quarta-feira, 28 de setembro de 2011



28 de setembro de 2011 | N° 16839
MARTHA MEDEIROS


Sem explicação

Estive no cais do porto, onde estão algumas exposições da Bienal, e deparei com uma série de instalações artísticas que, sem a ajuda dos mediadores, parecem sem sentido. Algumas funcionam pelo impacto visual, mas o que querem dizer?

Se a gente não pergunta para os profissionais que ali estão, instruídos para explicar cada obra, fica-se boiando. O vídeo de um homem andando de bicicleta sob uma esteira rolante, por exemplo. Ele pedala sem sair do lugar. Monótono.

Aí consultamos os monitores e descobrimos a questão filosófica que está por trás, assim como, em outra obra, a razão de tantas formigas circularem entre bandeiras feitas de areia, alterando seu desenho original. Inusitado, apenas.

Mas aí vem a explicação: é uma forma de alertar para a precariedade dos territórios em meio à crise econômica mundial. Incentiva a nos perguntarmos o que é uma nação e como ela se comporta diante das migrações. Hum. Entendi.

Muitas coisas não têm explicação. Aliás, nem precisariam, mas nos sentimos mais seguros quando sabemos o porquê, a razão, o motivo. A coisa gratuita desperta nossa fragilidade, nos coloca em estado de ignorância. Tudo o que não entendemos zomba de nós.

Assim é nas relações amorosas, que pouco se valem da racionalidade, e assim é também o mistério da existência humana, que provoca teorias diversas e nenhuma certeza absoluta. Há muitas coisas que a gente não compreende, mas que continuam existindo à revelia do nosso desconhecimento.

Toda ausência de justificativa provoca uma certa vertigem, e foi essa vertigem que senti ao ler sobre o menino de 10 anos que, depois de balear uma professora, correu para um canto da escola e atirou contra a própria cabeça.

O tiro na professora deve ter sido acidental, um erro no manejo de uma arma que jamais deveria estar em suas mãos, mas atirar contra si próprio tem um propósito – ou deveria ter. Qual? Segundo a família, os amigos, os colegas e a própria professora atingida, o garoto era tranquilo, saudável, sem distúrbios de comportamento. Por que se suicidou?

Provavelmente entrou em pânico com o próprio gesto, temeu ser castigado, ficou com vergonha e atendeu ao impulso de sumir dali, daquele lugar, daquela situação absurda e violenta demais para seus míseros 10 anos. No ápice da tensão, fez o impensado.

Outra explicação? Poderão descobrir um histórico de agressões na família, excesso de jogos de computador inadequados para sua idade, algum transtorno psicológico que nem deu tempo de ser averiguado. Haverão de furungar, de querer saber.

Mas o mais provável é que o pequeno garoto não tivesse como explicar o tiro que havia disparado contra a professora. E, mesmo tão inocente, intuiu: sem explicação, nada se sustenta.

Faltou o mediador.

Uma quarta-feira gostosa para todo mundo.

terça-feira, 27 de setembro de 2011



27 de setembro de 2011 | N° 16838
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Um súbito olhar

Uma leitora me pergunta se ainda escrevo à mão. Respondo-lhe que sim. Mesmo na era da informática, redijo minhas crônicas, contos e romances primeiro no papel, numa página modelo A-4, para só depois transportar o texto para o computador.

Tenho uma letra bonita e me orgulho dela. É ainda herança do curso primário do Colégio das Dores, onde tínhamos aulas de caligrafia. Tínhamos também lápis bem apontados e penas de aço que a gente tinha que molhar de tempo em tempo no tinteiro embutido na própria classe.

Nunca me senti diminuído por isso – era um exercício de disciplina. Depois, pela altura do quarto ano, ganhei minha primeira caneta. Era uma Compactor alemã, a que devotei especial estima. Tinha que ser reabastecida pelo menos uma vez por semana, mas quem se importava com isso?

Da Compactor evoluí para uma Parker 51, isso já no ginásio, e despertava a inveja de meus colegas de aula. Era realmente um primor de eficiência e de elegância. A tinta era Azul Real Lavável e eu achava que não poderia haver outra mais perfeita.

Depois me perdi, dividido entre um milhão de canetas. Começou o império das esferográficas, que se mantém firme e sólido até hoje. Mas eu me conservo fiel aos modelos antigos.

Já não tenho Compactors ou Parkers, embora dê sempre jeito de procurar suas herdeiras.

E sabem por quê?

Porque escrever tem tudo a ver com o toque da caneta no papel. Há uma sintonia anímica entre ambos e um suave estímulo à criatividade.

Meu livro mais longo e de maior sucesso – As Torrentes de Santaclara –, de 608 páginas impressas, foi todo ele escrito à mão, para só depois ser datilografado, pois os tempos ainda eram pré-informática. O mesmo sucedeu com outro romance, O Homem que Colecionava Manhãs, que mereceu críticas consagradoras, de Wilson Martins a Luiz Antônio de Assis Brasil.

Não é diverso com meus volumes de crônicas e contos, todos primeiro manuscritos, para depois serem transpostos aos meios eletrônicos.

Nada tenho contra o computador ou a internet. Mas olho ambos como um segundo estágio do processo de criação.

Antes de converter em bits e bytes o que componho, me agrada ver cada texto em intimidade com o papel. É algo doce e indefinível, como o súbito olhar de uma mulher amada.

sábado, 24 de setembro de 2011



25 de setembro de 2011 | N° 16836
MARTHA MEDEIROS


O medo de errar

A gente é a soma das nossas decisões.

É uma frase da qual sempre gostei, mas lembrei dela outro dia num local inusitado: dentro do súper. Comprar maionese, band-aid e iogurte, por exemplo, hoje requer expertise. Tem maionese tradicional, light, premium, com leite, com ômega 3, com limão, com ovos “free range”. Band-aid, há de todos os formatos e tamanhos, nas versões transparente, extratransparente, colorido, temático, flexível.

Absorvente com aba e sem aba, com perfume e sem perfume, cobertura seca ou suave. Creme dental contra o amarelamento, contra o tártaro, contra o mau hálito, contra a cárie, contra as bactérias. É o melhor dos mundos: aumentou a diversificação. E com ela, o medo de errar.

Assim como antes era mais fácil fazer compras, também era mais fácil viver. Para ser feliz, bastava estudar (magistério para as moças), fazer uma faculdade (Medicina, Engenharia ou Direito para os rapazes), casar (com o sexo oposto), ter filhos (no mínimo dois) e manter a família estruturada até o fim do dias. Era a maionese tradicional.

Hoje, existem várias “marcas” de felicidade. Casar, não casar, juntar, ficar, separar. Homem com mulher, homem com homem, mulher com mulher. Ter filhos biológicos, adotar, inseminação artificial, barriga de aluguel – ou simplesmente não tê-los.

Fazer intercâmbio, abrir o próprio negócio, tentar um concurso público, entrar para a faculdade. Mas estudar o quê? Só de cursos técnicos, profissionalizantes e universitários, há centenas. Computação Gráfica ou Informática Biomédica? Editoração ou Ciências Moleculares? Moda, Geofísica ou Engenharia de Petróleo?

