sábado, 22 de novembro de 2014


23 de novembro de 2014 | N° 17992
MARTHA MEDEIROS

Luz fria

Resisti enquanto pude. Fazia estoque de lâmpadas incandescentes em casa. Quando já não encontrava as de 100 watts, comprava as de 60. Se não tinha num supermercado, buscava em outro. Batia ponto em casas de ferragens, dava incertas em lojas de luminárias, enfim, uma perseguidora incansável das lâmpadas incandescentes.

Enganando a mim mesma, claro. Se a imprensa não parava de avisar que as lâmpadas incandescentes estavam sendo substituídas pelas fluorescentes, mais compatíveis com o projeto de eficiência elétrica nacional, por que eu não me rendia de uma vez? É que, dependendo da situação, é mais cômodo se fazer de desatenta.

Só que chega o dia em que cansa lutar contra. Essa semana, interrompi minha resistência à novidade, resolvi sucumbir. Comprei uma lâmpada fluorescente para o abajur do meu quarto. Na verdade, tenho dois abajures no quarto, um em cada lado da cama. O que está do meu lado ainda possui uma lâmpada das antigas, amarelada, acolhedora. Como a do lado oposto havia queimado, resolvi trocar por esta nova, econômica, durável, sensacional. Devidamente atarrachada, acendi ambas para ver se havia diferença mesmo.

Que choque.

Sei, não é um conflito, um problema, uma catástrofe, nada disso. Estamos falando de lâmpadas, um troço banal. Porém menos banal para mim, que sou dependente de luzes indiretas.

Viciada em abajur, admito. Não suporto luz vinda do teto, excessiva, invasiva, desumana. Eu preciso de clima, de aconchego, de atmosfera. Poderia cultivar um luxo mais besta, mas cultivo este, que é reles. Eu gosto de luz poética, cálida, que me faça sentir em casa, e não num escritório.

As lâmpadas fluorescentes oferecem uma luz branca, racional, uma luz para pessoas jurídicas. Por que devo me conformar? Eu sei, eu sei, é preciso pensar em economia e durabilidade, mas poxa, eu trabalho tanto, gostaria de continuar arcando com o pequeno luxo de uma luz que me acarinhe, que me romantize, que me faça sentir num filme francês.

No entanto, mesmo que eu reclame para o bispo, nada mudará. É preciso pensar na coletividade. Não resta opção. As lâmpadas incandescentes foram retiradas do mercado. Tudo pela melhora da qualidade de vida, por um mundo mais sustentável. Desisto.

Uma vez escrevi uma crônica chamada “Melhorar para pior”. Dei vários exemplos: balneários com estradinha de chão batido x balneários asfaltados, cadeiras de palhinha x cadeiras de acrílico, pousadas rústicas com o namorado x resorts all inclusive com a família. Não falei de lâmpadas, na ocasião, porque o assunto não estava em pauta, mas agora o século 21 completou o serviço da modernidade. Adeus às lâmpadas arcaicas, o momento é das lâmpadas inteligentes.

Sinceramente? Tenho vontade de parar o tempo. Evoluir é muito frio



23 de novembro de 2014 | N° 17992
FABRÍCIO CARPINEJAR

Jantar com os tios do interior

É jantar fora com os pais e os tios que você se sentirá uma criança de novo. Por mais que seja adulto e independente.

Eles manterão uma conversa fora do seu alcance, rememorando nomes apagados, mortos, distantes.

A parentela italiana não dá mole. Assume a condição de testemunha alimentar da reconstrução da genealogia familiar, gozará do privilégio de acompanhar a biografia oral, na íntegra, de seus antepassados.

Mesmo que tenha avançado uma geração, eles ainda estão uma geração à frente.

A princípio, participará do entrevero. Experimentará rápida glória social, que poderia ser resolvida no abraço de chegada. Eles vão perguntar o que anda fazendo, o desempenho do trabalho, o status de seu relacionamento, para logo se dispersar aos assuntos que mais interessam: quem morreu, quem adoeceu, quem se separou, quem está bem de vida, quem faliu, quem mudou de orientação sexual, quem engravidou. É uma agência de notícias da última metade do século. Os ouvidos adoecem devagar.

Até porque tia que é tia do interior fala baixo, enquanto o tio bebe tudo o que não deve. É um casal infalível: nenhum atrapalha o prazer do outro.

Ainda estão no aperitivo e você tem a convicção de que assiste a um documentário do Discovery. Carece de legendas para descansar os olhos. Naquele breve encontro, ouviu uma cota superior a um mês de trololó com seus amigos.

Como é difícil se inserir no debate, fica esperando a comida. Olhando para o infinito de uma televisão ligada e sem som, no fundo do ambiente. Quando se flagra fazendo leitura labial da novela é que está entediado e seu corpo e espírito estão definitivamente divorciados. Desapareceu materialmente dali.

