sábado, 30 de setembro de 2023


30 DE SETEMBRO DE 2023
LEANDRO KARNAL

Já viajei bastante e já vivi muitas experiências. Porém, há muitas coisas que eu gostaria de ver neste terço final da existência. Tornou-se uma mania em livros identificar coisas ou lugares obrigatórios. Já encontrei Cem Filmes para Ver Antes de Morrer ou Cem Livros Indispensáveis para sua jornada neste planeta. A crônica é mais curta: tratarei sobre 10 tópicos. Serão fatos/tendências, imagens que me alegrariam muito antes do fim inexorável. Veja se algum desejo combina com o seu, iluminada leitora e esclarecido leitor. Complete ou substitua a lista.

1. Adoraria ver a aurora boreal. Fracassei nas tentativas anteriores. Um céu com cores variadas em raios de tom de opala. Deve ser algo incrível. Provavelmente eu, homem de poucas lágrimas, choraria em abundância diante do fenômeno.

2. Sonho com a ideia de estar em um barco ou na ponta de uma península, para ver baleias saltando no mar e caindo com estardalhaço. Uma azul, uma jubarte, uma orca; um baleal: deve ser muito emocionante! Já vi golfinhos, tubarões, arraias... Até o Nemo em corais. Nunca vi baleias livres e felizes no mar.

3. Tenho um delírio que é abrir o jornal e ver esta notícia: segunda, às 8h da manhã, as duas casas do Congresso estavam trabalhando arduamente, no plenário, por leis sobre saneamento básico, educação, investimentos estruturais e outras questões. Depois, no entardecer de sexta, exaustos, os nobres legisladores encerrariam o expediente. Sim, um deputado e um senador fazem muito trabalho em comissões e visitas in loco, eu sei. Porém, num dia, verei o Congresso fazendo o que todo trabalhador brasileiro faz. Num dia...

4. Sonho em entrar no aeroporto/rodoviária/estação de trem/ônibus e todas as pessoas estarem lendo. Sim, podem estar diante do celular, mas nada de vídeos com dancinhas: todo mundo lendo em papel ou nas telas, sorrindo, chorando ou franzindo o cenho diante de uma cena forte. Silêncio profundo e olhos concentrados. Um sonho...

5. Um delírio antigo! A aula deveria terminar ao meio-dia. O professor, cansado, tenta encerrá-la às 11h50min. Os alunos protestam e afirmam que ainda possuem 10 minutos de chances de descobertas, de aprofundamento, de novos insights. O mestre concorda, fala ainda mais e indica novos livros. Esse professor manda ler um conto, e os discípulos afirmam: "Só um? Não seria melhor ler uns quatro, ao menos, para perceber o estilo do autor?". Alunos conscientes dos seus protagonismos e cheios de interesse. Discípulos que superam os limites do tutor. Gente empolgada com sua própria formação... Quem sabe?

6. A reforma da sua casa foi prevista para dois meses. Deveria terminar dia 30 de novembro. Faltando 72 horas, o empreiteiro anuncia que a obra já está finalizada. O material comprado foi suficiente. O orçamento não necessitou de verba complementar. Tudo tem um acabamento perfeito. Você se despede do contratado com um aperto de mãos, feliz. Um sonho. Um delírio, talvez...

7. Encontro uma pessoa que gosta do meu trabalho. Ela se apresenta entre sorrisos. Faz umas perguntas curiosas e mostra que, de fato, lê e está informada do que eu penso e faço. Por fim, a fã se despede com alegria. Não são feitas as fotos. Nada é postado. Foi uma experiência pessoal sem ###. Fato único. Evento humano. Seres encontrando-se, apenas. O real basta e transborda. A vida flui, olho no olho, sem celular.

8. Uma pessoa adota um cachorrinho. Outra prefere comprar em um canil. Alguém adere ao mundo vegetariano. Outra come carne. Um é ateu e, ao seu lado, está um evangélico. Todos são felizes com suas escolhas. Ninguém "torra" ninguém. Desaparece o projeto missionário de converter o outro aos seus valores. Ninguém mais assume o papel de zelador da vida alheia. Um sonho antes da minha partida.

9. Antes de dar meu último suspiro, deliro com a ideia de acompanhar o desaparecimento da tecnologia de áudio em celulares. Ninguém mais envia mensagens sonoras. O mundo redescobre a escrita surgida na Mesopotâmia há quase 5 mil anos.

10. Por fim: deixemos de importar da Europa o péssimo hábito de considerar crianças um incômodo. Terminem os restaurantes e hotéis que não admitem crianças. Que o choro de uma criança em um avião seja encarado como sinal de vida e reação natural ao estresse da viagem. Todos entendam que o barulho infantil é muito mais saudável do que o silêncio amargurado de alguns adultos. 

Os pais devem fazer esforço pela boa educação dos seus rebentos, porém uma criança inteiramente adestrada é prenúncio de uma pessoa infeliz no futuro. Que as crianças corram, que riam, que chorem, que eructem. Que os pais estimulem a percepção do ambiente e, com palavras doces, indiquem que ali não é lugar de gritar. E que elas, rebeldes, façam da vida um valor maior do que a norma. Parece que estamos ficando intolerantes à vida. Sem os pequenos, não pode existir esperança.

LEANDRO KARNAL

30 DE SETEMBRO DE 2023
ARTIGO

OS DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO

NO BRASIL, O IDOSO É UM SOBREVIVENTE SOB VÁRIOS ASPECTOS, ESCREVE PSICÓLOGA

Ser idoso no Brasil é um exercício de muitos desafios e enfrentamentos. O idoso em nosso país é um sobrevivente sob vários aspectos. Essa população enfrenta a exclusão do mercado de trabalho onde eles são considerados incapazes e improdutivos para desenvolver alguma atividade laboral.

Diferentemente dos países asiáticos, onde velhice é sinônimo de sabedoria e experiência, no Brasil os velhos são vítimas do etarismo (preconceito, neste caso relacionado à faixa etária). Outros desafios da pessoa que passa a ser considerada idosa é ficar incapacitada de suas atividades cotidianas, tornar-se dependente dos seus familiares e lidar com o surgimento de doenças neurodegenerativas, como as demências.

As mudanças decorrentes dessa faixa etária, a partir dos 60 anos, envolvem modificações físicas, psicológicas, neurológicas e sociais, alterando a relação do idoso com as outras pessoas e consigo mesmo.

Em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou 32,9 milhões de pessoas com 60 anos ou mais residentes no Brasil. Isso significa que, em menos de 10 anos, esse número aumentou 29,5%. Estima-se que até 2060 chegue a 58,2 milhões de pessoas consideradas idosas. A conclusão é de que o Brasil está ficando velho, e precisamos unir esforços com cuidados de previdência e saúde, além de repensarmos nossas atitudes, preconceitos e estereótipos sobre o envelhecimento.

O fato é que a imaturidade das instituições sociais brasileiras retira a oportunidade de os mais velhos terem uma vida digna e produtiva. Os avanços tecnológicos e a globalização auxiliaram no bem-estar dessa população, porém ainda não podemos considerá-los como ideais.

O artigo terceiro do Estatuto do Idoso refere que: "É obrigação da família, comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária". 

Porém, o que ocorre efetivamente é que as políticas públicas garantidas pelo Estatuto do Idoso e pela Constituição não são trabalhadas adequadamente, com atendimentos difíceis de serem acessados e os idosos, na maioria das vezes, se sentem excluídos dos programas e da sociedade. Desta forma, o Brasil precisa criar esforços para lidar com a realidade atual: tornar as políticas públicas e sociais já existentes eficientes, além de criar novas.

