quarta-feira, 30 de maio de 2012



30 de maio de 2012 | N° 17085
MARTHA MEDEIROS

O importante é ter charme

Amanhã é o Dia Mundial sem Tabaco, data impensável nos anos 70, quando fumar ainda era uma atitude de classe. Não por acaso, uma das marcas mais vendidas chamava-se Charm, que contava com garotas-propaganda do quilate de Danuza Leão, Adalgisa Colombo e Ilka Soares, todas mulheres de personalidade, reconhecidas por sua beleza e sofisticação. Mesmo quem não fumava tinha vontade.

Em 20 anos, todo esse glamour virou fumaça. Acender um cigarro passou a ser uma atitude deselegante, que não agrega nada de positivo à imagem daquele que dá suas baforadas. Outro dia, estava dentro do meu carro, esperando o sinal abrir, quando uma senhora chique, com os cabelos brancos bem cortados, de porte monárquico, começou a atravessar pela faixa.

Minha admiração murchou quando reparei que a rainha estava dando suas últimas e aflitivas tragadas antes de entrar em um shopping. Fumar caminhando na rua já é feio, e pra completar, a madame jogou a bituca no chão. Muita gente já não joga lixo no chão (amém), mas parece que a regra não vale para o cigarro. Largam em qualquer lugar, pisam em cima e vão em frente.

A propaganda tabagista saiu do ar, e o charme também – não o cigarro, mas o atributo. Ninguém mais acha importante ter charme.

Não jogar lixo na rua é uma questão de educação, sei disso, mas ser educado também é uma atitude charmosa. Ainda mais nos dias atuais, em que a grosseria impera, as pessoas são folgadas, os gestos são espalhafatosos, o tom de voz é alto, a megalomania é indisfarçada, a falta de cerimônia é geral.

Não há mais espaço para a sutileza, para o pedido de licença, para as atitudes suaves, para a discrição. Adeus à vida em slow, a uma presença insinuada e sensual. Agora tudo acontece sob os holofotes, é escancarado, gritado, a atenção é requerida à força.

A distorção de valores chegou a tal ponto, que pessoas discretas são consideradas arrogantes, os modestos são vistos como dissimulados e os que não se rendem a modismos são tachados de esnobes. Ser autêntico – requisito número 1 para se ter charme – virou ofensa. Ou a criatura faz parte do rebanho, ou é um metido a besta.

A cena clássica da mulher fatal segurando uma piteira e a do homem viril com o toco de cigarro no canto da boca ainda povoam o imaginário dos nostálgicos, mas o importante é ter charme, hoje, sem precisar de acessórios.

O modo de mexer no cabelo, uma fala pausada, um olhar direto, um sorriso espontâneo, a segurança de não precisar se valer de estereótipos para agradar – charme. Bom gosto nas escolhas, saber a hora de sair de cena, fazer as coisas do seu jeito – charme.

Estar confortável no corpo que habita, ter as próprias opiniões, alimentar sua inteligência com livros e pessoas interessantes – charme. Não se mumificar, não ser tão inflexível, não virar uma caricatura de si mesmo – charme. Que o mantenhamos, sem precisar voltar a fumar.

segunda-feira, 28 de maio de 2012



28 de maio de 2012 | N° 17083
L. F. VERISSIMO

Um exemplo mais ou menos

A vitória do Chelsea sobre o Bayern naquele jogo fantástico que decidiu a Copa dos Campeões trouxe um alento para quem ainda acredita na União Europeia. Cada campeonato sensacional da Uefa reforça a ideia de que é possível existir uma comunidade que funcione. O futebol dá o exemplo – não de rivalidade exacerbada entre nações, mas do sucesso comercial de um empreendimento comum, fora uma ou outra guerra de torcida.

É verdade que o Chelsea não é um exemplo cem por cento aproveitável de triunfo europeu. É um clube inglês que pertence a um milionário russo e cuja estrela principal vem da Costa do Marfim. Mas quem sabe a solução para a Europa não deva vir de fora e o que falte não seja um patrocinador com muito dinheiro e uma política de imigração que facilite a vinda de muitos Drogbas?

A salvação, quem diria, pode vir da Rússia e de uma política de imigração sem restrições, oposta à proposta atualmente pelos conservadores de toda a Europa. Um investidor americano já é o dono de outro tradicional clube inglês, o Liverpool. A tendência pode crescer e nada impede que algum milionário compre não um clube grego mas a Grécia.

A Copa da Uefa pode sugerir outras maneiras da Europa resolver sua crise. A grande discussão, hoje, sobre o futuro do continente, é entre austeridade e crescimento. Por que não transformar esse confronto em futebol?

Times identificados com a austeridade – como uma seleção alemã – contra times pró-crescimento, num torneio bem organizado, com o vencedor final decidindo a política a ser seguida por todos. Como atrativo adicional de se ver o Messi e o Drogba no mesmo time.

Mesmo que não aproveitem minhas ideias perfeitamente razoáveis, o futebol dos campeões europeus permanece como um parâmetro para os políticos em busca de uma saída para a crise. Mas pode, claro, acontecer o contrário: em vez do futebol mostrar a saída para a crise, a crise alcançar também o futebol. E o espetáculo da final deste ano em Munique ser lembrado como a apoteose que precede o declínio.

Mas, bem ou mal, foi uma apoteose.

sábado, 26 de maio de 2012



27 de maio de 2012

Martha Medeiros

Falando Sozinho

E pelas ruas do Rio de Janeiro quando percebi um fenômeno que não é nenhuma nova tendência, ao contrário, é hábito antigo, mas que só agora venho prestando verdadeira atenção. Refiro-me às pessoas que falam sozinhas. Não só falam, aliás. Resmungam, xingam, discursam.

Passei a me interessar pelo fato quando, de uns anos pra cá, minhas filhas deram para me alertar: mãe, tu estás falando sozinha. Era só o que me faltava, meninas, estou aqui em frente ao computador, lendo um texto aos sussurros, só isso. E quando acontece na cozinha, mãe? E no corredor do apartamento? Ah, vocês andam ouvindo coisas.

Mas sucumbi às evidências: falo sozinha. Um pouquinho em casa, e infinitamente mais quando estou caminhando pelas avenidas e parques da cidade, onde crio diálogos inteiros na minha cabeça. Sem que eu perceba, meu pensamento sai pela boca. Não raro, gesticulo também. Tudo com a maior discrição – espero.

Quando estou dirigindo meu carro, a mesma coisa. Canto quando há música, e falo quando há silêncio. Tenho certeza de que falo apenas com meus botões, falo quieta, mas já fui flagrada em delito: “Mãe, outra vez?”.O que eu falo, no entanto, ninguém escuta direito. Não chego àquele nível de maluquice que acomete andarilhos que falam sozinhos num volume tão audível que a gente chega a se perguntar se estariam mesmo sozinhos. Estarão?

Desvendado o mistério. Estamos falando com ex-maridos, com chefes insuportáveis, com amigos que não entenderam nossas boas intenções, com personagens criados pela nossa imaginação, com  pessoas que já não estão nesse mundo, com o William Bonner, com Jesus, com fantasmas, principalmente com estes, os que nos assombram, vivos ou mortos, desconhecidos ou famosos.

