domingo, 29 de março de 2009


CARLOS HEITOR CONY

Amada mia

RIO DE JANEIRO - Não estou atualizado nem me preocupo com isso. Mas volta e meia leio e ouço depoimentos nostálgicos de eras anteriores ao dilúvio e aos dinossauros. Outro dia, tomei conhecimento de repertório brega que serviu de trilha musical para gerações que, como naquela canção infantil, deram adeus e foram embora.

Meto minha colher no mingau e lembro "Amada mia", cantada por Dick Haymes, mas lançada na versão "Amado mio", por Rita Hayworth, num filme que garantia nunca ter havido mulher como Gilda. "Amada mia, love me forever" e que este "forever" comece nesta noite. Era letal.

O núcleo da breguice era o repertório das churrascarias e dos inferninhos nos subsolos de Copacabana, onde, para desespero de minha mãe, que me queria padre, iniciei uma felizmente interrompida carreira de pianista da madrugada.

Nas churrascarias, o "hit" preferencial era "Babalu", o grito sensual da magia negra; nos inferninhos, não se resistia a "Perfídia", que Ingrid Bergman e Humphrey Bogart dançaram naquela cena do cabaré de Paris -recordamos "As Time Goes By" e esquecemos que, no final de tudo, depois de Casablanca, eles só teriam Paris para sempre.

Havia as estradas vicinais de efeito igualmente fulminante, Pablo Neruda com sua canção desesperada, tão curto o amor, tão largo o esquecimento, Vinicius de Moraes com seu soneto da fidelidade, chupado de Henri de Régnier (1864-1936), o amor que seja infinito enquanto dure.

Não conheço os equivalentes atuais para pintar o clima devastador que encerrava os prolegômenos e iniciava os finalmentes. Roberto Carlos parece que ainda funciona ao longo dos trilhos da Central do Brasil e da antiga Leopoldina Railway. Não ando por aquelas bandas -desconfio que esteja perdendo alguma coisa boa.

sábado, 28 de março de 2009



29 de março de 2009
N° 15922 - MARTHA MEDEIROS


Identidade contra a crise

Tem-se falado que uma das consequências da crise econômica mundial é uma certa caída de ficha entre as pessoas que têm prazer em ostentar. A tendência, dizem, é não esfregar sua riqueza na cara dos outros. Já não era sem tempo: sempre achei ostentação uma cafonice.

Eu pagaria uma fortuna para não andar de limusine, não viver numa casa com 15 quartos e não usar boa parte dos vestidos que desfilaram no tapete vermelho do Oscar. E se alguém me pedisse pra citar um exemplo de mulher jeca, é bem provável que alguma milionária me viesse à cabeça. Um disco voador me largou nesse planeta e esqueceu de me buscar.

Há que se ter uma certa cautela com essa história de crise. Sei que ela existe, mas também sei que o excesso de precaução pode alavancá-la: é tanta gente com medo do que está por vir que a retração começa antes da hora, e aí corta-se, demite-se, enxuga-se. Se a crise acachapante não vier, a desconfiança terá instalado outra crise no lugar.

Mas já que não se fala em outro assunto, vale refletir sobre o que esse momento pode ter de positivo, e a diminuição da ostentação é apenas a ponta do iceberg. Com ou sem crise, já estava mesmo na hora de uma reciclagem de atitudes e de pensamento.

Restabelecer prioridades. Sai a conta estratosférica de certos restaurantes, que costumam cobrar até 150% a mais no preço de uma garrafa de vinho, e trocar por encontros entre amigos, em casa, cada um trazendo do super a sua colaboração.

Em vez de só darmos atenção para a roupa nova que a nossa amiga está vestindo, reparar melhor no seu semblante e procurar descobrir a razão do seu olhar triste. Deixar o carro mais tempo na garagem e andar a pé ou de bicicleta, que aliás era o meio de transporte preferido de John John Kennedy, que nunca precisou economizar.

Festa de 15 anos para 600 convidados com show ao vivo e três trocas de vestido? Usar brinco, colar, gargantilha, pulseira, anel, tornozeleira, tudo ao mesmo tempo, e ainda carregar uma bolsa de 2 mil dólares com a grife saltando aos olhos? Torneiras de ouro no lavabo (em apartamentos em que a mensalidade do condomínio geralmente está atrasada?) Isso é saber viver?

Cada um escolhe o que fazer com o seu dinheiro, combinado.

Mas já que virou moda não ostentar (deveria ser regra), então que se aproveite a tendência da estação para consumir atitudes novas: ser elegante sem torrar uma nota preta, economizar água e ajudar a conter a poluição, não abrir mão de ter amigos verdadeiros, deixar de valorizar relações descartáveis, alimentar a alma e o espírito com muita arte e cultura, buscar um lazer revigorante junto à natureza, cuidar do corpo de forma saudável e não apenas cirúrgica, sorrir em vez de reclamar tanto, falar menos de dinheiro, fazer o que se gosta sem se preocupar com a repercussão, dar valor ao que tem valor, e não apenas ao que tem preço.

Não vá por mim, que eu nem sou daqui. Mas vá por você.


29 de março de 2009
N° 15922 - MOACYR SCLIAR


Clique aqui, amigo. Por favor, clique aqui

Acontece com todo mundo que tem internet: não há dia em que a gente não receba uma mensagem vinda de um remetente não habitual – não é amigo, não é familiar – mas que sempre contém uma ordem/convite: “Clique aqui”. Não clique.

É uma armadilha. É coisa de hacker. Clicar significa abrir a memória de seu computador para alguém que dela tirará proveito, obtendo informações que incluem, por exemplo, contas bancárias. Todos nós sabemos disso. Mas todos nós precisamos estar alertas, muito alertas, para não cair no engodo eletrônico.

O hacker é uma figura nova no mundo da transgressão. Não é um assaltante violento, não usa armas, não agride sua vítima, nem sequer se aproxima dela. O hacker age a distância, e seus instrumentos são, além da internet, uma boa dose de imaginação e um conhecimento, ainda que rudimentar, da psicologia humana.

Imaginação? Pois é. Sem ser um ficcionista famoso, o hacker tem, no entanto, de bolar uma historinha convincente; mais que isso, tem de criar também um personagem.

Uma personagem, na maioria das vezes, que se dirige a nós com a maior familiaridade, sempre se queixando e, portanto, sempre apelando para o nosso sentimento de culpa: “Oie (se a mensagem começa por ‘oie’, desconfiem), você ontem passou por mim e fez que não me viu, não tem importância, eu perdoo você e mando as fotos do nosso último encontro”. E ali está o anexo no qual as pessoas devem novamente clicar.

E por que clicam? Pela curiosidade, claro, à qual não falta um componente de sacanagem. O destinatário da mensagem sabe muito bem que não passou por moça alguma, que não encontrou moça alguma, que não foi para o quarto com ela; mas clica, mesmo assim.

Por que clica? O que espera ver? É a si próprio, vivendo cenas de tórrida paixão? Talvez. A capacidade que temos de enganar-nos a nós próprios é muito grande, e é com isso que o hacker (ou a hacker, não sejamos preconceituosos) conta.

Sedução é uma fórmula. A outra é autoritarismo. Em certas mensagens, o hacker fala em nome do poder. É a justiça eleitoral avisando que nosso título vai ser cassado. É um banco, ameaçando com cobrança judicial. É uma empresa mandando a conta de um eletrodoméstico adquirido via internet.

Às vezes, temos uma curiosa fórmula intermediária, que consiste em unir autoridade com sedução. Somos avisados que foi feito um depósito em nosso nome; para saber quanto, temos de clicar. Ora, depósitos são feitos por quem controla dinheiro, e quem controla dinheiro merece respeito. E aí muitos clicam.

Deve ser dito que os hackers não são propriamente gênios da vigarice. O número de erros de grafia nas mensagens é monumental, sem falar nas frases mal-construídas (seria bom que lessem mais). Por outro lado, certas propostas, ou certas ordens, não fazem o menor sentido. “Você vai ser desligado do provedor X”.

Só que não usamos o provedor X, nunca tivemos nada a ver com o provedor X. E o banco Y manda-nos uma mensagem: “Caro depositante” – mas não somos depositantes do banco Y. Isso, porém, não importa. O hacker é como o semeador da parábola bíblica: ele vai atirando as sementes da tentação por toda a parte.

A maioria delas cairá no território árido (para o hacker) de nosso ceticismo e de nossa desconfiança e nunca germinará, mas basta que uma pequena porcentagem resulte em sucesso para justificar um trabalho que, convenhamos, nada tem de exaustivo.

A indagação se impõe: por que os hackers não usam seu talento, seu esforço, em alguma atividade respeitável, reconhecida?

Boa pergunta. Para saber a resposta, clique aqui.

quarta-feira, 25 de março de 2009



25 de março de 2009
N° 15918 - MARTHA MEDEIROS


Sobrevoando Porto Alegre

Semana passada li a notícia dos meus sonhos na internet. Uma empresa americana anunciou o primeiro teste de um protótipo de carro voador, movido a gasolina. O carro pode ser transformado em avião pelo próprio piloto em apenas 30 segundos, tem autonomia de voo de mais de 700 km e pode atingir até 185km/h no ar. Já botei meu nome na lista de espera.