Para isso, precisamos mudar os conceitos e pré-conceitos em relação aos mais velhos para que não sejam considerados inúteis para o trabalho e que tenham garantidos a saúde, o bem-estar psicológico e social, independência e participação em diferentes setores e contextos.

Com essa população mais longeva, é dever da família, da sociedade e do setor público olhar para os velhos com respeito e dignidade, contrariando julgamentos enraizados de que as pessoas senis são um fardo para a sociedade, como sinônimo de improdutividade, reconhecendo a extensa diversidade de suas experiências. É preciso oferecer a eles condições para que a longevidade seja acompanhada por qualidade de vida e bem-estar.

Referente a saúde mental, o mês de setembro foi escolhido para a conscientização e sensibilização da população sobre os riscos decorrentes do Alzheimer, doença neurodegenerativa progressiva que tem como características a atrofia lenta e progressiva do cérebro causando comprometimento na memória (perda da memória recente) e funções cognitivas, além de desorientação, depressão, afasia (distúrbio na fala), agressividade, irritabilidade, delírios, dentre outras. 

O diagnóstico das demências é clínico por meio de entrevistas, teste cognitivo e exames (laboratoriais e de imagem). Em geral, a pessoa pode demorar anos para saber que é portadora da doença, e o principal motivo para o retardo na procura por ajuda é pelo fato de os sintomas, como raciocínio lento, serem interpretados como consequências do envelhecimento. A atenção dos familiares é essencial, pois a pessoa normalmente não percebe esses sinais e pode negar quando advertido de alguma manifestação.

Além da importância do diagnóstico precoce, hábitos diários e estilos de vida podem auxiliar no retardo do quadro, como estimular o cérebro com leituras, aprender tarefas novas, fazer atividades prazerosas, exercitar-se regularmente, investir em trabalhos criativos, manter o controle do estresse, de exames e alimentação saudável. Ao ser diagnosticado precocemente, maior serão as chances de tratar os sintomas, retardando a evolução da doença, além de garantir um envelhecimento com maior qualidade de vida. E algumas estratégias terapêuticas podem ser utilizadas quando do diagnóstico positivo, como terapia ocupacional, acompanhamento psicológico e interação social.

Entender e aceitar as mudanças corporais da idade, as fragilidades funcionais causadas pela ação do tempo e as limitações físicas decorrentes desse período são essenciais para um envelhecimento saudável. Envelhecer não é uma escolha: faz parte do desenvolvimento humano e é mais uma etapa do ciclo da vida.

LECI MARIA SORIANO BOBSIN CORRÊA (*)

30 DE SETEMBRO DE 2023
BRUNA LOMBARDI

DO QUE RIMOS?

Tem um verso num dos meus livros que diz: "Das liberdades, meu amor, eu quero todas". A ideia de liberdade me acompanha desde criança porque fui criada com esse conceito. Não me deixar intimidar, restringir, acuar, diminuir. Não me sentir presa, nem obediente ao que não

concordo. Meus pais me ensinaram a me manifestar, defender, posicionar. Não é uma tarefa fácil para nenhuma mulher. Requer um esforço, uma atitude e atenção permanentes. Um estado de alerta e ataque a qualquer movimento ameaçador.

Requer abrir mão de conforto, segurança e comodidade para conquistar o próprio espaço e encontrar a própria voz. Com todas as perdas e danos que isso possa causar. Dúvidas, decepções, sofrimentos inevitáveis. Um preço caro para se livrar das amarras, correntes, censuras e auto censuras. Repressão interna e externa que bloqueiam o caminho.

Mas quero é falar sobre o humor. A força desfraldada e maravilhosa do humor. Do que rimos? Quais as coisas que nos fazem rir? A começar por nós mesmos. Rir do que nos acontece, do que erramos, do jeito que reagimos, é uma ótima maneira de aliviar a vida.

O pior de uma viagem vai ser sempre o mais engraçado para contar aos amigos. Pode ser ruim na hora, mas a gente sabe que um dia vamos rir disso tudo. O humor quebra barreiras, entra em lugares proibidos. A criança gargalha com o humor escatológico. O palavrão quebra a rigidez de certos comportamentos.

Mas desde muito cedo comecei a perceber um tipo de humor que me incomodava. Era o humor tácito do preconceito e tão familiar que estava em qualquer programa de TV. Era a piada sobre o gay, a feia, a gorda e assim por diante, ridicularizando e ferindo pessoas. Eu era adolescente e não achava a menor graça nisso.

Hoje, muita gente discute a ideia do politicamente correto, sem entender de fato a extensão que há por trás. O estigma. A marca indelével nas pessoas que são atingidas por essas flechas de humor que causam danos irreversíveis.

Se uma piada ri do preço barato de um puteiro de beira de estrada, está rindo exatamente do quê? O que existe por trás desse humor? A tragédia da miséria, do machismo, do abuso e violência contra a mulher. É bom rir disso?

Não se trata de censura e nem de politicamente correto, mas sim de humanamente concebível. Criamos um tipo de humor machista e preconceituoso que se repete há tanto tempo e se diz libertador.

Não, não é. Na verdade liberta toda uma sociedade de reforçar um comportamento tóxico, um preconceito estrutural, uma ferida social atenuada pela gargalhada.

Criei uma cena no nosso filme O Signo da Cidade, que deu prêmio de melhor ator ao brilhante Juca de Oliveira. Ele está numa cama de hospital e pede como último desejo ver uma mulher nua. Uma enfermeira se recusa e uma outra aceita. É uma mulher gorda, e a plateia ri antecipando a piada.

Em seguida, há um silencio profundo de todos diante de uma das cenas de maior afeto que já escrevi na vida. E todos compreendem que não é uma cena de humor, mas de extraordinária generosidade.

P.S.: podem assistir na Netflix.

BRUNA LOMBARDI

30 DE SETEMBRO DE 2023
J.J. CAMARGO

PREVENÇÃO DO REMORSO

"Muitas noites não consigo dormir de remorso das coisas que não fiz." (Mario Quintana)

Como de hábito, não valorizamos o que temos, até que nos falte, e desperdiçamos um tempo irresgatável, sem perceber que estamos armazenando remorso para pesar no futuro, depois que os amados se forem e a saudade bater, incômoda e inútil.

Cada vez que ouço alguém dizer que não passa um dia sem lembrar do seu pai ou sua mãe, só não pergunto para não roçar na ferida se essa necessidade afetiva significava uma chamada por dia, enquanto eles ainda estavam por aqui.

Provavelmente não, afinal estamos tão atabalhoados e além do mais sobram tantas desculpas, porque passaremos juntos o próximo fim de semana (ou será no feriado?). Melhor deixar pra lá, de qualquer modo, adiante teremos tempo de sobra para atualizarmos o papo. E assim, de transferência em transferência, vamos gastando um tempo de convívio que não temos a menor noção do quanto será.

Com muita frequência, comento com os alunos da faculdade que uma condição perigosa do tempo maravilhoso que significa a planície dos 20 anos é a ameaça de que a crise de autossuficiência exacerbada que caracteriza essa idade mantenha-os afastados de suas famílias. Na verdade, um grande indício da chegada da maturidade é a percepção de que, de repente, estamos carentes daquele cuidado que nos pareceu sufocante na adolescência. Não há nada de errado nesta sequência, mas há um risco, sim: o de que a descoberta do amadurecimento só ocorra depois que os avós já se foram.