Há sempre um interlocutor invisível que precisa ouvir umas poucas e boas, ou nos atender num confessionário ambulante, na calçada mesmo em meio às buzinas e veículos que passam tão ligeiros que nem nos percebem. Só os porteiros dos prédios que reparam e se divertem.

O ator Caio Blatt disse em entrevista recente que fala muito sozinho, e que considera isso uma espécie de psicodrama, dando à nossa ansiedade um nome mais refinado. Mas está certo, e psicodrama , sim, concordo em defesa de todos os tagarelas solitários.

Estamos ensaiando uma discussão uma argumentação, um desabafo, que depois pode nem acontecer, o caso já ficou resolvido ali mesmo, enquanto se cruzava a faixa de pedestres. Falar sozinho é um ato de generosidade, antes de tudo.

Vá saber o estrago que causaríamos se falássemos pra valer, olho no olho, tudo aquilo que mantemos guardado, todo o palavreado da raiva, do rancor e do desassossego que fica confinado dentro. Melhor soltar as frase ao vento.


26 de maio de 2012 | N° 17081

NILSON SOUZA

A pracinha dos vovôs

    O menininho arregalou os olhos e apressou o passo no calçadão quando viu os equipamentos coloridos em movimento. Certamente, imaginou-se na vertigem do escorregador ou no vaivém inebriante do balanço. Mas a jovem mãe segurou-o pelo braço e tentou argumentar numa linguagem compatível com a idade do garoto:

    – Não, essa pracinha é dos vovôs.

    Trata-se, na verdade, de uma dessas academias ao ar livre, plantada entre as árvores do bairro, Ipanema, com seus aparelhos de ferro verde. É frequentada diariamente por senhoras e senhores da chamada terceira idade, que balançam os músculos já não tão firmes e os cabelos grisalhos no ritmo dos simuladores.

Há o simulador de cavalgada, que trabalha o equilíbrio e fortalece membros superiores e inferiores; há o simulador de surfe, uma espécie de balanço destinado a aumentar a capacidade respiratória; há o simulador de caminhada, o simulador de esqui, uma espécie de manivela em forma de volante e também aquele balanço lateral, que trabalha pernas e quadris.

    Observando-se de longe, parece mesmo uma pracinha infantil. Mas é, na verdade, um recanto planejado para o compartilhamento de exercícios saudáveis. Faz parte do Programa Academia da Saúde, do governo federal, que espalhou aparelhos semelhantes por quase 2 mil municípios de todo o país com o propósito de prevenir as chamadas doenças crônicas não transmissíveis, relacionadas ao sedentarismo, à obesidade e ao tabagismo. Os equipamentos permitem atividades físicas de baixo impacto, oferecendo poucos riscos de lesões aos praticantes.

    Pelo que tenho visto diariamente, o programa é um sucesso. A academia do meu bairro está sempre lotada e as pessoas parecem estar se divertindo. De vez em quando, uma ou outra criança fura o bloqueio dos adultos e participa da atividade, mas a frequência maior é mesmo de atletas de cabelos brancos.

Foi-se o tempo em que os velhinhos aposentados ficavam sentados nos bancos de praça, à espera do crepúsculo da existência. Agora eles fortalecem os músculos e as articulações para acompanhar o ritmo da vida. Um estilo de vida ativo garante, inclusive, maior longevidade e reduz significativamente os riscos de acidentes incapacitantes, como quedas domésticas e lesões causadas pela fraqueza muscular.

    Foi mesmo uma ideia brilhante esta de oferecer brinquedos novos para os velhinhos. E tem razão aquela mamãe do calçadão: as crianças que procurem a sua turma.

quarta-feira, 23 de maio de 2012



23 de maio de 2012 | N° 17078

ARTIGOS - Maria Aparecida Viera Souto*

Xuxa: uma sobrevivente

É preciso chegar antes que uma vítima (criança adolescente ou mulher) se torne:

Um boletim de ocorrência

Um processo judicial

Um dossiê médico

Um caso psicológico

Uma notícia de jornal

Ou um corpo no necrotério.

Maria Amélia Azevedo

O emocionado depoimento de Xuxa ao Fantástico fez o desejado por toda campanha de enfrentamento ao abuso sexual de crianças e adolescentes: chegar, rapidamente e ao mesmo tempo, ao maior número possível de pessoas, mostrando com clareza, a dor e o sofrimento sentidos diante do abuso sexual. Foi o que aconteceu.

Provavelmente, devido à notoriedade da apresentadora, milhões de pessoas assistiram a sua declaração. O impacto produzido é inimaginável. Sem dúvida, inúmeras pes-soas se reconheceram no relato. Algumas conseguirão quebrar o silêncio e denunciar. Outras compreenderão que, embora sabedoras de algum tipo de abuso sexual, preferiram ignorá-lo e, ao escolher o silêncio, escolheram o lado do abusador, tornando-se, portanto, cúmplices!

Há dois tipos de agressores sexuais: o abusador e o molestador, com estratégias diferentes. O abusador é mais sutil, utiliza carícias discretas, raramente é violento, fazendo com que a criança não se sinta abusada ou mesmo que outras pessoas notem. O molestador é mais invasivo, menos discreto, frequentemente usa a violência.

O abusador costuma dar atenção especial à criança, ficar íntimo e explorar sua necessidade de afeto. Insinua gradativa e, indiretamente, assuntos se- xuais, solicitando-lhe carícias genitais ou que se submeta a elas. A criança poderá se recusar e dizer que o denunciará.

O abusador, então, a ameaçará. Por não saber o que fazer, ela ficará insegura e confusa. Muitos adultos desqualificam ou negam relatos. Isto é lamentável, visto estudos indicarem ser a reação dos adultos diante da revelação o principal fator responsável pelo trauma.

Os pais precisam “aprender a ensinar” seus filhos a se protegerem de abusos sexuais. Para se proteger, a criança precisa saber fazer três coisas: 1. Identificar situações de abuso e dizer não; 2. Sair da situação o mais rápido possível e 3. Imediatamente, contar para alguém.

Quando uma criança muda seu comportamento, especialmente com familiares, algo pode estar acontecendo. Quando não quer mais abraçar, beijar, sentar no colo ou ir à casa de alguém, é importante perguntar-lhe do que ela não gosta em cada uma daquelas situações. O do que permite uma resposta mais precisa, possibilitando a identificação de abuso sexual.

Tomara que a dor e o sofrimento mostrados por Xuxa sejam suficientes para convencer os pais da tarefa que lhes cabe.

*Assistente social, especialista em educação sexual e representante do CMDCA no Comitê Municipal de Enfrentamento à Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes de Porto Alegre


23 de maio de 2012 | N° 17078

MARTHA MEDEIROS

Sem perdão

    Este mês, assisti com atraso, em DVD, ao filme Em Teu Nome, de Paulo Nascimento, cuja história gira em torno da ditadura militar, ocasião em que muitos brasileiros foram obrigados a abandonar o país feito ratos, até ficar o mais longe possível de seus ideais.

O filme mostra alguns rituais de tortura, e por mais que já tenhamos visto e revisto essas cenas dramáticas em várias outras obras, não há como não se horrorizar. Guardadas as proporções, a ditadura militar foi o nosso Holocausto e aconteceu embaixo dos narizes de nossas famílias.