A vida padronizada podia ser menos estimulante, mas oferecia mais segurança, era fácil “acertar” e se sentir um adulto. Já a expansão de ofertas tornou tudo mais empolgante, só que incentivou a infantilização: sem saber ao certo o que é melhor para si, surgiu o medo de crescer.

Todos parecem ter 10 anos menos. Quem tem 17, age como se tivesse 7. Quem tem 28, parece ter 18. Quem tem 39, vive como se fossem 29. Quem tem 40, 50, 60, mesma coisa. Por um lado, é ótimo ter um espírito jovial e a aparência idem, mas até quando se pode adiar a maturidade?

Só nos tornamos verdadeiramente adultos quando perdemos o medo de errar. Não somos apenas a soma das nossas escolhas, mas também das nossas renúncias. Crescer é tomar decisões e, depois, conviver pacificamente com a dúvida. Adolescentes prorrogam suas escolhas porque querem ter certeza absoluta – errar lhes parece a morte.

Adultos sabem que nunca terão certeza absoluta de nada, e sabem também que só a morte física é definitiva. Já “morreram” diante de fracassos e frustrações, e voltaram pra vida. Ao entender que é normal morrer várias vezes numa única existência, perdemos o medo – e finalmente crescemos.

RUTH DE AQUINO

A paz é feminina?

Mulheres israelenses e palestinas cansaram de perder filhos e maridos. A solução depende delas

RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br

Helena, Júlia, Nadine. Três mulheres a favor da tolerância religiosa e contra o absurdo da guerra. Helena Salem, judia sefardita, teve de se passar por árabe para cobrir a Guerra do Yom Kippur como jornalista, em outubro de 1973. Júlia Bacha dirigiu um documentário revelador sobre a resistência pacífica num vilarejo palestino, Budrus, que será lançado em DVD no Brasil em outubro.

Nadine Labaki, libanesa cristã, ganhou no domingo passado o Festival de Toronto, com seu filme encantador numa aldeia remota onde uma mesquita e uma igreja ficam lado a lado.

“O que é ser judeu? E árabe? E judia com nome árabe? Que guerra é essa? Só pode ser assim?”, escreveu Helena Salem em seu belo livro Entre árabes e judeus, publicado em 1991. “O que faz com que me sinta tão próxima do soldado israelense como do egípcio?

Será que eles não sabem que são tão parecidos? Como juntar aquela menininha que jurou nunca se casar na sinagoga com a mulher que agora assume uma identidade de árabe para poder circular livremente por Egito, Síria, Jordânia, Líbano, sem medo de ser molestada? Como ser, ao mesmo tempo, alvo de repúdio da colônia israelita e de desconfiança dos árabes? O que fazer com meus véus interiorizados de mulher judia oriental, que reconheço tão próximos dos véus que recobrem a face das mulheres árabes?”

Aos 22 anos, jornalista, Helena Salem foi conhecer o Cairo. Três dias depois, estourou a Guerra do Yom Kippur. Ela insistia em dizer que os palestinos não deveriam ser outro povo nômade, sem o chão de uma pátria. Ficava impressionada em como se sentia em casa numa mesquita no Cairo: “Mulheres em cima, homens embaixo, o canto choroso, conhecia tudo isso”. Divertia-se também em descobrir comidas parecidas: o folheado árabe semelhante à bureka, “a maior iguaria oferecida na casa de vovó Judith”.

Agnóstica, carioca, Helena teria hoje 63 anos. A injustiça da vida a levou precocemente, aos 50. Seu livro, que ela me deu num jantar em sua casa e que li de um trago só, traz muitas luzes para o que está em jogo na ONU: o reconhecimento do Estado palestino.
Mulheres israelenses e palestinas cansaram de perder filhos e maridos. A solução depende delas

Quando a carioca Júlia Bacha, de 30 anos, foi a Israel, tinha a mesma idade de Helena no Cairo: 22 anos. Fez a assistência de direção de Encounter point, documentário que mostra como mães israelenses e palestinas se reúnem em ONGs para buscar uma saída de paz. Júlia também dirigiu Budrus, que registra como um vilarejo palestino de 1.500 habitantes resistiu pacificamente ao muro planejado por Israel.

A cerca dividiria o cemitério ao meio, destruiria 3 mil oliveiras e ficaria a 40 metros da escola. Jovens ativistas israelenses e europeus aderiram ao movimento. E Israel mudou o muro de lugar depois de 55 manifestações ao longo de um ano.

“Tanto israelenses quanto palestinos vivem em sociedades machistas onde o Exército ou a luta armada acabam por valorizar os homens”, diz Júlia. “As mulheres e as mães estão cansadas de perder seus filhos e maridos. Em Budrus, a cena mais tocante acontece quando a menina Iltezan, de 15 anos, se joga no buraco feito pela escavadeira do trator e ali se senta, pequena e impassível, diante da máquina.” Iltezan arriscava a vida para defender as oliveiras. Sem jogar uma pedra, uma granada.

Na semana passada, assisti ao filme E para onde vamos agora?, de Nadine Labaki, libanesa de 37 anos. Numa aldeia, as mulheres cristãs e muçulmanas se unem para evitar novos lutos. Desligam os fios da única televisão da praça. Queimam os jornais que relatam conflitos. Escondem as armas.

Contratam dançarinas ucranianas para distrair os maridos. Mas palavras ou gestos enviesados continuam a provocar brigas entre os homens. Um dia, as cristãs despertam com véus pretos e chamam seus maridos para a mesquita. E as muçulmanas acordam de vestidos leves, braços e pernas de fora, chamando os maridos para a igreja. Eles acham que todas enlouqueceram.

Não sei se a paz é feminina. Mas talvez dependa, sim, da força, da persuasão e da tolerância das mulheres. E do desejo profundo de não mais chorar por seus homens.

Por Altamiro Silva Junior

Fundos de pensão apostam em empresas menores

São Paulo e Florianópolis - Com a alta volatilidade da bolsa, os fundos de pensão resolveram reforçar as apostas em ações de empresas de menor porte, as small caps. Tradicionais compradores de ações mais líquidas, como da Petrobras e da Vale, os fundos estão se reunindo com empresas e analistas em busca de ações com potencial de valorização para melhorar os ganhos com a renda variável. As small caps, como são papéis com menor liquidez, costumam ser menos voláteis.

O interesse por esses papéis ocorre em um momento ruim para os fundos de pensão. Nenhuma fundação deve bater a meta atuarial em 2011, segundo estimativas da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar).

Mesmo no cenário mais otimista desenhado pela Abrapp, com a bolsa fechando o ano em 70 mil pontos, a previsão é de que os fundos tenham rentabilidade inferior à variação do INPC mais 6%, meta de rentabilidade da maioria deles.

Somente em 2008 é que os fundos não conseguiram superar a meta. Os fundos de pensão têm nada menos que R$ 545 bilhões de ativos aplicados no mercado financeiro, dos quais R$ 174 bilhões estão na bolsa.

O índice da Bolsa de Valores de São Paulo formado só por ações de empresas de menor porte (o índice de small caps) acumula queda de 12% nos últimos 12 meses, resultado melhor que o Ibovespa, o principal índice da bolsa, nesse período (queda acumulada de 23%).