A infância vem à tona. Quer ir embora. Quer dormir. Quer retornar para casa.

Acabou sua paciência. Precisa ser simpático, agradável, maduro, mas não tem mais como se comportar. A aparência vai se afundando com aquelas vozes distantes que parecem sobrevoar seu quarto depois das 23h. Recorda que, quando pequeno, fechava as pálpebras escutando as gargalhadas dos adultos na sala, os únicos que tinham o direito de dormir tarde.

Sim, voltou a ser um menino birrento, apesar da barba cobrindo o rosto. Impossível concorrer com a idade dos tios e seu apetite interminável de colocar o papo em dia. Estão recém na década passada e não demonstram o mínimo cansaço ou intenção de apressar os fatos.

Já observa o garçom com ternura, já repara quem fecha a conta com inveja, já começa a puxar a toalha, já começa a brincar com os palitos Gina e o saleiro, já torce para que ninguém peça a sobremesa, já puxa o braço do pai, já a mãe intervém e suplica para que tenha modos: “Vamos ouvir o que sua tia está contando, é importante!”.

Só falta descer para debaixo da mesa e brincar com os joelhos da família. Entrou no restaurante com a altivez de homem feito e sairá com alma de cachorro.


Será sempre a criança daquela família, sonhando com sua cama e arrependido de aceitar o convite para programa de gente grande.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014


19 de novembro de 2014 | N° 17988
MARTHA MEDEIROS

Por que gosto de teatro

Assisti ao Bruno Mazzeo no espetáculo Sexo, Drogas e Rock’n’roll, um título com aroma de naftalina, porém não há nada de antigo na peça – a não ser o saudoso politicamente incorreto, que caiu em desuso e, de tão patrulhado, só se encontra no mercado negro.

Pois, então, eu estava no teatro e pensava nisso, em como são poucos os espaços hoje para se permitir uma liberdade gaiata sem temer críticas, perseguições, acusações. Acho que gosto de teatro por isso: porque ele não é impresso, gravado, postado, tuitado, não produz provas contra si mesmo.

É exibido em um determinado tempo e espaço apenas para um seleto grupo que não tem em mãos controles remotos, telefones, nada que interfira na cena – a plateia fica rendida e concentrada em absorver o que escuta e enxerga, ciente de que, ao cerrar das cortinas, tudo se evaporará. O que foi visto ficará sem registro palpável. Teatro é uma ilusão: tudo é possível, tudo acontece, mas sobrevive só o que você permitir que sobreviva – dentro de você.

Cinema tem um pouco disso, mas é possível rever o filme na tevê ou no YouTube, ou comprar uma cópia para ter em casa, então ele se torna palpável, ganha longevidade. É analisado, estudado, decifrado, editado, e como tudo que permanece, tem um destino cruel: envelhece – a não ser que tenha nascido para clássico.

Teatro não envelhece, foi apenas um sonho bom. Ou um sonho ruim. É volátil, uma conexão temporária, sem amarras. É uma relação aberta, uma ficada, desperta paixões momentâneas, te faz rir, chorar, te pega pela mão e te leva para um lugar desconhecido, parece tão real, e de repente você acorda e vê que não. Real foi o que você sentiu, apenas. Você volta para casa e pode contar para os outros o que aconteceu, mas não pode mostrar.

Então, estava eu lá no teatro rindo das situações apresentadas no palco e ao mesmo tempo pensando sobre elas, mergulhada naqueles 60 minutos em que estava sendo homenageada por uma alegoria ao vivo, e que se dissolveria – dissolução que outra espectadora não aceitava, ela não parava de fotografar e assim tentava capturar o sonho, prendê-lo como a um pássaro em uma gaiola da Apple, da Samsung, desvirtuando a mágica. Ela não entendia nada de teatro, claro. No teatro, quem tem que ser capturado somos nós.

E, uma vez capturados, sermos despidos dos nossos preconceitos, das nossas defesas, da nossa censura e do nosso desejo infantil de que tenham tato conosco – tato é muito bom nas relações cotidianas, mas teatro não é lugar para diplomacia. O teatro tem licença para provocar, irritar, constranger, iluminar, elevar, surpreender, encantar, desencantar. Podemos não gostar da peça, mas há que se reconhecer o respeito que tiveram conosco ao nos tratarem sem condescendência. O teatro confia nos sonhadores.


sábado, 15 de novembro de 2014


16 de novembro de 2014 | N° 17985
FABRÍCIO CARPINEJAR

A última vez

Se já é difícil dar adeus quando não se ama, imagina quando se ama.

Não é simples colocar um marcador de página numa história de amor e abandonar a leitura.

Reconhecer que jamais terminaremos aquele romance. Não haverá recompensa por aquilo que se leu até ali. Ninguém nos contará o que aconteceu.