    Ainda sob o efeito do filme, acompanhei a entrevista que Carlos Araújo deu à Rádio Gaúcha e que foi publicada por Zero Hora na última sexta-feira, e mais uma vez a sensação foi de embrulho no estômago. O ex-deputado deu detalhes dos procedimentos cruéis e desumanos que ele e demais presos políticos sofreram. Nenhuma novidade, mas se nos contarem mil vezes como foi, mil vezes nos escandalizaremos.

A tortura é, de longe, o crime mais abjeto que alguém pode cometer. Por isso, a relevância da criação da Comissão da Verdade, que (se não virar mais uma forma de escoar nossos impostos para o bolso de alguns) pretende deixar às claras esse período vergonhoso do Brasil.

    Sempre acreditei nos benefícios do perdão. Diz um poema da mineira Vera Americano: “Perdão/ duro rito/ de remoção do estorvo”. Não é fácil, mas remover os estorvos de dentro de nós – o rancor, por exemplo – torna a caminhada mais leve. Por que insistir no revanchismo? Assim fui aliviando minha bagagem existencial ao longo da vida, e hoje não há quem me faça trincar os dentes e desejar-lhe o mal.

    Já perdoar um torturador está fora de questão. Não há como compreender que alguém tenha tamanho sangue frio, tamanha perversidade para provocar dor física dilacerante em outra pessoa – e dor psicológica também, que por vezes dura para sempre.

É preciso ser muito bestial para dilacerar a integridade de um homem, de coisificá-lo como se ele fosse um pedaço de madeira ou um trapo de pano, que a tudo pode suportar. No ranking das maldades extremas, matar fica em segundo lugar – comparado com a tortura, é quase uma generosidade.

    Talvez ainda haja torturadores entre nós, sentados ao nosso lado nos cinemas, apertando nossas mãos em festas, anistiados com o perdão do tempo – ora, aquilo foi em outra época, vamos esquecer, quer mais uma empadinha?

    Que a Comissão da Verdade, além de descobrir o que foi feito de cada um dos desaparecidos, identifique cada um de seus carrascos. Mesmo que muitos já tenham morrido sem nenhuma punição, que conheçamos suas caras, que venham à tona suas brutalidades, que seus filhos sintam-se avexados por levar o mesmo sobrenome, que seus netos lamentem a ascendência que têm.

    Que essa caixa-preta seja aberta para não ficar por isso mesmo.

sábado, 19 de maio de 2012


Martha Medeiros

Os benefícios de não ser o melhor

Meu pai sempre jogou tênis,desde que me conheço por gente. Lembro de uma vez em que ele comentou que o adversário ideal é o de mesmo nível, mas que se fosse preciso escolher entre jogar com alguém melhor ou com alguém pior do que ele, preferiria jogar com alguém melhor, porque gratificante não era vencer fácil aquele que sabe menos, e sim aprender com quem te exige algum esforço.

É um verbo em desuso que merece ser revitalizado: aprender. A verdadeira postura competitiva não é a daquele cara que almeja atingir o topo de qualquer maneira, e sim daquele que extrai de um superior o estímulo para encontrar o próprio caminho para vencer a si mesmo. Porque não são poucos nossos adversários internos: a ignorância, o comodismo, a ferrugem. É preciso treinar bastante para flexibilizar os movimentos, todos: do corpo e da mente.

E dessa forma avançar, sempre buscando mais, numa estrada hipoteticamente sem fim. Prefiro ler livros de quem escreve bem melhor do que eu. De quem tem mais a dizer do que eu. Além do prazer que isso me dá, não vejo outra maneira de aprimorar meu trabalho. Prefiro conversar com pessoas mais vividas que eu, mais inteligentes, com melhores histórias para contar.

Talvez algumas delas sintam o mesmo em relação a mim (pensem que sou eu a mais-mais), porém o que importa não é essa quantificação, que, aliás, é totalmente subjetiva. O que estimula é ter consciência do quanto a nossa vida se enriquece com a experiência do outro. Não por acaso, adoro programas de entrevistas, onde posso enxergar a emoção do entrevistado, seu humor, sua ironia, sua indignação – entrevistas por escrito nem sempre destacam essas sutilezas.

Adoro jantar com quem conhece mais gastronomia do que eu, salientando temperos que normalmente eu não perceberia. Gosto de viajar com quem já viajou bastante e desenvolveu um olhar para certos lugares que para mim é novo. Prefiro dançar com quem sabe me conduzir.

Mas com a condição de que esses iluminados transmitam sua sabedoria naturalmente, sem intenção, sem didatismo – senão vira aula, xaropice, perde a graça. Gosto de aprender sem que o outro perceba que está me ensinando. Claro que competidores profissionais devem tentar eliminar seu oponente – nhac! Menos um na escalada ao pódio. Nenhum atleta profissional treina tanto, investe tanto, pra não se importar em perder em nome do benefício do aprendizado.

Que aprendizado, o quê. Rubinho, Neymar, Cielo, não desapontem a torcida. Mas os amadores deveriam perceber que, em vez de se fingirem de campeões duelando com derrotados, mais vale tornarem-se melhores com a passagem do tempo, através de vitórias conquistadas no silêncio da observação. É um troféu oferecido por você a você mesmo – todos os dias.



19 de maio de 2012 | N° 17074
CLÁUDIA LAITANO

Brasil cabeção

Se os japoneses batizassem um programa de governo de Japão Disciplinado ou os Estados Unidos criassem uma campanha chamada América pelo Consumismo, ia soar como se uma febre pleonástica tivesse acometido o Primeiro Mundo. Foi mais ou menos essa a sensação que eu tive ao ouvir o nome do novo programa de combate à miséria do governo federal: Brasil Carinhoso.

Coração é o que não nos falta, a gente sabe. Nos anos 30, o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (o sogro dos sonhos de nove entre 10 brasileiras) cunhou uma expressão que até hoje é mal entendida e mal citada. Seu “homem cordial” não é o sujeito bonzinho que sempre tem uma palavra gentil na ponta da língua e ajuda velhinhas a atravessar a rua.

A cordialidade brasileira que o sociólogo descreve não é a do bom coração e da hospitalidade, mas a do domínio da emoção sobre a razão, que pode causar tanto as efusões amorosas mais comoventes quanto as reações mais violentas e intempestivas – não por acaso, esse país tão cheio de amor para dar é também campeão nas estatísticas de violência contra a mulher.

O homem cordial clássico, de catálogo, é aquele que odeia formalidades, mesmo quando elas são criadas para organizar a vida de todo mundo, e ignora regras de ética e civilidade quando elas não lhe parecem 100% convenientes. Alguém aí reconheceu um brasileiro?

Quando um país com um largo histórico de populismo usa a palavra “carinhoso” em um programa de governo, arrepiam-se os pelos das nucas mais paranoicas. Não existe palavra tão doce na língua portuguesa quanto essa que dá nome a uma das mais belas canções da música popular brasileira, mas uma política que se autodenomina “carinhosa”, ainda que coberta de méritos, sempre parece firmar-se no terreno flácido das boas intenções e do paternalismo e não na arena sólida das instituições que têm continuidade e metas objetivas para além dos governos e dos políticos. Carinho a gente dá e a gente tira. É uma concessão, não um direito ou um dever.

