sábado, 31 de julho de 2010



01 de agosto de 2010 | N° 16414
MARTHA MEDEIROS


As coisas que a gente faz para se torturar

Tem gente com vocação real para carrasco e que não sossega enquanto não sacrifica a si próprio

Adianta ficar batendo a cabeça na parede porque perdeu uma oportunidade rara de chamar uma garota para sair? Entendo, você não costuma encontrá-la, não sabe seu telefone, seu sobrenome, seu endereço, onde ela trabalha, teve a chance e deixou escapar, mas vai passar quantos meses se lamuriando como se ela fosse a última mulher do mundo?

E isso ainda é tortura leve. Tem gente com vocação real para carrasco e que não sossega enquanto não sacrifica a si próprio. Que gente? Todos nós.

Há os que têm certeza de que, se estão vivendo uma boa fase hoje, pagarão o preço amanhã, e imaginam direitinho como: sofrerão um acidente, perderão o emprego, serão traídos. Não é possível que esteja tudo bem, assim, no mole, de graça. Algo vai acontecer, é só colocar a imaginação pra funcionar.

Falei em traição? Bah! Um clássico. O relacionamento de vocês é mais firme que o caráter do Dunga, não há o menor indício de que possa entrar água, mas ainda assim você não resiste em se martirizar. Qualquer 10 minutos de atraso, qualquer ligação telefônica não atendida, qualquer desatenção vira indício de que algo está sendo escondido. E você não se aquieta enquanto não descobre o que não existe, enquanto o outro não confessa o crime que não cometeu.

Além disso, há uma doença secreta se desenvolvendo no seu estômago, no seu cérebro, na sua corrente sanguínea. Os exames não revelaram, os médicos não descobriram, os sintomas não apareceram, mas são favas contadas, você está condenado.

Pensamentos mórbidos com morte. Imaginar cenas de os filhos correndo risco, de o apartamento sendo invadido por marginais, de você morrendo sozinho sem ninguém descobrir seu corpo por dias: filmes de terror que não saem de cartaz na sua cabeça.

Relutamos em aceitar que, se a tragédia não bateu à nossa porta, não foi por engano, e sim por uma contingência da vida. Não bateu, passou reto, não voltará para cobrar a conta que não é devida.

Mas só um curso de imersão budista com o próprio Dalai Lama para fazer a gente abandonar os grilhões a que nos aprisionamos voluntariamente. Imagina se logo você será poupado. Quá!

Você não é bobo, não quer ser pego de surpresa, então passa a vida se preparando psicologicamente para a dor, torturando a si mesmo para, quando chegar a hora, estar tão acostumado com o sofrimento que nem doerá tanto.

É a danada da culpa que não permite que sejamos felizes sem ter que pagar penitência por tamanho privilégio.

quarta-feira, 28 de julho de 2010



28 de julho de 2010 | N° 16410
MARTHA MEDEIROS


Polícia para quem precisa

“Dizem que ela existe/Pra ajudar/Dizem que ela existe/Pra proteger/Eu sei que ela pode/Te parar/Eu sei que ela pode/Te prender/Polícia! Para quem precisa...”

Já assiti a mais de um show dos Titãs e eles sempre provocam uma excitação na plateia ao tocar essa música. Plateia majoritariamente jovem que têm com a polícia uma relação pouco amistosa ou muita amistosa, dependendo da situação. Polícia é pró ou contra conforme o lado que estamos.

Para o rapaz que atropelou o filho da atriz Cissa Guimarães, a polícia foi uma mãe. Os agentes foram testemunhas quase oculares do acidente, já que chegaram ao local do atropelamento poucos minutos depois, antes mesmo das ambulâncias, mas desdenharam do acidentado e se concentraram no atropelador, aquele que dirigia um carro semidestruído e que poderia render uma gorda propina.

Infelizmente, no lugar do motorista, muitos teriam feito o mesmo: “Quanto você quer para não ter me visto?” No lugar do policial, poucos teriam respondido: “Quero os fatos, apenas”. Policiais ganham uma merreca, trabalham em atividade perigosa, são estigmatizados e mal treinados. Não há muito interesse em ser honesto às duas da manhã.

Dias depois, um policial de Fortaleza, outro despreparado, atirou contra Bruce Cristian, que tinha nome de artista, mas não era artista, estava apenas na carona da moto do seu pai, que não viu o PM tentando interceptar seu caminho e acelerou em frente, o que bastou para que seu filho de 14 anos levasse um tiro na nuca, por trás.

“Dizem pra você/Obedecer/Dizem pra você/Responder/Dizem pra você/Cooperar/Dizem pra você/Respeitar/Polícia! Para quem precisa...”

Tudo é acidental. É o que consta dos relatórios, dos inquéritos, dos depoimentos: desculpe, foi acidental. Matar é um acidente. Corromper é um acidente. O Brasil é um acidente.

Difícil apontar inocentes e culpados num país que não consegue fazer seus cidadãos entenderem a importância da seriedade na conduta social, um país que não consegue moralizar o cotidiano, que possui uma lei para cada caso e não uma lei única e severa que se imponha sobre o “acidental”.

Somos todos franco-atiradores querendo se safar. Policiais vestem um uniforme e portam armas com a chance de brincar de mocinho e bandido, sem se darem conta de que a bala não é de festim. E ainda têm a rara oportunidade de se sentirem superiores a filhinhos de papai: “Quero 10 mil, estaciona ali e te vira”. E os cadáveres ficam pelo caminho. Polícia, quem precisa?

Todos nós precisamos da polícia. De homens cuja missão é nos proteger. E os policiais precisam de nós também, que deveríamos fazer a nossa parte, agindo com civilidade e assumindo nossos erros.

Porém, sem treinamento e salário decente nas corporações, sem educação e respeito às leis na sociedade, enfim, sem uma ética nacional que valha para todos, instala-se o faroeste.

Uma ótima quarta-feira para você. APROVEITE O DIA

quarta-feira, 21 de julho de 2010



21 de julho de 2010 | N° 16403
MARTHA MEDEIROS


Cissa

Escrevo sob forte emoção. Acabei de saber da morte do filho da Cissa Guimarães, que foi atropelado essa manhã (de ontem) no Rio de Janeiro. Tinha 18 anos, o Rafael. Eu o conheci no apartamento da Cissa, em 2009, quando fizemos uma primeira reunião para discutir sobre a peça Doidas e Santas, baseada em livro meu, que ela estava encenando atualmente no Teatro Leblon.

Semana passada, ela ainda me telefonou para dizer que a temporada havia sido prorrogada por mais três meses e brincou: “Sou ou não sou a Cissa Torpedão?”. Com aquela gargalhada gostosa que todos conhecem, ela arrematou: “Estou na melhor fase da minha vida, guria”. Estamos sempre na melhor fase da nossa vida.

Este ano, Cissa esteve duas vezes aqui em casa, onde pudemos conversar com mais tranquilidade – ainda que ela seja tudo, menos tranquila – e confirmei o que já percebia pela tevê: é uma mulher que esbanja vitalidade. Para ela não há tempo ruim: diante de um problema, transforma a dor em energia e toca adiante. Não sei como vai ser agora.