Consultados pela Agência Estado, os executivos responsáveis pela carteira de investimento de vários fundos de pensão citaram alguns papéis que consideram interessantes. Entre algum dos nomes citados, estão Odontoprev, Kroton Educacional, Fleury, SulAmérica, Lojas Marisa, Multiplus.

Mercado interno

"Na bolsa, estamos procurando papéis principalmente ligados ao mercado de consumo interno", destaca Carlos Costa, diretor financeiro da Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, que conta com ativos de R$ 53 bilhões - dos quais 35% estão aplicados na bolsa. É em empresas ligadas a esse segmento que o executivo acredita estarem as maiores oportunidades em tempos de bolsa volátil. "Muitas empresas foram castigadas e estão com preços atrativos."

De acordo com o executivo, a Petros tem estratégias diferentes para aplicar na bolsa. Uma delas é comprar papéis de empresas como investimento de longo prazo, com participação maior e até assento no conselho de administração. É o caso, por exemplo, da BRF - Brasil Foods, Petrobras e da Ultrapar. A outra é buscar oportunidades de ganho no dia a dia do pregão, atrás de pechinchas. Nesse caso, estão incluídas as empresas de menor porte.

A CSU CardSystem, empresa que faz processamento de operações com cartões de crédito e débito, tem reuniões agendadas na próxima semana com alguns fundos de pensão em Brasília. "Vimos que os fundos estão interessados em ações de empresas menores e resolvemos fazer algumas apresentações", diz a diretora de relações com investidores da CSU, Mônica Molina.

Na avaliação de Mônica, um dos atrativos da CSU é exatamente o fato de a empresa operar com cartões, mercado que vem crescendo cerca de 20% ao ano há mais de dez anos. Há pouco mais de um ano, a CSU lançou uma plataforma para prestar serviços para novas empresas que entrarem no mercado de credenciamento de lojistas para bandeiras de cartões.

Eustáquio Lott, presidente da Valia, fundo de pensão dos funcionários da Vale, entende que, nesse novo cenário econômico, com juros em queda e bolsa oscilando, os fundos terão mesmo de buscar novas alternativas de investimento.

Entre essas alternativas estão as ações de empresas menores e outras opções de papéis emitidos por empresas, como debêntures. A Valia tem ativos de R$ 14 bilhões. "Vai ser muito difícil superar a meta (atuarial) este ano", disse Lott.

O Metrus, fundo de pensão dos funcionários do Metrô de São Paulo, com R$ 1,2 bilhão em ativos, também está aplicando em empresas de menor porte. A fundação pode comprar os papéis tanto de forma direta, via corretora, quanto por meio de aplicação em fundos de investimento dedicados a small caps, segundo seu presidente, Fábio Mazzeo.

"São papéis interessantes e com potencial de valorização", disse o executivo.

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sexta-feira, 23 de setembro de 2011



Parabéns pra mim!!!

É que todo dia 23 de Setembro mais uma primavera chega na dádiva que é minha vida. Hoje quero agradecer profundamente a Deus, ao Universo e ao meu primeiro amor (mamãe) enfim... Agradecer e agradecer e agradecer infinitamente porque estou aqui.

E no decorrer de meus 33 aninhos, devo dizer que sou uma super estrela de grandes espetáculos, tudo até aqui foi e continua sendo muito intenso, lágrimas e risos, perdas e ganhos.

Passei por desertos que chegavam com a sede de boas notícias e com a sede de um tempo feliz com presenças importantes, mas não posso negar, muitos foram os momentos em que pisei na terra molhada e dancei com a chuva ao som da felicidade.

Os caminhos nem sempre foram tão lindos, as pedras e os espinhos machucavam, mas o perfume das rosas me acalmavam a alma, o vento me transportava a liberdade de sentimentos.

Alegrias e tristezas, comédias e tragédias... Tudo muito intenso e mágico. A vida é realmente um espetáculo, e a minha sempre foi dirigida pelo mais criativo dos diretores (DEUS), definitivamente hoje me sinto plena, radiante e grata.

Keyla Iara

quarta-feira, 21 de setembro de 2011



21 de setembro de 2011 | N° 16832
MARTHA MEDEIROS


Pareço, logo existo

Foi-se o tempo em que a disputa se resumia ao clássico Ser x Ter. Dizem que ninguém mais dá a mínima para o que é, só para o que tem. Exagero. As pessoas ainda se preocupam com o que são. O problema é que não gostam do que são. Gostariam de ser outra coisa. E aí entra o verbo que está no topo das paradas hoje em dia: parecer.

Tem gente que quer parecer rica, e adota um padrão de vida que não condiz com a sua realidade. Pra manter a fachada de bem-nascida, acaba colecionando dívidas e queimando seu nome na praça. Nos eventos sociais, pode até ser a mais fotografada, mas para os comerciantes é bola preta na certa. A rica mais sem crédito das colunas.

Tem aqueles que querem parecer mais bem relacionados do que são, e se enturmam, forçam intimidade e grudam feito chiclete em pessoas que mal conhecem, só para descolar um convite para uma festa, um show, uma estreia, qualquer lugar que projete.

Os que querem parecer mais cultos do que são, você sabe, são aqueles que nunca foram além do prólogo do livro e é o que basta para olharem a ralé de cima para baixo, como se fossem portadores da sabedoria universal.

Há os que querem parecer mais jovens do que são: bom, quem não gostaria? É uma dádiva parecer ter cinco anos menos, sem esforço. A genética é mais generosa com uns do que com outros. Há muito tempo que eu não tento mais adivinhar a idade de ninguém: sempre erro, já que todo mundo parece ter bem menos. Mas se você tem 56 e parece ter 56, não é caso para enfiar a cabeça dentro do forno.

Os casos mais patéticos, no entanto, são os daquelas pessoas que querem parecer mais felizes do que são. O recurso adotado: mentem.

O casamento delas está uma lua de mel, os filhos só dão alegrias, são muito requisitadas no trabalho, os amigos não param de telefonar, a vida tem sido um passeio num campo florido, e fica sem explicação aquele olhar melancólico, o sorriso forçado, a exaustão de ter que passar o falso entusiasmo adiante, como se não tivéssemos condições de perceber seu verdadeiro estado de ânimo, que é coisa que se transmite sem palavras. Ver alguém se esforçando para parecer feliz é das situações mais constrangedoras que se pode testemunhar.

Está triste? Esteja! Não é rico, nem jovem, nem belo? Nem por isso ficará sozinho. Pessoas não se apaixonam por estereótipos, mas pela singularidade de cada um, pela capacidade de ser surpreendido, pela sedução que o inusitado provoca. Uma pessoa que se preocupa em “parecer” já está derrotada no primeiro minuto de jogo.

Dá valor demais à opinião dos outros, não age conforme a própria vontade, não se assume do jeito que é, inventa personagens para si mesmo e acaba se perdendo justamente deste “si mesmo”, que fica órfão. Quer parecer mais inteligente? Comece admitindo que não sabe nada sobre nada e toque aqui: ninguém sabe.

terça-feira, 20 de setembro de 2011



20 de setembro de 2011 | N° 16831
CLÁUDIO MORENO


Razão e sensibilidade

Uma das primeiras feministas do Ocidente foi Mary Wollstonecraft, escritora inglesa do séc. 18. Combativa desde a adolescência, publicou em 1792 a famosa Defesa dos Direitos da Mulher, título que lhe serviria de mote para a vida toda. Segundo ela, a mulher era submissa por dar valor demais à sensibilidade; prisioneira de seus sentimentos, não conseguia exercer plenamente sua racionalidade, a única força capaz de libertar os povos e os indivíduos.