Se o Brasil fosse levar a sério mesmo esse negócio de slogans motivacionais deveria criar programas com nomes como “Brasil Racional”, “Brasil Cumpridor de Prazos”, “Brasil: começo, meio e fim”.

Claro que não ia adiantar nada, como em geral não servem para nada slogans motivacionais postados no Facebook ou na porta da geladeira, mas talvez fosse mais útil reconhecer o que nos falta do que celebrar o que sempre tivemos de sobra. Realmente surpreendente seria se os estudantes brasileiros fossem brindados com um programa de educação tão sério e eficiente que algum gaiato resolvesse apelidar de “Brasil cabeção” .

Carinho, elas querem é da família. O que as crianças miseráveis do Brasil precisam, do Estado, é menos amor e mais confiança.


19 de maio de 2012 | N° 17074
NILSON SOUZA

O marisco e a borboleta

A batalha final, como gostava de prognosticar o saudoso Scliar, será provavelmente entre os catastrofistas e os céticos do meio ambiente. Sou marisco nesta história, mas tenho lido e ouvido coisas que confundem qualquer cabeça – mesmo a de um crustáceo, ou molusco, se é que eles a têm. A última, do lado dos ambientalistas, vem da organização Fundo Mundial para a Natureza (WWF), entidade internacional reconhecida por suas preocupações com a conservação global.

Dizem os senhores da biodiversidade que, se continuarmos poluindo, desmatando e amontoando gente nas cidades, no ritmo que fazemos agora, precisaremos de três planetas em 2050. No caso de ficarmos só neste, a previsão é funesta: vão faltar comida, água, energia, e os coalas irão desaparecer.

Do outro lado, de parte dos descrentes, assisti outro dia a uma entrevista que Jô Soares fez com o climatologista Ricardo Augusto Felício, professor da Universidade de São Paulo, que em poucos minutos derrubou uma a uma todas as teses predatórias. Disse que o efeito estufa é a maior falácia científica da história, que o aquecimento global é uma invenção, que a tal camada de ozônio sequer existe e que não há prova científica de derretimento do gelo dos polos.

Já tinha ouvido um outro ambientalista, o irmão do falecido Bussunda, dizer que é muita pretensão do ser humano achar que pode prejudicar o clima do planeta. Ele disse que sequer fazemos cócega na Terra com os nossos desmatamentos e o nosso desleixo, que o tempo do universo é muito diferente do tempo da humanidade e que o máximo que podemos fazer é mal a nós mesmos – do que não pode ter dúvida quem bebe água de um rio transformado em esgoto cloacal pela população que vive às suas margens.

Jô Soares, fazendo graça, perguntou ao seu entrevistado se os puns dos carneiros da Nova Zelândia não produziriam um “apuncalipse”, provocando gargalhadas.

Também ri, evidentemente, mas o deboche me acendeu aquele medo atávico do tempo em que minha mãe cobria os espelhos nos dias de tempestade. Depois de ver aquele tsunami que alagou meio Japão, não duvido de mais nada. Como vou saber se tudo aquilo não foi provocado por uma borboleta que bateu as asas com força demais em algum cafundó do Judas, como apregoa a célebre teoria do caos?

Dos cientistas e dos ambientalistas, pela mostra acima, é que não virá uma resposta convincente, pois eles divergem em gênero, número e gracinhas. E sequer são capazes de encontrar logo os outros dois planetas que poderão nos salvar em 2050.

RUTH DE AQUINO

Quando vamos moralizar o Poder?

Presidente e ministros reduzirão em 30% seus salários, “para dar o exemplo”. Apertarão seus próprios cintos, cortarão na própria carne. Isso acontecerá longe daqui, na França. Será a primeira medida do governo socialista de François Hollande. Não resolve a crise francesa. Mas carrega um tremendo simbolismo. São 34 novos ministros neste governo que já começarão ganhando um terço a menos que seus antecessores.
E não é só isso.

A equipe do governo – 17 homens e 17 mulheres – assinou um texto de duas páginas que lista seus “deveres”. O texto é público. Foi divulgado pelo jornal Le Monde na quinta-feira. Alguns itens seriam muito bem-vindos no Brasil. A ideia geral é afastar qualquer suspeita de conflito de interesse e acabar com essa mistura desavergonhada entre o público e o privado.

O código de conduta de Hollande obriga ministros a renunciar a postos executivos anteriores a sua nomeação no governo. Inclui também a recusa a todos os convites particulares, de empresários ou amigos influentes. E a devolução de qualquer presente com valor superior a € 150 (R$ 375). O texto desce a detalhes do dia a dia, como o meio de transporte: em trajetos inferiores a três horas, ministros terão de usar o trem.

Mais regras. Os ministros terão de confiar “a gestão de seu patrimônio a um procurador”. Isso impede que tirem proveito de informações confidenciais do mercado para enriquecer ilicitamente. Na hipótese de uma viagem pessoal e familiar, serão obrigados a “se abster de aceitar convites de governos estrangeiros ou de pessoas físicas ou jurídicas cuja atividade tenha relação com sua pasta ministerial”.

Deverão renunciar a “qualquer participação num organismo, mesmo aqueles sem fins lucrativos, cuja atividade seja de interesse a seu ministério”. Os ministros também estão proibidos de “qualquer intervenção que envolva a situação de um parente ou amigo próximo”. Nada de nepotismo e tráfico de influência, em bom português.

Deveríamos, como os franceses, enfrentar os desvios e abusos que desmoralizam nossos governantes

O documento lembra a toda a equipe – incluindo presidente, primeiro-ministro e ministros – que “só as despesas diretamente ligadas ao exercício de suas funções podem ser pagas pelo Estado”. Uma das regras provocaria um auê no Brasil: “À exceção de uma circunstância específica que exija uma escolta de motocicletas, os deslocamentos dos ministros em carros terão de respeitar as regras de trânsito normais, que se aplicam a qualquer cidadão”. No Brasil, helicópteros estão sempre à disposição de políticos que não fazem ideia da angústia que é ficar preso num engarrafamento.

Uau! Humilhante, não, excelentíssimos políticos brasileiros. Para que fui me meter na política, fiz concessões absurdas, contrariei princípios, gastei rios de dinheiro em campanha, comprei votos, para, no final, ser despido de meus privilégios de senhor da casa-grande e senzala? Que terrível deve ser a vida do homem comum.

As regras do “Estado imparcial” prometido por François Hollande foram criadas com um objetivo: dar satisfação aos cidadãos que exigem transparência do poder público. O texto foi chamado de “código de deontologia”.

Uma palavra pouco conhecida, que vem do grego. “Deon” significa “dever, obrigação”. Por isso, a deontologia é conhecida como a Teoria do Dever. Mas é sobretudo o dever moral, da consciência de cada um. É a ética individual, que leva alguém, político ou não, a fazer algumas escolhas na vida.

No Brasil, num momento histórico em que se discute a Comissão da Verdade, deveríamos ter a mesma coragem para enfrentar os desvios, os abusos e a falta de bons modos que desmoralizam governadores, prefeitos, ministros e congressistas. O Executivo deu um bom exemplo na quinta-feira: Dilma mandou divulgar os salários dos servidores do governo federal, com base na Lei de Acesso à Informação Pública. Chega de torturar a verdade, tornando-a secreta. Vamos moralizar o Poder.