Não participaremos do final feliz: os filhos, a velhice lado a lado, a casa cheia de netos. Não estaremos juntos na derradeira linha. É morrer sem ter morrido. É desaparecer estando onipresente.

O livro de sua imaginação ficará fechado para sempre. A relação terminou antes do fim do amor. O leitor terminou antes da obra. Não descobriremos qual será o desfecho.

Não queira viver o dia de uma despedida com a consciência de que é uma despedida.

É uma cirurgia sem anestesia. Será cortado, será remexido por dentro, será costurado, sentindo cada pontada e rasgo, antecipando cada movimento com os olhos abertos. A pele vai doer como um osso, a sensibilidade pedirá piedade, o ouvido apanhará qualquer frase como uma possível sentença salvadora.

Melhor que a despedida seja involuntária, desconhecida, desavisada. Melhor que seja abrupta, de repente, improvisada.

Pois se despedir é sofrer com tudo que lhe tornava feliz. É abrir os braços para a mágoa como se viesse uma alegria em nossa direção.

É um esforço para decorar o estranho momento em que abandonaremos uma vida tão desejada.

O nós é a primeira partilha – o plural perderá seu domínio. Voltará a chamar a pessoa que ama pelo nome, como se não a conhecesse. Não mais de Meu Amor. Não mais de Minha Paixão.

É entrar pelo quarto pela última vez, e ter noção de que será a última vez.

É olhar pela régua que mantém a janela aberta da cozinha pela última vez, e ter noção de que será a última vez.

É abrir o guarda-roupa pela última vez, reconhecer o estalo da divisória de madeira, e ter noção de que será a última vez.

É fechar o registro do chuveiro pingando pela última vez, e ter noção de que será a última vez.

É ajeitar as almofadas do sofá pela última vez, e ter noção de que será a última vez.

É ouvir a respiração perto pela última vez, copiosa, irrefreável, e ter noção de que será a última vez.

É abraçar pela última vez e não soltar porque é realmente a última vez.

É beijar pela última vez e soluçar porque enfim chegou a inacreditável última vez.

É uma coleção de instantes definitivos. Preciosos. Sábios.

Despedir-se é guardar. Guardar é cuidar. Cuidar é nunca deixar de amar.


Quem faz questão de se despedir, quem faz questão de inventar uma despedida, é quem ainda ama. Ama muito. Ama demais. Ama loucamente.

16 de novembro de 2014 | N° 17985
MARTHA MEDEIROS

Escritor mesmo

Sempre me considerei uma mulher adaptável. Me convide para um baile na corte ou um churrasco na laje, e me sentirei em casa pelo simples fato de estar bem assentada em mim. O que vier eu destrincho, desdobro.

Isso até outro dia, quando voltei a frequentar a única espécie de roda que me faz tremer na base: a dos festivais literários. No início correu tudo bem, conversei com colegas que conhecia de vista ou de nome, rimos muito, viramos uma turma, mas houve um momento em que os astros deram uma pirueta nos céus e desconfiguraram a cena: sem entender como, fui parar numa mesa de restaurante com três figurões da literatura com quem nunca havia interagido antes. Calma, qual o espanto? É só participar do papo, você já fez isso mil vezes.

Aí é que está. O papo foi sobre as variadas vertentes do judaísmo. A filosofia alemã do século 18. Os mais influentes documentários políticos da história. As consequências da xenofobia francesa para a economia. Quando escutei um deles declarar furioso “Nem arrastado eu moraria em Paris”, pedi licença, me levantei e fui ao encontro de uma blogueira divertida que amaria estudar em Paris, casar em Paris, ser infeliz em Paris.

Há gente que vive de escrever e há os escritores mesmo. Aqueles da mesa eram escritores mesmo. Alto padrão intelectual. Colecionadores de prêmios. Catedráticos viajados, virtuoses da língua, candidatos fortíssimos à Academia Brasileira de Letras. Eu? Uma penetra. Mesmo.

Esse episódio me fez lembrar uma conversa que tive com um amigo da adolescência que convive comigo desde sempre, sabe a gaiata que sou, e que me disse que muita gente que não me conhece pensa que, se me levar a um restaurante, vai ter que enfrentar essa mesma discussão filosófico-cultural. Dei risada. Ele me olhou bem sério e disse que não era brincadeira: escritores assustam, ele garantiu. Quase chorando, perguntei: isso significa que estou ferrada? Ele me abraçou e disse: está, amiga. Se quiser sair e namorar, entre no Facebook e procure a turma da praia, do colégio, do clube, do bairro, aqueles que conviveram com você antes de você ter dado certo.

Fiquei tão desolada que ele me pagou outra cerveja.

Era machista sua avaliação, mas, quando me vi cercada pelo grupo erudito, entendi. Se aquela era a imagem que se fazia dos escritores, coitados de nós. Estávamos em maus lençóis. Quem se aproximasse acreditaria estar condenado a debates e palestras até durante o bem-bom.