Acho que nós, como guias circunstanciais da juventude posta aos nossos cuidados, temos obrigação de alertá-los do quanto é injusto que, por pura distração, percamos um convívio tão rico e carinhoso. A julgar pelo brilho dos olhos e os agradecimentos reiterados, esse comentário, de aparência despretensiosa, mexe muito com eles, e eu tenho me sentido bem ao admitir silenciosamente que possa estar despertando verdades adormecidas à espera de um grito de alerta.

O problema é que a juventude entorpece a noção do tempo.

Mas então passam as décadas, e um dia descobrimo-nos confortáveis na fila de "prioridades por lei" para embarque no aeroporto. Se houver isenção para julgar as nossas desídias, teremos que assumir o completo despreparo para encarar a finitude, nossa e dos nossos queridos. Simplesmente porque sempre nos parecerá menos mórbida a negação.

Uma pesquisa instigante, comandada por um psicólogo espanhol (Rafael Santandreu), foi baseada na observação de que a valorização teórica da nossa dependência afetiva não combina como nossas atitudes porque, segundo ele, nosso cérebro está programado para não pensarmos no tempo que nos resta, o que nos induz a acreditar que sempre teremos outras oportunidades.

Usando critérios estatísticos, baseados na idade de cada par estudado, no número de vezes que se visitam e na duração desses encontros, foi possível projetar o tempo que eles teriam para passar com seus entes queridos.

Os amigos estudados confessaram que esperavam conviver muitos anos, e a informação de que esse tempo se contava em poucas semanas e, em alguns casos, não mais do que dias, gerou uma comoção.

Igualmente chocante foi a estimativa de que os sobreviventes dos próximos 40 anos gastarão 520 dias vendo séries, oito anos assistindo à televisão e 10 anos explorando a internet.

Validados estes números, com grande chance de terem sido subestimados, o futuro determinará, inapelavelmente, a substituição da saudade pelo remorso.

J.J. CAMARGO


30 DE SETEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

NOVA ARCA DE NOÉ

As chuvas quase contínuas, que destruíram e mataram, nos fazem exclamar: "O tempo está ficando louco". Em verdade, os loucos somos nós, que nos negamos a aprender com a natureza, sem perceber o perigo das mudanças climáticas, causa profunda do desastre de agora. Com a enxurrada esquecemos a seca de meses atrás, que dizimou parte de nossa agricultura. É impossível saber o que é pior - se a seca ou a chuvarada -, pois não se trata de uma competição em que cada lado procura superar o outro.

A chuva deve continuar e não dar trégua. Culpa-se o El Niño, como se o fenômeno fosse um fantasma que surge sem explicações, quando - de fato - é obra nossa. Cada um de nós (do mais humilde ao nababo com milhões) tem culpa direta ou indireta. A chuvarada enlouquecida que destruiu cidades, deixou milhares desabrigados e também matou é consequência do efeito estufa que leva à crise do clima.

Além da destruição, há coisas impossíveis de se esquecer. Em Porto Alegre, fecharam apressadamente, com retroescavadeiras, o mal conservado muro da Avenida Mauá para que a água não atingisse o centro da cidade, como em 1941. Naqueles anos ainda não se falava em crise climática, mesmo que ela já existisse, e a regra era cortar florestas. A noção de meio ambiente (e a própria palavra) sequer constava da linguagem. Hoje, as comportas e a antiga ponte do Guaíba são nossos guardiões contra a incontrolável chuvarada.

Hoje, há órgãos internacionais que, a partir da natureza, apontam os perigos. No Brasil, temos um Ministério do Meio Ambiente e do Clima, e aqui secretarias estadual e municipais, mas atuando quase só na formalidade burocrática.

Já pensaram no que teria ocorrido se a tal mina a céu aberto, à margem do Rio Jacuí, houvesse sido implementada? As chuvas e os alagamentos levariam de roldão os detritos da mina e o carvão acumulado, que infestariam o Guaíba e os demais rios. E a Capital e toda a Região Metropolitana ficariam sem água e o cheiro da peste completaria o horror.

Só uma imensa nova Arca de Noé nos salvaria, então, do novo dilúvio podre.

FLÁVIO TAVARES

30 DE SETEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

OCUPAÇÃO EM ALTA

O mercado de trabalho no país segue apresentando bom desempenho, renovando o fôlego do PIB para o restante do ano, ao menos. Mais gente com ocupação significa maior potencial de crescimento da economia via mercado interno. A melhora da renda, em um momento de inflação comportada, em especial em itens básicos, como alimentos, importa em mais recursos disponíveis para o consumo. E assim a roda gira.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou na sexta-feira uma série de indicadores positivos, que vão além do número mais importante, o do desemprego. A taxa de desocupação no trimestre encerrado em agosto ficou em 7,8%. É a menor para o período desde 2014. Representa ainda uma retração de 0,5 ponto percentual na comparação com o recorte de três meses imediatamente anteriores, até maio. E 1,1 ponto abaixo de um ano atrás.

Cresceu a população ocupada, inclusive com carteira assinada, onde estão os postos de trabalho de maior qualidade, com proteção social. Caiu a taxa de subutilização da mão de obra. Ou seja, há menos brasileiros trabalhando menos do que gostariam. O desalento, que representa o contingente que desistiu de procurar ocupação, foi menor. A renda real habitual, de R$ 2.947, variou 1,1% na comparação trimestral e 4,6% em 12 meses. Desperta especial atenção a massa de rendimentos. Alcançou o valor recorde de R$ 288,9 bilhões. Trata-se da soma dos ganhos recebidos pelos trabalhadores. Demonstra o momento favorável da economia brasileira, com projeções de crescimento do PIB para o encerramento do ano na ordem de 3%, a despeito de uma já esperada desaceleração da atividade na margem.

A aproximação do final do ano deve fazer a taxa de desemprego no Brasil cair ainda mais. É um fenômeno também sazonal, devido às tradicionais contratações temporárias. Mas em períodos de maior confiança de empresários e consumidores, é natural que a efetivação também cresça, elevando os postos permanentes. Tudo aponta, portanto, para um fechamento de 2023 satisfatório em termos de mercado de trabalho, carregando efeitos benéficos para o início de 2024.

Na economia, porém, nunca o jogo está ganho. O momento positivo merece ser saudado, mas não deve obscurecer sinais inquietantes que podem vir a ter efeitos mais a médio prazo. Um destes alertas está na situação fiscal do país. Também na sexta-feira foi divulgado pelo Banco Central (BC) que as contas do setor público consolidado - que incluem o governo federal, a Previdência e o próprio BC - registraram déficit primário de R$ 79 bilhões nos oito primeiros meses do ano, revertendo superávit do mesmo período de 2022. O resultado foi puxado negativamente pelo governo federal.

Nota-se nos últimos meses que, enquanto os gastos crescem, a receita vem decepcionando. É fundamental o governo não ignorar a questão e enfrentá-la, inclusive na ponta das despesas. O Congresso tem a mesma responsabilidade. Sinalizar leniência significa alimentar o risco inflacionário e reduzir o ciclo de corte de juro pelo BC. Ainda mais devido ao aviso dos EUA de que poderão voltar ao aperto monetário. No front interno, a manutenção da confiança dos agentes econômicos - consumidores, empresários e investidores - depende da percepção de que os fundamentos não se deteriorarão.