Não sei se você reparou, mas o trânsito de Porto Alegre está perto de entrar em colapso. Não existe mais hora do rush: as ruas estão tomadas desde manhã cedo até a noitinha. Tampouco se pode atalhar: se quisermos desviar por outra rua, essa outra rua estará igualmente lotada – todos tiveram a mesma ideia que você. Não há por onde escapar.

Sei que a prefeitura não pode duplicar avenidas da noite pro dia. Estou me queixando pro bispo, já que não há como interromper a venda de automóveis, sem falar que nossa cidade é grande, há muitas ladeiras, as ciclovias são escassas, não há metrô, enfim, o uso do carro ainda se faz necessário, infelizmente.

Ele é mal usado? Sim, poderíamos dar mais caronas, mas pra isso precisaria haver uma profunda mudança de mentalidade da população, na qual me incluo. Reformular hábitos é sempre um longo processo.

No entanto, há outras questões que envolvem o trânsito que poderiam ser feitas, como, por exemplo, sinalizar todas as esquinas com os nomes das ruas. É um vexame: nossa capital tem vários quarteirões sem identificação. Você procura uma rua, chega na esquina e ué. Nada. Nem placa no poste, nem na fachada do edifício, nem presa a uma árvore, essas alternativas pitorescas.

Ontem circulei pela cidade de norte a sul e cheguei ao final do dia querendo matar uns três. Já estava quase perdoando chacinas. Pouco antes de chegar em casa, roxa por um banho, surgiu em frente ao meu carro um outro carro a 15 km/h. Se eu pudesse passar por cima com meu bólido voador, passava. Buzinar, não buzino, minha religião não permite, a não ser em caso de atropelamento iminente.

Fiquei pensando: o carro não é do século retrasado e tampouco o motorista, por que ele está andando a 15 km/h? Debruçado sobre o volante e virando o rosto pra esquerda e pra direita, logo entendi: ele procurava uma rua. Não havia placas à vista. Como não me solidarizar? Meu banho que esperasse.

Amanhã é aniversário de Porto Alegre. Sugestão de presente para a cidade: sinalização padronizada em todas as esquinas. E, pra mim, um brevê.

Minutos antes de enviar esta crônica pro jornal, recebi um e-mail do pessoal da Bike-Entrega, serviço similar ao dos motoboys, só que feito de bicicleta. Um grupo de atletas treinados, uniformizados e equipados com celular faz entrega de documentos, passagens, convites, presentes e cheques sem sobrecarregar o trânsito e a poluição da cidade. Veio a calhar. Informe-se: www.bike-entrega.com.br ou fone (51) 3332-0404.

Ótima quarta-feira - Aproveite o dia.

terça-feira, 24 de março de 2009



A BOA MORTE

Como é bom morrer no Brasil. Talvez seja a melhor coisa que tenhamos a oferecer às nossas celebridades. Uma boa morte. Uma morte com direito a bajulação.

Basta morrer, algo que, convenhamos, não exige qualquer mérito ou competência específica, para a glória ser alcançada. O sujeito passa a vida lutando para ser amado, admirado, adulado e elogiado, numa obsessão terrível, sem êxito.

Todos o esculacham. Mal entrega a alma e já começam os elogios ditirâmbicos. Todos os sinais se invertem. O chato vira simpático. O casmurro vira bonachão. O grosso vira temperamental. O reacionário vira incompreendido. Clodovil morreu. Era um 'mala' e tudo o mais que se possa imaginar e dizer de uma pessoa viva. Já não é mais.

O escritor Ruy Castro, conhecido por vender elogios sob a forma de biografias encomendadas por editoras que mais parecem funerárias, lembrou-se com saudades de uma entrevista que fez com o costureiro, em 1980, em meio a qual o entrevistado disparou grosserias pelo telefone contra clientes insatisfeitas.

Ah, como era deliciosamente estúpido esse maroto! Que saudades dos seus maravilhosos coices! A eleição de Clodovil para a Câmara dos Deputados foi saudada na época como um desses absurdos típicos de um país submetido a uma televisão de mau gosto e péssima influência. Agora, com a morte do deputado, até isso mudou.

Carlos Heitor Cony já se penitenciou e, fustigando as próprias costas com um látego, teceu odes a um projeto do parlamentar, reduzir pela metade o número de deputados: 'Eu também ignorava este projeto do polêmico parlamentar e acredito que muita gente também não sabia que, além de criar alguns casos próprios de seu temperamento, ele tivera uma belíssima ideia, que um dia, acredito, será retomada'. Uau! Uau!

Aí está: Clodovil, depois de morto, começa a ser descoberto. Era honesto, franco e com boas intenções. Parece que não pagava o IPTU da sua mansão havia décadas, mas isso também poderá contar para dar brilho ao seu currículo.

Não é de duvidar que venha a ser condecorado com alguma medalha póstuma como deputado exemplar. A morte tem um extraordinário poder de transformação. Depois da morte, vejam só, nada mais é como antes. Há uma metamorfose completa.

A imagem do indivíduo se altera dos pés à cabeça. Cony, na sua precoce recuperação póstuma do herói, acusou a mídia de ter produzido dele uma imagem falsa: 'Clodovil pertencia à banda demonizada pelas cultas gentes. Se descobrisse a cura do câncer, o elixir da juventude, o Santo Graal, a quadratura do círculo, os ossos de Dana de Teffé, ninguém saberia'. O midiático Clodovil seria um injustiçado, um bode expiatório.

O mais recente ídolo brasileiro disparou algumas pérolas ao longo da sua incompreendida existência. Em 2004, chamou a vereadora Claudete Alves de 'macaca de tailleur metida a besta'.

À Rádio Tupi, em 2006, afirmou que os judeus manipularam o Holocausto e forjaram os atentados de 11 de setembro de 2001. De quebra, designou um negro como 'crioulo cheio de complexo'. Na sua última polêmica de alto nível, em tom sociológico, garantiu que as mulheres atualmente 'trabalham deitadas e descansam em pé'.

Ainda foi capaz de acrescentar algo, diante de um pedido de explicação feito pela agredida, a deputada petista Cida Diogo: 'Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia'. Quanta irreverência!

juremir@correiodopovo.com.br

Uma ótima terça-feira - Aproveite o dia.

domingo, 22 de março de 2009


DANUZA LEÃO

Felicidade pega

Existem pessoas que nascem de baixo-astral, sempre se queixando de tudo, só falando de problemas

FÁCIL não é, mas existem maneiras de procurar a felicidade. A primeira coisa -e a mais importante- é tentar só ter como amigos gente com a vocação da felicidade. É claro que às vezes eles passam por problemas, e devemos ser solidários nesses momentos.

Mas existem pessoas que nascem de baixo-astral, sempre se queixando de tudo, só falando de problemas e tristezas. Se você conviver muito com pessoas assim, pode saber que vai ficar mal. Aliás, gente assim só gosta de se dar com pessoas como elas; quem, nascido com o DNA lá em baixo, vai suportar ser amiga de quem é feliz, otimista, que vive rindo e achando a vida boa?

E não falo só de amigos: se o seu tintureiro se queixa o tempo todo da vida, o professor de ginástica só conta desgraças, a faxineira, as doenças dela e da família inteira, troque, mesmo com dó e piedade. Você tem que se defender, e uma das maneiras é se afastar, fugir, não chegar nem perto.

Eu tive uma empregada que era excelente, e apesar de só se queixar e me contar histórias trágicas (e antigas) -como morreu a avó há 50 anos, a sobrinha que tinha um filho que estava preso, a irmã que pesava 110 quilos e era diabética (tudo com riqueza de detalhes)-, fiquei com ela durante anos, já que era uma ótima profissional. Mas um dia não deu mais.

Fiz das tripas coração e a demiti, com todas as vantagens da lei e muitas outras, para me livrar da culpa. Mas fiquei pensando: será que ela vai encontrar outro emprego? E se não encontrasse, a culpa seria toda minha, que deveria ter sido mais paciente e tolerante, sabendo que a vida dela não era fácil etc. etc. Mas sabe aquele dia em que não dá mais?

Pois não deu; assumir minha culpa não foi fácil, mas o que era para ser feito foi feito.

Aí veio uma outra, que não deu muito pé, e antes que laços de amizade se fizessem, dispensei. E aí veio a terceira, e minha vida mudou. Em primeiro lugar, ela é uma pessoa de altíssimo astral. Bem casada, feliz com o marido, e com um sorriso -quando não uma gargalhada- o tempo todo.

Quando ela veio pela primeira vez conversar comigo, me chamou logo de Danuza, não de dona Danuza. Como desde que me entendo por gente as empregadas chamam as patroas de dona, achei um pouco estranho, mas não tive nenhuma condição de pedir que ela me chamasse de dona. Afinal, isso não tem nada a ver comigo.

E assim fomos indo: Danuza pra cá, Vanúzia (é o nome dela) pra lá, e a vida correndo não só bem, como cada vez melhor. Ela me elogia, diz que o cabelo novo ficou ótimo, e me confessou que adora Clodovil, Agnaldo Timóteo e não perde um show de Fagner, sua grande paixão. Tudo isso me faz rir, e de repente percebi que estava rindo o dia inteiro.