“A razão não tem sexo!”, dizia – e só utilizando esse poderoso a mulher poderia lutar por privilégios e direitos iguais, incluindo, é óbvio, o de decidir sobre a própria vida sexual. Considerava o casamento uma instituição ultrapassada e defendia a livre união entre as pessoas; para ela, os membros do casal deviam preservar o direito de se relacionar com outros parceiros.

Em Paris, conheceu o atraente Gilbert Imlay, jovem escritor americano que também acreditava no mágico poder da razão. Um ficou fascinado com o outro, e resolveram viver juntos o sonho de uma união livre, sem o controle sufocante da sociedade. Quando ela deu à luz uma menina, consta que Imlay, compenetrando-se na posição de pai, teve uma recaída conservadora e sugeriu que casassem, mas Mary, firme em seus princípios, não aceitou a proposta.

Contudo, como ninguém controla o amor, bicho perigoso e incontrolável, a dura realidade se encarregou de derrubar com um simples sopro o que parecia ser uma teoria perfeita: um dia, Mary, desconfiada de certas ausências de Imlay, mandou às favas sua retórica libertária, ignorou a luta de classes e submeteu a cozinheira a um interrogatório feroz e policialesco – quando então ficou sabendo que o marido visitava regularmente a cama de uma jovem artista conhecida.

Ao que parece, ele estava apenas fazendo o que tinham combinado; ela, porém, com a alma dilacerada, escreveu-lhe uma patética carta de despedida, banhada em lágrimas, em que a defensora da racionalidade aparecia, finalmente, humanizada pelo sofrimento: “Escrevo-te de joelhos, implorando”... “só minha extrema estupidez pôde me manter cega por tanto tempo”... “preferia morrer mil vezes a reviver a noite passada”... “jogaste minha alma no caos”.

Partiu então para a Inglaterra, decidida a morrer nas águas escuras do Tâmisa. Aproveitando a chuva que se abatia sobre Londres, caminhou por um hora pelas ruas, a fim de que o vestido, completamente encharcado, ajudasse a puxá-la para o fundo; depois, em silêncio, mergulhou num dos pontos mais profundos do rio. Alguém que passava por ali, contudo, jogou-se às águas e a salvou.

Mais uma vez a sorte zombava de seus desígnios, e Mary entendeu o recado: refez sua vida, amou mais uma vez e teve outra filhinha, a quem deu o seu nome. Morreu pouco depois do parto, sem poder imaginar que ali nascia outra escritora, Mary Shelley, a criadora de Frankenstein.


20 de setembro de 2011 | N° 16831
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Um recanto de paz

Querem uma imagem perfeita de serenidade? Eu estava em Rio Pardo cobrindo, como repórter, a visita de um político. Eu era um rapaz de 18 anos e, como o ilustre personagem gostasse como poucos do som da própria voz, pela altura do quinto discurso em diferentes lugares e situações, achei que já tinha ouvido o bastante para a minha reportagem.

Comecei então a percorrer as capelas e igrejas que fazem, com justiça, a fama daquela encantadora cidade. Degustei também o charme dos casarões de outros séculos, de uma fonte, que não sei se ainda existe, e principalmente das ruas e travessas que pareciam transplantadas de um romance de Machado de Assis.

Foi então que se acercou de mim uma bela moça, que sem nenhuma cerimônia disse que vinha me observando.

Perguntou se eu gostava de coisas antigas, tanto como demonstrava, e, como eu confirmasse que sim, convidou-me para visitar o pátio de sua própria casa.

Aceitei imediatamente e ela me levou não a uma casa, mas a um sobrado antigo, e não a um pátio, mas a um parque que ficava na parte traseira daquela verdadeira relíquia arquitetônica.

Havia um centenar de velhas árvores, aleias com dezenas de jardins, ruínas de muros que lembravam fortalezas.

Minha amiga me apresentou a estátuas gregas, a grutas, a bancos de pedra. O ponto alto foi um poço, que ela falou que era dos desejos. Uma moeda surgiu – na época elas estavam desaparecidas – e eu formulei os três pedidos de preceito.

Era tamanha a paz daquele lugar que desejei que não precisasse partir. Minha jovem anfitriã contou-me histórias antigas do sobrado e daquele parque inesquecível. Eu quase podia ver sinhazinhas como ela percorrendo com seus vestidos longos as alamedas em que agora passeávamos.

E, para completar, pássaros nos serviam uma sinfonia de cantos.

Aproximei-me dela, beijei seus lábios macios e depois parti.

Nunca mais a vi. Mas comigo ficou a magia daquelas horas de encantamento que só podiam ter transcorrido num cenário como Rio Pardo.

sábado, 17 de setembro de 2011



18 de setembro de 2011 | N° 16829
MARTHA MEDEIROS


A farra dos sentidos

Porto Alegre está sediando dois vibrantes eventos culturais, a Bienal do Mercosul e o Em Cena, e não demora começa a Feira do Livro. É um convite irrecusável para mergulhar num universo que tem sido tão pouco prestigiado: o dos sentidos.

Em tempos de deslumbre com a tecnologia, de consumismo descontrolado e da cultura do descartável, vale lembrar que o que nos dá conteúdo, de fato, é a valorização dos sentidos. Estar bem informado e bem sintonizado com as tendências do nosso tempo é importante, mas há diferença entre o que é importante e o que é vital. Vital é o sentir, mais do que o pensar.

É o que, em meio ao trânsito, às discussões, às filas, à pressa e às intermináveis reuniões de trabalho, nos faz transcender e nos instala num patamar mais sublime, inalcançável para quem se dedica apenas à vidinha besta diária.

Comer, dormir e transar são prazeres necessários, que se tornam ainda mais prazerosos quando estamos viajando e podemos nos dedicar a eles com mais calma e desfrute. Viajar oferece novidade aos olhos, sabores inéditos ao nosso paladar, uma percepção mais elástica do tempo.

Recondiciona nosso papel: passamos a ser estrangeiros para nós mesmos. É um instante rico em descobertas. Mas não se pode viajar toda hora, então o jeito é trazer a beleza do mundo para dentro da nossa rotina. É preciso despertar, diariamente, aqueles outros sentidos aparentemente desnecessários.

Há quem não reverencie as cores, as flores, estampas, misturas, audácias. O nude é elegante na moda, mas a vida nua e crua precisa de uns respingos de laranja, vermelho e verde para provocar estímulo, senão caímos em sono profundo, e sono profundo é a morte. Estou falando do tom com que colorimos a nossa história. Lamento por quem vive em sépia, deixando-se desbotar.

Beleza, aromas, sensações, ritmos, sabores, arte. Alimentos pra alma. Quem faz dieta de teatro, música, cinema, literatura, dança e artes plásticas morre magro, definha. E dinheiro pra isso?

O Em Cena traz ingressos populares, na Bienal a entrada é franca, na Feira do Livro há os descontos e os sebos: ainda assim, nem todos podem. Então, quem pode, deve. Pelo privilégio que tem. É desfeita recusar-se à grandeza de abstrato, do onírico, da poesia e do encantamento. Desfeita e burrice.