30 DE SETEMBRO DE 2023
+ ECONOMIA

Melnick recebe prêmios e reavalia obra

A gaúcha Melnick recebeu dois "Oscar da construção" nacional. Foi premiada em duas categorias do Prêmio Master Imobiliário: produto do ano, com o Nilo Square (foto ao lado), projeto em parceria com a Dallasanta, e de comercialização, com o Melnick Day, evento de vendas realizado há 12 anos. Ao comentar os prêmios à coluna, o CEO da empresa, Leandro Melnick, disse que o projeto de um prédio de 41 andares no Centro Histórico terá adaptações, não pela polêmica provocada, mas por ainda estar em fase de aprovação.

Leandro observa que a Melnick já havia recebido um "Oscar da construção" pelo Pontal, mas é a primeira vez que recebe dois na mesma edição. O Prêmio Master Imobiliário se espelha no Prix d?Excellence, concedido pela Federação Internacional Imobiliária (Fiabci) e criado em 1994 por Fiabci-Brasil e Secovi-SP. Por isso, é um dos que têm mais credibilidade no segmento. Esse tipo de premiação dá visibilidade nacional, mas o CEO afirma que a empresa mantém foco na Região Sul.

Sobre o projeto polêmico do edifício na Avenida Duque de Caxias, Leandro afirma que faz parte do esforço da cidade para revitalizar o Centro Histórico. Lembra que estavam previstos elevadores de uso público para ligar a Cidade Baixa à antiga cidade alta, onde se concentram as sedes de poderes públicos de Porto Alegre, além de um restaurante, também aberto à população em geral, no terraço.

- Entramos em um projeto com a estrutura legal definida pela prefeitura, não na atual administração, há mais tempo - argumentou.

A coluna perguntou se poderia haver adaptação do projeto, diante da reação de entidades, e o empresário admitiu:

- Faz parte da aprovação essa conversa com as partes relacionadas. Como está, terá impactos positivos. Mas está em tramitação, que vai levar a várias adaptações. Mas não por essa polêmica que surgiu, mas porque é parte do processo de tramitação.

Para ensinar, é preciso antes praticar

O primeiro colégio a adotar o Sistema Anglo em Porto Alegre vai ensinar e praticar sustentabilidade. As atividades da escola, que resultam de investimento de R$ 15 milhões, devem se iniciar em 2024.

Como tem atividades ambientais previstas no currículo - uma esperança de que as novas gerações tenham mais facilidade do que a atual para lidar com as mudanças climáticas -, o Colégio Anglo já adotou várias medidas para reduzir seu impacto.

Uma das ações é a instalação de placas para captação de energia solar para obtenção de energia limpa, renovável e própria. As 42 placas fotovoltaicas no prédio vão reduzir custos e a demanda de energia elétrica regular, e serão complementadas por adoção de equipamentos, rede elétrica e lâmpadas com mais eficiência energética.

A redução no consumo prevista é de cerca de 25% ao mês em relação ao total estimado para o pleno funcionamento, o que significa uma redução projetada de quase 30 mil kWh por ano.

Também haverá gestão de recursos baseada na Política Nacional de Resíduos Sólidos. O colégio vai seguir os princípios de redução, reutilização e reciclagem, com destinação adequada aos que necessitem de coleta especial. A composteira para orgânicos será integrada à horta escolar, que terá cuidado dos estudantes. Haverá cisterna para coleta de água da chuva, com utilização do volume armazenado para limpeza e manutenção de jardins.

A cantina será focada em alimentos orgânicos e de origem local, com redução de ultraprocessados. Às segundas-feiras, serão oferecidos alimentos vegetais alternativos com potencial de mitigação na demanda de água na origem.

MARTA SFREDO

O que vai mudar na eleição de 2024

Pleito municipal terá estreia das federações e redução no limite de candidaturas a vereador; minirreforma ainda pode alterar as normas

Quatro anos depois de uma eleição realizada em meio à pandemia de covid-19, marcada por restrições e precedida por uma campanha abafada por máscaras e limitada pelo distanciamento social, os 156,5 milhões de eleitores brasileiros terão oportunidade de escolher quem governará seus municípios em 2024. No pleito marcado para o dia 6 de outubro, estarão em jogo 5.570 prefeituras e quase 60 mil cadeiras em câmaras de vereadores espalhadas pelo país.

Faltando pouco mais de um ano para a votação, candidatos, militantes e eleitores ainda não sabem ao certo quais serão as regras da disputa. Aprovada na Câmara dos Deputados no último dia 13, a minirreforma que altera uma série de pontos do sistema eleitoral tem futuro incerto no Senado e corre risco de ser engavetada. Para que possa vigorar no ano que vem, a proposta precisa, além do aval dos senadores, ser sancionada pelo presidente da República até a próxima sexta- feira, dia 6.

Com ou sem reforma, é certo que haverá inovações, em razão de normas já aprovadas. A principal é a estreia das federações partidárias nas eleições municipais.

Concebidas em 2021 como forma de unir siglas com semelhança ideológica e salvar da extinção os partidos pequenos, as federações têm abrangência em todo o país. Entre outras regras, impõem que os partidos lancem candidatura única a prefeito, formem a mesma chapa para vereador e sigam unidos depois da eleição.

Com isso, se dois partidos federados são rivais em determinado município, terão de chegar a um acordo até o ano que vem, visto que precisarão concorrer unidos.

- Por força desse desenho da federação ser feito de cima para baixo, será um grande desafio replicar a união dos partidos nos municípios, já que cada um tem suas particularidades - prevê o promotor Rodrigo López Zilio, coordenador do Gabinete de Assessoramento Eleitoral (Gael) do Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Funil

Outra novidade confirmada é a redução do número de candidatos a vereador. Em 2020, primeira vez em que os partidos disputaram vagas proporcionais sem coligação, houve recorde de postulantes em todo o país. No entanto, uma lei aprovada em 2021 reduziu o número máximo de candidaturas.

- Em 2020, cada partido podia lançar até 150% de candidatos do número de vagas em disputa. Em Porto Alegre, que são 36 vagas, cada partido podia lançar até 54 candidatos. Agora, esse número se reduziu para 100% mais um. Ou seja, 37 - explica o advogado Lucas Lazari, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).

PAULO EGIDIO 


30 DE SETEMBRO DE 2023
POLÍTICA +

Pó Pelotense

Afastado da prefeitura de Cachoeira do Sul na manhã de quinta-feira, em uma operação batizada de Fandango pelo Ministério Público, o prefeito José Otávio Germano publicou nota no Jornal do Povo dando seu ponto de vista sobre a ação.

Na nota, José Otávio começa dizendo que foi acordado violentamente em sua casa, com a quebra da porta, às 6h da manhã, por cerca de 10 policiais e uma promotora.

"Procuraram droga. E confundiram pó pelotense com droga, pois utilizo em minhas feridas e assaduras por recomendação médica. Pedi para fazerem o teste ou algo do tipo e não quiseram fazer. Já saíram me acusando", escreveu.

Em outro trecho, desabafou: "Estou triste. Violentado. Me sinto perseguido". Às vésperas de completar um mês da tragédia que arrasou o Vale do Taquari e fez deste mês que está findando um setembro de luto, é preciso destacar dois pontos positivos que emergiram da enchente: a solidariedade e a união de antigos adversários.

A coluna faz questão de destacar a união de forças entre políticos de diferentes partidos. Antigas divergências ficaram para trás em nome da necessidade de ajudar a socorrer as vítimas, alimentar os abrigados em ginásios, distribuir roupas e recuperar as perdas na agricultura, na indústria e no comércio.