Ontem ela estava na área passando roupa, e de repente ouvi um som estranho. Fui ver e era ela, com o ferro na mão, cantando; cantando alto uma música que nunca ouvi, provavelmente do repertório de Alcione, e quando cheguei à área ela me abriu um grande sorriso e perguntou "quer um chazinho gelado?

Você quase não toma água, e água faz bem, vou pegar um copinho para você". Largou o ferro e me trouxe um chá bem gelado, e eu vi o quanto eu era feliz de ter uma pessoa assim perto de mim. Uma empregada que canta e que na hora de ir embora me manda um beijo; tem coisa melhor?

Vanúzia vai levar um susto quando ler esta coluna; é capaz até de mandar emoldurar, mas ela merece, pela felicidade que me dá.

E descobri que felicidade e tristeza são tão contagiantes quanto o sarampo.

danuza.leao@uol.com.br

sábado, 21 de março de 2009



22 de março de 2009
N° 15915 - MARTHA MEDEIROS


O amor nos tempos de hoje

Da televisão, ele sumiu, evaporou. A internet ele nunca chegou a frequentar. Nas páginas de revista, faz tempo que não dá as caras. Foi trocado pela paixão instantânea e pelo sexo ocasional. Estou falando do amor, lembra dele? Pois é, foi escorraçado da mídia.

Hoje em dia, casais se unem por desejo, oportunidade ou conveniência. Todos querem se apaixonar amanhã e somar mais um nome ao seu currículo pessoal de aventuras, que se pretende vasto. Cultivar um amor para sempre?

Nem pensar. O amor deixou de ser inspirador. Já deu os versos que tinha que dar. O amor demora muito para se estabelecer e depois dura demais. Quem tem paciência e tempo, hoje, para se dedicar a uma só pessoa? O amor faz sofrer, faz chorar, e além disso não rende matéria no Segundo Caderno, não é encontrado no YouTube.

O amor está obsoleto, não se usa mais. Segue valorizado apenas no cinema e nos romances de ficção, através de autores que não desistem de investigar esse sentimento que é tão difícil de se concretizar da maneira como o idealizamos. Todo amor parece impossível, tanto nos livros como na vida real. E talvez esteja aí a razão da sua força e mistério e do medo que ele nos provoca.

O amor é muito mais exigente do que a paixão: ele pressupõe a reconstrução de duas vidas a partir de uma troca de olhares, que é como tudo geralmente começa. Enquanto a paixão se esgota em si mesma e não está interessada no amanhã, o amor é ambicioso, se pretende eterno, e para pavimentar essa eternidade não mede esforços.

Duas pessoas que nunca se imaginaram juntas de repente atendem a um chamado interno do coração (desculpe o termo, não encontrei outro mais moderno) e investem nessa união de olhos abertos (a paixão é vivida de olhos fechados). O amor é uma loucura disfarçada de sanidade.

Não fosse uma loucura, o amor não seria o que é: lírico e profundo, rebelde e transformador. Amar é a transgressão maior. É quando rompemos com a nossa solidão para inaugurar uma vida compartilhada e inédita. Isso é ou não é uma doideira?

Mais ainda: poderíamos dizer que o amor é um processo de autodesconhecimento. Você nunca conviveu com a pessoa que começou a amar, portanto você precisa conhecê-la, e ela a você.

Diante dessa página em branco, somos obrigados a nos passar a limpo, e para isso é preciso relativizar as certezas acumuladas até então e abrir-se para a formação de uma nova identidade. Passamos a ser recicláveis. O autoconhecimento nos dá respostas seguras sobre nós mesmos, mas segurança demais pode nos paralisar. O autodesconhecimento é que nos empurra pra frente.

Todos nós já tivemos a chance de amar. Alguns, uma única vez, mas a maioria de nós teve várias oportunidades, diversos amores. Amores curtos, mas inesquecíveis. Amores que terminaram, mas que geraram filhos.

Amores que naufragaram, mas que nos amadureceram. Amores duradouros, que ainda não acabaram. Todos eles nos incentivando a continuar a tentar, porque de amar ninguém desiste.

O desprestígio do amor talvez venha da pressa de viver, da urgência dos dias, da necessidade de “aproveitarmos” cada instante: é como se o amor fosse um impedimento para o prazer. Francamente, o que se aproveita, de fato, quando não se sente coisa alguma?

A resposta é: coisa alguma. Do que se conclui que o amor nunca será cafona, pois nada é mais revolucionário e poderoso do que o que a gente sente. Nada. Nem mesmo o que a gente pensa.

Diego Mainardi

A costela do bispo

"A Igreja Universal é conhecida por seu desprendimento material. Mesmo assim, é duro imaginar que algum pastor tenha
festejado o rombo da Record News"

Deus e o Diabo em 2010. Deus: Edir Macedo. Diabo: Zeca Diabo. Edir Macedo é dono da Rede Record. Zeca Diabo é dono de Dilma Rousseff, segundo um relatório armazenado no computador do delegado Protógenes Queiroz. Quem é Zeca Diabo? Isso mesmo: José Dirceu.

O dono da Rede Record, Edir Macedo, e o dono de Dilma Rousseff, José Dirceu, aliaram-se abertamente na última semana. O colunista Daniel Castro, da Folha de S.Paulo, informou que uma das costelas da Rede Record, a Record News – ou CNN do dízimo –, é um completo fracasso. Na TV aberta, dá zero de audiência.

Na TV a pagamento, dá zero de audiência. Pior ainda: a Record News tinha uma meta de faturamento de 100 milhões de reais. No ano passado, pelas contas de Daniel Castro, o resultado foi um décimo disso. A Igreja Universal do Reino de Deus é conhecida por seu desprendimento material. Por seu desinteresse por dinheiro. Mesmo assim, é duro imaginar que algum pastor tenha festejado o rombo.

O Jornal da Record reagiu furiosamente ao artigo de Daniel Castro. Depois de atacar a Folha de S.Paulo por mais de sete minutos, acusando-a de ter perdido "qualidade editorial" e de passar por uma séria "crise de credibilidade", a emissora prometeu usar seus telejornais para constranger todos aqueles que a importunassem.

Um dos gerentes da Rede Record, Celso Teixeira, mandou uma circular aos jornalistas, reiterando a mensagem intimidadora: "A partir de agora, a empresa vai se posicionar publicamente e judicialmente contra os ataques que recebeu nos últimos tempos". Isso quer dizer o seguinte: se alguém publicar um comentário que desagrade à Record, terá de enfrentar um bombardeio na TV e uma dezena de processos no Acre.

O dono de Dilma Rousseff, José Dirceu, imediatamente apoiou o dono da Record, Edir Macedo, denunciando a tendenciosidade da Folha de S.Paulo. Em 2010, ocorrerá o oposto: a Record, que pertence a Edir Macedo, apoiará Dilma Rousseff, que pertence a José Dirceu.

Quando a Record News foi inaugurada, em 2007, Lula declamou ridiculamente: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós". O plano do PT era estimular o surgimento de uma imprensa plenamente domesticada, que ocupasse o lugar de quem ainda insistia em fazer jornalismo, noticiando os abusos do lulismo. Em particular: VEJA, Globo, Folha de S.Paulo.

O plano deu errado. VEJA, Globo e Folha de S.Paulo continuam aí. A Record News, por outro lado, com zero de audiência na TV aberta, com zero de audiência na TV a pagamento, está tomada por comerciais da Polishop. Em 2010, em vez de Dilma Rousseff, o eleitor acabará comprando uma grelha. Um modelador de cabelo. Um fatiador de pepino.

Lya Luft

A mentirosa liberdade

"Liberdade não vem de correr atrás de ‘deveres’ impostos de fora, mas de construir a nossa existência"

Comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa cultura expõe em prateleiras enfeitadas, para que a gente enfie esse material na cabeça e, pior, na alma – como se fosse algodão-doce colorido.

Com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de não estar bem enquadrados, medo de não ser valorizados pela turma, medo de não ser suficientemente ricos, magros, musculosos, de não participar da melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular. Medo de não ser livres.

Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do "ter de".

Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma. Medicados como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.

Ilustração Atômica Studio

Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu? Alguém mora num condomínio melhor que o meu? Em fileira ao longo das paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos.

Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade.

A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir – ou nos falta o que vem depois: maturidade?

Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados: O que você vai ser? O que vai estudar? Como? Fracassou em mais um vestibular? Já transou? Nunca transou? Treze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer?

E um Viagra para melhorar ainda mais? Ainda aguenta os chatos dos pais? Saiba que eles o controlam sob o pretexto de que o amam. Sai dessa! Já precisa trabalhar? Que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort?

Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa louca correnteza. Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda. Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso ajuda.

Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulher nem um homem poderoso.

É possível estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada, em crise.

Liberdade não vem de correr atrás de "deveres" impostos de fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo.

Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.
A fé que faz bem à saúde

Novos estudos mostram que o cérebro é “programado” para acreditar em Deus – e que isso nos ajuda a viver mais e melhor
Letícia Sorg. Colaborou Marcela Buscato

A capacidade inata de procurar a explicação de um fenômeno é uma das diferenças entre o ser humano e outros animais. O homem primitivo não tinha como entender eventos mais complexos, como a erupção de um vulcão, um eclipse ou um raio.

