sábado, 31 de dezembro de 2022


Feliz 2023 – saúde, sorte, sucesso

Por Tito Guarniere | 31 de dezembro de 2022

Que lhes posso desejar para 2023? Só coisas boas – saúde, sucesso, sorte, nessa ordem e só na letra “s” do dicionário.

O principal é a saúde. Pergunte ao homem mais rico do mundo, quando fica doente, o que ele mais deseja, e na ponta da língua está a palavra mágica : saúde! Ou mudando um pouco , perguntem se ele daria metade da fortuna em troca de ficar 10 anos mais jovem. Como em nenhum negócio espetacular dos tantos que fez ao longo da vida, ele responderá de pronto, sem pensar ou vacilar : sim, mil vezes sim.

Vi uma foto que me comoveu, Pelé e a filha Kelly no leito de hospital , em São Paulo. O craque, a celebridade, o gênio, o rei, certamente vivendo o ocaso de uma existência gloriosa, as batidas do coração lentas e descompassadas, talvez desse todo o seu reino de glória para se movimentar, sentar de conta própria, respirar normalmente. 

Mas mesmo o rei estava ali se rendendo à lei da vida, que é a mesma lei do fim e do passamento. Em momento fugaz de lucidez, ele talvez esteja implorando por um pouco de força, de luz – de saúde. Nessa hora não há rei, nem riqueza ou genialidade: o mundo fica igual e ninguém escapa à dor e ao sofrimento.

Então, saúde é o que interessa, como dizia o bordão da tevê. Saúde para caminhar lentamente na alameda olhando ao redor e pensando na vida, respirar o ar puro do campo, olhar as estrelas na noite clara, tomar no colo a criança e embalar-lhe o sono inocente. Saúde, caro(a) leitor(a) é o que lhe desejo mais do que tudo, e aos seus, no ano que está para começar.

Torço pelo seu sucesso no estudo, no trabalho, no seu projeto de vida. O sucesso é demorado e difícil – uma trajetória de altos e baixos, uma longa aventura cheia de percalços. O sucesso, que depende acima de tudo do nosso esforço pessoal – muito mais suor e vontade do que de talento e habilidade.

O sucesso, que não é garantido nem mesmo para quem se esfalfa no trabalho. Como nada é perfeito, nem sempre o empenho, o interesse, o esforço e o foco redundam na vida bem sucedida. Mas sem a energia, o esforço pessoal, a perseverança, dificilmente você conhecerá o êxito, a realização plena, o reconhecimento e a admiração (e às vezes a inveja ) de todos. Então, mãos à obra e quem sabe, com um pouco de sorte, o sucesso lhe abrirá um largo sorriso.

A sorte, ah sorte. É preciso muito sorte para desfrutar de certos privilégios (tipo viajar de classe executiva a Paris, Londres, Nova York duas ou três vezes por ano, morar na mansão e no bairro seguro, passar o final de semana na casa de campo ou da praia, trocar de carro todo ano e coisas assim) – sorte de vir ao mundo com talentos especiais (atores e atrizes de cinema, atletas de ponta, cantores e cantoras pop), nascer em berço de ouro, ganhar na loteria, casar com milionário ou mulher rica. O ruim é que estamos exaustos de saber que essas coisas só existem para uns poucos afortunados. Mas se a sorte nos contemplar em 2023, seja bem-vinda!

Bem, meus caros, de toda forma são os votos que formulo para você e os seus em 2023: saúde, sorte, sucesso.


CARTA DA EDITORA

PROTEÇÃO PARA OS FIOS

Durante a temporada de praia e piscina, o que nosso cabelo mais precisa é de uma boa rotina de cuidados e hidratação. Lavar bem os fios para remover o cloro e deixá-los prontos para receber um bom tratamento é o ponto de partida ideal. Além de hábitos básicos, como evitar o uso de secadores, outra sugestão é sempre preferir os condicionadores e máscaras com fórmulas nutritivas e hidratantes.

A visita ao salão para uma hidratação intensa também é parada obrigatória. Seja para recuperar a saúde dos fios ou para prepará-los para a próxima exposição, o tratamento profissional garante cabelos sedosos e iluminados o ano inteiro.

Para te ajudar nisso, nossa dica imperdível são os serviços do salão Beauty Line, do Donna Beauty Pompéia, que tem oportunidades especiais para quem deseja adicionar as hidratações à rotina.

VISITE-NOS: Espaço Unisinos - Av. Dr. Nilo Peçanha, 1.500.