O Legislativo e o Judiciário não gostaram da ideia. Sarney, presidente vitalício do Senado, ficou sem fala nem ação. Marco Maia, presidente da Câmara, também. Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal, se juntou ao bloco dos temerosos. Eles acham que expor os salários à nação pode ferir a intimidade e a segurança dos servidores. Contem outra.

O decreto do Executivo é claro. Devem ser revelados os ganhos de todos os ocupantes de cargos públicos. E isso inclui aquele manancial de benefícios conhecidos: “auxílios, ajudas de custo, jetons, vantagens, pensões e aposentadorias de quem continua na ativa”. Verba para combustível, passagem aérea, moradia, correio, escritório, diárias de viagem e não sei mais o quê. Uma caixa-preta mantida até hoje sob sigilo. Por vergonha, será?

quarta-feira, 16 de maio de 2012



16 de maio de 2012 | N° 17071
MARTHA MEDEIROS

A TV e o teatro

Na semana que passou, vivi duas experiências que nada têm a ver uma com a outra, mas mesmo assim correlacionei. Uma foi a visita que fiz ao Projac, o centro de produções da TV Globo, no Rio. Mais de 8 mil pessoas trabalham nessa indústria do entretenimento, que os funcionários chamam carinhosamente de fábrica de sonhos, mas que eu chamaria de fábrica de ilusões – parece a mesma coisa, mas há uma sutil diferença.

Fiquei bem impressionada com o realismo das cidades cenográficas, com destaque para o lixão de Avenida Brasil e a rua de Copacabana onde se passa a série Tapas e Beijos – não sei se Deus está nos detalhes, mas Roberto Marinho está. Um trabalho absolutamente preciso, caprichado. Parece mesmo que você está num lixão, que está mesmo em Copacabana, quase se perde o ceticismo. Quase.

Ao chegar perto da entrada da casa do Big Brother, senti o impacto. Nenhum livro sobre semiótica, nenhum discurso sobre as emoções pré-fabricadas vendidas pela TV me deram tanta consciência: adentrar os bastidores – qualquer bastidor – é um choque de realidade às avessas. Impressiona e é triste ao mesmo tempo.

A outra experiência: a peça Adeus à Carne, de Michel Melamed. Uma ópera contemporânea praticamente sem texto – ousadia nesses tempos em que esbanjamos palavras. O recado é dado através da sonoplastia e da expressão corporal.

O fio condutor da obra é o Carnaval, e é com alegorias totalmente nonsense que Melamed põe pra desfilar no palco a proximidade que existe entre nascimento e morte, nossas competições absurdas, nossa frágil expressividade verbal, a dor e o prazer que brotam da mesma fonte, o amor que mais afasta do que aproxima – isso se eu pesquei alguma coisa. O que mais se ouvia no final do espetáculo era: “Não entendi nada, mas adorei”.

Na peça, o momento que coloca a plateia em alvoroço: os seis integrantes do elenco surgem com as cabeças cobertas por logotipos das emissoras de TV do país, grandes escafandros que não permitem que eles enxerguem. Teletubbies adultos. É engraçadíssimo e perturbador: com a TV enfiada na cabeça, que espécie de crescimento e liberdade podemos almejar?

O Projac é o símbolo da eficiência. Reduto de artistas, e não falo apenas de atores, mas de figurinistas, cenógrafos, marceneiros, iluminadores, técnicos em efeitos especiais. Profissionalismo extremo a serviço da ilusão. É como se eles dissessem: não acredite no que você não vê, acredite apenas no que vai ao ar.

Michel Melamed, por sua vez, é um performático que pretende provocar espanto e inquietação por uma via bem mais subjetiva e onírica. É como se ele dissesse: não acredite no que você vê, acredite apenas no que fica subentendido.

TV e teatro. Aí, talvez esteja a diferença entre fábrica de ilusões e fábrica de sonhos.

terça-feira, 15 de maio de 2012



15 de maio de 2012 | N° 17070
CLÁUDIO MORENO

Homens e mulheres (15)

33 – A infatigável Madame de Staël confessou que não sabia por que as pessoas – especialmente os homens – cansavam dela tão rapidamente. Benjamin Constant, que a amou enquanto pôde, disse que nunca conheceu uma mulher que fosse tão continuamente exigente. A vida de todos os que andavam a seu redor – cada hora, cada minuto, anos a fio – devia estar à sua disposição, ou sobreviria uma explosão maior que a soma de todos os terremotos e trovoadas.

Sempre que falava no fracasso de seu relacionamento com madame, Constant queixava-se, com amargor, de que sempre tinha se sentido necessário – mas nunca suficiente.

34 – Solinus, naturalista romano do início da Era Cristã, ao descrever a fisiologia da mulher, classifica o fluxo menstrual como uma “doença monstruosa”, cujos efeitos maléficos são relacionados no tratado que ele chama de Coisas Memoráveis: se não houver precauções, tudo se estraga à sua volta – as sementes não germinam, os vinhos azedam, as plantas murcham, as árvores perdem os frutos, o ferro enferruja e o bronze oxida.

Além disso, as mulheres neste estado têm um olhar tão funesto que mata o brilho dos espelhos e tira a nitidez de seus reflexos, fazendo o rosto de quem neles se olha aparecer encoberto por uma espécie de névoa. Solinus, no entanto, reconhece que a existência da mulher é importante para que o homem possa gerar sua descendência.

Observa que há algumas que nunca poderão ter filhos, mas entre essas, conclui nosso grande especialista, algumas se curam de sua esterilidade no momento em que casam com outro homem...

35 – Conta Plutarco que Leo Bizantino, famoso orador, foi um dia a Atenas para tentar conciliar duas facções políticas que se hostilizavam naquela cidade. Quando levantou para falar, no entanto, a assembleia começou a rir e a caçoar de sua baixíssima estatura, que era realmente fora do comum.

“O que vocês diriam, então”, perguntou, “se conhecessem minha mulher, que mal chega à minha cintura?”. Como era de esperar, os risos redobraram, mas ele, imperturbável, concluiu: “Pois saibam que Bizâncio é grande e nós somos pequenos, mas quando eu e ela começamos a brigar, não há cidade que chegue para nós!”.

36 – Em seu Caderno de Apontamentos, Samuel Butler, escritor inglês e tradutor de Homero, sugere que a Rainha Vitória, que sempre viajava como Condessa de Balmoral, certamente ficaria bem mais feliz se pudesse viajar apenas como uma simples Mrs. Smith. “No fundo, há muito de Mrs. Smith escondido dentro de qualquer rainha – assim como há muito de rainha escondido dentro de qualquer Mrs. Smith.”

domingo, 13 de maio de 2012



Maior medo de uma mãe


A grande inquietação de uma mãe, ao contrário do que se imagina, não é saber se ela dará conta de trocar as fraldas, se o choro do filho é de febre ou de fome, se ela está sendo severa ou molenga demais ou se o filho se sente suficientemente amado. Isso, ao vivo, a mãe resolve.