Conheço muitas pessoas que já sentiram essa dor virulenta. Há mais de 10 anos, publiquei uma crônica sobre perda de filhos (“Imitação de vida”) e muitas mães entraram em contato, certas de que eu já havia passado pela experiência e dizendo-se confortadas pelo que eu havia escrito. Nunca passei por essa tragédia, e lembro de ter ficado constrangida por ter me atrevido a um assunto tão delicado.

Se aquelas mães desfalcadas de seus filhos haviam se sentido confortadas por palavras de quem nunca havia vivenciado o mesmo drama, talvez se sentissem ainda mais confortadas por quem realmente passou, e então tive a ideia de escrever um livro reunindo depoimentos de várias mulheres e suas mutilações particulares, para que servisse de amparo para quem viveu essa fatalidade (não estou desmerecendo de forma alguma a dor de um pai – é que eu tinha mais intimidade com as mulheres que pensei em entrevistar).

Só que não consegui levar a ideia adiante. Por mais bem-intencionada que estivesse, daria a impressão de estar explorando a dor alheia, sem falar que ficaria demolida ao ouvir os relatos. Desisti por covardia.

Havia preparado uma outra crônica para hoje, mas o tema anterior se tornou irrelevante. Tudo se torna irrelevante diante da perda de um filho, ainda mais quando é o filho de alguém que valoriza a família acima de tudo – como nós, aliás. Eu, que vinha passando por uns dias ruins, agora me pergunto: do que mesmo eu estava reclamando?

Cada um sabe o que lhe dói, e todas as dores são respeitáveis, mas às vezes é importante a gente lembrar que a única coisa de que precisamos é ter ao nosso lado as pessoas que amamos, o resto é negociável, e isso vale para artistas, balconistas, diaristas e todos que vivem em alta velocidade, sem perceber que, no balanço das horas, tudo pode mudar.

Ainda que com chuvas e ventos que possamos todos ter um bom dia. Aproveite

sábado, 17 de julho de 2010



18 de julho de 2010 | N° 16400
MARTHA MEDEIROS


A vida em slow

Nem a encrenqueira Jabulani, nem o performático Maradona, nem a justa vibração espanhola. O que mais atraiu minha atenção na Copa que passou (e não se fala mais nisso, prometo) foram as cenas em slow motion.

Aliás, very slow, passando a sensação de que a vida pode ser delicada em qualquer circunstância. Até mesmo o atrito violento entre os corpos ganhava suavidade e nada parecia doer. Nada. Não há quem não se deslumbre com imagens repousantes nesse mundo que, quando em rotação normal, é frenético demais.

Sempre fui fascinada por cenas em câmera lenta, principalmente quando utilizada para buscar poesia onde nem pressupomos que ela exista. Em cenas de guerra, por exemplo. Lembro de um filme que mostrava em slow os soldados sendo atingidos por granadas, voando junto com os estilhaços ao som de rock pesado. Brutalidade embrulhada em papel de seda. Clichê ou não, funciona.

Tanto funciona que ficamos naturalmente fascinados pelas poucas coisas da vida que são slow ao natural, a olho nu. Você já reparou?

Ondas, por exemplo, jamais são apressadas. Elas se formam com vagar, como se soubessem que participam de um espetáculo, e depois quebram demoradamente, fechando-se em si mesmas, femininas, recatadas, soltando sua espuma e suas gotas em uma coreografia ensaiada que sempre extasia. Na beira da praia ou em alto mar, em dia de calmaria e mesmo em dia de fúria, as águas nunca são aceleradas, elas sabem que são donas de um raro efeito especial.

A mesma coisa com transporte aéreo. A cidade pode estar em velocidade máxima, os carros zunindo pela avenida, pessoas correndo de um lado para o outro nas ruas, e então surge aquela espaçonave branca atravessando o céu, decolando ou aterrissando, num ritmo tão lento que custamos a acreditar que consiga se manter no ar sem despencar. Não despencam. Nem disparam. Mantém-se em slow. Planam, como pássaros que também são.

As girafas não impressionam apenas pelo tamanho incomum do pescoço, mas porque caminham num molejo baiano, não acompanham o frenesi da selva, não possuem pressa para nada, são majestosamente demoradas, assim como os polvos, que ganharam surpreendente notoriedade esse ano.

Não ter urgência, meditar como um buda, praticar thai chi chuan. Me corrija se eu estiver errada: a paciência é o sentimento mais slow motion que existe.

O fogo da lareira, a chama da vela, a fumaça do cigarro, a tragada: a vida queima em marcha lenta.

Os domingos caudalosos. O beijo apaixonado, deliciosamente arrastado... assim como as reticências...

E fim de brandura. O resto é vida veloz.

Ainda que com chuva um lindo domingo para você.


17 de julho de 2010 | N° 16399
NILSON SOUZA


O beijo roubado

Quando pisei pela primeira vez numa Redação de jornal, as mulheres eram raridade no universo do jornalismo. Na editoria de Esportes, onde comecei a trabalhar, tinha apenas uma repórter entre duas dezenas de homens que transpiravam futebol o tempo todo – mas espichavam olhares desconfiados e cobiçosos para aquela jovem de olhos verdes, ex-esgrimista, que serpenteava sorrateira entre as mesas de trabalho como se estivesse, florete à mão, sempre pronta para enfrentar a indisfarçável resistência à sua presença numa atividade dominada pelos machos da espécie.

A década de 70 foi marcada pela invasão das mulheres na Comunicação. Como na canção de Chico Buarque, elas foram chegando sorrateiras e, antes que eles dissessem não, se instalaram em todas as áreas, inclusive na pequena e na grande do campo de jogo.

Lembro-me bem do espanto e dos risinhos irônicos que causavam as primeiras setoristas encarregadas da cobertura dos clubes tradicionais. Mas elas empunharam microfones e canetas – como a minha antiga colega empunhava a sua lâmina – e encararam a concorrência.

Hoje ninguém mais debocha quando aparece uma Sara Carbonero na beira do campo ou na porta do vestiário. Pelo contrário, os próprios atletas, que antes se esquivavam das perguntas inseguras e às vezes extravagantes das calouras, agora respondem com seriedade às indagações quase sempre pertinentes das mulheres do futebol.

Outro dia, numa conversa com estudantes de Comunicação, desafiei a garotada a decifrar a regra do impedimento e uma menina espevitada me deu uma aula que o próprio Carlos Simon não daria melhor.

A verdade é que as repórteres esportivas se impuseram como profissionais capazes e respeitadas, o que, aliás, as mulheres têm feito também em outras profissões. Nesse sentido, foi comovente o esforço da bela espanhola para manter a postura profissional no final da Copa.

Ela já havia entrevistado várias vezes o goleiro Casillas, seu namorado, sempre mantendo a objetividade e o distanciamento necessários para o bom exercício do trabalho. Ele, da mesma forma, sempre mantivera prudente distanciamento.

Naquele momento sublime, porém, os atores abandonaram seus papéis e partiram para o improviso. O goleiro, no seu momento de glória e emoção, deixou de lado a sobriedade, tomou a repórter nos braços e deu-lhe um beijo de desagravo.

Ela, que vinha sendo acusada de distraí-lo nos jogos, sequer teve tempo de reagir. Ficou atônita, com o microfone na mão, dizendo palavras desconexas. A entrevista estava encerrada. E quem queria saber de entrevista naquele momento em que as imagens diziam tanto?