Divas Olímpicas - O Calendário Solidário da Maturidade-RS, do Coletivo Divas da Alegria, chega à sua terceira edição em 2023 com uma homenagem ao universo dos esportes. A ideia é incentivar a prática de atividades físicas para um envelhecimento mais saudável. Além disso, a produção faz referência às mulheres que fizeram história em diferentes modalidades. Estrelam o calendário, denominado Divas Olímpicas, gaúchas entre 60 e 94 anos, com figurinos que remetem a uniformes marcantes, como uma releitura do vestido usado por Maria Esther Bueno em Wimbledon (foto à dir.), em 1962, e uma representação da ginástica rítmica (foto à esq.), entre outras. Para mais informações, acesse divasdaalegria.com.br.

Tendências à mostra - As principais novidades da moda do próximo inverno para o setor têxtil serão apresentadas entre os dias 24 e 27 de janeiro, na Fenin Fashion Gramado. Mais de 500 marcas de todo o Brasil estarão reunidas no Serra Park (Rua Viação Férrea, 100, bairro Três Pinheiros), com vestuário feminino, masculino e infantil para a temporada fria, além de acessórios e lingerie. O evento é um dos mais relevantes da América Latina no segmento e, para 2023, teve sua dimensão ampliada em 30%, com estimativa de público de 15 mil visitantes. Saiba mais em fenin.com.br.

CARTA DA EDITORA

31 DE DEZEMBRO DE 2022
CARTA DA EDITORA

O planeta gira com ela

Depois de dois anos, o verão gaúcho volta a ser o verão gaúcho. Com o retorno do Planeta Atlântida, veremos também a retomada de rotinas tão nossas, como os adolescentes ansiosos por suas estreias no evento e os nem tão jovens vivendo momentos de memória afetiva, ao som de Armandinho ou Jota Quest. No setlist de sábado, dia 4 de fevereiro, tem ela: Ivete Sangalo, uma das maiores estrelas do país e musa da capa de Donna que marca o fim de 2022 e o início do novo ano.

Não poderia ser mais representativo. No período que fica para trás, Veveta completou 50 anos de vida. Para o próximo, projeta de "tudo um muito", com shows e televisão, família e redes sociais, plenitude e ritmo frenético. Haja borogodó para um cozido desses, não é mesmo?

Na entrevista por e-mail, falou sobre a carreira, a maternidade e as pressões que sofremos - anônimas e divas das câmeras e dos palcos - por uma juventude eterna. Mesmo por texto, é possível ouvir seu vozeirão e reverenciar: "Ao contrário do que muita gente pensa, chegar aos 50 é estar agradecido, vibrando, brindando".

Falando em brinde, que 2023 nos reserve grandes mulheres como Ivete e as que fazem história longe dos holofotes, com ou sem milhões de seguidores, e munidas de inspiração para contar e escrever.

CARTA DA EDITORA

31 DE DEZEMBRO DE 2022
LEANDRO KARNAL

Historiador, professor da Unicamp, autor de, entre outros, "Todos Contra Todos: o Ódio Nosso de Cada Dia".

No RH do céu, um anjo entrevista o ano de 2023. Há uma vaga para o Ano-Novo.

"Preencheu todos os dados? Vamos conversar um pouco. Você não tem experiência, mas o Ano-Novo nunca tem. Você vem em paz? Não gosto de fazer fofoca, mas 2020, 2021 e 2022 foram complicados. O triênio foi uma provação cármica para as pessoas lá da Terra. A pandemia chegou, dominou e insistiu em ficar, ainda que não ocupe todo o sofá da sala agora. Ainda está lá com os pés sujos e o jeito folgado. Guerras? Nunca cessaram na Síria ou Iêmen. Expandiram-se para a Ucrânia. Política? Polarizada, cheia de fígado, atrapalhada e violenta. A Amazônia? A fumaça enche tudo aqui em cima. Nem vou falar! Três anos de retrocesso em quase todos os campos. E, agora, um novo ano...

Os anos passados foram difíceis para o mundo e complicadíssimos para o Brasil. Assim, precisamos fazer uma entrevista mais demorada. Suas intenções são boas mesmo? Você chega com muitas expectativas mais por causa do fim de 2022 do que pelas suas promessas de novidade.

Olha, o Chefe está meio irritado, sabe? Já disse que as pessoas não podem ficar tão mal que não tenham mais medo do Inferno (nossa concorrência). Se o mundo continuar assim, ninguém mais vai diferenciar estar vivo de estar condenado após a morte. Ele já disse que devemos selecionar um ano melhor para agregar valor à nossa marca. Hoje, está mais fácil defender a marca do concorrente do que a nossa.

Vou lhe dizer uma coisa entre nós: nosso protótipo para o mercado, Adão, tinha a cláusula do livre-arbítrio. Ele pisou na bola e quebrou o código de conduta. O filho Caim? Nunca incorporou nosso "mindset de crescimento". No dilúvio, tivemos de zerar a produção e dar um reset em tudo. O Chefe disse que iria mandar o próprio Filho para a unidade Terra e... fez isso. Foi um empreendimento desafiador. Ele voltou para a matriz com algumas marcas dolorosas daqueles anos.