Aquelas letras ou palavras que vêm entre parênteses depois dos nomes das autoridades tornaram-se uma informação irrelevante. Aos prefeitos dos municípios em estado de emergência ou de calamidade pública não se perguntou a que partido pertencem antes de anunciar ajuda. Poderiam dizer, parafraseando o desgastado slogan de campanhas políticas, que seu partido é o Rio Grande.

Na quinta-feira, um dia depois de conversar com o presidente Lula, em Brasília, o governador Eduardo Leite começou o dia recepcionando a primeira-dama, Janja da Silva, e a comitiva de ministros, em Lajeado, e terminou visitando áreas de risco ao lado do prefeito Sebastião Melo. De helicóptero, os dois sobrevoaram as ilhas alagadas. Pé no chão, circularam pela Vila dos Sargentos e outras áreas miseráveis de Porto Alegre.

ROSANE DE OLIVEIRA

30 DE SETEMBRO DE 2023
MARCELO RECH

O golpe travado

Um comentário do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno na CPI dos Atos Golpistas evocou uma dúvida e uma constatação importantes. A certa altura, Heleno afirmou que Jair Bolsonaro "não aceitou nenhuma proposta que pudesse causar um abalo profundo no país e até uma guerra civil". A dúvida: se o ex-presidente não aceitava nenhuma proposta, por que não mandou logo seus seguidores para casa? A constatação: Bolsonaro admitia que uma ruptura poderia causar uma guerra civil.

Some-se a fala de Heleno com a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e tem-se uma pista de que o país realmente passou perto do abismo de um conflito sangrento. Segundo Cid, Bolsonaro consultou os comandantes militares sobre a minuta de um decreto golpista e, dos três, recolheu o apoio do comandante da Marinha, Almir Garnier dos Santos, o único, por sinal, a se recusar a passar o comando a seu sucessor.

A desagregação entre os ex-comandantes, que poderia culminar em um impensável confronto entre as forças ou entre oficiais-generais e subordinados, é mais uma obra da gestão desastrosa de Bolsonaro para a unidade e a imagem das Forças Armadas. Três décadas de profissionalização, disciplina e respeito institucional iriam para o lixo caso o Brasil se tornasse mais uma república bananeira, onde militares e tiranetes se aliam para desmerecer o resultado das urnas. Em caso de ruptura, uma guerra interna, com golpistas e defensores da legalidade em lados antagônicos, teria sido de fato um cenário plausível.

O papel do TSE, do Congresso e de instituições civis contra o golpe é bem conhecido, mas ainda está por emergir a linha de defesa da democracia montada por oficiais mais graduados, inclusive pelo almirantado que se opôs à tentação de seu ex-comandante. Nem a Marinha e nem as outras forças embarcaram em quarteladas porque resistiram a toda sorte de pressões e baixarias. Alguns oficiais-generais, e até suas famílias, foram ameaçados e achincalhados nas redes sociais por fanáticos sem limites. Os ataques de baixo nível só acabaram por reforçar as convicções contrárias aos delírios dos extremistas.

Junte-se a essa resistência a contenção exercida pelo então vice-presidente Hamilton Mourão, que se viu no fogo cruzado entre bolsonaristas fanatizados e esquerdistas rancorosos. Mourão foi um dos poucos no governo a apontar para o inevitável isolamento do Brasil em caso de "intervenção militar" e se manifestou abertamente contra qualquer aventura, por mais que desaprove Lula. Essa, aliás, foi a síntese do sentimento dominante que travou o golpe na caserna. Não interessa se no poder há um Bolsonaro, um Lula ou outro. Goste-se ou não do eleito, cabe às Forças Armadas, como a todos nós, respeitar o resultado das urnas e a democracia.

MARCELO RECH

sábado, 23 de setembro de 2023

23/09/2023 - 09h00min
Martha Medeiros

Cavalgar nunca será o mesmo que andar de bicicleta ou moto; é um ser vivo carregando outro

Há uma desconcertante troca de energia; de respeito; comunhão; ancestralidade. Cavalgar nunca será o mesmo que andar de bicicleta ou moto; é um ser vivo carregando outro

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Poucos anos atrás, descobri, através de um ritual xamânico, que meu animal de poder é o cavalo. Segundo a crença, cada um de nós possui um animal espiritual que serve como guia e aliado, nos orientando em situações difíceis. Gostei de saber que o meu é o cavalo, símbolo da liberdade e da força, apesar de não fazer ideia de como invocá-lo (não sou boa em pedir ajuda). Como tudo que envolve espiritualidade, imagino que ele esteja dentro de mim e não fora. Me socorre instintivamente.  

Minha primeira tentativa de galopar, quando criança, foi um desastre, quase caí. Desde então, alimentei meu fascínio por cavalos olhando-os à distância, sem nunca mais chegar perto. Só depois dos 40 é que fiz a segunda tentativa, que foi mais bem-sucedida. Hoje, quando surge a oportunidade, domino o medo (que ainda sinto) e monto. E, a cada vez, é um acontecimento triunfal. Cavalgar nunca será o mesmo que andar de bicicleta ou moto. É um ser vivo carregando outro. Há uma desconcertante troca de energia. De respeito. Comunhão. Ancestralidade.  

Mas quem comanda quem?  

Pode parecer que elegi este assunto inspirada pela Semana Farroupilha, tão cara aos gaúchos, mas a gaúcha que me trouxe até aqui foi a cineasta Flavia Moraes e seu belíssimo documentário Visions in the Dark, em que ela aprofunda a relação entre o cavalo, o homem e a natureza. Mesmo quem não se interessa pelo assunto lembrará que bons filmes são sobre o que a gente sente, não sobre o que a gente vê (e se fosse o caso, compensaria: Flavia é uma artista, cada cena é uma pintura).      

Nos ambientes em que cavalos e homens são parceiros de lida, a masculinidade predomina através de virtudes como coragem e determinação. Mas, até neste reduto, a mulher vem conquistando espaço e propõe reflexões que, já funcionando em tantas outras áreas, começam a funcionar no campo também. Força é um substantivo feminino. A nossa não se manifesta através da agressividade e da disputa pelo controle. Saímos das cozinhas e das salas de costuras para, ao lado dos homens, domar este mundo selvagem, mas o processo pode ser feito de forma menos violenta. Cavalos são animais majestosos e livres. Não são de ninguém, apenas deles mesmos. Assim como você, assim como eu. Tanto eles quanto nós podemos ser “amansados” através da escuta, da confiança, do amor e da integração com o entorno. 

Tradições não precisam morrer, basta que sejam atualizadas. Em tempo de crises relacionais, em que cada um tenta subjugar para não ser subjugado, o filme transcende e nos desperta para o óbvio: estamos todos aqui para proteger-nos mutuamente, não para nos prevalecer. Ninguém comanda ninguém. Menos poder, mais instinto, e chegará o dia em que cada um socorrerá o outro.


23/09/2023 - 09h00min
Claudia Tajes

Tire o seu pinto do meu caminho

Aviso: só apareçam se forem chamados. Algum desconhecido já te mostrou o pinto em um lugar público – o ônibus, a rua, um bar?

Pode perguntar para qualquer mulher, e desde já meus parabéns para as que responderem que não. Algum desconhecido já te mostrou o pinto em um lugar público – o ônibus, a rua, um bar? Fiz esse Datapinto com amigas de diferentes idades. Só uma disse que mostrar, o sujeito não mostrou. Em compensação, pegou a mão dela à força e botou lá, na zona da desgraça.