Qual o sentido da vida? Que graça tem armazenar um milhão de “amigos” numa rede virtual, se envaidecer da própria conta bancária, buscar beleza em centros cirúrgicos, investir apenas no que é útil e rentável – ou então no supérfluo que dá status?

Qual o sentido de acordar de manhã sem paz de espírito, caminhar por uma casa que não sorri de volta, passar o dia em frente ao computador sem olhar uma única vez pro céu? Qual o sentido de correr tantos riscos (violência, desamor, frustração, doenças) se não se tem uma vida interior protegida da miséria existencial?

O sentido está nos sentidos. Nada mais óbvio, nem mais bonito.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011



14 de setembro de 2011 | N° 16825
MARTHA MEDEIROS


Eu não sou passarinho

Convencionou-se que pessoas de boa índole gostam da natureza. Bom, eu gosto muito da natureza, ainda que não seja a candidata ideal para me exilar num sítio ou numa praia deserta por um tempo que exceda o período de férias. Além disso, tenho uma relação pouco amistosa com passarinhos, logo com eles, os representantes oficiais da vida ao ar livre. Se o quesito for esse, não sei se minha índole poderá ser bem avaliada.

Quando criança, os contos de fada tentaram me convencer da prestatividade dos passarinhos. Quando a Gata Borralheira resolveu que iria ao baile no castelo do príncipe mesmo sem ter um trapo decente para vestir, foram os passarinhos que a ajudaram a se transformar numa Cinderela, providenciando tecidos coloridos e customizando as peças. Eles praticamente inventaram a profissão de personal stylist.

No desenho da Branca de Neve, foram ainda mais prestigiosos. Conduziram a mocinha, perdida na floresta, até a casa dos anões, que ela jamais encontraria sem um GPS. E, depois, quando a bruxa malvada a envenenou com a maçã, foram eles que correram até a mina e alertaram os anões para o que estava acontecendo. Twitter pra quê?

Enquanto escrevo esta crônica, às 9h, escuto pássaros. É encantador, se levarmos em conta que estou instalada no 10º andar de um prédio num bairro movimentado da cidade. Como a rua é arborizada e há um parque quase em frente, a passarinhada está garantida. Só que eles não começaram a cantar agora. Estão cantando desde cedo.

Bem cedo. Desde as quatro da manhã, pra ser exata. Eu adoraria acordar com o canto dos pássaros às quatro da manhã se tivesse que levantar para ordenhar vacas, cortar lenha e assar o pão em minha casinha romântica instalada no cenário idílico do campo, mas não levo uma vida romântica: me deixem dormir.

Também não preciso levantar às quatro da manhã para preparar o almoço das crianças e então pegar três ônibus para chegar ao trabalho. Tivesse essa vida sacrificada que tantos têm, acordar com os passarinhos seria menos aflitivo do que acordar com um estridente despertador. Mas não levo essa vida sofrida, o horário que devo sair da cama é exatamente 6h50min. Só que abro os olhos bem antes disso. Muito antes. Por obra e graça você sabe de quem.

A primavera está chegando e isso é uma notícia alvissareira depois de um inverno tão castigante. É o momento de recepcionar com alegria os inofensivos e belos cantantes matinais, que tanta poesia conferem ao nosso cotidiano. Pena que eu não seja assim tão nobre.

Tenho vontade de abater um por um durante sua sinfonia da madrugada. Só gosto de passarinho em estampas, selos, quadros e fotos (mentira, mentira, nem isso, só estou querendo angariar sua simpatia). Índole nota 7,5.

terça-feira, 13 de setembro de 2011



13 de setembro de 2011 | N° 16824
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Escuta Só

O mundo editorial anda vasto e generoso: coloca nas prateleiras, reais e virtuais, uma auspiciosa quantidade de novos títulos a cada semana, de tudo um pouco – livros autofinanciados, romances de escritores já provados, e muitos, muitos ensaios, das mais variadas áreas e interesses.

Dá a impressão de que a inteligência que veio se formando na universidade nas últimas décadas alcançou agora a forma impressa em português. Já viu a quantidade de ensaios de inspiração darwinista que anda por aí?

E ensaios sobre história? Uma beleza. Na área da música também. Para ficar no terreno que frequento regularmente, a canção popular, são dezenas os títulos de livros interessantes, de biografias a monografias críticas, de antologias de letras a enciclopédias.

Mas eu queria mesmo era falar de um novo livro sobre música em sentido aberto: um livro com ensaio que ataca a chatice dos concertos de música dita clássica (a cara feia do sujeito ao teu lado, quando um espirro foi incontrolável, a pose esnobe de quem acha errado bater palmas entre os movimentos de uma peça etc.);

que mostra o parentesco entre uma frasezinha de contrabaixo do blues ordinário e outra de uma peça de Bach; que relata com atenção miúda o modo como os processos de gravação ajudaram a definir estéticas musicais; mas que também reporta o acompanhamento de uns quantos shows recentes de Bob Dylan. E tudo escrito bem, não apenas sem preconceito mas com talento narrativo e humor.

O livro se chama Escuta só – Do Clássico ao Pop, e seu autor é Alex Ross (Cia. das Letras, mesma editora que dois anos atrás lançou, do mesmo autor, O Resto É Ruído – Escutando a Música do Século 20).

Com formação erudita exigente, mas coração treinado no rock e outros gêneros pop, Ross é crítico de música da prestigiosa revista New Yorker, onde repassa esse magnífico planeta musical, sempre mantendo distância de léguas para a caretice e o bom-mocismo.

No ensaio Aprendendo a Partitura: a Crise no Ensino da Música, por exemplo, Ross conta experiências concretas de vida musical escolar, aproveitando para lembrar que as orquestras precisam se reinventar como escolas de música e centros culturais, agregando forças sociais e musicais em torno de si – com a convicção de que a música, como as artes todas, ensina a tolerância, a diferença, a imaginação, valores que a vida democrática precisa ensinar e passar adiante. Um excelente livro para ajudar a pensar a Ospa.

sábado, 10 de setembro de 2011



11 de setembro de 2011 | N° 16822
MARTHA MEDEIROS


Onde você estava quando...?

Recordar onde estávamos é entender que fazemos parte até do que não nos acontece diretamente

Em 31 de outubro de 1996, eu trabalhava no Jornal do Almoço. Havia recém chegado ao estúdio quando soube que um Fokker havia caído segundos depois de decolar de Congonhas. Toda a pauta foi reformulada. A edição daquele dia virou um plantão, só se falou sobre o desastre.

Quando saiu a lista de passageiros, descobri o nome de um amigo, mas não me apavorei, confiante na quantidade de homônimos que há no Brasil. Dei um telefonema e descobri que não era ele.

Em 29 de setembro de 2006, eu estava chegando a uma festa quando soube que um jato da Gol havia sido atingido por outra aeronave em pleno ar e caído em Goiás. Senti um mal-estar, mas segui com os planos de me divertir.

Em 17 de julho de 2007, eu estava assistindo ao Jornal Nacional quando deram a notícia do voo da TAM que, ao aterrissar, atravessou a pista e colidiu contra um prédio numa avenida ao lado do aeroporto. Gelei quando soube que o voo partira de Porto Alegre. Haveria alguém conhecido a bordo? Liguei para alguns amigos que viajavam com frequência para São Paulo e recebi chamadas também: formou-se uma corrente de afeto e solidariedade.