Quando ele é bebezinho ou ainda tão pequeno que não consegue resolver na-da — nem comer — sem a sua ajuda, a mãe tem seus questionamentos, mas ao mesmo tempo é preenchida por uma alegria descomunal, porque ele está lá, numa continuidade de seu ventre, naquela ligação mágica, milagrosa e intraduzível.

Toda mãe sabe que os problemas realmente começam quando ele parte para tomar, sozinho, a condução para a escola ou quando vai dormir na casa dos amiguinhos. É o primeiro indício do que há de mais óbvio — e cruel — na criação de um filho: que ele pertence não a ela, mas ao mundo.

Ninguém saberá mais do que ela – nem ele próprio – o que é melhor para o filho. Ninguém o amará mais do que sua mãe, ou lhe desejará mais alegrias do que ela. Se alguém, por ventura, atirar em sua direção, quem terá o impulso de se jogar na frente senão sua mãe? E pode aparecer qualquer mocinha apaixonada que o amor dela jamais chegará aos pés do seu. Mas, um dia, ele preferirá a companhia dela à sua, e isso vai matá-la por dentro.

O maior desafio daquela que o ensinou a dar os primeiros passos é justamente deixá-lo caminhar sozinho. E, na primeira noitada em que ele não telefonar para dizer onde está, a que horas chegou e com quem está andando, ela sentirá uma dor dilacerante, uma preocupação que nunca teve, nem consigo própria – até porque ela se garante, mas seu bebê não.

Custa-lhe telefonar de cinco em cinco minutos para dizer se comeu direito, se está triste ou feliz, se gostou do filme que acabou de ver no cinema? Uma mãe deveria ser atualizada, via aplicativo de iPad, dos mínimos passos e estados de espírito do filho; só assim ela ficaria relativamente em paz.

Isso vale para qualquer tipo de mãe, da mais extremada à mais independente, que gosta de dizer aos quatro ventos que o Dia das Mães não lhe importa, que é uma data como outra qualquer e que nem pensem em vir almoçar neste domingo porque ela marcou uma aula de dança. Na semana passada, num almoço entre amigas, uma delas avisou à mesa que pretende firmemente colocar um chip em seus filhos para localizá-los a qualquer hora assim que a engenhoca for permitida — isso, claro, com a anuência deles. Essa ideia ingênua causou espécie nos presentes, que riram da doce ilusão dessa mãe.

Um dia, alguém virará para ela e dirá o quanto seu filho é inteligente, gentil, educado e amado por todos. Ela quase desmaiará de surpresa e emoção e só então saberá o que é a tal da felicidade.

A angústia de saber se você é ou não boa mãe não é uma questão de ego, mas a preocupação com o futuro do ser mais amado do universo. Afinal, o grande medo da humanidade é o futuro e, no caso de uma mãe, esse medo vem em dobro, porque ela teme pelo futuro de duas pessoas — o dela e o do filho (mais o dele do que o dela). Se algum dia ela lhe faltar, o que será dele?

Pois eu vou dividir com vocês uma historinha pessoal. Perdi minha mãe para o câncer muito cedo, aos quatro anos, e só sobramos eu e meu pai. Só entre aspas, porque logo se mudaram para nossa casa minha tia e minha avó, para se ocupar de mim. Seis anos depois, foi meu pai quem partiu, e eu fui adotado pela mãe, pela irmã e pela sobrinha dele. Antes disso, quando ele ficou viúvo, conheceu uma namorada, Angélica, que tinha uma filha com síndrome de Down, Emi. E o grande medo de Angélica era o que aconteceria a Emi caso um dia ela lhe faltasse.

Ela fundou, então, uma escola voltada somente para crianças portadoras de deficiência neurossensorial, cheia de professoras atenciosas e amiguinhos como Emi. Um dia, Angélica partiu ao encontro do meu pai. E fomos eu e sua outra filha que assumimos a escola de Emi.

O detalhe é que a maioria das alunas tinha idade bem avançada e havia perdido seus pais. Se o medo do futuro é pertinente a todas as mães, imagine a uma mãe de excepcional. Uma delas, Belinha, de quase 80 anos, foi adotada pela fonoaudióloga da escola. Portanto minha tia virou minha mãe; eu, de certo modo, fui mãe de Emi; e a fonoaudióloga foi mãe de Belinha, e assim caminhou a humanidade.

Nem todo órfão tem essa sorte, é verdade. Mas é preciso acreditar na capacidade de solidariedade do ser humano, uma rede de mãos dadas que nos fez chegar até esse patamar evolutivo. Não é preciso ter medo; é preciso ter fé.

Fé nas pessoas, fé na família, fé no amanhã, fé no filho e fé nos amigos que hão de ajudá-lo quando você lhe faltar ou quando você não estiver por perto. Tudo pode dar errado, assim como tudo pode dar certo, pois toda pessoa tem, no fundo, uma mãe em potencial dentro de si. Mas é preciso disciplina, paciência e generosidade para despertá-la.

Penso hoje nas mães dos presos, naquelas que perderam seus filhos, naquelas que perderam suas mães, nas que se dividiram entre tantas jornadas de trabalho para prover o sustento da família.

Mas, sobretudo, naquelas que perfilharam, ainda que não oficialmente, os filhos de outros e, a partir da dor, construíram um jardim de infinitas possibilidades. É para esses anjos, que foram muito além de um ventre físico, que dedico este dia.

RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA

A Justiça do amor

Um pai foi condenado a pagar à filha R$ 200 mil de indenização por abandono afetivo. A decisão, inédita, é do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Essa história mexe com sentimentos – e não com reconhecimento de paternidade ou pensão alimentícia. Não deveria pertencer à Justiça, e sim à vida e à consciência de cada um. Como legislar sobre a prática do amor?

É um caso comum. Uma professora de 38 anos, Luciane Nunes, que mora em Votorantim, interior paulista, decidiu há dez anos processar o pai, Antônio Carlos Jamas dos Santos, dono de postos de combustível em quatro Estados, por não ter cuidado dela direito, na infância e na adolescência. Luciane havia nascido de uma longa relação extraconjugal do pai, que durou oito anos.

A mágoa da menina foi agravada por ciúme e rejeição. Os filhos que o pai teve em casamento formal com outra mulher estudaram nas melhores escolas, aprenderam várias línguas. Ela não. Além de uma vida mais confortável, seus meio-irmãos tiveram a atenção paterna em casa. As brincadeiras, as broncas, os carinhos, os conflitos. Ela não.

Luciane cresceu, casou, teve filhos. Mas não superou o ressentimento. Decidiu colocar o pai de castigo numa sala de tribunal. Mostrar publicamente que, como empresário, ele pode ser bem-sucedido e morar em condomínio de luxo. Mas, como pai, embora a tenha reconhecido, não a amou o suficiente. Não a educou. Deixou a tarefa a cargo da mãe. Antônio Carlos conta uma história bem diferente: diz que tentou se aproximar várias vezes da filha, mas a mãe não permitia e era agressiva.