A busca de explicações sobrenaturais pode ser considerada natural. Mas por que ela desembocou na fé e no surgimento das religiões? Cientistas de diferentes áreas se debruçaram sobre a questão nos últimos anos e chegaram a conclusões surpreendentes. Não só a fé parece estar programada em nosso cérebro, como teria benefícios para a saúde.

Com sua intuição genial, Charles Darwin, criador da teoria da evolução há 150 anos, já havia registrado ideia semelhante no livro A descendência do homem, em 1871: “Uma crença em agentes espirituais onipresentes parece ser universal”.

“Somos predispostos biologicamente a ter crenças, entre elas a religiosa”, diz Jordan Grafman, chefe do departamento de neurociência cognitiva do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame (leia a entrevista). Grafman é o autor de uma das pesquisas mais recentes sobre o tema, publicada neste mês na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

Em seu estudo, Grafman analisou o cérebro de 40 pessoas – religiosas e não religiosas – enquanto liam frases que confirmavam ou confrontavam a crença em Deus.

Usando imagens de ressonância magnética funcional – que mede a oxigenação do cérebro –, o neurocientista descobriu que as partes ativadas durante a leitura de frases relacionadas à fé eram quase as mesmas usadas para entender as emoções e as intenções de outras pessoas. Isso quer dizer, segundo Grafman, que a capacidade de crer em um ser ou ordem superior possivelmente surgiu ao mesmo tempo que a habilidade de prever o comportamento de outra pessoa – fundamental para a sobrevivência da espécie e a formação da sociedade.

E para estabelecer relações de causa e efeito. A interferência de um ser muito poderoso seria uma explicação eficiente para aplacar a necessidade de entender o que não se consegue explicar com o conhecimento comum.

Mas o que levaria o ser humano, dotado de razão, a acreditar que um velhinho de barba branca, em cima de uma nuvem, atira raios sobre a Terra? Ou que 72 virgens aguardam os fiéis no Paraíso? “Tendemos a atribuir características humanas às coisas, inclusive ao ser divino”, diz Andrew Newberg, neurocientista da Universidade da Pensilvânia (leia a entrevista), autor de outro importante estudo sobre o poder da meditação e da oração.

“A crença religiosa surgiu como um efeito colateral da maneira como nossa mente é organizada, da maneira como ela funciona naturalmente”, diz Justin Barrett, antropólogo e professor da Universidade de Oxford.

Para Barrett, autor do livro Why would anyone believe in God? (“Por que alguém acreditaria em Deus?”), há evidências de que os sistemas religiosos ajudam a manter comunidades unidas – a dividir, a confiar, a construir redes sociais mais fortes. Barrett afirma que a mente das crianças é um exemplo de como a fé se manifesta precocemente. Em uma das experiências, pesquisadores mostraram uma caixa de biscoitos às crianças e perguntaram a elas o que havia dentro.

Como não são bobas, as crianças responderam: “Biscoitos”. Ao abrir a caixa, o que encontravam eram pedras. Então, os cientistas perguntaram às mesmas crianças o que suas mães achariam que havia dentro da lata e o que Deus diria se visse a lata. As crianças de 3 anos disseram que as mães, assim como Deus, diriam que havia pedras. A partir dos 5 anos, elas responderam que a mãe diria “biscoitos”, mas que Deus responderia “pedras”.

Já se chegou a pensar que uma espécie de curto-circuito na parte lateral do cérebro pudesse gerar casos de religiosidade extrema. Ficou famosa uma experiência do neurocientista americano Michael Persinger, batizada “O Capacete de Deus”: um capacete que estimulava eletricamente o cérebro do usuário.

Segundo Persinger, oito em cada dez pessoas, qualquer que fosse a confissão religiosa, diziam experimentar um “sentimento religioso” ao vestir o aparato. Mas a maioria dos estudos científicos recentes – sejam eles baseados em imagens do cérebro ou no comportamento humano – afastou a hipótese de que a experiência religiosa seja o mero efeito de estímulos eletromagnéticos em uma parte específica do cérebro.

O biólogo evolucionista pop e “ateu militante” Richard Dawkins chegou a usar o capacete para um documentário da BBC britânica. Não conseguiu “encontrar Deus” – só desconforto para respirar e mexer-se. Hoje, Persinger se defende das críticas a seu estudo. “A ‘estimulação religiosa’ reduz a ansiedade e pode ser útil para melhorar a cooperação social”, disse.

Em 2004, o cientista americano Dean Hamer chegou a divulgar que havia descoberto um gene ligado à fé. Publicou o livro O gene de Deus. Batizado vmat2, seria responsável pelo transporte de mensageiros cerebrais, entre eles a serotonina, além de gerar o pensamento religioso. Polêmico na academia desde que anunciou a descoberta de um “gene gay”, supostamente responsável pela homossexualidade masculina, Hamer e seu livro foram acolhidos com ceticismo.

Para Jordan Grafman, explicações únicas são insuficientes para elucidar a origem da fé em algo divino. A imprensa batizou seu estudo de “God spot” (o “ponto de Deus”), um trocadilho com o suposto “ponto G”, responsável pelo orgasmo feminino. “O ‘ponto de Deus’ é tão mítico quanto o ponto G”, diz Grafman, irônico. Andrew Newberg também descarta explicações simplistas. Vários estudos demonstraram uma relação entre experiências religiosas e certos tipos de desordem cerebral.

“Mas essas associações não podem ser a única resposta”, diz Newberg. Apenas uma pequena porcentagem das pessoas que sofrem de epilepsia no lobo temporal tem esse tipo de experiência.

Newberg, que estuda as manifestações cerebrais da fé há pelo menos 15 anos, descobriu que as práticas religiosas acionam, entre outras regiões do cérebro, os lobos frontais, responsáveis pela capacidade de concentração, e os parietais, que nos dão a consciência de nós mesmos e do mundo.

Em seu novo livro, How God changes the brain (“Como Deus muda seu cérebro”), que será lançado nesta semana nos Estados Unidos, Newberg explora os efeitos da fé sobre o cérebro e a vida das pessoas.

Segundo o neurocientista, os estudos anteriores olhavam para os efeitos de curto prazo de práticas como a meditação e a oração. Agora, ele e seu grupo encararam a difícil tarefa de responder à questão: o que acontecerá se você adotar, com frequência, uma prática como a meditação ou a prece?


Juliana Paes - “Não me adaptaria à cultura indiana”

A atriz de "Caminho das Índias" diz aos leitores de ÉPOCA que foi criada “para trabalhar e conquistar espaço”
Revista Época

Pela primeira vez protagonista de uma novela da TV Globo, Juliana Paes afirma que o papel da indiana Maya tem sido um desafio pelo fato de a personagem não ter nenhuma ligação com sua realidade.

A atriz reconhece que não conseguiria se adequar muito bem aos costumes femininos da Índia. “Fui criada com essa ideia de trabalhar, conquistar meu espaço.

Seria difícil viver num lugar onde isso não é permitido.” Em resposta aos leitores de ÉPOCA, Juliana afirma que a imagem de símbolo sexual não é um incômodo – até a ajuda para conseguir contratos publicitários.

Ela diz que lida bem com o assédio decorrente da fama, mas admite que às vezes “gostaria de ser anônima” em momentos como sua lua de mel com o empresário Carlos Eduardo Baptista, no ano passado.

ENTREVISTA - JULIANA PAES

QUEM É
Nascida em Rio Bonito, Rio de Janeiro, tem 29 anos. Passou a infância e adolescência em São Gonçalo e Niterói, na Grande Rio. Em 1999, formou-se em publicidade pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. É casada e não tem filhos

O QUE FEZ
Iniciou a carreira de modelo aos 12 anos. O trabalho que a levou à fama foi na novela Laços de família (2000), como a empregada Ritinha. De lá para cá, já atuou em sete novelas, duas minisséries e dois filmes, além da peça de teatro Os produtores

Você se sente incomodada por ser reconhecida como símbolo sexual?
Thanize Borges, Itaberaba, BA

Juliana Paes– Não, de jeito algum. Isso não interfere no tipo de trabalho que eu faço na televisão. Se me impedisse de alguma coisa, seria incômodo, mas isso não acontece. Não é um peso. Ao contrário, em alguns tipos de trabalho, como publicidade, ajuda.

Você já recusou algum papel em novelas por não concordar com a construção da personagem?
Martha Melo, São Luís, MA

Juliana – Nunca recusei trabalho. Só faria se não achasse estimulante. Na verdade, não consigo pensar no que me faria recusar. Acho que tenho muita sorte de ter ganho papéis bacanas em minha carreira.

Em que você se considera parecida com sua personagem de Caminho das Índias?
Isabelle Licarião, Boa Vista, RR

Juliana – Maya é muito romântica, e eu também. Também sou perseverante como ela.

"Há seis meses não ponho o pé numa academia. Tento segurar na alimentação, mas é difícil. Adoro doce, não resisto a um sorvete"
Que imagem você teve da mulher indiana?
Valeria Maria da Silva, São Paulo, SP

Juliana – Vejo a mulher indiana contida nos gestos, na maneira de ser na sociedade e tolhida nas atitudes. Mas não por isso ela é menos feliz. É uma questão de cultura. A mulher indiana leva uma vida voltada para o casamento, a família, se esforça para ser boa esposa, boa mãe. Nesse contexto, ela é uma mulher forte.