Homens que não se imaginam fazendo uma bandalheira dessas, isso acontece. E não existe um tipo físico ou uma idade específica para se sofrer um abuso assim – ainda que, obviamente, mulheres jovens sejam sempre mais assediadas. Assim como o tarado não escolhe hora e nem local para mostrar o pinto, ele também não escolhe a vítima. É mais uma questão de oportunidade.

Esses dias escrevi sobre o beijo que o ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol tascou na jogadora Jenni Hermoso e fui chamada de mimizenta em vários comentários e e-mails. Todos de homens. Não sei se reagiriam do mesmo jeito se o beijo forçado fosse em alguém da família deles. Mas espero que mesmo eles tenham achado absurda a cena dos estudantes de Medicina de duas universidades particulares, Santo Amaro e São Camilo, com os pintos de fora durante um campeonato de vôlei feminino no interior de São Paulo.

A imagem é deplorável. Do nada, um bando de otários com as calças arriadas entra na quadra e dá uma volta olímpica. Um que outro ainda conserva a cueca durante a presepada, mas a maioria sai abanando o troço e achando muita graça naquilo.

Parece que a coisa é um hábito local entre torcidas rivais: uns mostram o pinto, outros respondem mostrando a bunda – meninas inclusive. Se é uma tradição do interior paulista, credo. Prefiro mil vezes o nosso Interior, com as feiras do livro e as festas das frutas.

Uma parte dos sem calça ainda teria simulado uma masturbação coletiva na arquibancada. Existem vídeos, mas os acusados negam, dizem que era apenas uma coreografia. Uma estranha coreografia em que a mão se mexe o tempo todo, mas OK. Observemos o devido processo legal, não se condena ninguém sem provas. 

Todo mundo mostrando a mão para ver se nasceu pelo.

A volta olímpica dos pintos foi em abril, mas as imagens vazaram só agora. Embora o barulho nas redes, a Santo Amaro e a São Camilo não deram muita importância ao caso, pelo menos até a entrega desta coluna. Acho que deviam. A ética que a gente espera de um médico não tem que começar na universidade?

Felizmente, a cultura de achar que o pinto pode tudo está mudando. 

Já passou do tempo. Uma prova são as denúncias que têm revelado tantos abusadores, alguns que a gente olha e diz: mas o seu Fulano, tão distinto, quem diria? Quando eu era guria, cansei de descer do ônibus porque algum sujeito tinha encostado ou mostrado o pinto – não sei o que era pior. Hoje em dia, quem sai do ônibus é o tarado, e direto para a delegacia.

Uns chamam de mimimi. Para as mulheres, é respeito.

Recadinhos. As bibliotecas do Interior precisam de livros para repor o que foi perdido nas enchentes. Livros de literatura em bom estado podem – devem! - ser doados na nossa linda Biblioteca Pública da Rua Riachuelo e nas demais bibliotecas municipais e estaduais. 

E para não perder: de 28 a 30 de setembro, o Esquenta Porto Verão Alegre apresenta atrações como Anelis Assumpção, Maitê Proença, Alice Caymmi, Marcos Breda e Winnie Bueno. Informações no instagram.com/portoveraoalegre.



23 DE SETEMBRO DE 2023
CARPINEJAR

Troca de gerência

O homem perdeu a vez. Teve séculos e séculos para aprender a pedir a mulher em casamento, e jamais alcançou a alta performance. Pelo contrário, colecionou fiascos e vexames.

Quais são os relatos das noivas? "Ele estava nervoso, estava sem jeito, estava incompreensível, estava maluco, estava confuso, estava com meias de pares trocados?"

Não há um feedback positivo. Está na hora de transferir o rito para quem tem mais experiência e traquejo para a felicidade. O homem deve aceitar a sua incompetência.

Falta determinação de sua parte. Cria suspense sem necessidade. Engasga-se com o discurso. Vaza a surpresa para os amigos. Compra o anel na joalheria com o número errado mesmo levando cola. Não sabe diferenciar uma bijuteria de um brilhante. É capaz de extraviar a aliança em algum dos seus bolsos do casaco, ou esquecê-la como um Sonrisal dentro de um cálice de espumante. Quando vai se ajoelhar, acaba rezando ou sentindo câimbras.

Se não fossem os garçons, nada aconteceria, tudo ficaria oculto na covardia. Metade dos pedidos de casamento foi salva pelos garçons, que tentam melhorar um pouco o planejamento amador do evento colocando velas na mesa, administrando o tempo das refeições, incentivando ao fundo com aplausos.

Se o ato deu certo, significa que alguém organizou pelo noivo.  É o momento de demitir o homem por justa causa desse papel. Não nasceu para isso. É um fracasso tanto para casar como para se divorciar. Ainda é muito filhinho da mamãe, cheio de culpas, projeções, ato falhos.

Tampouco desfruta de timing do relacionamento. Só pede a mão tarde demais, quando já cansou o seu par, como um último esforço para reconquistá-lo, como derradeira cartada para não restar sozinho. Ou porque pisou na bola e busca pagar a dívida com uma nova dívida, ou porque já se mostrou um chato e anseia pela redenção a partir de uma maior responsabilidade.

Ele confunde casamento com reconciliação, um modo de abafar as desconfianças e as crises. Sempre faz a declaração quando o namoro não está bom, ou quando morar junto já é um tédio, ou quando a química não funciona mais.

O romance encontra-se por um fio, e ele quer banhar os problemas com o ouro.

Pede quando a relação parte para o finzinho do segundo tempo, com time desorganizado diante da derrota iminente, à base do chuveirinho desesperado na pequena área. Pede apenas quando não tem nenhuma outra opção, não tem nada melhor para oferecer.

Cria constrangimentos com plateia ao redor, tirando a liberdade de escolha, impedindo qualquer chance de que ela diga não. ua parceira vem pensando em se separar e ele aparece com uma proposta na contramão da verdade, absolutamente fora da realidade da convivência.

Para o bem da reputação do amor, deixe o noivado para a batuta da mulher. Não irá enrolar, não agirá de forma infantil. Será mais decidida, mais criativa, mais sensível para perceber o momento ideal. Pedirá o namorado em casamento na época certa, quando os laços estão fortes e seguros, quando ainda existe o brilho nos olhos.

CARPINEJAR


23 DE SETEMBRO DE 2023
LEANDRO STAUDT

50 anos da freeway

Um Corcel marrom, em Porto Alegre, e um Fusca preto, em Osório, foram os primeiros veículos que entraram na freeway após a inauguração. Pontualmente, às 6h de 27 de setembro de 1973, a Polícia Rodoviária Federal liberou o trânsito na primeira autoestrada do Brasil. No final da tarde do dia anterior, o presidente Emílio Garrastazu Médici inaugurou a rodovia e, numa comitiva de aproximadamente 200 veículos, percorreu os 96,4 quilômetros entre Porto Alegre e Osório.

A BR-290 deixou mais rápida a viagem entre a Região Metropolitana e o Litoral Norte, deslocando o trânsito da Estrada Velha (ERS-030). A nova rodovia permitiu a ligação da BR-101 com a ponte do Guaíba, facilitando os deslocamentos rumo à Argentina e aos outros Estados brasileiros.

A obra da freeway começou em 1970 e envolveu mais de 3 mil operários. Originalmente, a estrada de duas pistas somava quatro faixas, duas em cada sentido. Em Porto Alegre, as entradas e saídas eram apenas pelas avenidas Castello Branco e Assis Brasil. As alças para acesso à BR-116, rumo a Canoas e ao aeroporto, são posteriores.