Como encontrar a verdade? Não invejo a juíza Nancy Andrighi, do STJ, que justificou a sentença. “Amar é faculdade, cuidar é dever.” A juíza está certa, não há como discordar. Ela listou algumas obrigações constitucionais da paternidade, “deveres inerentes ao poder familiar”: convívio, cuidado, criação e educação dos filhos. É melhor pensar direito antes de engravidar. Para dar à luz e não às trevas.
A professora que processou o pai por abandono afetivo obteve vitória judicial. Mas não o amor dele

Luciane é hoje uma mulher que conseguiu, após uma década de processo, uma vitória judicial importante. Mas não o amor do pai nem a paz interna. A indenização, fixada inicialmente em R$ 415 mil, foi reduzida à metade. Antônio Carlos diz que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF). Se o Supremo julgar e der razão a Luciane, abrirá caminho para uma enxurrada de filhos que não se sentem amados.

Por enquanto, o abandono afetivo não é previsto em lei. Há dois projetos. Um deles propõe detenção de até seis meses para pais acusados de não dar afeto ao filho menor. O outro propõe indenizar por danos morais os filhos e os idosos sem afeto. Quantos velhos são esquecidos em asilos sem receber visita ou ouvir uma só palavra de filhos e netos?
É complicado legislar sobre o exercício do amor e suas subjetividades. Se todos decidíssemos pedir indenização por uma carência temporária ou persistente de afeto, as Varas de Justiça teriam de fechar. Não dariam conta.

O sentimento de abandono nem sempre traduz a realidade. Algumas pessoas acham que amar pressupõe um contato diário. É preciso falar todos os dias. Pessoalmente, pelo telefone ou computador. Há quem se sinta sempre abandonado, mesmo com dezenas de amigos.

O trauma é maior se quem não demonstra amor é o pai ou a mãe. A falta de afeto pode causar profundos estragos emocionais nas crianças e nos adolescentes. Alguém duvida disso, mesmo sem ser psicanalista ou psicólogo?

Para ser pai e mãe, não basta dar nome e dinheiro. Tem de acompanhar, conversar, orientar, ouvir, disciplinar, brigar, beijar, rir e chorar. Ajudar no dever de casa. Consolar, estimular. Não é nada fácil ser pai ou mãe. Todos erramos em alguma medida, por excesso ou falta de zelo. Como somos humanos, dificilmente encontraremos o equilíbrio certo para cada filho, todos diferentes entre si.

Não sei se a mãe de Luciane bloqueou o acesso do pai à filha. Muitas mulheres agem assim, por vingança e ignorância. Mas conheço um número maior de mães que se esforçam, em vão, para o pai se envolver mais na educação do filho. Há homens, separados, que acham que, para ser pai, basta almoçar uma vez por mês com os filhos, compartilhar fotos e trocar uma ideia pelo Facebook, mesmo morando na mesma cidade. Não basta.

A decisão que beneficia Luciane, nas palavras da juíza Nancy, “abre um caminho para a humanização da Justiça”. Talvez abra caminho também para injustiças. Uma indenização não muda sentimentos. Não obriga ninguém a passar a amar. Ao contrário, azeda uma aproximação futura.

Se existe algum benefício na decisão do STJ de São Paulo, é levar as famílias a uma reflexão. Já que amar é cuidar, por acaso sou omisso ou negligente com meus filhos? E com meus pais? O Dia das Mães é um bom domingo para pensar se cuidamos direito de quem mais amamos.

Mães de fibra

O sábado já é das mães. Em seu post na seção Mulheres pelo Mundo, Renata Neder da ONG International ActionAid, escreve sobre os relatos de pessoas do mundo inteiro sobre suas mães.

Como esse post estará publicado na véspera do dia das mães, queria escrever algo sobre o papel das mães nas nossas vidas e no mundo. E aí me lembrei de um exercício do qual participei na Tanzânia uma vez. Para abrir uma sessão sobre gênero e orçamento, fizemos uma discussão sobre a importância e o papel das mulheres na vida de todos nós. Cada um deveria falar de uma mulher que tenha sido importante ou marcante na sua vida.

Todos, sem exceção, falaram de suas mães. Mães da Nigéria, de Serra Leoa, do Quênia, da Zâmbia, do Sudão. Mães de vários países, mas com o mesmo coração enorme de mãe, que carrega o maior amor do mundo. Resgatei algum desses relatos:

Mwanza (Quênia): “Quando eu era pequeno, não queria ir para a escola de jeito nenhum. Não queria ir e além disso era muito longe. Eu morava em uma área rural e a escola ficava a 10 quilômetros da minha casa. Mas a minha mãe, apesar de não ter estudado, fazia questão que eu estudasse.

Ela me levava e me buscava todos os dias na escola para garantir que eu não iria deixar de ir, para garantir que eu iria estudar. 10 km para ir e 10km para voltar… e ela me levava a pé todos os dias. Hoje eu agradeço a ela pelo que sou, por onde eu cheguei. Não teria chegado até aqui se ela não tivesse sido firme em me fazer ir para a escola.”

Felix (Nigéria): “Minha mãe teve 15 filhos, mas 3 morreram. Ficamos só 12 irmãos. Ela ficou viúva muito cedo e por isso sofreu muito preconceito, uma mulher sozinha com 13 filhos… Ela não conseguia empréstimos para ajudar no seu pequeno negócio porque era mulher. Mas mesmo com todo o preconceito e com todas as dificuldades, ela fez de tudo para mandar todos os filhos para a escola. Minha mãe era uma lutadora.”

David (Nigéria): “Eu sou o filho mais novo e o único homem. Meu pai fez de tudo por mim, tudo o que eu precisava, meu pai me dava. Mas meu pai não fazia o mesmo pelas minhas irmãs. Meu pai não queria que as minhas irmãs estudassem. Mas minha mãe fez questão que todas as filhas também estudassem e ela deu um jeito de pagar todas as taxas da escola. Quando a minha irmã mais velha foi para outra cidade, longe de casa, para poder continuar os estudos na escola secundária, meu pai disse que ela estava era indo para a prostituição.

Mas mesmo assim, minha mãe e minha irmã se mantiveram firmes, e ela seguiu os estudos. Depois que ela se formou na universidade e começou a trabalhar, quando ela ganhou seu primeiro salário, ela voltou pra casa para mostrar o resultado de ter ido à escola. Só assim, e depois de tantos anos, meu pai finalmente se desculpou pelo que disse. Se não fosse pela força da minha mãe, nenhuma das minhas irmãs teria estudado.”

Ndjira (Zambia): “Minha mãe teve que largar a escola muito cedo, não pôde continuar os estudos. Mas ela fez questão de que todos os seus filhos estudassem. Quando eu estava na escola, a minha mãe estudava comigo matemática. Mesmo ela tendo largado muito cedo a escola primária, ela estudou comigo matemática até eu me formar. Era incrível… ficava imaginando como ela poderia saber e conseguir estudar toda aquela matemática comigo tendo largado a escola primaria assim tão cedo… Era mesmo um dom. Eu tenho certeza que se ela tivesse tido uma oportunidade, ela teria sido alguma matemática ou cientista importante.”

Relendo esses relatos e pensando em tantas outras histórias que conheço, penso como é linda – e árdua – a luta das mães para dar uma vida melhor aos seus filhos. Mãe é isso aí, é não ter medo de enfrentar o mundo, é essa coragem desmedida, é essa força infinita, é esse amor imenso.