Você se adaptaria à cultura indiana?
Bárbara Barbosa, Campo Grande, MS

Juliana – Acho que não. Aqui no Ocidente, batalhamos por nossa independência. Fui criada com essa ideia de trabalhar, conquistar meu espaço. Seria difícil viver num lugar onde isso não é permitido. Lá, algumas mulheres trabalham, como a Maya, que no começo da novela era funcionária de um call center.

Mas ainda é um tabu. Por outro lado, não deixo de pensar que toda a independência que a mulher conseguiu por aqui não deixa de ser um fardo, porque acabamos sobrecarregadas com tantas funções necessárias para nos sentirmos completas.


21 de março de 2009
N° 15914 - NILSON SOUZA


Quando os políticos eram amados

No dia em que Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na História, meu pai chorou. Eu era bem menino, mas em alguma parte de minha memória devem ter ficado resquícios daquele lúgubre agosto.

Quando penso no assunto, me vejo de rosto colado na vidraça da casa paterna, esperando e temendo que alguma coisa pudesse acontecer do lado de fora – possibilidade remotíssima para uma rua de periferia onde nem ônibus passava. Nada aconteceu por lá. A não ser o meu espanto infantil em constatar que um homem público, um governante, podia ser amado por pessoas do povo, que pouco sabiam de política.

Mais tarde, ao estudar a história do Brasil, fiquei sabendo que aquele presidente baixinho e empertigado flertou com o autoritarismo, praticou o populismo, mas soube conquistar a admiração dos trabalhadores.

Hoje, ninguém mais admira político. Tá bem, Lula tem o seu fã-clube de bolsistas, mas mesmo ele é visto com certa desconfiança. Do presidente para baixo, então, nem se fala. Quem ama um ministro, a não ser sua própria esposa e seus filhos?

E um senador ou deputado? Nem mesmo os altos funcionários contemplados com cargos e benesses os amam de verdade. O povo nem quer ouvir falar de políticos.

Criou-se no país uma cultura do ceticismo em relação aos homens e mulheres que nos governam e nos representam na administração pública. Já nem me refiro à generalização – esta sim, injusta – de que todos são desonestos.

Não creio nisso. Acho que os ocupantes de cargos públicos têm os mesmos defeitos e as mesmas virtudes que todos nós temos, mas estão mais expostos às tentações do poder.

Talvez, por isso, protagonizem tantos escândalos. Não passa dia sem que um poderoso esteja nas manchetes na condição de suspeito ou réu. Nossa imprensa, também é preciso reconhecer isso, tornou-se mais eficiente desde a época de Getúlio.

Com a democratização do país, recebeu maior representatividade da sociedade para investigar e revelar coisas que a censura ocultava. Isso tem sido fatal para os políticos hipócritas, que exibem uma cara para o eleitor e utilizam outra para se locupletar no poder.

O problema é que eles caem em desgraça e se recuperam logo. Quando a gente vê, o homem que saiu execrado pelo povo está lá de novo, ocupando um cargo importante, comandando um ministério ou uma estatal, dando as cartas no Legislativo, ostentando o crachá de Sua Excelência.

Nós deixamos de amá-los e admirá-los, mas eles continuam apaixonados pelo poder.

quarta-feira, 18 de março de 2009



18 de março de 2009
N° 15911 - MARTHA MEDEIROS


O leão e as raposas

Como qualquer trabalhadora, já estou reunindo a papelada para declarar meu imposto de renda – é nessas ocasiões que a gente vê como o tempo passa depressa mesmo, já está na hora de prestar contas ao leão de novo.

No entanto, a cada ano cumpro esse ritual com mais desânimo. Não só a cada ano, mas também a cada mês, quando uma significativa porcentagem do meu salário some da minha conta e vai parar no bolso de, por exemplo, servidores do Senado que recebem hora extra até quando não trabalham, absurdo que recentemente foi anunciado pela imprensa.

Não há como confiar que nosso dinheiro será aplicado em obras sociais e em desenvolvimento urbano e rural, quando se sabe que lá na boca do cofre estão políticos reconhecidamente corruptos e que ainda assim seguem merecendo o prestígio dos governantes, tudo por causa de uma palavra tão bonita e tão maldita, conforme o uso que lhe dão: aliança.

Neste caso específico, uma aliança também conhecida como “me ajuda que eu te ajudo”.

Me sinto humilhada quando penso que o dinheiro que eu poderia usar para comprar mais livros ou para abastecer a despensa da minha casa vai parar na geladeira do Renan Calheiros, na adega do José Sarney e no tanque de gasolina do carro do Collor – e de seus protegidos.

Eu, como você, não tenho segurança quando circulo pelas ruas da cidade, mas o nosso dinheiro, seu e meu, paga os guarda-costas dessa turma que não costuma ser assaltada, e sim assaltar.

Alguma novidade? Nenhuma. Isso é que é esquisito. Não há novidade nenhuma nesse descaramento. Total déjà vu.

Ontem eu conversava com uma amiga que estava deprimida e, num desabafo, ela disse que, às vezes, se sente uma fraude. Logo ela, uma das mulheres mais bacanas e íntegras que conheço.

Respondi que essa sensação me parece típica de quem se esforça para fazer as coisas direito e manter a dignidade – na hora que bate um cansaço existencial, temos a impressão que não estamos dando conta do recado, de tanto que a gente se exige. Ora, nesse sentido, quem não se sente uma fraude de vez em quando?

Ironia: os políticos, nunca. Cheguei a dizer isso para ela: esses caras (estou generalizando, há os que se fazem respeitar) são tão caras-de-pau que chegam a ser 100% honestos na sua desonestidade.

É por isso que não sentem vergonha. Não fazem autocrítica. Sabem muito bem que estão a serviço deles mesmos e dane-se a opinião pública, danem-se os trabalhadores e dane-se o país.

O prazo de entrega da declaração encerra-se à meia-noite do dia 30 de abril. Já o prazo de encerramento dessa fanfarrice ainda não está nem perto de previsto.

Ótima quarta-feira - Aproveite o dia

quarta-feira, 11 de março de 2009



11 de março de 2009
N° 15904 MARTHA MEDEIROS


Liberdade individual

Nos últimos dias soubemos que uma menina britânica de dois anos, que nasceu cega em função de uma deficiência rara, recuperou parcialmente a visão depois de um tratamento que utiliza células-tronco retiradas do cordão umbilical e injetadas na corrente sanguínea. O nome da garota é Dakota Clarke e ela já consegue ver cores e o contorno dos objetos a sua volta.

Não por acaso, anteontem Barack Obama autorizou o uso de verbas federais para pesquisas com células-tronco (que estava banido desde 1991 por, ora quem, George Bush). Prevê-se que em breve o Congresso americano suspenderá outra proibição, que é o de gastar dinheiro de impostos para criar embriões.

Obama é um homem religioso, porém não permite que suas crenças impeçam o desenvolvimento científico, que pode beneficiar tantas pessoas, como já beneficiou Dakota. Mas a Igreja não tem a mesma flexibilidade.

Considera que utilizar células-tronco de embriões descartados para fertilização é, ainda assim, negar o direito à vida. Pergunto: a vida de quem? De alguém que nunca existirá?

A Igreja Católica não quer e nem deve mudar radicalmente, mas se o seu conceito básico segue sendo o amor, então em nome desse amor deveria haver uma mínima atualização, para que pessoas como eu e talvez você, que fomos criados dentro do catolicismo, não nos sintamos tão distanciados dessa religião que não permite que a sociedade avance, e claro que trago esse assunto à baila motivada também pelo estúpido anúncio da excomunhão dos envolvidos no aborto da menina de 9 anos que foi estuprada pelo padrasto. O arcebispo de Olinda marcou um golaço para o time dos alienados e ignorantes.

Por essas e outras, hoje rezo para um Deus particular, sem intermediários, porque não posso compactuar com a obtusidade dos representantes Dele na terra (não todos: no Rio, um padre foi aplaudido de pé durante a missa, por ter se posicionado contra esse caso de excomunhão, provando que é possível vivenciar a fé e manter os neurônios funcionando ao mesmo tempo).

Poucos meses atrás, li o livro Carta a uma nação cristã, de Sam Harris. O autor, numa linguagem muito coloquial, questiona até que ponto essa ilusão coletiva entorpece as mentes e desvirtua uma espiritualidade que deveria ser canalizada apenas para o bem, mas que, ao contrário, provoca guerras e mata, como mataria essa criança pernambucana de 9 anos, caso a gestação fosse levada até o fim.

De qualquer forma, vale a discussão. São esses debates sobre ideias antagônicas que fazem a sociedade evoluir – ou empacar. Só me resta torcer para que um dia possamos chegar perto de uma utopia chamada liberdade individual:

quem for contra o aborto ou contra a utilização de células-tronco, que não utilize nenhum desses recursos (sinuca: os médicos devem cruzar os braços diante dos crentes?) E quem for a favor, que usufrua seu direito de agir como acha que deve. Sem interferência política ou religiosa.