Há os escritores mesmo, cuja sabedoria sobressai desde o aperitivo até a sobremesa (e têm todo o meu respeito), e há aqueles que apenas tiveram o privilégio de publicar seus textos e que dão pitacos sobre cultura pop, cinema, viagens, televisão, futebol, encrencas, roubadas, amores, alegrias, assumindo o mundanismo que os constitui. Não sou uma escritora mesmo. Não sou nada que mereça o “mesmo” como reforço. Meio baile na corte, meio churrasco na laje. Mesmo, mesmo, bem intencionada – e só.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014


12 de novembro de 2014 | N° 17981
MARTHA MEDEIROS

A arte de suprimir

Estava lendo uma longa entrevista com o escritor argentino Julio Cortázar e deparei com sua inspirada declaração sobre “literatura com franjas”, que é aquela cheia de rococós desnecessários. Segundo ele, escritor bom é escritor que se dedica a limpar o texto até chegar a uma estrutura medular. Por isso é tão importante não se dar por satisfeito e reescrever quantas vezes for preciso (para mim, atualmente, tem sido a melhor parte do ofício).

É quando temos aquele monte de palavras na nossa frente e começamos a depurar, polir, retirar tudo o que não agrega, tudo o que não serve. Não raro, é um processo dolorido, pois costumamos nos apegar a uma determinada frase ou a alguma gracinha, mas não devemos mantê-la apenas por capricho: ela pode distrair o leitor e interromper o ritmo da leitura.

É preciso severidade consigo próprio, desapegar daquilo que, mesmo que nos apaixone, compromete o resultado final. Diz Cortázar, e eu humildemente endosso: “Quando corrijo, só uma vez em 100 acrescento algo. Nas outras 99, corrigir consiste em suprimir. Qualquer um que veja um rascunho meu pode comprovar isso: muito poucos acréscimos e enormes supressões”.

Faxinar é uma arte. Vale para textos, armários, gavetas, e também para manias, lembranças, rancores. A maturidade tem muitas vantagens, entre elas a de deixarmos de ser tão sentimentais com nosso passado e promovermos um arrastão em tudo o que é excessivo. Não há mais tempo para delongas: uma vez conhecendo melhor a nós mesmos, hora de priorizar a essência – a nossa e a de tudo.

O que não impede que pessoas mais jovens comecem a se habituar desde cedo a não colecionar inutilidades, como amigos falsos, preconceitos e dramalhões. Hoje, considera-se rico aquele que tem 1 milhão de seguidores no Twitter e curtidas no Face, ou aquele que acredita que um sem-número de sapatos, bolsas e tênis acalmará sua ansiedade, afugentando o vazio. Será mesmo preciso gastar metade da vida até perder essa ilusão? O que nos dignifica não é um guarda-roupa abarrotado ou uma cabeça lotada de neuras. Simplificar, ao contrário do que se pensa, nunca foi provinciano, e sim um luxo que poucos conseguem bancar.

Acumular é que é provinciano. Nem mesmo quando relaciono esse verbo a afeto e dinheiro consigo dar a ele algum crédito, pois acúmulo nada tem a ver com suficiência. Se temos afeto e dinheiro suficientes para viver bem, com paz, conforto e alegria, para que correr atrás de mais e mais? O excesso pode conspirar contra, nos exigindo um esforço extra para manter a roda girando. O suficiente faz a roda girar sozinha.

Tempo esgotado, hora de enviar o texto para o jornal. Desconfio que ele segue com algumas franjas, mas prometo apará-las numa próxima versão.


sábado, 8 de novembro de 2014


09 de novembro de 2014 | N° 17978
MARTHA MEDEIROS

Um jeito de ser

Há muitos anos, tantos que minha memória pode estar me traindo, havia um programa de rádio local que fazia entrevistas e terminava sempre com a mesma pergunta: se você pudesse passar uma tarde conversando com qualquer personalidade mundial, viva ou morta, quem você escolheria? No topo das paradas se revezavam Martin Luther King, John Lennon, Shakespeare, Gandhi, Nelson Mandela e demais nomes desse naipe e magnitude.

Quando chegou minha vez de ser entrevistada, tirei um Nelson do bolso também, mas não era o Mandela. Respondi singelamente: adoraria passar uma tarde conversando com o Nelson Motta.

Naquela época, nem em sonhos imaginaria que um dia teria esse privilégio. Até hoje, aliás, não tive – e é provável que nunca tenha. Estamos apenas menos distantes, nossos universos se aproximaram, mas nos jogarmos num sofá pousando os pés em cima da mesinha de centro, como dois velhos amigos? Desconfio que não nesta encarnação.