A nova estrada exigiu muita atenção dos patrulheiros rodoviários. A velocidade máxima era 120 km/h. Motoristas, acostumados com vias esburacadas e cheias de curvas, ganharam uma "pista de corrida", de ótimo asfalto e longas retas. Sem postos de abastecimento no trecho, policiais alertavam que os veículos precisavam ter combustível para toda a viagem.

Nas primeiras horas após a liberação, o policiamento teve uma amostra do que seria rotina nas décadas seguintes. Caminhoneiros dormiram ao volante na monótona viagem. Na primeira noite, um caminhão Mercedes Benz, de Torres, carregado de frutas e legumes, saiu da pista.

A freeway foi a primeira rodovia pedagiada no Rio Grande do Sul. A cobrança começou em 20 de novembro de 1973.

Além do desenvolvimento econômico do Estado, a autoestrada teve papel fundamental para mudar o veraneio dos gaúchos. O porto-alegrense migrou das praias do Guaíba para o Litoral Norte. Grandes cidades surgiram à beira do Atlântico.

LEANDRO STAUDT

23 DE SETEMBRO DE 2023
ARTIGO

SOLIDARIEDADE QUE COMOVE

Quando empossado, nenhum prefeito imaginava administrar um cenário como a catástrofe climática do Rio Taquari, que destruiu vidas, sonhos e patrimônio em diversos municípios. Nós, os prefeitos de Encantado, Muçum e Roca Sales, estamos desafiados a dar respostas à população para resolver uma crise humanitária que temos dificuldades de dimensionar.

Não sofremos uma enchente, mas uma devastação, que varreu as áreas centrais de Muçum e Roca Sales e causou enormes estragos em Encantado. Excesso de precipitação de chuvas com rapidez e violência surpreendendo moradores, autoridades e a Defesa Civil.

Felizmente, contamos com a consciência e a bondade da nossa gente em ajudar através de doações aos desabrigados, com alimentação, roupas, medicamentos, produtos de higiene e limpeza, móveis, eletrodomésticos, entre outras carências. E o esforço e dedicação de milhares de voluntários anônimos e entidades de diversos setores profissionais e até de lazer que trabalham na distribuição de donativos, refeições, limpeza e na remoção de entulhos.

Na reconstrução, temos a ação do governo do Estado, coordenada pelo vice- governador, Gabriel Souza, sediado em Encantado. O governo federal presta seu apoio com a visita do presidente em exercício, Geraldo Alckmin, e o suporte de organismos oficiais. O Estado e a União sinalizaram a concessão de recursos para a restauração das áreas e a retomada da economia para a recuperação de empresas e empregos. Tem sido fundamental a cooperação dos prefeitos da Associação dos Municípios do Alto Taquari (Amat), presidida pelo incansável Tiago Michelon, de Vespasiano Corrêa.

A solidariedade é comovente e estimula as autoridades e os cidadãos a serem otimistas e acreditarem na superação, pois temos a perseverança dos imigrantes que fundaram nossas cidades. Deles herdamos uma cultura de trabalho, obstinação e persistência, que faz do Alto Taquari uma referência em desenvolvimento.

Pedimos a compreensão e a paciência da população atingida. Com critérios e transparência, com nossas prefeituras e o auxílio de órgãos públicos do Estado e da União, superaremos as dificuldades.

O sentimento é de gratidão e de agradecimento pela generosidade. Dos escombros e das tragédias, vamos refazer nossas vidas e resgatar a cidadania. É a nossa responsabilidade como governantes perante a história e legado às futuras gerações.

Obrigado Brasil e Rio Grande do Sul.

Prefeito de Roca Sales Prefeito de Encantado Prefeito de Muçum - AMILTON FONTANA JONAS CALVI MATEUS TROJAN
23 DE SETEMBRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

TEMPORAL NO MARCO TEMPORAL

Com a chegada de Cristóvão Colombo às Américas e de Pedro Álvares Cabral à Terra de Vera Cruz (hoje Brasil), abriu-se um debate teológico que estremeceu as três religiões do Ocidente - judaísmo, cristianismo e islamismo. Indagava-se: afinal, aqueles indígenas que andavam nus, respeitando-se mutuamente e que desconheciam o pecado, não seriam a evidência de que a Torá e a Bíblia estavam equivocadas e que Deus não havia desfeito o Paraíso?

Sim, pois aquilo que os conquistadores europeus aqui encontraram era a descrição do Paraíso, tal qual os livros sagrados diziam. O debate teológico cedeu lugar à ciência social e tudo se resolveu.

Agora, no Brasil, o "marco temporal", tal qual aparece na Constituição de 1988, renovou o assunto, mas já não no aspecto teológico, e sim na visão histórico-sociológica. Quando os europeus aqui chegaram e encontraram a terra habitada por milhares, significava que já havia dono no exato sentido do termo que hoje damos à propriedade.

Eis aí o ponto de partida para que o STF decidisse contra o marco temporal, mesmo que o tema não tenha sido tratado dessa forma. Historicamente, a decisão foi coerente. Pergunto: a quem pertenciam as terras habitadas séculos atrás? Ou delas não foram expulsos os indígenas?

A Constituição deixou margem ao debate, levando a entender também que aquelas terras pertenciam apenas aos povos que as ocupavam até a promulgação da Carta Magna, em 1988. O assunto vai adiante com a convenção da ONU garantindo aos povos originários o direito incontestável à terra.

De outro lado, há milhares de agricultores "brancos" que "adquiriram" as terras na boa-fé e que as cultivam e, assim, nos alimentam. Eles não são delinquentes que se apropriaram da terra com a violência da bandidagem. Bandidos foram os usurpadores que expulsaram os indígenas. Os que hoje habitam o RS foram expulsos do oeste catarinense, fugindo à perseguição que destruía e matava.

Resta saber se a decisão será cumprida para que o marco temporal não vire um temporal.

FLÁVIO TAVARES

23 DE SETEMBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS

ATENTO AO CLIMA

É responsável a atitude do governo gaúcho de admitir a necessidade de criar um sistema mais robusto de monitoramento de riscos de eventos climáticos extremos, aperfeiçoando ainda formas de alertar a população diante da possibilidade de desastres naturais. Questionável seria insistir em uma posição de que tragédias como a recente no Vale do Taquari seriam de difícil antecipação, a partir de um volume de chuva inesperado. O próprio governador Eduardo Leite chegou a afirmar, de maneira incorreta, que não houve previsão meteorológica de precipitações que chegassem a até 300 milímetros em algumas regiões gaúchas.

Catástrofes também deixam lições. Oferecem um duro aprendizado, que deve servir para tentar evitar ao máximo a repetição de episódios semelhantes no futuro. A grande referência em termos de avisos na área hoje no Brasil é o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Foi criado em 2011, após uma chuvarada que causou mais de 900 mortes na região serrana do Rio de Janeiro. 

A vizinha Santa Catarina buscou o mesmo caminho, depois uma série de inundações e deslizamentos mortais. Reportagem de Felipe Samuel publicada na sexta-feira em Zero Hora indica que um dos modelos estudados pelo governo gaúcho é o AlertaBlu, de Blumenau (SC), também instituído após uma tragédia climática. Por aqui, anuncia-se a intenção de formar um centro de gestão integrada de riscos e desastres, somando-se a estruturas existentes, como a Sala de Situação.