Os três acidentes aéreos citados acima foram dissecados no livro Perda Total, de Ivan Sant´Ana, que já havia escrito o ótimo Caixa Preta. É uma leitura emocionalmente difícil, mas que relata algo que faz parte da rotina de um número crescente de pessoas – voar.

Cada vez que entramos num avião, estamos 100% entregues ao destino, o que não acontece num carro, onde podemos manobrar, frear, saltar, enfim, interferir de alguma forma. Dentro de um avião, só nos resta a inércia. Talvez por isso as vítimas de acidentes aéreos nos comovam tanto.

Mas nada se compara à tragédia de 11 de setembro de 2001. Um assassinato premeditado e transmitido ao vivo através de imagens que até hoje parecem efeitos de computador. Onde você estava naquele dia? Eu estava escrevendo em casa quando minha funcionária chegou para trabalhar e sugeriu que eu ligasse a tevê. “Está acontecendo alguma coisa nos Estados Unidos.” Liguei a tempo de ver os prédios do WTC virem abaixo.

Era uma terça-feira, e eu já havia mandado para Zero Hora o texto da minha coluna de quarta, que tratava de um assunto idiota. No dia seguinte, qualquer assunto que não fosse o atentado seria idiota. Telefonei para o editor e pedi que ignorasse, em poucos minutos enviaria outro, mesmo que eu não tivesse a menor ideia sobre o que escrever. Com um notebook no colo e o olhar grudado na tevê, só me ocorreu refletir sobre nossa vulnerabilidade.

É praxe perguntar: onde você estava quando mataram Kennedy? Onde você estava quando mataram Lennon? Recordar onde estávamos é entender que fazemos parte até do que não nos acontece diretamente. Onde estávamos? Estávamos vivendo o cotidiano de um dia que havia começado comum, como começam todos os dias, até que fomos atingidos – também.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011



07 de setembro de 2011 | N° 16818
MARTHA MEDEIROS


Ricardo Macchi em seu melhor papel

A escalação de artistas em propaganda de TV é um recurso eficiente e legítimo, ainda mais quando bem utilizada, o que acontece quase sempre. Mas vez que outra eles pagam mico. Lembro que há muitos anos escrevi uma crônica chamada “Cachê vexame”. Faz tanto tempo, que nem a tenho mais em arquivo.

Na época, ainda trabalhava com publicidade e citei casos de atrizes que andavam expondo sua vida íntima, como quando Gloria Pires confidenciou que o marido tinha caspa e Suzana Vieira revelou que usava dentadura.

Não devia ser verdade e, se fosse, não seria demérito, mas elas poderiam ter evitado algumas piadas. E não acreditei quando vi outro dia a linda e talentosa Camila Pitanga dizendo que jamais seria escalada para grandes papéis se não tivesse trocado de desodorante.

No entanto, há uma nova tendência na utilização de artistas que pode parecer vexatória, mas não é. Mês passado entrou no ar um comercial de seguradora de veículos em que um ladrão desiste de roubar o carro ao perceber que Byafra está no banco de trás, com um microfone na mão, pronto para cantar. O ladrão põe as mãos nos ouvidos e se manda.

E a propaganda do momento é o ator Ricardo Macchi, com seu 1m90cm, dizendo para a câmera o mesmo texto que o baixinho Dustin Hoffman, numa comparação cênica evidentemente desigual. O produto é um carro compacto, cujo slogan é “Não basta ser grande para ser bom” ou algo assim.

Byafra e Ricardo Macchi estariam passando vergonha? Duvido. Não conheço nenhum dos dois e pode ser que tenham aceitado a empreitada por questões financeiras e para voltar à mídia, já que andavam desaparecidos, mas há outros dois componentes a serem levados em consideração, e o bom humor é um deles. Óbvio que ambos estavam conscientes de que seriam satirizados, mas levaram fé no espírito de galhofa do brasileiro e apostaram que sairiam com a imagem inabalada.

Ou abalada para melhor: em geral, aplaudimos quem não se leva tão a sério. Esse bom humor não é exigido apenas dos outsiders da fama: há pouco tempo, os galãs Reynaldo Gianecchini, Vladimir Brichta e Marcio Garcia toparam ser esnobados por uma estranha em prol de uma marca de margarina.

O outro componente é o da vaidade controlada. Não sei se Byafra e Ricardo Macchi são tão pavões, a ponto de não recusarem uma oferta de aparecer na TV, seja da forma que for, mas acredito que a vaidade deles seja do tipo normal, sem megalomania: eles não brigam contra a imagem pública que possuem, logo, não se estressam. O que importa é quem eles são por trás das câmeras, sujeitos provavelmente de bem com a vida.

Esse é o papel de Macchi no momento: mostrar que sua grandeza não está no seu 1m90cm, mas no desprendimento em saber brincar.

terça-feira, 6 de setembro de 2011



06 de setembro de 2011 | N° 16817
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


O bonde do tempo

Em algum momento, perdi o bonde do tempo. Não juro, mas desconfio que foi quando as modernas tecnologias invadiram sem licença minha vida. Hoje recebo uma imensa quantidade de e-mails, que me prometem céus e terras, mas poucos tocam meu coração.

É evidente que é agradável colecionar mensagens que falam com brandura de minhas crônicas. A essas respondo feliz e reconhecido porque significam que ergui pontes entre as ilhas dispersas do arquipélago humano.

Mas junto com elas me chegam mensagens absolutamente dispensáveis: eu passaria bem sem elas, inclusive as que me convidam a participar de redes sociais das quais quero distância.

Sinto falta das cartas. Em outras épocas, se alguma garota ou alguma dama quisesse manifestar apreço por um texto meu, escrevia belas e bem traçadas linhas em uma página pautada e colocava nos Correios, dentro de um daqueles envelopes margeados pelas cores verde e amarela. Eu recebia a oferenda com emoção..

Agora, tudo são operações informáticas, não raro com arquivos anexos que não sei desvendar. Não desgosto desses e-mails, mas sou obrigado a reconhecer que antes tudo era mais romântico, aí incluída a espera do carteiro, que até samba já rendeu.

Mas as novas – ou já nem tanto – tecnologias de computador não são as únicas. Uma simples operação bancária exige que eu conheça os mistérios de uma ou duas dezenas de teclas. O cheque escrito à mão vai virando artigo de museu.

Meu aparelho de som reúne tantos comandos quanto os de uma nave espacial de porte médio. E meu forno de micro-ondas requer um manual de instruções para ser pilotado.

Já o meu telefone é uma sopa de letras e algarismos que reclama um engenheiro de bordo. Quanto ao celular, foi por mim aposentado gloriosamente depois que descobri que me dava mais trabalho do que simples operações de contato com as pessoas.

Tudo isso é uma soma de fatores que só tem um resultado evidente. Na ânsia de simplificar a vida, nós a complicamos.

Não sei onde nos levará a ditadura dos códigos e das teclas. Pode ser que as crianças se acostumem desde cedo com esse admirável mundo novo.