Por que escolhi Nelson Motta em vez de Freud, Mick Jagger, Woody Allen? Nem eu mesma sei direito a razão de ter negligenciado meus ídolos de estimação. Talvez porque, na presença de grandes nomes, eu me limitaria a fazer uma entrevista, sem conseguir tirar meus sapatos e colocar as pernas para cima. Com Nelson Motta eu conseguiria – acho até que ele não permitiria que fosse diferente.

Antes da literatura, minha maior paixão foi a música popular brasileira, o que explica eu ter seguido os passos desse jornalista e produtor musical que fundiu sua própria vida com a sonoridade extasiante que o Brasil produz. Nossa música é nossa maior riqueza e Nelson Motta não só entendeu isso como a honrou através de artigos, estímulos, descobertas e inclusive com canções próprias. Só isso justificaria meu encanto, mas tem mais.

Tem a coisa do jeito. O que me fascina nas pessoas, qualquer pessoa, é o jeito. Não é o currículo, o discurso, o passado, o futuro, e sim o jeito de dizer as coisas, o jeito de levar a vida, o jeito de sorrir, o jeito de olhar, o jeito, simplesmente – fator tão esnobado, porém de alta relevância, ao menos pra mim.

Nelson Motta me ganhou não só pelos seus livros, mas por ter transformado seu trabalho em mais uma aventura amorosa (talvez a mais importante delas), por nunca perder o balanço das ondas mesmo vivendo a rotina estressante imposta a todos nós, por ser um cara que joga o jogo em vez de assistir da arquibancada, por ser um entusiasta de tudo que é bonito, bom e swingado, por buscar a palavra mais poética para dizer o que poderia soar pouco palatável e por manter inalterado aquele sorriso de menino no rosto, contrariando todas as teses de que o tempo passa e nos envelhece. Quem disse?

Ao completar 70 anos dias atrás, tive o privilégio de estar bem perto dele, tão perto que não resisti em perguntar, como se uma entrevista fosse: qual o segredo, afinal?

Ele: “Não guardar rancor”.


Não tirei os sapatos, mas tirei o chapéu.

09 de novembro de 2014 | N° 17978
FABRÍCIO CARPINEJAR

Não se pode mais idealizar nesta vida?

A mulher sempre é culpada pela idealização. Por esperar demais de um amor.

Porque o amor que ganha não se equipara ao amor que deseja.

Porque há um completo desencontro entre o que ela sonha e o que ela suporta ao acordar, entre o anseio pela cumplicidade e a avareza que aguenta num relacionamento.

E ela se torna culpada: é ela que não valoriza o que tem, não se reduz ao que vê, não agradece o que recebe.

E ela se torna uma esnobe ao abandonar relações justamente por defender sua felicidade. E parece que esta felicidade não existe e está sendo burra em persegui-la.

Será que deveria se conformar com o pior e desperdiçar sua existência com o pior? Não se pode mais idealizar? É um crime conservar o apelo romântico de achar um príncipe, sua cara-metade, seu complemento da alma? Será que ela necessita fingir que a bijuteria brilha como uma joia? Fingir que o coaxo é um canto de cisne? O pessimismo é a expressão da saúde emocional hoje em dia?

A idealizadora sofre, apanha, é xingada, apedrejada, excluída socialmente, é a Geni da canção de Chico Buarque, é a nova Madalena da Bíblia.

Não é ela que está certa, ela que é excessivamente exigente.

Não é ela que sabe o que quer, ela que é perfeccionista.

Não é ela que tem razão, ela que vive cobrando, arrumando briga e procurando defeito.

Não é ela que procura a qualidade, ela despreza as opções.

Seu sofrimento é visto como um despropósito. Acaba ganhando o descrédito dos amigos e da família, o estigma de que é fora da realidade, de que não valoriza o pouco.

Já ninguém acredita quando ela diz que vai casar.

- De novo?

Já todos reclamam quando ela anuncia que cansou de casar.

- Não pode desistir.

Se ela insiste, é louca. Se ela desiste, é louca.

Nunca agrada e corresponde às expectativas dos seus próximos. Mas não pode ter suas frustrações, é proibida de ter suas decepções, é vetada de ter suas desilusões.

Precisa suportar as lamúrias dos outros, mas não pode expressar sua insatisfação.

A idealização é vista como uma alucinação, um distúrbio psicológico: você está querendo alguém que não existe, forçando a projeção, não enxergando o que sua companhia guarda de bom e verdadeiro.

Não pode reclamar de barriga vazia pois está consolidada a ideia de que reclama de barriga cheia. Como se namorar ou casar fosse uma benção, quando é apenas mais uma formalidade do machismo.

Sem idealização, não existe ambição no amor, esperança no amor, fé no amor.


Nivelar por baixo é desastre. Quem se contenta com o banhado jamais cultivará um jardim.