Casos recentes, não apenas no Rio Grande do Sul, mas no Brasil e em todo o mundo, indicam que não é previdente confiar unicamente no histórico de uma região para imaginar que um evento climático não terá uma magnitude poucas vezes vista ou inédita, com grande capacidade de destruição. O aquecimento global, pontualmente potencializado por fenômenos como o El Niño, indica ser perigoso agarrar-se a padrões. Cientistas têm se cansado de avisar que os acontecimentos ligados ao tempo tendem a ser mais violentos e frequentes. As enxurradas estão entre as principais preocupações.

É positivo, portanto, conhecer centros de previsão, monitoramento e alerta instalados em outros lugares do país, discutir o tema com especialistas, universidades e pesquisadores de desastres naturais, na busca por criar no Rio Grande do Sul um sistema mais apurado e com coleta pulverizada de dados, que permita detectar rapidamente inclusive o risco de elevações repentinas de rios. Comunicar com agilidade as comunidades que podem ser atingidas é vital. 

Essas populações, como parte do planejamento, devem confiar nos alertas e saber exatamente como proceder. Não há como não ser repetitivo: uma Defesa Civil equipada e treinada é peça fundamental. Em Blumenau, o órgão passou a ter o status de secretaria. É um trabalho, afinal, que não se resume a períodos críticos. Pelo contrário, são tarefas contínuas voltadas a minimizar danos quando novos eventos extremos vierem a acontecer. São válidas também outras iniciativas anunciadas pelo Estado, como a contratação do uso das informações de um novo satélite meteorológico e a ampliação das áreas acompanhadas pelo Serviço Geológico do Brasil.

A tragédia do Vale do Taquari arrasou cidades e deixou, até agora, 49 vítimas fatais. Em junho, a enxurrada no Litoral e no Vale do Sinos matou 16 pessoas. Em julho, houve outras duas mortes após a passagem de mais um ciclone extratropical. É inevitável que novos temporais violentos voltem a castigar o Rio Grande do Sul nas próximas semanas, meses ou anos. Secas severas, também. O papel do poder público é ser previdente para minorar estragos e reduzir o perigo à vida.



23 DE SETEMBRO DE 2023
+ ECONOMIA

Um chocolate chamado Chico

Tradicional marca de Gramado, a Lugano completa 47 anos no dia 26. Para marcar a data, a empresa criou um chocolate chamado Chico. É uma linha premium (de alta qualidade) que homenageia o fundador, Enor Francisco Terres da Luz, conhecido como Chico da Lugano.

A Linha Chico, como será chamada, apresentará uma seleção especial de chocolates artesanais. Conforme a empresa, cada item será embalado com detalhes personalizados que celebram a história e os valores da empresa.

Inclui barras, trufas e bombons, que estarão disponíveis em todas as lojas da Lugano no Brasil a partir da próxima terça-feira, com sabores como flor de sal, pistache e canela.

Rapper indígena embala negócios

Enquanto os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente, apresentavam o "pacote verde" do Brasil a investidores americanos, a Time Square, uma das "praças" mais famosas de Nova York, era embalada por um rapper indígena brasileiro.

Owerá, do povo Guarani Mbyá, tem 22 anos, vive na aldeia Krukutu, na zona sul de São Paulo, e faz rimas em guarani. Seu trabalho, que já rendeu parcerias com outro rapper, Criolo, e com o DJ Alok, foi parar na campanha do Banco do Brasil que embalou os negócios brasileiros nos dias de Assembleia Geral da ONU e da Cúpula de Ação Climática, onde foi anunciada a "despedalada" nacional de compromissos ambientais. A campanha All Amazonia foca os compromissos públicos do banco por sustentabilidade e diversidade. Foi lançada terça-feira passada, ao ser exibida em todos os principais painéis da Times Square de forma sincronizada. Criada pela WMcCann, destaca a importância da preservação da floresta e recuperação de áreas degradadas, além da bioeconomia e da valorização da população que vive na Amazônia.

A expectativa do Banco do Brasil é negociar cerca de R$ 23 bilhões em crédito para a economia verde até o fim o primeiro semestre de 2024, em parceria com bancos de desenvolvimento globais para projetos de descarbonização. As linhas são relacionadas a energias renováveis, eficiência energética e recuperação ambiental, entre outros focos ambientais. Como estudo do Fórum Econômico Mundial estima em R$ 1 trilhão as necessidades do Brasil para cumprir a meta climática, todo esforço é necessário.

Aos 70, Pompéia abre sua 90ª loja

Está marcada para o dia 29 a abertura da 90ª loja da Pompéia, no Iguatemi Porto Alegre. Com cerca de mil metros quadrados, ocupará o ponto onde ficava a livraria Saraiva. A loja gigante em espaço nobre ajuda a marcar os 70 anos da Pompéia, celebrados em 2023. A nova unidade terá ambientes como espaço kids, lounge com cadeiras confortáveis, carregadores de celulares e telas com jogos e espaço para exposição de produtos de maquiagem e acessórios.

O projeto, desenvolvido pelo escritório Marcelo Braga Arquitetura, traz novos materiais para criar atmosfera acolhedora e energética. Telões serão usados para exibir informações de moda e espaços "instagramáveis" foram pensados para o público interagir com o ambiente e com os produtos.

MARTA SFREDO


23 DE SETEMBRO DE 2023
CARTA DA EDITORA

Um olhar para o Vale do Taquari

Desde que ocorreu a tragédia no Vale do Taquari, provocada pela chuva intensa, temos acompanhado de perto a situação dos municípios mais castigados pela cheia dos rios. Quase que diariamente, equipes de repórteres, fotógrafos e comunicadores da Redação Integrada de Zero Hora, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho têm se deslocado até as cidades para mostrar o trabalho de reconstrução. A manchete e a foto da capa desta edição são resultado dessa presença constante junto às comunidades.

O repórter Rafael Vigna faz um balanço dos prejuízos sofridos pela cadeia produtiva das regiões afetadas. Os números impactantes, permeados por depoimentos de quem vive da agropecuária e viu todo o seu sustento ser levado pelas correntezas dos rios, dão a dimensão do que aconteceu no Estado.

- Os olhos dos produtores que presenciaram tudo, enquanto lutavam por sua sobrevivência e a de suas famílias, transmitem um misto de tristeza, incredulidade, medo e desamparo. Todos, sem exceção, ao relatarem o que viram, também reproduzem os sons e o pavor na noite em que os animais "pareciam pedir por ajuda", mas nada puderam fazer para socorrê-los. Há entre esses produtores um questionamento recorrente se serão capazes de recomeçar. É uma situação que amplia o problema da sucessão rural no RS e fere as pessoas que vivem da renda do campo. Mas apesar das dificuldades, a força para continuar a movimentar a principal atividade do Estado é maior - afirma Vigna, que estava acompanhado do repórter fotográfico Anselmo Cunha.

Já Marcelo Gonzatto, junto com o repórter fotográfico Mateus Bruxel, mostra os reflexos da tragédia por outro ângulo. Cidades como Muçum e Roca Sales, que se desenvolveram às margens do rio, têm o desafio de redesenharem suas áreas urbanas, direcionando o crescimento para locais mais seguros.

- Ao circular por Muçum e Roca Sales, é impressionante ver a dimensão da destruição, mas também a mobilização da comunidade para reconstruir as suas casas e as suas cidades. Em todas as ruas por onde passávamos, havia um movimento frenético de gente tirando barro, consertando paredes, trazendo novos móveis para dentro de casa. A sensação é de que não será um trabalho fácil, mas as cidades vão se reerguer antes do que se pensa - conta Gonzatto.

As duas reportagens estão nas páginas 18 a 21.