Já eu sonho com os dias em que recebia cartas de amadas com duas gotas de perfume. 

sábado, 3 de setembro de 2011



04 de setembro de 2011 | N° 16815
MARTHA MEDEIROS


Tempos de amnésia obrigatória

A gente procura esquecer para poder ir adiante, mas que espécie de caminho trilhamos quando não enfrentamos a verdade?

Com diferença de poucos dias, uma amiga do Rio e um leitor aqui do Sul me enviaram vídeos protagonizados pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano. Em um, ele dá uma entrevista e, no outro, lê os próprios textos. Ambos os programas estão acessíveis pelo YouTube. Respeito as coincidências: como é que eu ainda não havia me dedicado a esse grande pensador humanista?

Num dos vídeos, Galeano aparece lendo seu texto “El Derecho al Delírio”, onde descreve como seria um mundo ideal, e aproveita para homenagear aqueles que insistem em não esquecer a própria história (a exemplo das mães da Plaza de Mayo) nesses tempos de amnésia obrigatória.

A partir daí não ouvi mais nada, pois considerei marcante essa expressão: tempos de amnésia obrigatória. O assunto mereceria um tratado. Amnésia. É o que explica tanta neurose e tanta infelicidade. A gente procura esquecer para poder ir adiante, mas que espécie de caminho trilhamos quando não enfrentamos a verdade?

Esquecer é uma estratégia de sobrevivência. Somos todos uns esquecidos crônicos. Pra começar, esquecemos de alguns descuidos que sofremos na infância, pois nos educaram para considerar pai e mãe infalíveis.

Dessa forma, nossas dores internas acabam ganhando o apelido de fricotes, só que esses fricotes viram traumas, e esses traumas minam nossa confiança na vida e sustentam os consultórios psiquiátricos, já que esquecer é uma forma de impedir a compreensão absoluta de nós mesmos e alguém precisa nos ajudar a lembrar para nos libertarmos.

Esquecemos os desaforos que tivemos que engolir durante um casamento ou namoro, tudo porque nos ensinaram que o amor deve ser forte o suficiente para aguentar os revezes da convivência, e também por medo da solidão, que tem péssimo cartaz.

Então, para nos enquadramos e nos sentirmos amados e estoicos, esquecemos as mentiras, as traições, os maus tratos, as indiferenças e mantemos algo que ainda parece uma relação, mas que deixou de ser no momento em que enfiamos a cabeça dentro do buraco.

Esquecemos em quem votamos, céticos de que em política nada muda, e em vez de investirmos nossa energia em manifestações de repúdio à corrupção, deixamos pra lá e seguimos em frente conformados com a roubalheira, desmemoriados sobre nossos direitos.

E esquecemos, principalmente, de quem somos. Dos nossos ideais, das nossas vontades, dos nossos sonhos, das nossas crenças, tudo em prol de uma adaptação ao meio, de uma preguiça em desfazer o combinado e buscar uma saída alternativa, de uma covardia que gruda na alma e congela os movimentos. Esquecer de nós mesmos é assinar um contrato com a resignação.

Obrigada, Galeano, por nos fazer lembrar: a amnésia é uma opção, não é obrigatória.


Orçamento 2012

Adendo ao Orçamento, com reajuste pedido pelo Judiciário e MP, custará R$ 7,7 bi à União

Após críticas do presidente do STF, Cezar Peluso, Planalto decide encaminhar ao Congresso um adendo que inclui a proposta original de aumento defendida pelo tribunal, de 14,7%

O senador Paulo Paim (PT-SP) lê carta da presidente Dilma no plenário do Senado


Mensagem da presidente Dilma foi lida pelo senador Paulo Paim (PT-RS) no plenário (José Cruz/Agência Brasil)

Em carta enviada à Mesa do Senado, a presidente Dilma Rousseff conclama os parlamentares a perseguirem a responsabilidade fiscal

Em sua justificativa, Dilma lembra os congressistas dos riscos para a economia em 2012 decorrentes da crise econômica internacional

A Mesa do Senado recebeu da assessoria parlamentar do Ministério do Planejamento o adendo à proposta de Orçamento da União de 2012 que inclui o reajuste do funcionalismo do Judiciário e do Ministério Público Federal. O aumento dos servidores, de acordo com mensagem da presidente Dilma Rousseff enviada ao Congresso, representará um impacto de 7,7 bilhões de reais no caixa da União em 2012.

A secretária-geral da Mesa Diretora do Senado, Cláudia Lyra, requereu prioridade na publicação do material à gráfica da Casa. Com isso, a previsão é que a proposta seja publicada no Diário Oficial do Senado ainda nesta sexta-feira.

Por pressão do Poder Judiciário, o governo teve de retificar a proposta orçamentária de 2012. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, classificou como "um equívoco" o corte feito pelo Ministério do Planejamento na estimativa de gastos dos juízes. O Planalto se viu obrigado, então, a encaminhar ao Congresso a proposta original de despesas que era defendida pelo tribunal.

Alerta – A mensagem da presidente aos parlamentares foi lida no plenário pelo senador Paulo Paim (PT-RS) e encaminhada à Comissão Mista do Orçamento. Na carta, ela justifica que, devido ao seu impacto significativo nas contas públicas, as despesas decorrentes do pedido de aumento de 14,7% defendido pelo Judiciário “não puderam ser contempladas” na proposta orçamentária para o ano que vem.

Dilma Rousseff destaca ainda a necessidade de priorizar o ajuste fiscal num ano de crise. “As propostas que ora remeto não foram incluídas na peça Orçamentária de 2012, em primeiro lugar, em função do quadro de incerteza econômica mundial, em que é indispensável que o Brasil mantenha uma realidade fiscal responsável que lhe permita lidar com sucesso com eventuais situações de crise”.

Para a presidente da República, o chamado à responsabilidade fiscal precisa ser levado a sério ante a possibilidade de agravamento das turbulências na economia global. Ele chama a atenção, particularmente, para o "risco de recessão em economias avançadas e forte volatilidade nos preços dos ativos financeiros”. Segundo Dilma, “várias economias” enfrentam problemas justamente por sua situação fiscal, com alto endividamento e déficit público. Diante deste quadro, o Executivo havia concluído ser viável um aumento de menos de 5% para o Judiciário.

Continuidade – A presidente defende ainda em sua mensagem que o país deve seguir em sua trajetória de equilíbrio fiscal, o que significa gerar resultados primários que permitam uma redução da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). Ela destacou ainda o desafio imposto ao setor público na tarefa de contribuir para que a inflação permaneça sob controle, além de abrir espaço para que o estado estimule o investimento e o emprego.

Esforço de todos os Poderes – Diante desse cenário, Dilma Rousseff defende que o esforço de contenção de gastos precisa ser compartilhado por todos os Poderes da República. Segundo ela, o Executivo já vem adotando uma política de moderação no crescimento de suas despesas de pessoal, privilegiando a execução de investimentos e de programas sociais.

Medidas como a defendida pelo STF, que promovem grandes mudanças para o funcionalismo, podem afetar a sociedade, diz a presidente. "A inclusão de propostas grandes de reestruturação para o funcionalismo federal prejudicaria a efetiva implementação de políticas públicas essenciais como as da saúde, educação e redução da miséria”, aponta.