09 de novembro de 2014 | N° 17978
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Sucessão

A derrota da candidatura de Tarso Genro ao governo do Estado (e a de Olívio Dutra ao Senado) me deixou com um desconforto que ainda agora estou tentando entender. Não se trata apenas da derrota dos candidatos da minha predileção, nem da vitória do Sartori, a quem, falando nisso, desejo um excelente governo, esperando que se cerque de gente boa e faça o que cabe fazer. Para a Cultura, não são poucos nem são fracos os potenciais secretários. Na minha área, estão aí José Fogaça e Sergius Gonzaga, duas figuras de primeiro nível.

E, bem, não estou aqui para dar palpites, nem o futuro governo precisa deles, bem sei. Quero é tentar encontrar o fio da meada do meu desconforto. Onde ele começa?

Acho que é uma certa sensação de orfandade o meu ponto. O primeiro enunciado me surgiu assim: bá, os meus candidatos, agora derrotados, andam na volta dos 70 anos. É certo que hoje em dia ter 70 anos não impede nada em matéria de vida produtiva, até na política, essa arena tão particular e agora tão rebaixada da vida. Mas mesmo assim aos 70 anos a curva da vida é outra que aos 50, nem falar dela aos 40 ou 30. (E aproveito para desejar vida longuíssima e fértil aos setentões em causa.)

Tarso, Olívio, Raul Pont, Flávio Koutzii, para ficar nos mais notórios líderes petistas do Estado, vêm de pendurar as metafóricas chuteiras eleitorais. O Flávio já tinha largado quatro anos atrás, agora foi o Raul, e os dois se somam aos derrotados de agora. Minha pergunta é: o que se aposenta com eles?

Não sei responder. Certo que há setentões e mesmo oitentões na ativa, no PT e em outros partidos palatáveis para um eleitor e cidadão como eu, capazes de vir a fazer coisas boas e importantes na gestão pública; mas algo se perdeu nas derrotas e aposentadorias aqui evocadas. E me dou conta de que estou fazendo é um balanço da minha geração.

Nós, que andamos entre os 50 e os 60, mais ou menos, quem somos, na arena da política? Sem citar nomes, porque não se trata disso (meus deputados são da minha geração e são gente de valor), penso que não obtivemos mais a síntese que os aposentandos eram e simbolizaram – de algum modo, eles reuniam em si as características de serem ao mesmo tempo gente de ação e de formulação, de eleição e palanque, como de pensamento e crítica teórica. Uns mais, outros menos, essas figuras foram e são a maturidade, talvez o zênite, de um específico jeito de ser de esquerda depois da II Guerra Mundial – e aqui é inevitável ajuntar o adjetivo “sartreano” a esse jeito.

Com o Olívio, o Tarso, o Raul e o Koutzii deu sempre para falar de um grande romance, um filme marcante, um poema, tanto quanto para formular uma leitura da conjuntura política de varejo e para discutir os fundamentos e estruturas do poder. (Evito perguntar ao meu eventual leitor de quantos mais se poderá dizer o mesmo.)

Sei, ainda dá para falar com eles, que estão aí, com saúde e inteligência, e sei que gente como eu vai continuar a contar com eles. Repito que desejo tê-los perto por décadas ainda, mas não consigo deixar de me sentir um tanto órfão com as aposentadorias e derrotas recentes.


Diria um latino, já de si uma figura de outra época: “Tempus fugit”. Bem isso.
RUTH DE AQUINO
07/11/2014 21h08

Juiz não é Deus

O juiz dirigia sem habilitação. Foi multado, estrilou e quis prender a fiscal. Quem ele pensa que é?

Todo juiz que se sente ofendido ao ouvir que “não é Deus” deveria buscar uma terapia para curar a onipotência. Juízes têm a função de julgar, mas estão muito longe de ter a prerrogativa do juízo divino. Não estão acima do bem e do mal.

Por conhecer a fundo as leis, juízes não têm desculpa para violar ou desrespeitar o Código Civil. Espera-se dos juízes, mais que dos leigos, um comportamento ajuizado – é só observar a raiz do adjetivo. Juízes podem, todavia, errar. São humanos, não são deuses.

O juiz João Carlos de Souza Correa abusa do direito de errar. Em fevereiro de 2011, no Leblon, bairro nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro, ele foi parado numa blitz da Operação Lei Seca. A fiscal de trânsito Luciana Tamburini, de 34 anos, verificou que ele não estava com sua carteira de habilitação e que seu carro, um Land Rover, não tinha placas nem documentos. Mandou rebocar o carro – cumprir a lei.

Em vez de se resignar por ter sido flagrado em delito, João Carlos não gostou. Identificou-se como juiz de Direito. “Ele queria que um tenente me desse voz de prisão”, disse Luciana. “O tenente se recusou, e o juiz ligou para uma viatura. Os PMs tentaram me algemar e disseram que o juiz queria que eu fosse para a delegacia. Respondi que ele queria, mas não era Deus.”