O beijo roubado acabou sendo um fecho de conto de fadas para uma história de seres muito humanos.

quarta-feira, 14 de julho de 2010



14 de julho de 2010 | N° 16396
MARTHA MEDEIROS


Beijo em pé

Uma vez, almocei com duas amigas mineiras, ambas casadas há bastante tempo, veteranas em bodas de prata, e ainda bem felizes com seus respectivos. Falávamos das dificuldades e das alegrias dos relacionamentos longos. Até que uma delas fez uma observação curiosa. Disse ela que não tinha do que reclamar, porém sentia muita falta de beijo em pé.

Como assim, beijo em pé?

Depois de um tempo de convívio, explicou ela, o casal não troca mais um beijo apaixonado na cozinha, no corredor do apartamento, no meio de uma festa. É só bitoquinha quando chega em casa ou quando sai, mas beijo mesmo, “aquele”, acontece apenas quando deitados, ao dar início às preliminares. Beijo avulso, de repente, sem promessa de sexo, ou seja, um beijaço em pé, esquece.

E rimos, claro, porque quem não se diverte perdeu a viagem.

Faz tempo que aconteceu essa conversa, mas até hoje lembro da Lucia (autora da tese) quando vejo um casal se beijando na pista de um show, no saguão de um aeroporto ou na beira da praia. Penso: olha ali o famoso beijo em pé da Lucia. Não devem ser casados. Se forem, chegaram ontem da lua de mel.

Há quem considere o beijo – não o selinho, o beijo! – uma manifestação muito íntima e imprópria para lugares públicos. Depende, depende. Não há regras rígidas sobre o assunto, tudo é uma questão de adequação.

Saindo de um restaurante, abraçados, caminhando na rua em direção ao carro, você abre a porta para sua esposa (sim, sua esposa há uns bons 20 anos) e taca-lhe um beijo antes que ela se acomode no assento. Por que não?

Porque ela vai querer coisa e você está cansado. Ai, não me diga que estou lendo seus pensamentos.

O beijo entre namorados, a qualquer momento do dia ou da noite, enquanto um lava a louça e o outro seca, por exemplo, é um ato de desejo instantâneo, uma afirmação do amor sem hora marcada. No entanto, o tempo passa, o casal se acomoda e o hábito cai no ridículo: imagina ficar se beijando assim, no mais, em plena segunda-feira, com tanto pepino pra resolver. Ninguém é mais criança.

Pode ser. Mas que gracinha de criança foi o goleiro Casillas ao interromper a entrevista da namorada e tacar-lhe um beijo sem aviso, um beijo emocionado, um beijo à vista do mundo, um beijo em pé. Naquele instante, suspiraram todas as garotas do planeta, e as nem tão garotas assim. E os homens se sentiram bem representados pela virilidade do campeão. Pois então: que repitam o gesto em casa, e não venham argumentar que não somos nenhuma Sara Carbonero. Isso não é desculpa.

terça-feira, 13 de julho de 2010



13 de julho de 2010 | N° 16395
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Uma vida particular

“Você não tem mensagens novas” – me informa a secretária eletrônica do telefone. Minhas reações são diversas e divididas. Recebo sempre, a cada manhã, vários recados. São vozes que querem me empurrar um excelente cartão de crédito, a assinatura de uma revista que garantem ser a melhor do país, um cupom que me candidata ao sorteio de um carro.

E há também os que são mais simples e menos ambiciosos. S. reclama que me enviou um e-mail, e que eu não respondi. D. se queixa que me mandou seu último livro e eu sequer acusei o recebimento. G. repete o convite para tomarmos um cappucino no café do Margs.

Não desgosto das mensagens comerciais. Afinal, são pessoas que ganham a vida tentando vender o trivial variado para gentes que desconhecem. Não careço de cartões de crédito, sou bem servido com os que já tenho.

Não me faltam revistas, quer em casa pelo Correio, quer no lugar onde trabalho. Não necessito de um carro novo, pois aposentei o último que tive por uma espécie de economia íntima, como a que me descreveu em ida entrevista ninguém menos do que Erico Verissimo.

Quanto a S., está coberta de razão. Sou relapso com os e-mails que recebo. Na maioria dos casos vou deixando que se acumulem antes de lhes dar adequada resposta. Já D. está certa. Me chegam tantos livros que acabo por ser descortês, não enviando sequer um muito obrigado a autores e editores. Pior: nem chego a ler todos.

No que diz respeito a G., me declaro em dupla dívida. Nem só já deveria ter repartido um cappucino com ela, como revisitado as obras do Margs, um dos melhores museus do Brasil. O fato é que são tantas e tão variadas as pequenas e grandes exigências do cotidiano que termino por faltar com certos deveres e prazeres que não poderia esquecer.

Aliás, por mim programaria minha vida de um modo todo particular. Para princípio de conversa, não teria hora para despertar, pouco importando se ela fosse às 10h, às 11h30min ou ao meio-dia. Trabalho? Nem pensar. Dedicaria todos os meus momentos a lazeres, aí incluídas as histórias que ainda tenho na cabeça e preciso transferir para a tela de um computador.

Não negligenciaria os amigos. Dedicaria a eles cada instante que hoje devoto ao duro ofício da sobrevivência. Eu viajaria muito, veria infinitos filmes, eu não perderia concertos, eu frequentaria exposições de arte, eu sairia no encalço de cada amada que balançou meu coração.

Mas desconfio que tudo isso é apenas o sonho de uma noite de verão.

Linda terça-feira para você. Aproveite o dia

domingo, 11 de julho de 2010


ELIO GASPARI

A "conjunção carnal" do delegado de SC

Reapareceu a teoria segundo a qual não existe estupro, existem mulheres mal comportadas

NO DIA 14 DE MAIO, uma garota de 13 anos encontrou-se com um amigo num shopping de Florianópolis e foi ao seu apartamento, onde vive com a mãe e o padrasto. Ele tem 14 anos e é filho de Sérgio Sirotsky, diretor do Grupo RBS de comunicação em Santa Catarina. A empresa, pertencente à sua família, controla 46 emissoras de televisão e rádio e oito jornais diários no Sul do país.

O que aconteceu no apartamento do garoto não se sabe com precisão, pois o inquérito policial e o processo correm em segredo de Justiça. Durante a investigação, quem devia preservar o sigilo permitiu que ele vazasse.

A jovem contou em seu depoimento que foi estuprada por um ou dois rapazes, ambos menores. Além do dono do apartamento, denunciou o filho de um delegado. Medicada num hospital, deu queixa à polícia e submeteu-se a um exame de corpo de delito. Nos últimos dez dias, o caso explodiu na internet.

A família Sirotsky publicou um comunicado informando a ocorrência do "lamentável episódio", lembrando que "confia integralmente nas autoridades policiais".

Para que se possa confiar mais nessas autoridades, o secretário de Segurança de Santa Catarina deve exonerar o delegado Nivaldo Rodrigues, diretor da Polícia Civil de Florianópolis. Numa entrevista gravada, ele disse o seguinte:

"Eu não posso dizer que houve estupro. Houve conjunção carnal. Houve o ato. Agora, se foi consentido ou não, se foi na marra, ou não, eu não posso fazer esse comentário, porque eu não estava presente".
A declaração do delegado é uma repetição da protofonia das operetas que começam investigando casos de estupro e terminam desgraçando quem os denuncia.