Presto aqui, então, minha modesta homenagem à fibra dessas mães, sua coragem, seu amor infinito e incondicional. E como, às vezes, a mãe que dá amor e batalha por nós não é a mãe em si, mas sim a avó, a tia, a irmã, o pai… essa homenagem se estende também a elas.

Para todas as mães que querem um mundo melhor para os seus filhos, e também o melhor de seus filhos para o mundo, um feliz dia das mães!

E para a minha mãe, um beijo especial com muito amor. Amor de filha também é infinito!


DANUZA LEÃO

Quanto vale um amor?

Pedir uma indenização -em dinheiro- porque não foi amada pelo pai, eu acho estranho

Abandono afetivo; e dá para entender que alguém entre na Justiça reivindicando uma quantia porque não recebeu do pai o afeto que gostaria?

O ideal seria que todos os pais cercassem seus filhos de carinho e de amor; mas isso é o ideal, e o ideal, como todo mundo sabe, não existe. Alguns pais não são nem carinhosos nem amorosos, que pena, mas a vida é assim, e uma filha que nunca teve o afeto paterno tem que entender que alguns não têm afeto para dar, ou apenas não conseguem -e tratar de viver a vida como ela lhe foi apresentada, isto é, como ela é.

Pedir uma indenização -em dinheiro- porque não foi amada pelo pai, acho estranho. Quem põe um filho no mundo tem obrigações, mas amor dá quem pode, nem é um problema de querer; e amor não se cobra, nem de pai nem de ninguém.

Fico pensando na quantidade de crianças que moram com pai e mãe e que nem assim recebem o afeto de que necessitam. Pais que não tomam conhecimento de suas existências, não conversam, nem ao menos olham para seus filhos, mesmo vivendo sob o mesmo teto. E aí, eles podem cobrar também?

Como? Se cobrarem, e o juiz achar que têm razão, como estipular a quantia que vai compensar a indiferença que sofreram durante anos? Vai depender da conta bancária do pai, imagino, mas não acho que seja por aí. Quem foi abandonada e desamada tem que dar a volta no passado sabendo, inclusive, que isso acontece muito mais do que se imagina.

Abandono afetivo; imagino que sejam raros os que não têm, lá no fundo do coração, a sensação de não terem sido amados suficientemente pelo pai ou pela mãe. Todos precisamos de amor, e quando somos crianças queremos todo o amor do mundo, e de todas as pessoas. Com o tempo, aprendemos que se recebermos algum afeto -de poucas pessoas, e só às vezes-, já está mais do que bom.

Carência afetiva não é fácil; alguns conseguem -ou pelo menos dão a impressão- superar e viver bem a vida; outros vão sofrer até o último suspiro, mas de uma coisa tenho certeza: não se resolve com dinheiro. Se resolvesse, nenhum filho de milionário teria o problema.

O valor da indenização me põe curiosa, tanto quanto qualquer processo que implique "danos morais". Já passou um pouco de moda, mas nos EUA, até anos atrás, uma mulher assediada sexualmente -nada de muito grave, apenas uma boa e competente paquera- processava o paquerador e exigia uma quantia por danos morais; é possível?

É normal que quando alguém sofre algum tipo de constrangimento precise de um desagravo (recompensa) pelo que passou, mas querer em dinheiro é uma maneira muito esperta de dar a volta por cima. Danos morais são vagos e dependem do foro íntimo de cada um.

Quando vou a São Paulo e, no aeroporto, a Polícia Federal me faz tirar os sapatos, o cinto e o relógio, e ainda por cima pega minha tesourinha de unhas e joga no lixo, eu me sinto vítima de grande violência moral, e acho que teria direito a uma indenização em $$$ -e ter a minha tesourinha de volta, claro-, mas ainda não fiz isso por achar, entre outras coisas, ridículo; mas que é constrangimento, é.

E os namoros que não deram certo, os casamentos que não vingaram porque o amor acabou, será que isso também pode ser considerado abandono afetivo? Quanto vale o amor que deixaram de nos dar?

O mundo está muito louco.

danuza.leao@uol.com.br

sábado, 12 de maio de 2012


Martha Medeiros

As mães e os filhos do mundo

Meu filho foi morar com o pai nos Estados Unidos, me disse uma conhecida. A minha guria está em Brasília fazendo um curso, disse outra. Meu mais moço foi passar seis meses na Austrália e, quando estava por voltar, conheceu uma espanhola e agora mora com ela em Mallorca.

Até um tempo atrás, poucos podiam mandar os filhos estudar fora do país ou bancar alguma experiência extracurricular, porém hoje as frases acima se tornaram constantes: a economia do país se fortaleceu, as oportunidades de bolsas para o Exterior aumentaram e a mentalidade evoluiu. Já não se viaja para lavar pratos, e sim para se aprimorar de uma forma mais consistente.

Uma vez lá, a garotada se esparrama. Arranjam empregos fixos, iniciam relações amorosas, conseguem vistos de permanência, e vão ficando. E as mães também vão ficando cada vez mais saudosas e acostumadas, pela força das circunstâncias, a viverem separadas dos filhos.

Todas as mulheres, assim que engravidam, são alertadas: “Os filhos não são dos pais, e sim do mundo”. Acham a ideia bonita, poética, porém nunca imaginaram que a sentença viria a ser tão real, além de metafórica. 

Gostamos de tê-los embaixo da asa, sentados à mesa durante as refeições, dormindo tranquilos no quarto ao lado. Porém, a sina de “serem do mundo” cedo ou tarde se confirma. Durante a infância, a casa materna ainda se assemelha ao útero, mas assim que meninas menstruam e nascem os primeiros pelos nos meninos, começa o processo de valorização da própria identidade. E se eles puderem fazer isso longe da vista dos pais, tanto mais autêntica parecerá essa busca.

Ainda mais agora que o mapa-mundi se tornou facilmente alcançável, não só por avião, mas por skype. Mãe, a gente vai se falar todo dia, nãochore.

E lá vai a Patrícia fazer um curso de ioga em Buenos Aires, a Victoria estuda belas artes em Paris, a Marica trabalhar com marketing me Londres, o Pedro cursar tetro no Rio, o Theo estudar cinema em Nova York, o João fazer um doutorado em Portugal,a Lina estagiar na Bahia numa empresa de Design Gráfico, o Carlos trabalhar num restaurante em São Paulo – não como lavador de pratos, e sim como assistente do Chef.

É o que queremos para eles: que cresçam, aprendam, se realizem. Não demora, srei mais uma dessas mães que terá que matar a saudades pelo computador. O que se pode fazer? Confiar qie a base dada quando eram, pirralhos seja suficiente para que se tornem cidadãos honestos e bem-sucedidos em qualquer parte do planeta.

Em vez de choramingar, ter orgulho de vê-los correndo atrás dos seus sonhos (e nã contar para ninguém que, em segredo, agente se pergunta: por que raios os sonhos não podem estar logo ali na Borges de Medeiros, na Avenida Ipiranga, no Moinhos de Vento?).

O mundo é do tamanho das ambições dos nossos filhos. E do nosso amor por eles, onde quer que estejam. Nesse dia das mães, meu desejo a todas: que a conexão não caia. Nem hoje, nem nunca.