Apesar de poder dizer, percebi o tanto que é preciso evoluir no compreender o outro por meio de nossas atitudes. Foi assim que entendi que há muito, muito mesmo, a evoluir como sociedade. Apesar de estarmos vivendo uma revolução social - e não tecnológica, como podemos achar em alguns momentos -, a sociedade parece caminhar para trás em alguns sentidos, principalmente ao olhar para o lado.

Portanto, em 2018, DESEJO MAIS EMPATIA DE MULHERES E HOMENS. HÁ MUITO A CAMINHAR NA CONVIVÊNCIA DOS GÊNEROS, NAS QUATRO PAREDES DE CADA UM, NO PALCO ABERTO DE TODOS. Um caminho de horas, dias, meses e um novo ano com menos violência (ou incitação a ela), com mais espaço para pensar e fazer o feminino, com menos preconceito e mais equidade, com amor entre todos, porque no fundo, do pó viemos e a ele voltaremos do mesmo jeito.

Enquanto mulher, desejo não apenas que tenhamos voz. Não apenas dizer, mas ter mais lugares para que ela seja ouvida e mais ouvidos abertos dispostos a escutar. QUE TODAS AS MULHERES POSSAM SER, VIVER E AMAR COMO OUTRO (A) QUALQUER NO PLANETA, COMO CANTOU MILTON NASCIMENTO.

23 DE DEZEMBRO DE 2017
VITIVINICULTURA

Relação reforçada com a religião

Um ponto une a maioria dos fabricantes de vinhos de missa: a forte ligação dos produtores com a religião católica. Na Serra, muitos dos vitivinicultores que começaram no segmento eram próximos aos padres de suas comunidades ou do bispo de Caxias do Sul. Contudo, o caso da Frei Fabiano, de Vila Flores, é único. Na vinícola dos freis capuchinhos, os religiosos fazem a bebida.

O nome da vinícola é uma homenagem a Fabiano Cavalca, frei que começou a elaborar vinhos a partir da década de 1950. O rótulo para missa, porém, surgiu apenas nos anos 1970. Hoje, o volume é de 50 mil litros anuais e é um dos campeões de vendas da marca.

- O vinho de missa representa um quinto da produção total de 250 mil litros. Tem uma procura grande, inclusive por parte dos turistas que vêm até nossa pousada. Eles veem o vinho e ficam curiosos ao saber que é utilizado na missa - conta o frei Cleonir Dalbosco, administrador do complexo que, além da vinícola, conta com pousada e cantina.

Com 32 hectares de vinhedos, a Frei Fabiano utiliza entre 70 e 80 toneladas de uva para elaborar um lote do vinho litúrgico. As garrafas e os garrafões são comercializados principalmente na Serra, mas também há saída para outras regiões do Rio Grande do Sul e para os demais Estados da Região Sul.

Já a Don Affonso, de Caxias do Sul, há 40 anos passou a fabricar esse tipo de vinho para suprir demanda dentro da família. O fundador do negócio, Affonso Gasparin, tinha um filho sacerdote, que lhe encomendou a bebida para utilizá-la nas missas. O produto, entretanto, não está no portfólio comercial da empresa. Atualmente, a produção é destinada apenas para religiosos amigos dos Gasparin.

- O fundador sempre teve esse vinho e fazemos questão de manter a tradição. Às vezes, o pessoal de alguma igreja nos liga pedindo. Fornecemos para umas 10 igrejas em Caxias, Farroupilha e Flores da Cunha - diz André Gasparin, enólogo da empresa.

ENVELHECIMENTO EM BARRIS DE MADEIRA



Segundo Gasparin, o processo de produção segue o mesmo de décadas passadas. Um dos pontos mais emblemáticos é o envelhecimento nos tanques de madeira por sete anos antes do envase.

Além das vinícolas gaúchas, existem outros produtores de vinhos de missa espalhados pelo Brasil, como Adega Mazziero (São Paulo), Casa Geraldo (Minas Gerais) e La Dorni (Paraná).

23 DE DEZEMBRO DE 2017
INFORME ESPECIAL

MBA E TERAPIA

Bem-humorada, a belga Esther Perel foi quem fez a primeira pergunta: O que tantos estudantes de Negócios estão fazendo aqui?. O mais correto seria trocar tantos por tantas, distinção que a língua inglesa não faz. Eram 80% mulheres, 20% homens. O evento promovido pela Wharton School trouxe à Filadélfia uma das mais famosas psicoterapeutas da atualidade. A autora de Sexo no Cativeiro está lançando um novo livro. O Estado dos Casos, Repensando a Infidelidade já era sucesso antes de ser lançado. No momento em que a revista Time escolheu como personalidade do ano o grupo de mulheres que denunciaram assédios sexuais, Esther não fugiu desse e de outros temas. Abaixo, um hiper-resumo das suas melhores ideias.

-Não são os homens poderosos que assediam as mulheres. São os homens inseguros. Homens seguros seduzem, conquistam.

-Confiar é a habilidade de conviver com o que a gente não sabe, não é saber tudo.

-O que define o sucesso de uma relação é o equilíbrio entre autonomia e dependência.

-O perdão em uma relação não deve ser focado apenas no impacto emocional do que um fez para o outro, mas também na compreensão dos motivos por trás do fazer.

-Trair não tem a ver com o outro, mas com quem trai. Trair não é objetivo. O objetivo é suprir a necessidade de se sentir amado, importante, jovem. Vale para homens e mulheres. A mentira também é o desejo de não machucar o outro.