Noutra entrevista, com o inquérito concluído, o doutor informou que "o caso investigado é de estupro", mas ao especular (indevidamente) sobre a motivação do ocorrido informou: "Amizade, se encontraram, resolveram fazer uma festa. Se foi na marra, não sei".

Falta o delegado definir "marra". É crime manter relações sexuais com menores. Se isso fosse pouco, segundo a denúncia, podem ter sido dois os rapazes que usufruíram a "conjunção carnal". Se o delegado não podia dizer se o ato foi "consentido ou não", devia ter ficado calado. Afirmar que não pode opinar porque "eu não estava presente" beira o deboche.

Existe uma razoável literatura sobre estupros de grupo. Em geral, ocorrem quando a vítima está alcoolizada ou drogada, o que torna despicienda a questão do consentimento.

Se o doutor Nivaldo sair virgem do episódio, os catarinenses perderão um pouco de sua segurança, triunfarão as teorias conspirativas sobre a impunidade do andar de cima e prevalecerá uma racionalização do crime: não há estupros, há mulheres que não sabem se comportar. (Exceção feita às mães dos defensores dessa doutrina, e que Santa Maria Goretti proteja suas filhas.)

sábado, 10 de julho de 2010



11 de julho de 2010 | N° 16393
MARTHA MEDEIROS

Hein?

A surdez pode ser uma deficiência física, mas pode também ser uma deficiência provocada, voluntária

Quando meu pai ouve uma asneira muito grande, mas muito grande, ele costuma dizer: É preferível ouvir isso do que ser surdo, relativizando a ignorância alheia: há coisas piores na vida.

A surdez nunca me comoveu profundamente. Sempre imaginei que a deficiência auditiva seria a mais tolerável, mesmo sabendo que esse ranking é um disparate, não existe a melhor e a pior deficiência, ainda que, em segredo, todos já tenham pensado um dia: entre ser cego ou surdo, surdo toda vida.

O surdo tem recursos. Aparelhos auditivos, leitura labial, linguagem de sinais. Ele só não socializa se não quiser. E se não quiser, tem o álibi perfeito. “Desculpe, não estou escutando nada”.

Acabei de ler um livro que é o que costumo esperar de um bom livro: inteligente, divertido, humano, terno e bem escrito. Chama-se Surdo Mundo, do talentoso David Lodge, autor inglês. O título é um trocadilho deplorável, como todo trocadilho, mas não se pode querer tudo.

É a história de um professor de linguística aposentado que está perdendo a capacidade de ouvir. Ele, um aficionado pelas palavras, já não as escuta com precisão. Sua mulher está cada dia mais irritadiça por ter que repetir as frases toda hora.

Seu velho pai já está meio surdo também, e além disso, caduco, o que torna as conversas entre eles totalmente nonsense. Uma aluna bonitona e sem escrúpulos entra na jogada e torna a confusão ainda maior. Mas essa confusão tem mesmo a ver com a surdez que ele sofre, ou com a surdez que ele deseja?

Estamos nos tornando surdos por gosto. As fofocas propagadas diariamente no local de trabalho, as queixas mil vezes repetidas na sala de jantar, as grosserias disparadas pelas janelas dos carros em meio ao trânsito, as angústias de sempre reprisadas nos divãs, as confissões íntimas que acabam por se banalizar: quem está a fim de ouvir quem hoje?

Não por acaso, a personagem maluquete do livro está fazendo uma pesquisa sobre bilhetes de suicidas, pessoas que chegam ao extremo de se matar, por quê? Simplificando o que não é simples, poderíamos dizer que elas não estão sendo escutadas com a paciência e devoção que precisam. Um dia cansam de falar sozinhas.

Estamos todos muito barulhentos, virulentos, verborrágicos, ansiosos. Há muita comunicação, mas pouco conteúdo. A surdez pode ser uma deficiência física, mas pode também ser uma deficiência provocada, voluntária: cansei, não quero escutar mais nada.


O mercado contra o Estado

Em seu novo livro, o cientista político americano Ian Bremmer analisa o crescimento do capitalismo de Estado no mundo – inclusive no Brasil. Para ele, o sistema de livre mercado ainda vai prevalecer. A seguir, um trecho do livro - Ian Bremmer - Jianan Yu
AUTOAJUDA

Fábrica de roupas descartáveis, na China. Os governos autoritários abraçaram o livre mercado, mas só para se perpetuar no poder

Em maio de 2009, recebi um convite por e-mail para discutir a crise financeira global com o vice-ministro de Relações Exteriores da China, He Yafei, junto com um pequeno grupo de economistas e acadêmicos. O vice-ministro iniciou o encontro, realizado no consulado chinês, na 12a Avenida, em Manhattan, com uma pergunta: “Agora que o livre mercado fracassou, que papel vocês acham que caberá ao Estado na economia?”.

Seu tom maliciosamente pragmático e a grandiosidade de sua afirmação quase me fizeram rir. Mas a pergunta era séria – e uma rápida olhada nas manchetes dos jornais revelava muitas evidências em seu favor. A quebra do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro de 2008, demonstrou que a crise financeira havia atingido uma escala que não podia mais ser ignorada.

As autoridades de Washington tinham assumido a responsabilidade por decisões que geralmente são tomadas pelos mercados, em Nova York. O então presidente George W. Bush assinou o Ato Emergencial de Estabilização Econômica, criando o Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Trouble Asset Relief Program, Tarp, em inglês), de US$ 700 bilhões.

No início de 2009, seu sucessor, Barack Obama, avisou que, se Washington não atuasse rapidamente, os Estados Unidos viveriam uma catástrofe. Os legisladores responderam ao chamado aprovando um plano de resgate de US$ 787 bilhões.

He Yafei aguardou pacientemente por uma resposta. “Os bancos fracassaram em se autorregular, mas isso não significa que o governo vai dominar permanentemente a economia”, respondi. Robert Hormats, do (banco de investimento) Goldman Sachs, Don Hanna, do Citigroup, o economista Nouriel Roubini e outros acrescentaram suas visões à conversa.

Ao longo dos 90 minutos seguintes, meus colegas americanos e eu defendemos o capitalismo de livre mercado e o senhor He defendeu o capitalismo dirigido pelo Estado. Nós encontramos algumas ideias em comum. Mas, ao final do encontro, ficou claro que tínhamos discutido os méritos de dois conjuntos incompatíveis de princípios políticos e econômicos.

Em encontros de consequências muito mais amplas, realizados agora em todo o mundo, essa incapacidade de concordar em relação ao papel adequado do Estado na economia mudará a forma de a gente viver. O exemplo mais óbvio é a mudança da mesa internacional de negociações dominada pelos chefes de Estado do G7, o grupo das nações mais industrializadas do mundo – todas elas campeãs do capitalismo de livre mercado – para o modelo do G20, no qual céticos do livre mercado, como China, Rússia, Arábia Saudita, Índia e outros países, participam da discussão.