Informado pelos PMs do que Luciana dissera, João Carlos começou a gritar e lhe deu voz de prisão. Chamou-a de “abusada”. Luciana confirma que são comuns as “carteiradas” de poderosos, do tipo “você sabe com quem está falando?”, mas é raro o infrator se descontrolar a esse ponto.

Ela abriu uma ação contra João Carlos por danos morais depois de sofrer, no Detran, uma sindicância interna, sob pressão dele e de sua mulher, para apurar seu procedimento na blitz. O desfecho na Justiça é uma ode ao corporativismo. O desembargador José Carlos Paes inverteu a ação e condenou Luciana a pagar R$ 5 mil de danos morais a João Carlos, por ter ofendido o réu e “a função que ele representa para a sociedade”. A sentença, datada do último 22 de outubro, é surreal. Vale ler um trecho:

“A autora, ao abordar o réu e verificar que o mesmo (sic) conduzia veículo desprovido de placas identificadoras e sem portar sua carteira de habilitação, agiu com abuso de poder, ofendendo este, mesmo ciente da relevância da função pública por ele desempenhada. Ao apregoar que o demandado era ‘juiz, mas não Deus’, a agente de trânsito zombou do cargo por ele ocupado. (...) Pretendia afrontar e enfrentar o magistrado que retornava de um plantão judiciário noturno”.

Você ficou com pena de João Carlos? O que esperamos nós ao encarar uma blitz sem carteira de motorista, sem placa e sem documento? O embate com João Carlos assustou a mãe de Luciana, que nem queria mais deixá-la sozinha em casa. “Quando a gente faz o que é certo, não tem por que ter medo”, disse Luciana. O caso deverá ir agora para o Superior Tribunal de Justiça. “Vou até o final, não me arrependo de nada.”

O juiz João Carlos não é estreante em confusões. Em 2007, como titular em Búzios, no litoral norte do Rio, tentou forçar um transatlântico com turistas a abrir para ele as lojas do free shop. Deu voz de prisão a uma jornalista, Elisabeth Prata, por calúnia e difamação. Ela passou 12 horas detida, foi condenada a cinco anos de cadeia e teve de provar sua inocência. Em 2010, João Carlos foi investigado pelo Conselho Nacional de Justiça por decisões duvidosas que envolviam disputas fundiárias e imobiliárias na Região dos Lagos. Parece que ele pensa mesmo ser Deus.

Nas redes sociais, a história de Luciana deslanchou uma onda de solidariedade. Uma advogada paulista, Flavia Penido, leu os autos do processo, ficou indignada com “o show de horrores” e, mesmo sem conhecer Luciana, abriu uma vaquinha virtual para arrecadar o valor da multa e dar a ela apoio emocional.

“A gente deveria brigar menos nas redes sociais por besteira e canalizar essa energia para atazanar quem realmente merece ser atazanado”, disse Flavia. Até a sexta-feira, já haviam sido coletados mais de R$ 20 mil. Luciana ficou surpresa e feliz. Disse que doará o excedente. Contou que seu maior desejo é ganhar a ação, sem precisar tocar no dinheiro arrecadado. Hoje licenciada da função, Luciana aguarda nomeação na Polícia Federal. Quer ser delegada.

Será que João Carlos sabe com quem está lidando? Com a opinião pública.

O Brasil convive com muitas arbitrariedades cotidianas. Cansa. É uma vida às avessas, que embaralha os conceitos, beneficia os espertos e prejudica os honestos. Para ser excelentíssimo, é preciso impor respeito pela integridade. Para mudar o país, não basta rezar. Um bom começo é saber que ninguém aqui é Deus. Nem o senhor doutor João Carlos de Souza Correa. Amém.


sábado, 1 de novembro de 2014


02 de novembro de 2014 | N° 17971
MARTHA MEDEIROS

Morra bem

Um dos meus textos mais conhecidos chama-se A morte devagar, que publiquei na véspera de Finados de 2000 e que logo ganhou o mundo com o título Morre Lentamente. No início foi equivocadamente atribuído a Pablo Neruda, por isso o espalhamento e seu sucesso. Passado tanto tempo, já me devolveram a autoria e hoje esse texto virou canção na França e entrou no roteiro de um filme italiano - sem falar nas traduções para o espanhol, que alguns desconfiados ainda acreditam ser seu idioma de origem.

Na época, aproveitando a proximidade do Dia dos Mortos, escrevi puxando as orelhas (não os pés) daqueles que morrem em vida: os que evitam o risco, a arte, a paixão, o mistério, as viagens, as perguntas – apenas atravessam os dias respirando.

Hoje, neste dia de Finados, 14 anos depois, reitero: não morra lentamente. Morra rápido, de uma vez só, sem delongas. Morra quantas vezes for necessário.

Quando fiz meu mapa astral, ouvi da astróloga: “Você tem dificuldade de lidar com ambivalências, gosta das coisas esclarecidas, para o bem ou para o mal”. E ela concluiu: “Morrer é algo que você faz bem, ficar em banho-maria, não”.