“Um aumento excessivo na despesa primária do governo central traria insegurança e incerteza sobre a evolução da economia brasileira em um contexto internacional já adverso”, acrescenta.

RUTH DE AQUINO

Vamos criar a CCMEF?

Em vez de reviver a CPMF, sugiro criar a Contribuição dos Corruptos Municipais, Estaduais e Federais

Quem falar que resolve a saúde sem dinheiro é demagogo. Mente para o povo.”

Dilma está certa. É urgente. Em lugares remotos do Brasil, hospitais públicos são mais centros de morte que de cura. Não é possível “fazer mágica” para melhorar a saúde, afirmou Dilma.

Verdade. De onde virá a injeção de recursos? A presidente insinuou que vai cobrar de nós, pelo redivivo “imposto do cheque”. Em vez de tirar a CPMF da tumba, sugiro criar a CCMEF: Contribuição dos Corruptos Municipais, Estaduais e Federais.

A conta é básica. A Saúde perdeu R$ 40 bilhões por ano com o fim da CPMF, em 2007. As estimativas de desvio de verba pública no Brasil rondam os R$ 40 bilhões por ano. Empatou, presidente.

É só ter peito para enfrentar as castas. Um país recordista em tributação não pode extrair, de cada cheque nosso, um pingo de sangue para fortalecer a Saúde. Não enquanto o governo não cortar supérfluos nem moralizar as contas.

Uma cobrança de 0,38% por cheque é, segundo as autoridades, irrisória diante do descalabro da Saúde. A “contribuição provisória” foi adotada por Fernando Henrique Cardoso em 1996 e se tornou permanente.

O Lula da oposição dizia que a CPMF era “um roubo”, uma usurpação dos direitos do trabalhador. Depois, o Lula presidente chamou a CPMF de “salvação da pátria”. Tentou prorrogar a taxação, mas foi derrotado no Congresso.

Em vez de reviver a CPMF, sugiro criar a Contribuição dos Corruptos Municipais, Estaduais e Federais

A CPMF é um imposto indireto e pernicioso. Pagamos quando vamos ao mercado e mesmo quando pagamos impostos. É uma invasão do Estado nas trocas entre cidadãos. Poderíamos dizer que a aversão à CPMF é uma questão de princípio.

Mas é princípio, meio e fim. Não é, presidente?

“Não sou a favor daquela CPMF, por conta de que ela foi desviada. Por que o povo brasileiro tem essa bronca da CPMF? Porque o dinheiro não foi para a Saúde”, afirmou Dilma. E como crer que, agora, não haverá mais desvios?

Como acreditar? O Ministério do Turismo deu, no fim do ano passado, R$ 13,8 milhões para uma ONG treinar 11.520 pessoas. A ONG foi criada por um sindicalista sem experiência nenhuma com turismo. Como acreditar? A Câmara dos Deputados absolveu na semana passada Jaqueline Roriz, apesar do vídeo provando que ela embolsou R$ 50 mil no mensalão do DEM.

Como acreditar? Os ministros do STF exigem 14,7% de aumento para passar a ganhar mais de R$ 30 mil. Você terá reajuste parecido neste ano? O orçamento do STF também inclui obras e projetos, como a construção de um prédio monumental para abrigar a TV Justiça. É prioridade?

O Congresso gasta, segundo a organização Transparência Brasil, R$ 11.545 por minuto. O site Congresso em Foco diz que cada um de nossos 513 deputados federais custa R$ 99 mil por mês. Cada um dos 81 senadores custa R$ 120 mil por mês. São os extras. E o Tiririca ainda não descobriu o que um deputado federal faz.

“É sério. Vamos ter de discutir de onde o dinheiro vai sair (para a Saúde).”

Tem razão, presidente. Mas, por favor, poupe-nos de seu aspirador seletivo.

A senhora precisa mesmo de 39 ministérios consumindo bilhões? Aspire os bolsos gordos da turma do Novais, do Roriz, do Sarney. Apele à consciência cívica dos políticos e juí­zes que jamais precisaram do Sistema Único de Saúde.

Vamos criar o mensalão da Saúde. Um mensalão do bem, presidente. Corruptos que contribuírem serão anistiados. ONGs fantasmas, criadas com a ajuda de ministros & Cia., terão um guichê especial para suas doações. O pessoal que já faturou por fora com a Copa está convocado a dar uns trocados para a Saúde.

Enfiar goela abaixo dos brasileiros mais um imposto, nem com anestesia. Um dia nossos presidentes entenderão o que é crise de governabilidade. Não é a revolta dos engravatados em Brasília nem a indignação dos corredores e gabinetes. A verdadeira crise de poder acontece quando o povo se cansa de ser iludido.

Os árabes descobriram isso tarde demais. Deitavam-se em sofás de sereias de ouro, cúmulo da cafonice. Eles controlavam a mídia, da mesma forma que os companheiros do PT estão tentando fazer por aqui. Não deu certo lá. Abre o olho, presidente.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011


Jaime Cimenti

República a jato

Sete de setembro. Hora de pensar na Pátria. Pelo visto estamos evoluindo. Antigamente a paixão nacional era futebol, bumbum, Miss Brasil, trem maria-umaça, cerveja, cachaça, feijoada e etc.

Hoje nossa República anda a jato, ou melhor, a jatinho. Paixão nacional é LearJet, King Air, Citation etc. Embarque separado, horário flexível, nada de contatos inconvenientes com pessoas e eleitores chatos, questionadores e reivindicantes. Os empresários, políticos e demais poderosos sabem das coisas, o negócio é jatinho. Beleza pura. Dá até matéria para artigo da Veja e assunto para cronista rio-grandense.

Mas jatinho também pode dar problema, é bom o cara ser cauteloso. Um raposão do ramo disse esses dias que nesse negócio de jatinho é melhor seguir o ensinamento dos laboratórios para exames de urina: despreze o primeiro jato.

Conta a lenda que, depois de duramente pressionado pelos fiscais de impostos, um empresário graudão ligou para o governador e disse: tá bom, tá bom, eu pago os impostos, mas aí você paga a gasolina do meu jatinho, que usou na campanha para se eleger?

Sei lá, nem quero saber como acabou a história. Melhor não. Dizem que numa campanha federal uma turma tomou várias cevas e outras bebidas antes de embarcar num jatinho particular e aí, no interior da aeronave, acabaram tendo que fazer xixi em garrafas de água mineral. Só que as tais garrafas caíram no chão, que ficou encharcado de urina...

Dizem que levaram meses para desinfetar o tal jatinho. Mas é isso. Probleminhas fiscais e urinários à parte, vivemos em tempos modernos, supersônicos.

Esses passageiros de jatinhos são rápidos, ligeiríssimos mesmo, capazes de caçar avestruz andando de tamanco, dar nó em pingo d’água, colocar suspensórios em cobra e fechar a gaveta deixando a chave dentro. Agora, vamos combinar, aqui entre nós, helicóptero é muito perigoso, vive caindo, pode ser prejudicial à saúde. Melhor jatinho mesmo.

Ou jatão. Mais garantido, mais confortável e mais rápido. Helicóptero só mesmo aqueles grandes, gorduchos, quadradões, tipo avião, tipo aquele do presidente dos EUA. E agora vou me mandando a jato. Fuuuuuuuuiiiiiiii