Agora, quando os líderes das democracias de livre mercado fazem o diagnóstico dos problemas da economia global, enfrentam o sorriso cético de He Yafei – e de todos aqueles na mesa que acreditam que o livre mercado fracassou e que o Estado deve ter um papel preponderante na economia. É um enorme problema, que vai trazer desafios por várias décadas. Como chegamos aqui? O fim da Guerra Fria não trouxe a vitória do capitalismo de livre mercado?

Apesar de ter cumprido as promessas de campanha, Lula não é nenhuma Margaret Thatcher

Em dezembro de 1991, um atônito Mikhail Gorbatchev anunciou a seu povo que eles estavam vivendo num mundo novo. Seis dias depois, a União Soviética acabou. Em três semanas, o líder chinês Deng Xiaoping lançou uma nova fase da reforma de livre mercado da China.

Em um ano, até Fidel Castro tinha aceitado a necessidade de implementar algum grau de experimentação capitalista. Países do Pacto de Varsóvia começaram a marchar em direção à Organização do Tratado
do Atlântico Norte (Otan) e à União Europeia. O capitalismo de livre mercado parecia ter obtido uma vitória definitiva.

Mas, como os russos descobriram de forma dolorosa nos anos 90, há um longo caminho entre uma economia planificada e o capitalismo de livre mercado. A queda do comunismo não representou o triunfo do livre mercado, porque não colocou um ponto final em governos autoritários. O governo chinês aprendeu algumas lições importantes com o colapso da União Soviética e a revolta da Rússia contra o caos e a corrupção que se seguiram. Primeiro, reconheceu que, se o Partido Comunista Chinês fracassasse em gerar prosperidade para o povo, seus dias estavam contados.

Segundo, aceitou que o Estado não pode criar crescimento econômico duradouro por decreto. Só com a liberação da inovação e das energias empreendedoras de sua vasta população a China poderia prosperar e o partido sobreviver. Terceiro, percebeu que, quando esse potencial de crescimento fosse liberado, o partido só poderia proteger seu monopólio de poder político se o Estado controlasse a maior parte possível da riqueza que os mercados viessem a gerar.

Assim como a China, governos autoritários em todo o mundo aprenderam a competir abraçando o capitalismo de livre mercado. Certos de que economias planificadas estavam destinadas ao fracasso, mas temerosos de que o verdadeiro livre mercado fugisse do controle, os autoritários inventaram o capitalismo de Estado.

Neste sistema, os governos usam vários tipos de empresas controladas pelo Estado para administrar o que consideram como joias da coroa e para criar e manter um grande número de empregos. Eles elegem empresas privadas para dominar certos setores econômicos. Usam os fundos soberanos para investir o dinheiro extra e maximizar os lucros do Estado. Em todos os casos, o Estado está usando os mercados para criar riquezas que possam ser dirigidas para onde os políticos desejarem.

The end of the free market
(O fim do livre mercado)

Editora Portfolio (EUA), 230 páginas,
US$ 18 (R$ 30)

Lançamento no Brasil: fevereiro de 2011, Editora Saraiva
Reprodução

Esse novo modelo atraiu imitadores em boa parte dos países emergentes. No Brasil, quando a população elegeu Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, em 2002, muitos investidores estrangeiros temiam que ele seguisse o caminho do presidente venezuelano Hugo Chávez, dando uma guinada radical para a esquerda. Apesar das garantias de campanha de que Lula manteria a disciplinada política de livre mercado, alguns temiam que ele voltasse atrás.

Isso não aconteceu. Sua reputação de esquerda o ajudou a construir um consenso em favor do capitalismo de livre mercado – dentro de certos limites. Hoje, com seu mandato no fim, ele continua muito popular no Brasil.

Lula, porém, não é nenhuma Margaret Thatcher. Ele acredita que seu governo tem uma responsabilidade com os pobres e com o fortalecimento (e não com a privatização) da maior parte das estatais remanescentes. Elegeu campeões nacionais de controle privado, especialmente em setores como mineração e telecomunicações. Empresas como a Petrobras e a Eletrobrás desempenham um papel mais importante, embora o governo trabalhe para atrair mais investimento privado.

Essas intervenções não chegam perto das que ocorrem na Rússia ou na China. Ainda assim, dois fatos importantes ameaçam levar o governo brasileiro a desempenhar um papel mais ativo na economia. O primeiro é a descoberta das reservas de petróleo do pré-sal, anunciada em novembro de 2007.

O governo já propôs mudanças na lei de 1997, que permitiu às empresas estrangeiras desempenhar um importante papel na exploração e na produção de petróleo, e quer assegurar que a Petrobras não perderá seu papel de liderança no setor.

O segundo fator potencial de mudança foi o impacto da crise financeira de 2008 no mercado interno. Com a desaceleração do comércio e a redução do crédito, o governo usou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para injetar recursos no setor privado, aumentando a participação governamental em algumas das maiores empresas do Brasil.

Lula trabalhou para ajudar a criar campeões privados de capital nacional em alguns setores, com o objetivo de torná-los mais competitivos no mercado internacional. Mas, como essas empresas têm financiamentos de outras fontes, o Estado não pode controlá-las totalmente.

Em dezembro de 2008, o governo Lula anunciou planos de criar um fundo soberano. A ideia original era usá-lo para ajudar a financiar as empresas brasileiras no exterior e a desvalorizar o real, para estimular as exportações. O governo tomaria empréstimos em reais e compraria dólares para financiar as empresas brasileiras a comprar ativos no exterior.

A retração econômica mudou os planos. Agora, o governo quer que o capital do fundo (pouco abaixo de US$ 7 bilhões) ajude a financiar investimentos do Estado no Brasil e garanta recursos às instituições financeiras estatais.

Em outubro de 2010, os eleitores brasileiros irão às urnas para eleger o sucessor de Lula e terão de tomar uma decisão difícil. O Brasil não é um país de capitalismo de Estado.

Sua democracia permite o controle do poder do Estado, a opinião pública apoia o comércio e o investimento estrangeiro (inclusive no setor de energia) e seu fundo soberano é pequeno, se comparado aos da China e do Golfo Pérsico.

Mas, ainda que os eleitores decidam o voto com base em outras questões, o próximo presidente terá uma influência considerável na forma como o país vai desenvolver uma das maiores reservas de petróleo do mundo, o grau de abertura da economia e o tipo de exemplo que dará a seus vizinhos.

A Grande Depressão dos anos 1930 não destruiu o capitalismo de livre mercado, mesmo que as alternativas do comunismo e do fascismo tenham capturado a imaginação mundo afora. O capitalismo de livre mercado destruiu o fascismo, ofuscou o colonialismo e teve uma longevidade maior que o comunismo. Também sobreviveu a diversas crises criadas por ele mesmo. Por que ele é tão resistente?

Porque praticamente todas as pessoas valorizam a oportunidade de criar prosperidade para si mesmas e suas famílias, e porque o livre mercado provou diversas vezes que pode dar poderes praticamente a qualquer um. À medida que centenas de milhões de pessoas conhecerem como os outros vivem – do outro lado da rua e do outro lado do planeta –, elas se darão conta de que uns têm muito mais que os outros. Mas muitos também verão que a riqueza, como quer que a definam, não está mais fora de seu alcance.