Sombrio? Soturno? Ao contrário. Entendi com clareza sobre o que ela falava. Morte é a antessala da luz. Não a morte definitiva, que encerra o assunto, mas as diversas mortes em vida, os vários falecimentos a que somos submetidos. É preciso morrer bem enquanto se vive.

Cada final de amor é uma pequena morte, por exemplo. Morre lentamente quem fica alimentando fantasias de retorno, planejando vinganças, cultivando lembranças com naftalina. Sei que dói, mas não deixe esse amor definhando na UTI, dê logo a extrema-unção, acabe com isso, morra rápido, morra de vez, para que possa renascer ligeiro também.

Finais de carreira, finais de amizade, finais de ciclo: mortes que acontecem aos 30, aos 40 anos, em qualquer idade. Dói, dói demais, não estou negando a dor, mas o que você prefere? As dúvidas, as ilusões, o apego? Prefere a sobrevida a uma vida nova? Confie na experiência de quem já se enterrou algumas vezes. Morra. Morra bem morrido, baby.

Final de juventude, final da faculdade, final de uma viagem de intercâmbio: vai ficar agindo como se tivesse 18 anos para sempre? Mate o garoto, renasça adulto.

A morte daqueles que amamos é trágica, mas nossa própria morte, não. Ela é uma contingência de nossa longa existência, e essa não é uma frase cínica, simplesmente é assim. Nossos sonhos morrem. Nosso passado morre. Nossas crenças, nossas fases. Fazer o quê? Morra bem. Morra com categoria. Com dignidade. O menos lentamente possível. Morra de morte bem arrematada, uma, duas, três mil vezes, morra em definitivo sempre que for exigido, para sobrar tempo.

Tempo pra vida em frente.

02 de novembro de 2014 | N° 17971
FABRÍCIO CARPINEJAR

Cafonices necessárias

Na vida existem cafonices necessárias. Coisas que precisam da breguice para manter seu charme.

É o cafona imprescindível – quando arrumadas, não têm graça nenhuma. É o cafona fundador de nossas experiências. O cafona fundamental, conhecemos de um modo e não há como enxergar diferente. Perdura uma ligação insubstituível com o nosso olhar da infância.

Penso de imediato em pano de prato e churrascaria.

O pano de prato sempre traz aquelas flores e frutas pintadas, toscas, primárias, mal acabadas. Um cacho de uvas ou o botão de uma rosa. E só é bonito pela sua ingenuidade. Se fosse uma obra de arte, seria uma echarpe. Se fosse de um tecido bom, seria um lenço. Ele é feito para a discrição, para ser uma toalha de mesa do fogão, um sudário dos pratos e copos.

Ninguém lembra onde comprou e como surgiu em nossa casa: simplesmente aparece nas gavetas. Não tem valor algum, mas não vivemos sem ele. Entra na categoria do inútil necessário. Não é levado à tábua de passar, não recebe o vapor do ferro, é tratado sem pompa e circunstância, dobrado direto ao ser pego do varal. Tanto que recebe a borda colorida da costura para se diferenciar do pano de chão. A moldura de tricô corresponde a um aviso para não ser jogado fora.

O mesmo aspecto amavelmente grosseiro deve emanar de uma churrascaria. Não confio em churrascaria chique, com mesas limpas, protetor nas cadeiras e guardanapos de pano. Rodízio de carne não pode sofrer síndrome de restaurante japonês. É gerar um mal entendido, igual a transar com um travesti jurando que é mulher.

Churrascaria depende de uma vulgaridade mínima: palito de dente e caixinha de farofa à disposição, e a toalha de papel vegetal, reposta a cada nova turma de famintos.

Não é um lugar para afetação. Churrascaria que se preza tem jeitão de cozinha. O espaço inteiro é uma imensa cozinha, da porta de entrada até os fundos da residência. O salão não guarda diferença alguma com o clima de bagunça das panelas. Haverá gordura no chão, farelos, rastros da pressa dos espetos. O sapato cola ao caminhar pelos corredores. O ideal seria permitir cuscos junto das pernas para pescar as sobras – mas seria muita evolução do cafona.

Todo rodízio gaudério apresenta um mural em sua parede com cascata e cavalos empinados, feito por algum parente do dono. A arte rústica e amadora indica que encontrará qualidade e fartura no lugar. Péssimas pinturas equivalem, no jargão popular, a ótima comida. São estrelas informais do Guia Quatro Rodas. É um selo popular de autenticidade da picanha.

A cafonice produz uma tranquilidade de vida eterna: preserva situações e objetos que nos acompanham desde o nosso nascimento e que não se modificaram com a modernidade.


Reforça nossa crença na informalidade do simples, em que não dependemos de efeitos especiais para encontrar a felicidade.