Uma ótima quarta-feira - Aproveite o Dia

sábado, 7 de março de 2009



08 de março de 2009
N° 15901 - MARTHA MEDEIROS

Mulheres na pressão

Camille Paglia, em entrevista à revista Veja, disse que as mulheres andam tão estressadas que muitos homens desistem da ideia de casar, e para ilustrar esse ritmo frenético que estamos vivendo, pergunta: alguém lembra de ter tido uma avó agitada?

Vamos por partes.

De fato, ninguém teve uma avó agitada, era outra época e elas se instalavam muito confortavelmente no papel de guardiãs da família. Talvez fossem mulheres plenamente realizadas ou diabolicamente frustradas, quem vai saber? Mas agitadas, não eram mesmo, o que pode ser uma bênção ou uma condenação. A pergunta que devolvo: alguma mulher hoje gostaria de reproduzir a vida que sua avó teve?

No entanto, concordo quando Camille Paglia diz que as mulheres andam estressadas demais, ainda que eu não acredite nessa história de que os homens estão desistindo de casar: todos nós, homens e mulheres, sonhamos em ter uma relação estável e legal.

Mas para isso acontecer, não pode haver competitividade, e talvez seja essa a razão do nosso stress: estamos competindo bobamente com os homens, infantilmente com nossas avós e estupidamente com nós mesmas. Ainda desejamos provar para o mundo que yes, we can.

Claro que as mulheres podem tudo, está sacramentado. Mas será que devemos querer tudo? Onde foi parar nosso critério de seleção? Já não sabemos distinguir o que é prioridade e o que pode ficar em segundo plano: tudo virou prioridade. E só uma mulher supersônica consegue ter eficiência absoluta em todos os quesitos: melhor mãe, melhor amiga, melhor filha, melhor namorada, melhor esposa, melhor profissional, melhor dona-de-casa e melhor bunda. É morte por exaustão na certa.

Eu proponho, neste Dia Internacional da Mulher, que a gente dê uma folga para nós mesmas. Vamos mudar de assunto. Que se pare de falar de mulheres que conseguiram engravidar aos 57 anos, que perderam 30 quilos em duas semanas, que beijaram 28 caras em duas noites de Carnaval, que aprenderam a ganhar dinheiro sem sair de casa, que visitaram 46 países nos últimos 10 anos,

que sobreviveram a tragédias, que conseguiram dominar as melenas, que são executivas completas, que possuem duas centenas de sapatos, que três semanas depois de separar já estão felizes nos braços de outro, que preparam um risoto de funghi em 10 minutos, que têm disposição para rolar no chão com os filhos, que assistiram a todos os filmes em cartaz,

que aparentam ter 15 anos menos, que exibem uma barriga de tanquinho um mês depois de parir, que lembram trechos inteiros dos clássicos que leram na época da faculdade, que superaram traumas, que arranjam tempo pra fazer pilates, ioga, musculação e drenagem linfática. Dá orgulho, eu sei, mas é uma competência e uma autopromoção que beira o irreal.

Estou com saudades de ler e ouvir sobre as adoráveis qualidades dos homens. Eles merecem voltar a serem valorizados. Isso ajudaria a reduzir nosso stress e a nos dar uma situada. Com menos holofotes, deixaremos de nos cobrar tanto e recuperaremos um pouco da paz de nossas avós.

Feliz Dia Internacional da Mulher - Parabéns a todas elas, fundamentalmente, as leitoras deste blogger.

Juliana Linhares - Roberto Abreu/Coperphoto/Futura Press

Obsessão pós-parto

Grávidas que voltam à forma poucas semanas depois de dar à luz não são a regra. A cinturinha das mamães recentes e famosas é para ser admirada, não imitada

NASCIDAS PARA ENXUGAR

Claudia Leitte diz que não faz regime e tem condicionamento de atleta; Jessica Alba admitiu: "Eu chorava"


A primeira reação da maioria das mulheres que engravidam, sobretudo na primeira vez, é se sentir nas nuvens. A segunda, atualmente, é pensar: como vou voltar à forma rapidamente? Resposta: não vai. Por mais que artistas e modelos impressionem pela velocidade com que aparecem de barriga (tanque) de fora semanas depois do parto, a recuperação a jato da cinturinha só acontece com mulheres que já eram magras, atléticas e predispostas à rápida perda de peso.

Como a cantora baiana Claudia Leitte, 28 anos, que um mês depois de ter dado à luz o filho Davi comandou um trio elétrico, com pouca roupa e muita energia, nos intermináveis dias e noites do Carnaval de Salvador. "Tenho movimentação de atleta. Chego a ficar oito horas pulando nos shows.

Meu corpo é forte e, por isso, se recuperou rapidamente", diz Claudia, já livre de todos os 10 quilos que ganhou na gravidez e mais 1, para garantir. Ela merece todos os elogios, mas não deve ser tomada como exemplo. Ao contrário, a expectativa de emagrecimento rápido pode acrescentar uma carga de alto stress à vida já tão modificada pelo nascimento de um filho.

Em média, o esperado é que mulheres com bom condicionamento físico que engordaram de 10 a 13 quilos durante a gestação recuperem o peso habitual em três a quatro meses, o mesmo prazo para que o útero retorne ao tamanho original.

Não custa repetir: cada corpo tem o próprio ritmo. "Na gravidez, os músculos retroabdominais são esticados em até 50%. O prazo de três meses para a recuperação é o mínimo", diz o cirurgião plástico Miguel Sabino Neto, da Escola Paulista de Medicina.

Claudia está amamentando e não mudou a dieta habitual, mas fez caminhadas todos os dias desde que saiu da cama; vinte dias depois do parto já estava correndo quarenta minutos na esteira.

Ganhou medalha de ouro na competição pós-parto que se desenvolve entre as mães famosas, provavelmente empatada com a modelo Alessandra Ambrosio, 28 anos, que engordou 20 quilos, teve a filha Anja em agosto e, no dia 15 de novembro, desfilou para a grife de lingerie Victoria’s Secret de calcinha, sutiã e 18 quilos a menos.

Ao contrário da maioria das famosas que disfarçam os sacrifícios exigidos pela vida diante das câmeras, ela não esconde o que sofreu. "Fiz um regime rígido. Uma nutricionista me mandava as cinco refeições diárias, de baixas calorias. Depois de um mês, comecei a fazer musculação e caminhadas puxadas, durante duas horas, todos os dias.

Morria de medo de ficar com a barriga caída", admite. A atriz americana Jessica Alba, 27, também teve a mesma e reconfortante sinceridade. Ela deu à luz uma menina em junho, engordou 15 quilos e sofreu para recuperar em três meses a forma que lhe rendeu o título de um dos mais belos corpos do cinema.

Com o compromisso comercial de posar para o calendário de uma marca de bebida, Jessica começou a fazer ginástica moderada três semanas após o parto. Dois meses depois, era uma hora por dia, seis dias por semana. "Os exercícios eram horríveis. Eu chorava. Depois disso, nunca mais fiz ginástica", conta. Ela aparece linda e esbelta no calendário, embora não o suficiente – aos olhos de especialistas, a cinturinha foi eletronicamente afinada.

Kevin Mazur/Wire Image/Getty Images, John Parra/Wire Image/Getty Images e Fernando Torquatto/Boa Forma

REGIME PUXADO

Alessandra Ambrosio fez "dieta rígida", Tameka Foster, mulher do cantor Usher, quase morreu em São Paulo e Carolina Dieckmann "sentia uma fominha"


Se até Jessica Alba precisa de Photoshop, imagine-se as mulheres comuns. "A paranoia é tão grande que algumas já começam mentindo. Engordam 10 quilos, mas dizem que foram 30, para impressionar", diz a nutricionista Gabriella Guerrero, de São Paulo. Os regimes de fome, já habitualmente condenáveis, não devem nem ser cogitados por mães recentes. "O saudável na gravidez é uma dieta de cerca de 1 800 calorias por dia.

No pós-parto, sobe para 2 000 a 2 300", prescreve a nutricionista. "Mães que cortam muito a alimentação, incluindo os carboidratos necessários para produzir leite, podem ter hipoglicemia, cansaço e tonturas. E talvez os bebês não ganhem peso na quantidade e velocidade ideais." A prática de exercícios também exige moderação. "Na porção inferior do corpo, é preciso tomar cuidado com os pontos.

E a musculatura peitoral estará debilitada por causa da amamentação, o que pode tornar dolorosos os exercícios com peso", diz o ginecologista Jorge Andalaft, da Casa de Saúde da Mulher da Universidade Federal de São Paulo. Da mesma forma que o excesso de cuidados do período de resguardo do passado, quando as mulheres nem lavavam os cabelos, os exageros do presente impressionam. Um caso recente foi o de Tameka Foster, mulher do cantor americano Usher.

Em fevereiro, apenas dois meses depois de ter dado à luz, internou-se para uma lipoaspiração na barriga numa clínica de São Paulo. Ao médico, disse que o parto havia sido seis meses antes. Tameka sofreu uma parada cardiorrespiratória durante a anestesia e passou onze dias internada.

É possível estabelecer uma relação entre os dois fatos? O corpo de parturientes recentes contém excesso de líquido, o que aumenta o volume de sangue. Durante uma operação, a paciente recebe ainda mais líquido. "O coração não dá conta de bombear todo esse sangue e pode sofrer uma parada", explica Andalaft.