À medida que nações antes isoladas se unirem à economia global, criando novos mercados para os bens e serviços que produzem, elas verão que a prosperidade pode ser contagiosa. As três últimas décadas provaram que o acesso ao livre mercado – e não apenas a ajuda financeira – pode incluir imensos contingentes de pobres na economia global.

Os mercados livres oferecem àqueles que deles participam vantagens de longo prazo que o capitalismo de Estado não pode atender.

Extraído do livro O fim do livre mercado, por acordo com a Editora Saraiva.


10 de julho de 2010 | N° 16392
NILSON SOUZA


Onde está a manteiga?

Dia desses, deparei com um curioso texto sobre as diferenças entre os cérebros masculino e feminino.

Um artigo intitulado “Por que os homens não passam roupa” explica que as diferenças comportamentais entre homens e mulheres devem-se menos ao condicionamento social, como a psicologia defendeu durante muito tempo, e muito mais a distinções biológicas identificadas por modernas pesquisas científicas e pelo mapeamento computadorizado do cérebro humano.

A tese inclui um histórico da formação de áreas diferenciadas na chamada massa cinzenta: o homem pré-histórico saía da caverna para buscar o alimento da família, por isso especializou-se em enxergar longe, em concentrar-se na caça (até para não ser caçado) e em encontrar o caminho de volta.

Já a mulher desenvolveu habilidades para proteger a casa, para fazer várias coisas ao mesmo tempo e para se comunicar bem com as outras mulheres da tribo. Daí, por exemplo e simplificadamente, a razão pela qual os homens são melhores para se localizar no trânsito e as mulheres são muito melhores no uso das palavras, especialmente da linguagem oral.

Antes que me joguem pedras, esclareço que a tese não é minha e que, logicamente, admite todas as exceções possíveis. Tem homem que passa roupa, sim. Tem mulher que pilota avião e chega ao seu destino sem dificuldades. A pesquisa, obviamente, se refere às características predominantes nos dois gêneros.

Mas o que mais me impressionou na matéria é a parte que explica por que os homens não encontram as coisas dentro de casa. Essa me bateu forte: abro a porta da geladeira e não acho o pote de manteiga.

Peço ajuda para minha mulher, ela vem e pega o pote na minha frente. Diz a pesquisa que nossos ancestrais masculinos desenvolveram a visão de longa distância para localizar e identificar a caça, mas aprenderam a concentrar-se unicamente nela. Já as damas das cavernas apuraram a visão periférica e hoje suas descendentes são capazes de enxergar uma multiplicidade de coisas ao mesmo tempo, além de distingui-las com muito mais facilidade e exatidão do que os olhares masculinos.

Claro que sempre vai haver dúvidas de um e outro lado. Se um homem tentar explicar para a mulher que não pode ajudá-la em casa porque seu cérebro não está programado para as repetitivas tarefas domésticas, corre o risco de levar o ferro de passar na moleira.

Também será inútil para uma mulher justificar que se perdeu no trânsito porque o cérebro paleolítico de suas ancestrais só aprendeu a conhecer o interior da caverna.

Mas, embora sejamos de Marte e elas de Vênus, com diálogo e tolerância a gente se entende aqui na Terra.

quinta-feira, 8 de julho de 2010



08 de julho de 2010 | N° 16390
L. F. VERISSIMO


Costureiros

A Espanha costurou, costurou, costurou. Passou o jogo inteiro costurando. O que costuravam Xavi e Iniesta? O que costurava a Espanha? No fim foi revelado: a Espanha costurava a mortalha da Alemanha.

Mas não foi seu ataque costureiro que matou e empacotou a Alemanha. Foi sua defesa, que segurou o ataque alemão na hora do desespero final, seu meio-campo (Busquets espetacular), que engoliu o meio-campo alemão com Schweinsteiger e tudo, e um zagueiro, Puyol, que foi lá fazer o gol mortal.

Joachim Löw, técnico da Alemanha, tem o cabelo e a cara de quem estaria melhor numa mesa de café em Paris, discutindo filosofia. Dava para imaginá-lo, ontem, bebendo vinho e discorrendo sobre o Ser e o Nada. Com ênfase no Nada.

O cenário do jogo de ontem, o Moses Mabhida, em Durban, é o mais bonito dos estádios construídos para esta Copa. Mas sua vizinhança com um grande estádio de rúgbi que já existia e que, imagina-se, poderia muito bem ser adaptado para o futebol, faz dele também o exemplo mais evidente do desperdício de dinheiro que foi esta Copa, segundo seus críticos.

Outros estádios novos, como o da Cidade do Cabo e o Soccer City, aqui de Joanesburgo, também são belos monumentos à imprevidência. Não haverá publico para justificar seu gigantismo, nem para o futebol, nem para espetáculos musicais. Na remota possibilidade de a África do Sul voltar a sediar uma Copa do Mundo, eles estarão velhos, justificando outros estádios e mais desperdício.

Quem defende o investimento feito nos estádios alega que eles atingiram seu objetivo. A África do Sul provou que podia fazer a festa e impressionou o mundo, tanto com sua organização quanto com sua audácia arquitetônica. E, se ficam esses monstros ociosos na sua paisagem, bom, são monstros bonitos. E é próprio das grandes festas deixar detritos.

Por falar em ócio. Com os finalistas definidos, temos dois dias para pensar no que vimos aqui, fazer sumas e retrospectivas e, por assim dizer, o rescaldo da Copa. Esta é a minha sétima e, olha, não foi das piores que vi.

Tivemos jogos emocionantes e jogos de cortar o coração (não vamos citar nomes), lances brilhantes, lances embaraçosos (inclusive de juízes e bandeirinhas), tivemos o Maradona e tivemos, acima e ao redor de tudo, as vuvuzelas. E também será lembrado o que não tivemos: não tivemos o Cristiano Ronaldo, nem o Wayne Rooney, nem o Gourcuff, nem o Ribéry e nem, pensando bem, o resto do time da França. E a Itália, teria perdido o avião?

Domingo, outro projeto de trabalhos manuais espera a Espanha: costurar um saco para laranjas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010



07 de julho de 2010 | N° 16389
MARTHA MEDEIROS


Índio quer apito

Muitas coisas desmotivam o eleitor brasileiro, desde os subterfúgios para escapar de lei Ficha Limpa até a corrupção incessante, que nunca arrefece, não importa quem esteja no governo. Eu me desmotivo por isso tudo também, mas principalmente pelos critérios com que hoje se escolhem companheiros de chapa: vale quem trouxer benefícios até o dia da eleição, e não benefícios após ser eleito.

O caso do vice de José Serra não é único, mas é o mais recente. Lendo as matérias sobre a escolha de Indio da Costa como candidato a vice, não li uma única frase sobre seus atributos como cidadão e homem público.

“Pressionado, Serra aceita deputado do DEM como vice”. Esta manchete está longe de ser o anúncio de um parceiro escolhido por ser competente e capaz de substituir o presidente no caso de esse faltar.

“Diante do risco de desmonte da aliança que sustenta sua candidatura...”, Serra engole o fulano que mal conhece. O importante é agradar à cúpula e aos crápulas.