-No amor moderno, o outro é o parceiro intelectual, a fonte única do prazer, o sócio, o que me faz sentir especial. O outro é "o único" para quem eu sou "a única". É aquele que me faz apagar os aplicativos do celular (risos). Por isso, a traição hoje dói mais do que doía quando o casamento era um contrato quase formal.

-O ser humano precisa de estabilidade, de segurança, de familiaridade. Mas também precisa da aventura, no novo, da transgressão. -Uma relação saudável deve ter espaço para ambos, dentro da própria relação.

-Temos várias vozes interiores que falam conosco. A voz crítica, a voz da pequena criança que diz "pô, e eu aqui?".Temos que conversar com essas vozes, fazê-las entender que precisamos trazer o conceito de felicidade das alturas para o chão. Felicidade numa relação também tem a ver com valores, não apenas com sentimentos.

-Uma boa relação não tem a ver com mais ou menos diferenças entre o casal, mas, sim, com conseguir lidar com essas diferenças.

-Uma relação é feita por partes interdependentes. Se quiser mudar o outro, mude você.

-Antes, as pessoas se separavam porque eram infelizes. Hoje, se separam para serem mais felizes.

Para celebrar o Natal, o Informe Especial ouviu instituições que têm como vocação ajudar o próximo, exercendo o espírito natalino o ano inteiro.

Que as pessoas sejam mais amorosas, compreensivas, deixem de lado as diferenças e sejam mais conscientes no dia a dia.

Ana Carolina Flor Silva

13 anos, paciente em atendimento de reabilitação física na AACD/RS.

Que nossas crianças tenham um lar, uma vida digna e uma família. Que nossas crianças tenham direito a educação de qualidade, que façam todas as refeições do dia, que possam brincar, praticar esportes, que tenham acesso à cultura e que tenham a oportunidade de viver no presente o amor e a fraternidade.

Padre Claudionir Ceron

Diretor do centro Social Pe. Pedro Leonardi

Somos o lar de 40 crianças e jovens invisíveis. Pouca gente os vê, muitos preferem fazer de conta que eles não existem. Neste Natal, esperamos que a luz abra os olhos de todos nós. Queremos que cada vez mais gente nos conheça e se junte a nós ou a qualquer outra iniciativa que tenha como missão ajudar o próximo.

Viturugo Rinaldi de Miranda

Voluntário da Casa do Menino Jesus de Praga

Que possamos viver num mundo onde todos se respeitem e sejam respeitados em suas individualidades, em que as evoluções sociais e tecnológicas possam garantir dignidade, saúde, segurança, acessibilidade, moradia e alimentação de qualidade a todos.

Rogéria Pazini

Assistente social do Asilo Padre Cacique

Um mundo com mais respeito, paciência, tolerância, solidariedade e amor entre as pessoas de todo o mundo, conforme os ensinamentos do Mestre Jesus.

Allex Manzônia

Voluntário do Instituto Espírita Dias da Cruz

Poder olhar o mundo com os olhos do coração e acreditar que é possível fazermos a diferença na vida das crianças que são atendidas por nós, despertando nelas o desejo de querer coisas boas para suas vidas.

Laura Moraes

Colaboradora da Sociedade Metodista de Amparo à Infância

CADU CALDAS

sábado, 16 de dezembro de 2017


16 DE DEZEMBRO DE 2017
LYA LUFT

Três poemas


Quando me mataram,


meu lado não verteu água nem sangue:

eu me verti de mim por essa fenda,

escorri para a terra, debaixo das lajes,

me fingindo ausente.

(Quem me ama sabe que estou ali,

e com paciência me aguarda;

isso é uma luz na noite.)

Quando chegar o tempo de retorno,

eu volto.

Subirei devagar,

empurrando a alma com meu sangue

por labirintos e paradoxos,

descrença e esperança,

até inundar novamente o coração.

(Não será o coração de antigamente.)

Quando eu era menina,

minha mãe tocava piano

e a árvore de Natal girava

em sua pinha de ferro batido.

Eu cochilava no colo de meu pai:

dentro do peito dele pulsava

a máquina da vida que nunca se cala.

(Mas uma coisa escura e sorrateira

fazia rumor fora da casa:

era o destino chegando

passo a passo, e eu não sabia.)

Junto ao coração de meu pai,

ao ritmo da música do sangue,

meu coração também estremecia:

a faca cortando a minha alma

era pressentir que as águas do mundo

inundariam o tempo e o espaço,

e haveria perdas no caminho.

(Seríamos um dia pálidos rostos

em retratos, e rastros de perfumes numa mala.)

Dorme filho meu,

que eu te contemplo.

Sobre tua cabeça de sonho e névoa

a moldura da janela se abre

para uma vida só tua

que não conhecerei inteiramente.

Dorme fragilidade entregue,

seda de cílios sobre esse olhar azul,

espelho onde me renovo a cada hora.

Ser do meu ser, pétala a pétala tramado,

mãos tecidas da minha carne obscura, riso

da minha alegria, olhos

da minha infância, sombra

dos meus passos na tua sombra pelo chão.

Dorme filho meu, que eu te protegerei

enquanto couberes nos meus braços

- mas vou chorar por mim quando te afastares

para conquistar o teu futuro.

Nada sei de ti além do peso

do teu abandono no meu colo,

nada além do som do teu nome

que escolhemos,

e do teu destino impalpável.

Dorme, filho meu. Um dia serás um homem

com pedaços de vida de que não farei parte;

mas serás sempre, em qualquer dia e hora,

esse, de olhos azuis, o meu menino. (1966)

LYA LUFT