"Além disso, o útero ainda não voltou a seu tamanho normal e pode comprimir as veias das pernas, que fazem a ligação do coração com os membros inferiores, causando uma embolia", completa Miguel Sabino Neto. Como as dores do parto, os sacrifícios em favor do emagrecimento rápido podem parecer mais vagos com o passar do tempo.

A atriz Carolina Dieckmann engordou 30 quilos na segunda gravidez e impressionou pela recuperação da cinturinha. Durante o esforço emagrecedor, chegou a reclamar: "Sim, passo muita fome". Hoje, corpo perfeito, releva: "É, sentia uma fominha". Todas as que não são Carolina estão desobrigadas de fome de qualquer tamanho.

Lya Luft

No paraíso da transgressão

"Vivemos feito bandos de ratos aflitos, recorrendo à droga, à bebida, ao delírio, à alienação e à indiferença, para aguentar uma realidade cada dia mais confusa"

A gente se acostuma a criticar os jovens por eles serem pouco educados, os homens por serem arrogantes, as mulheres por serem chatas, os governos por serem omissos ou incompetentes, quando não mal-intencionados.

Políticos sendo acusados de corrupção é tão trivial que as exceções se vão tornando ícones, ralas esperanças nossas. Onde estão os homens honrados, os cidadãos ilustres e respeitados, que buscam o bem da pátria e do povo, independentemente de cargos, poder e vantagens?

Transgredir no mau sentido é natural entre nós. Ladrões e assassinos, mesmo estupradores, recebem penas ridículas ou aguardam o julgamento em liberdade; se condenados, conseguem indultos absurdos ou saem em ocasiões como o Natal, e boa parte deles naturalmente não volta. Crianças continuarão a ser estupradas, inocentes mortos, velhinhos roubados, mulheres trancadas em suas casas, porque a justiça é cega, porque as leis são insensatas e, quando prestam, raramente se cumprem.

Nesta nossa terra, muitos cidadãos destacados, líderes, são conhecidos como canalhas e desonestos, mas, ainda que réus confessos ou comprovados, inevitavelmente se safam. Continuam recebendo polpudos dinheiros.

Depois de algum tempo na sombra, feito eminências pardas, voltam a ocupar importantes cargos de onde nos comandam. Assassinos ao volante nem são presos. Se presos, são soltos para o famoso "aguardar o julgamento em liberdade". Centenas e centenas de vidas cortadas de maneira brutal e o assassino, a não ser que acossado pela culpa moral, se tiver moral, logo voltará ao seu dia-a-dia, numa boa.

Se invadir a casa de meu vizinho, fizer seus empregados de reféns, der pauladas na sua mulher ou na sua velha mãe e escrever nas paredes com excremento humano frases ameaçadoras, imagino que eu vá para a cadeia. Os bandos de pseudoagricultores (a maioria não sabe lidar na terra) fazem tudo isso e muito mais, e nada lhes acontece: no seu caso, bizarramente, não se aplica a lei.

Ilustração Atômica Studio

Se sobram muitas vagas nos exames vestibulares, em alguns casos simplesmente se fazem novas provas, provinhas mais fáceis.

Leio (se me engano já me desculpo, nem tudo o que se lê é verdadeiro) que, como são poucos os aprovados nos exames da OAB, porque os estudantes saem despreparados demais das faculdades de direito que pululam pelo país, o exame se tornou mais simples: há que aprovar mais gente.

Quantidade, não qualidade. Governantes, os bons e esforçados, viram objeto de ódio de adversários cujo interesse não é o bem da comunidade, estado ou país, mas o insulto, o desrespeito, a violência moral do pior nível. Aliás, nesses casos o nível não importa, o que importa é destruir.

Eis o paraíso dos transgressores: a lei é a da selva, a honradez foi para o brejo, a decência tem de ser procurada como fez há séculos um filósofo grego: ao lhe indagarem por que andava pela cidade com uma lanterna acesa em dia claro, declarou: "Procuro um homem honesto".

O que devemos dizer nós? Temos pouca liderança positiva, raríssimo abrigo e norte, referências pífias, pobre conforto e estímulo zero, quase nenhuma orientação. A juventude é quem mais sofre, pois não sabe em que direção olhar, em que empreitadas empregar sua força e sua esperança, em quem acreditar nesse tumulto de ideias desencontradas.

Vivemos feito bandos de ratos aflitos, recorrendo à droga, à bebida, ao delírio, à alienação e à indiferença, para aguentar uma realidade cada dia mais confusa: de um lado, os sensatos recomendando prudência e cautela; de outro, os irresponsáveis garantindo que não há nada de mais com a gigantesca crise atual, que não tem raízes financeiras, mas morais: a ganância, a mentira, a roubalheira, a omissão e a falta de vergonha.

E a tudo isso, abafando nossa indignação, prestamos a homenagem do nosso desinteresse e fazemos a continência da nossa resignação. Meus pêsames, senhores. Espero que na hora de fechar a porta haja um homem honrado, para que se apague a luz de verdade, não com grandes palavras e reles mentiras.

Lya Luft é escritora

Alexandre Mansur e Francine Lima

A relação entre as crianças e o aparelho celular

Metade das crianças paulistas de 6 a 9 anos diz que já tem seu celular. Como elas se comunicam

NO INÍCIO, ERA A SEGURANÇA

Thomas, de 9 anos, e Sabrina, de 8. A mãe deu a eles os aparelhos para controlar a perua escolar. Em pouco tempo, passaram a usá-los o dia todoA nova geração de crianças mergulha no universo da alta conectividade cada vez mais cedo.

Uma pesquisa inédita entre estudantes paulistas sugere que 80% dos alunos de 10 a 18 anos já têm o próprio celular. Cerca de 45% deles afirmam que ganharam o aparelho antes dos 9 anos. E a precocidade está aumentando. Quando os pesquisadores ouviram as crianças que têm entre 6 e 9 anos hoje, 51% delas disseram que tinham celular próprio.

Nessa faixa etária, boa parte das crianças ainda nem aprendeu a ler e escrever direito. O estudo foi feito entre alunos de escolas públicas e privadas de 13 cidades do Estado, inclusive a capital, pelo Programa EducaRede da Fundação Telefônica e pela Universidade de Navarra, da Espanha.

Os números podem ter algum exagero. Os pesquisadores perguntaram apenas aos estudantes, e não checaram com os pais a posse do aparelho. Algumas crianças podem ter entendido como seu um celular que, na verdade, é da mãe, do pai ou de um irmão mais velho.

Outras podem ter mentido. No entanto, o dado bate com outros levantamentos feitos com adolescentes no Brasil. Um estudo feito pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil em 2007 mostrava que 35% das crianças de 10 a 15 anos já tinham celular próprio.

Era de esperar que a proporção aumentasse. Além disso, a febre do celular entre as crianças brasileiras parece se inserir em uma tendência global. Nos Estados Unidos, 57% das crianças chegam aos 13 anos com um celular. E 91% das meninas de 17 já têm o seu. Na Espanha, 65% dos pré-adolescentes entre 10 e 12 anos ganharam um.

O avanço deverá aumentar, com ofertas especiais para esse público precoce. Operadoras nos EUA vendem aparelhos para crianças a partir de 4 anos de idade. São telefones que não permitem a discagem livre.

Têm apenas alguns botões, que ligam para números prefixados, como o da mãe ou do pai. No Reino Unido, a empresa Communic8 teve de parar de vender o modelo infantil MyMo, diante de protestos de que os celulares não fariam bem para crianças tão novas.

Algumas descobertas da pesquisa da Telefônica no Brasil dão margem a preocupações quanto ao abuso da tecnologia. O primeiro receio é de que o aparelho gere uma relação de dependência.

Pelo levantamento da Telefônica, entre os jovens de 10 a 18 anos, 43% dizem que deixam o celular ligado na sala de aula. Se tivessem de escolher entre o celular e a televisão, as meninas optariam pelo primeiro. Não à toa, 16% dos meninos e 10% das meninas dizem conhecer alguém viciado em celular.

O segundo temor dos pais é o uso indevido do aparelho. Segundo a pesquisa, metade das meninas recebeu ligação de desconhecidos e um em cada dez meninos já recebeu conteúdo obsceno ou pornográfico pelo telefone. Além disso, 11% dos meninos e 9% das meninas já usaram o aparelho para ofender alguém. Um em cada dez deles diz ter sido prejudicado por meio do celular.

Esse é o temor de Adriana de Urbano Menezes, de São Paulo, que deu celulares aos filhos Thomas e Sabrina quando tinham 8 e 7 anos, respectivamente. O aparelho era uma questão de segurança.

“A perua da escola atrasava ou falhava, e eu precisava ter uma forma de comunicação com eles”, diz. De lá para cá, Thomas, hoje com 9 anos, e Sabrina, com 8, usam seus aparelhos para se comunicar com a família e alguns amigos. Até mesmo quando estão em casa, do lado do telefone fixo. Thomas é quem mais explora o uso do celular.

Carrega a bateria com o aparelho debaixo do travesseiro, usa o telefone como despertador e relógio, armazena na agenda o número de todo mundo que encontra, manda mensagem de texto para a mãe (certa vez, mandou um “mãe, pega uma toalha, que eu esqueci”), telefona da festinha de aniversário pedindo que o busquem, ouve rádio com fone de ouvido (para abafar a música que vem do quarto da irmã) e só não baixa novos jogos porque a mãe não deixa.