“O nome que valerá três minutos na propaganda na TV.” Esse é o principal argumento a favor da escolha de um político que, por enquanto, só o que se sabe é que foi namorado da filha de Salvatore Cacciola, o que não é mérito nem demérito, é informação irrelevante.

O que importa são os três minutos a mais de espaço para convencer o eleitor de que o PSDB merece voltar ao governo. Talvez mereça. Talvez não. Como saber, se os interesses políticos passam tão longe dos interesses da população?

Não há mais nem o pudor de disfarçar. A portas fechadas, alinhavam-se os toma lá dá cá e a última coisa a que os candidatos se dedicam é formatar um programa de gestão que solucione de vez os problemas até hoje irremediáveis da nação brasileira. Não há espaço para inocência: sem o apoio de um partido e de outro, não se constrói uma candidatura com chances de vitória.

E, vencendo, será a hora de retribuir esse apoio, de distribuir cargos, de pagar a aposta feita. Uma dívida que não se esgota, que se retroalimenta, e disso vive a política, de conchavos e vaidades, de vitórias e derrotas contabilizadas nos corredores dos ministérios e nas votações em plenário, como se o QG do poder reunisse em si mesmo um país à parte, onde reside o único povo a quem se olha e protege: o povo chamado classe política.

O povo de fora não apita.

Uma ótima quarta-feira para vc. Aproveite o dia

terça-feira, 6 de julho de 2010



06 de julho de 2010 | N° 16388
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Quem terá sido Maria?

“Telefonar para Maria” – leio em uma velha caderneta de notas descoberta entre guardados da adolescência.

Quem terá sido essa Maria? – me pergunto. As garotas do tempo em que eu era bem jovem não se chamavam Maria. Atendiam por Laura, Ana Lúcia, Stella e mais uma centena de nomes em que Maria só entrava combinado com outros, tipo Tânia Maria.

Mas o que leio em minha caderneta é apenas Maria. Seria uma homenagem à senhora mãe de Jesus Cristo? Não creio. Aliás, sou um incréu. Naquelas recuadas épocas, por exemplo, só acreditava na beleza das meninas em flor, e isso que sequer tinha lido Proust.

Reflexão que me devolve à mensagem da caderneta de recados. Por que teria eu de telefonar para Maria? Maria me convidava para uma reunião dançante, na qual colaríamos a face contra a face? Maria precisava me passar uns segredos sobre a prova de Filosofia do vestibular de Direito? Maria me avisava que eu deixara em sua casa os documentos do carro Rover 52, que foi o mais fascinante que dirigi?

As possibilidades são infinitas. E é exatamente isso que me leva a pensar que, como a curta mensagem a respeito de Maria, a vida é feita de pequenos acontecimentos, de breves instantes.

Você sabe o dia de sua formatura na universidade e até um ou dois trechos do discurso do orador da turma. Você é capaz de reproduzir a vez em que autografou seu primeiro livro e até o leve tremor da mão nos segundos em que escreveu sua assinatura. Você não tem a menor dificuldade de reviver horas de triunfo, na sua vida ou na sua carreira.

Mas você enfrenta problemas para ressuscitar as horas em que nada de importante sucedeu, a não ser, talvez, um beijo roubado nos terraços da Reitoria, em noite de baile. Sou um ser escrevinhador e, durante longo tempo, nunca deixei de gravar o que acontecia comigo, quer em grandes diários, quer em pequenas cadernetas.

O que me levou a fazer isso? Quem sabe a ideia de que sobreviveria a mim mesmo. Quem sabe a conclusão de que cada pequeno momento vivido deveria ser toscamente eternizado. Pois é desses mínimos fragmentos que se tece a existência humana.

Essa é a real tessitura de nossa jornada sobre a terra. É como uma inesperada declaração de amor, apenas murmurada. É como o súbito canto de um pássaro desconhecido. Ou é como um simples nome, Maria, que jamais decifrarei de quem foi.

sábado, 3 de julho de 2010



04 de julho de 2010 | N° 16386
MARTHA MEDEIROS


Propaganda enganosa

Quando seus amigos perguntarem como é sua nova namorada, que é sósia da Alessandra Ambrósio, diga: “Dá pro gasto”

Passo dias olhando para o espelho, pensando: tenho que cortar meu cabelo. Não dá mais, não dá mais. Aí marco hora no salão do Hugo e, quando chega o dia, shazam: acordo com um cabelo de comercial de xampu. Tem sido assim desde que me conheço por gente: planejo tosá-lo (repica, Renê, repica!) e, no dia da chacina, ele amanhece sedoso, exuberante, e eu, que estava cheia de coragem, só aparo as pontinhas.

Situações inversas são ainda mais comuns. Você adora as roupas de uma loja, é cliente prefencial, faz sua visita a cada mudança de estação e nunca volta pra casa de mãos vazias, até que um dia resolve levar junto com você uma amiga que nunca esteve nesse antro de perdição, e chegando lá, não há um trapo que preste nas araras. Tudo sem graça, sem estilo, não é um azar que logo hoje a coleção estivesse tão desbotada?

Você fala maravilhas da sua cozinheira, guarda a moça a sete chaves como se fosse um bilhete premiado, não há quem faça um risoto melhor do que o dela, não há, nem em Milão, nem em Paris, e você vai demonstrar, convida um casal de amigos pra jantar na sua casa, eles chegam desconfiados e óbvio – óbvio, criatura! – que o risoto não vai sair do jeito que você anunciou, será mais um risoto entre todos os risotos, por que você não aprende?

Sua irmã retorna da praia uruguaia da qual você fez propaganda e, entortando o nariz, diz que não achou nada de mais. Sujeitinha implicante. No feriado seguinte você retorna ao local e não é que o paraíso perdeu mesmo o charme?

Você está nas alturas: “Gurias, estou saindo com um deus! Dá de goleada no Kaká e no Julio Cesar juntos. Vocês verão, ele está chegando aí, se comportem”. E o deus chega sem provocar suspiros em ninguém, e então você observa melhor e pensa: ele tinha que ter colocado essa camisa fúcsia e deixado esse bigodinho logo hoje?

E assim será com o sensacional médico que você recomendou e que irá perfurar o útero da sua prima numa cirurgia. Com o show de um grupo de jazz imperdível que colocará sua turma pra dormir. Com o hotel baratinho e limpíssimo em Nova York que você indicou pra sua cunhada, onde ela pegará sarna.

Tem jeito. Quando seus amigos perguntarem como é sua nova namorada, que é sósia da Alessandra Ambrosio, diga: “Dá pro gasto”. Quando voltar de Fernando de Noronha, comente: “Um lugarzinho simpático”. Quando levar amigos pra comer no restaurante do Claude Troisgros, faça muxoxo: “O peixe até que é razoável”. E não se fala mais nisso.

Lindo domingo para vc. Aproveite o dia.


O cidadão do mundo

Como obter cidadania de vários países e ter acesso aos melhores empregos
Edição: Luciana Vicária
Shutterstock


O valor da anuidade na universidade americana de Yale, uma das mais concorridas do mundo, depende da nacionalidade do aluno. O cidadão americano paga, em média, 50% menos que os estrangeiros. Vantagem parecida leva um europeu em uma disputa de emprego na Inglaterra.