Adriana teme deixar o aparelho sem limites na mão das crianças. Receia que isso dê margem a invasão de privacidade. Por isso, comprou modelos sem câmera para os filhos. “Em casa, Thomas pega meu celular e faz vídeo de tudo”, diz Adriana. “Se eu deixasse um desses na mão dele, imagino se não me gravaria no banho.”


07 de março de 2009
N° 15900 - NILSON SOUZA


O último leitor

As aulas estão recomeçando e os professores de literatura, como sempre fizeram desde os meus tempos de ginásio (e ginásio aqui, jovens leitores, não é uma academia de ginástica, mas sim o período de quatro anos que complementava o primeiro grau, hoje Ensino Fundamental), já apresentam suas listas de leitura obrigatória às crianças e adolescentes.

Aposto que nenhum deles está indicando Crepúsculo, Lua Nova ou Eclipse – os três títulos já traduzidos da série vampírica da americana Stephenie Meyer. Nem caberia, provavelmente.

A garotada precisa mesmo conhecer os clássicos nacionais e também os principais escritores contemporâneos, por mais entediantes que sejam alguns deles. O problema é que esta leitura compulsória, que vale nota, raramente forma leitores. Pode, inclusive, desestimulá-los a novas aventuras no mundo das letras.

É preocupante isso. Meu ofício, de contar histórias num jornal de papel, já anda meio ameaçado. Embora por aqui a gente continue segurando as pontas, com o jornal crescendo em circulação e leitura, a sinalização que vem do Exterior não é boa.

Além disso, nossos jovens, com as exceções de sempre, preferem a telinha do computador às páginas dos jornais. Outro dia, um colega de trabalho formulou uma frase que mais parecia uma sentença de morte: “No dia em que a atual geração de leitores acabar, o jornal também acabará”.

Vade retro. Mas não deixa de ser aterrorizante pensar que pode estar entre nós o último leitor – com as características que o conhecemos hoje, apreciador de um bom texto, curioso para ampliar suas informações com uma leitura aprofundada e com paciência suficiente para folhear página por página.

A garotada tem pressa, muita pressa. Quer tudo ao mesmo tempo, e agora, como se convencionou carimbá-los. No computador, meninos e meninas interagem, fazem suas pesquisas, editam seus blogs, expõem suas fotos e até mesmo suas intimidades.

É muito mais atraente do que um jornal ou um livro. Apesar disso, muitos deles aproveitaram as férias para devorar os três títulos referidos acima – respectivamente 416, 480 e 464 páginas. Que fenômeno é este?

Vou arriscar o meu palpite. Simplesmente um fenômeno chamado “interesse”. Os jovens, como aliás pessoas de qualquer idade, sentem-se atraídos por aquilo que lhes faz sentido, pelo que lhes toca o coração.

Não creio que o último leitor esteja entre nós. Creio, isto sim, que precisamos acordar nossos vampiros internos para contar histórias verdadeiramente atraentes, seja numa folha de papel ou numa tela de computador.

quarta-feira, 4 de março de 2009



04 de março de 2009
N° 15897 - MARTHA MEDEIROS


O efeito Gisele

Até o momento em que escrevo, não foi confirmado se Gisele Bündchen se casou mesmo com Tom Brady no dia 26 de fevereiro.

De qualquer forma, ao ler a notícia num site, resolvi xeretar os comentários deixados pelos internautas a respeito do assunto e afora dois ou três tacanhos que se queixavam de ela ter casado com um americano em vez de um brasileiro (reserva de mercado para o amor?) e de ter virado uma Maria Chuteira (tadinha, precisa mesmo se escorar na fama de um homem), a maioria esmagadora cumprimentou o casal por ter sido discreto, sem se render a castelos e outras frescuradas para sair em capa de revista.

Ao optarem por uma cerimônia íntima, junto aos familares e protegida dos flashes invasivos dos paparazzi, ambos receberam elogios de seus inúmeros fãs. Claro que, se esse casamento for confirmado, Gisele acabará dando alguma declaração e liberando uma foto oficial à imprensa, já que sempre foi bem-tratada por jornalistas, mas está certa ela: tudo a seu tempo.

Voltando aos comentários: quase todos salientaram que a discrição é uma atitude de classe. E isso reforçou o que já venho pensando: que a vida real não se deixa intoxicar pelos factoides que inundam as editorias de variedades.

Ou seja, a maioria das pessoas não tem sonhos megalômanos, a maioria não aplaude a ostentação, a maioria não troca de “amor pra sempre” a cada três meses, enfim, a maioria não está representada pela minoria que vira notícia por causa de suas extravagâncias e que nos induz a achar que a vulgaridade tomou conta do mundo.

Na verdade, temos a mania de propagar no boca-a-boca as fofocas que a gente lê nos sites de entretenimento e acreditar que aquilo possa ser representativo. Sem perceber, disseminamos a ideia de que todas as relações andam descartáveis, que toda mulher daria a vida por um guarda-roupa de grife, que só o que interessa são as aparências, que ninguém mais educa os filhos, que o dinheiro manda e desmanda, e que certos princípios foram pro ralo.

No entanto, olho para os lados e vejo muitos amigos que não rezam por essa cartilha, nem as pessoas da minha família, nem um monte de outras famílias, então há algo exagerado nessa avaliação.

Gisele, ao dispensar os holofotes em um momento extremamente privado, ajuda a diferenciar o que é realidade e o que é circo, e os elogios que recebeu por sua atitude, bem mais numerosos que as críticas, recoloca as coisas em seus devidos lugares.

Isso de que “todo mundo” é exibicionista, “todo mundo” é erotizado, “todo mundo” quer aparecer e “todo mundo” se coisificou não passa de um nivelamento por baixo, porque não existe essa entidade chamada “todo mundo”.

Existe você, existe dona Maria, existe seu Romualdo, existe o Zé da farmácia, existe o Betinho que cursa o supletivo, existe a Tereza que trabalha de doméstica, existe a Patricia que é empresária e o Osvaldo que é servente e cada um no seu quadrado. Fazem parte da maioria que assiste ao circo, mas não entra no picadeiro, mantendo seus valores onde eles sempre estiveram.

É um alento: Gisele é única e exclusiva em sua estonteante beleza, mas tem uma outra beleza que muitos de seus súditos têm também, igualzinha.

Uma excelente quarta-feira para você - Aproveite o dia.

segunda-feira, 2 de março de 2009



02 de março de 2009
N° 15895 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


O Sabiá da Crônica

Acabo de desembarcar, encantado, de um volume de 610 páginas – Rubem Braga, um Cigano Fazendeiro do Ar –, a melhor das biografias do Sabiá da Crônica, escrita por Marco Antonio de Carvalho, recém falecido.

Se nos deixou, o autor nos legou um completo, cuidadoso estudo de um personagem fascinante, profundamente humano, retratado em sua grandeza e em suas fraquezas, o homem que foi um dos principais escritores brasileiros do século 20.

Não pretendo resumir sua obra, o que seria tarefa impossível, tamanhos são seus méritos e ricos seus detalhes. Mas talvez pudesse dar ideia dela reproduzindo aqui um breve trecho de uma das crônicas de Braga.

“Houve um tempo em que sonhei coisas – não foi ser eleito senador federal nem nada, eram coisas humildes e vagabundas que entretanto não fiz, nem com certeza farei.

Era, por exemplo, arrumar um barco de uns 15, 20 metros de comprido, com motor e vela, e sair tocando devagar por toda a costa do Brasil, parando para pescar, vendendo banana ou comprando fumo de rolo, não sei, me demorando em todo portinho simpático – Barra de São João, Piúma, Regência, Conceição da Barra, Serinhaém, Turiaçu, Curuçá, Ubatuba, Garopaba – ir indo ao léu vendo as coisas, conversando com as pessoas –

e fazer um livro tão simples, tão bom, que até fosse melhor não fazer livro nenhum, apenas ir vivendo devagar a vida lenta dos mares do Brasil, tomando a cachacinha de cada lugar, sem pressa e com respeito. Isso devia ser bom, talvez eu me tornasse conhecido como um homem direito.”

Ao invés desse sonho, Rubem Braga tornou-se conhecido como o escritor que deu à crônica certidão de literatura de primeira grandeza. Eterno apaixonado – ficou célebre seu romance com Tônia Carrero – disse em carta a Moacyr Werneck de Castro: “Que variedade nas mulheres, que inacreditável variedade, que mil maneiras de beleza. Acho mulher uma coisa espantosa, inenarrável. São lindíssimas.”

Enamorou-se umas 350 vezes, o que é bom. Teve grandes amigos, dentre eles Carlos e Olga Reverbel – em Porto Alegre e em Paris.

Conheci-o em Canela, num daqueles inesquecíveis festivais do Prêmio Habitasul. Tratou-me com amizade, com uma cordialidade que senti autêntica.

– Amigo Liberato – me disse. – Ama as letras e as mulheres, mais ou menos nessa ordem.

Desde então, venho tentando seguir seu conselho.

Ótima segunda-feira e uma excelente semana