Para se candidatar a uma vaga divulgada na última semana na empresa de energia inglesa BG Group, exigia-se – além de fluência em inglês, experiência internacional e boa formação acadêmica – cidadania europeia. Logo, a forma de concorrer em condições de igualdade é ter a segunda ou terceira cidadania. Saiba como obtê-la, assim como as vantagens e os riscos de ter vários passaportes.

A cidadania abre portas – e muitas – para os estrangeiros. Ao se tornar cidadão de algum membro da União Europeia, você poderá estudar, trabalhar e morar em qualquer um dos 27 países que dela fazem parte. Sem trâmites burocráticos. “As fronteiras ficam menores. As possibilidades se multiplicam”, diz a advogada Andrea Girello, especialista em obtenção de cidadanias europeias.

Para quem não tem a cidadania herdada de antepassados e tem um país como meta, a dica é começar pelo domínio do idioma. O publicitário Fernando Hudson sempre foi fascinado pela Alemanha. Visitou o país quatro vezes na adolescência e estudou a língua, que passou a dominar. Foi ela que facilitou seu acesso.

Fernando navegava por sites de emprego da Alemanha e se cadastrou em vários deles. Menos de um ano depois de se formar em publicidade, estava trabalhando no país com um visto provisório, que foi renovado até ele obter a cidadania. Hoje, mora em Berlim e compõe jingles em alemão.

Outra forma de encurtar o caminho da cidadania é oferecer ao país o que ele mais precisa. Joanna Magalhães é graduada em informática. Ela sonhava em se mudar para a Nova Zelândia, país que facilita a entrada de profissionais nessa área. Saiu do Brasil com emprego garantido e visto de residência permanente.

“É preciso estar atento à demanda por profissionais”, diz Joanna. “Muda o tempo todo. Em algum momento podem estar procurando alguém de sua área.” Mas Joanna avisa que o processo exige perseverança: “Eles quiseram ter certeza de que eu não estava interessada apenas no seguro-desemprego vitalício e nos excelentes serviços de saúde e educação do país”.

Pedidos de segunda cidadania aumentaram 30% nos últimos cinco anos, de acordo com um estudo feito por organizações que monitoram a imigração, entre elas o Escritório de Cidadania e Naturalização dos Estados Unidos. Mas muitos dos brasileiros que procuram outros passaportes não querem sair do país. A demanda por outras cidadanias não tem relação direta com imigração.

O chef Carlos Bertolazzi, por exemplo, pretende expandir seus negócios em São Paulo. Mas, para isso, ele diz que ajuda ter trânsito livre lá fora. O passaporte italiano de Bertolazzi foi decisivo para que conquistasse uma vaga em um trabalho na Espanha, ao lado do lendário chef espanhol Ferran Adrià. A cidadania europeia também deu acesso a cursos abertos apenas para cidadãos europeus.

Bertolazzi é descendente de italianos. O empresário e pastor Marcello Malizia também. Ele migrou para Londres com a família sem dificuldades. Como cidadão europeu, pode morar onde tiver as melhores condições de emprego. Ganha a vida com transporte de vans na Inglaterra, mas pode ir atrás de oportunidades melhores. “Estou sempre atento ao que acontece nos outros países da Europa”, afirma. “As fronteiras deixaram de ser obstáculos.”

A cidadania mais difícil de ser adquirida é a americana. Para conseguir o green card, o bancário paulista Alexandre Figueiredo fez graduação e trabalhou mais de dez anos nos EUA. Descendente de portugueses, hoje tem tripla cidadania. E transmitiu as três a suas duas filhas. “São americanas, brasileiras e portuguesas”, diz. “Poderão estudar e trabalhar onde quiserem.”

Autoridades americanas e europeias estão cada vez mais atentas a golpes imigratórios. No último ano, nos EUA, a polícia identificou mais de 200 estrangeiros com casamentos arranjados. Eles não só perderam o green card, como a chance de voltar ao país. Se a sorte não ajudou com um ascendente americano ou europeu, a melhor alternativa é tentar um intercâmbio de estudos e trabalho.


Arq. Pessoal e Rogério Cassimiro
MOBILIDADE

Malizia, com a família no Hyde Park, em Londres. A cidadania italiana permite que ele more em Londres. Ao lado, o chef brasileiro Bertolazzi, em seu restaurante, em São Paulo. Passaporte europeu deu acesso a um curso exclusivo na Espanha

O caminho do segundo passaporte

As principais regras para conquistar a cidadania em outros países e o que mais atrai os brasileiros



03 de julho de 2010 | N° 16385
NILSON SOUZA


Atrás da Jabulani

As vuvuzelas espantaram minha mulher do sofá. Tenho visto os jogos da Copa sozinho quando estou em casa. Não que ela seja uma excepcional companheira para o futebol: o normal é que fique lendo as propagandas colocadas à margem do gramado enquanto arregalo os olhos para não perder os lances de gol.

Mas sempre é bom ter alguém para me ouvir quando discordo do árbitro ou aplaudo alguma jogada de habilidade – coisa rara neste Mundial em que inventaram uma bola com vontade própria.

Sou um veterano de Copas. Por obrigação profissional, mas também por gostar de esportes, estive presente nas competições da Argentina, da Espanha e da França. E acompanhei todas as outras com igual atenção, sempre em alguma Redação de jornal, atrás de uma máquina de escrever ou de um computador.

Nunca, porém, vi uma Copa com tantos detalhes como a atual: a tal supercâmera lenta é o grande gol deste Mundial. Os caras chutam torto, dão trombadas, erram em bola, mas a tecnologia maquia tudo e transforma o fiasco em espetáculo.

As imagens são incríveis: tufos de grama desprendem-se do chão, gotas de suor viram chuva depois de uma cabeçada, os rostos se contraem no esforço e resplandecem nas comemorações, o mínimo puxão de camisa ganha total visibilidade.

Nada escapa ao aguçado olhar eletrônico. Outro dia, as câmeras flagraram o treinador alemão colocando o dedo no nariz e protagonizando as cenas mais constrangedoras da Copa. Em compensação, as tomadas de público têm sido espetaculares. Mostram o colorido dos rostos pintados, as fantasias com as cores nacionais, as bandeiras, os torcedores exóticos e as torcedoras bem produzidas.

Aparecer no telão do estádio é a maior glória para qualquer torcedor. Há tanta coisa bonita e diferente para ver, que de vez em quando baixo o som e suplico a presença de minha companheira no sofá.

Esse jogo de concessões me faz lembrar uma anedota que circulou pela Redação outro dia, em plena Copa. Depois de 20 anos de matrimônio, casal vai ao psicólogo. Ele pergunta o que há e a mulher sai disparando: “Pouca atenção, falta de intimidade, vazio, solidão, não se sentir amada, ser relegada em função dos amigos, do futebol, não ser valorizada...”

O jovem e bem-apessoado terapeuta ergue-se, pede para a mulher ficar de pé, abraça-a e a beija apaixonadamente, diante do olhar desconfiado do marido. Em seguida, volta-se para ele e diz: “Isso é o que a sua esposa necessita pelo menos três vezes por semana. Pode continuar este tratamento?”.

O marido pensa um pouco e responde:

“Bem, posso trazê-la às segundas e quartas. Mas na sexta tenho futebol com o pessoal”.