2023, preste atenção: vamos lhe dar quatro metas! Você deve ser capaz de ampliá-las: terminar com a pandemia e não inventar uma nova; salvar a Amazônia; eliminar a fome; fazer com que as pessoas discordem, sem querer matar o debatedor. Se você conseguir 75% das metas, terá um bônus especial. Se atingir todas, o Chefe promete um cargo permanente aqui no setor Memória de Ano-Bom. Caso não queira, como estratégia, vamos pular já para 2024. Reflita. Falta pouco para o cargo ficar vago. Leve esta camiseta, brinde da nossa empresa. Nela, a palavra esperança. Interessa a você?"

LEANDRO KARNAL

31 DE DEZEMBRO DE 2022
RETROSPECTIVA 2022

RETROSPECTIVA 2022

O ano de 2022 deverá ser lembrado nos livros de História como o período em que a sociedade brasileira se partiu em duas. Duas facções políticas, demarcadas pelo uso do verde-amarelo ou do vermelho, foram cindidas pela disputa eleitoral em busca da Presidência da República de forma inédita desde a redemocratização do país.

A cizânia política cortou amizades de quem não partilhava a mesma preferência partidária, afastou parentes e culminou em atos de violência como o assassinato de um guarda municipal e dirigente petista em Foz do Iguaçu, no Paraná, em meados de julho. Marcelo Arruda foi abatido a tiros durante sua festa de aniversário de 50 anos, decorada com a imagem do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, por um radical bolsonarista que acabou agredido a chutes por participantes do evento depois dos disparos. 

Para cientistas políticos, as animosidades devem se reduzir à medida que o calendário se distancia da data da eleição, mas há dúvidas se o tempo também conseguirá cicatrizar o corte que se abriu no tecido social da nação.

- Creio que essa polarização não veio para ficar, porque o país não suporta uma coisa dessas. Uma coisa é a polarização política, mas o problema é que ela veio acompanhada da disposição à violência. Pelo menos, espero que não tenha vindo para ficar. O desafio será tomar medidas explícitas e sistemáticas para distensionar politicamente o país, como a revisão da política que facilitou o acesso às armas e a proteção de populações que foram muito hostilizadas, como os indígenas e quem produz ciência e cultura - avalia o cientista político Hermílio Santos, coordenador do Centro de Análises Econômicas e Sociais da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS).

A cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria do Socorro Sousa Braga é um pouco menos otimista:

- O resultado eleitoral mostrou que o grupo que estava no poder sai ainda bastante fortalecido. Como a sociedade está muito dividida, acredito que essa divisão vai permanecer. Apesar disso, sob o ponto das forças políticas no Congresso, a polarização deve se reduzir porque o grupo que deixa o poder não terá as mesmas moedas de troca para agregar os partidos.

A cisão colocou de um lado majoritariamente eleitores homens, pessoas de renda mais elevada e a população evangélica a favor de Jair Bolsonaro e, de outro, mulheres, a intelectualidade e a fatia mais pobre da sociedade em prol de Lula. A pequena diferença registrada no segundo turno - 50,9% a 49,10% em favor do petista - demonstra o delicado equilíbrio entre as alas políticas, que também se alimentam da rejeição ao representante do campo oposto.

Esse cenário, que já transparecia nas pesquisas de opinião, se materializou nas manifestações de rua. Os bolsonaristas realizaram atos de massa ao longo do primeiro turno e fizeram das festividades do 7 de Setembro um exercício de demonstração de força. O então candidato à reeleição trocou o tradicional tom institucional dos discursos de seus antecessores nessa data por uma retórica salvacionista que aprofundou o clima bélico:

- Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal, um mal que perdurou por 14 anos em nosso país - declarou a uma multidão em Brasília.

Lula usou as redes sociais para responder, em vídeo:

- Em vez de levar aos brasileiros uma mensagem de paz, união e esperança, o presidente da República utilizou a data para fazer campanha eleitoral e ofender seus adversários.

As manifestações favoráveis ao PT ganharam as ruas de forma mais visível nas semanas seguintes, por meio de comícios e caminhadas nas principais cidades brasileiras.

A disputa encarniçada puxou para a briga no campo político até celebridades e artistas. O cantor Gusttavo Lima, apoiador de Bolsonaro, teve seu nome vaiado todas as vezes em que foi mencionado durante o prêmio Multishow, por exemplo, enquanto Gilberto Gil chegou a ser intimidado por bolsonaristas no Catar, durante a Copa do Mundo.

A camisa da Seleção Brasileira também acabou sequestrada pela contenda ideológica passando a uniformizar os defensores do presidente, antes da eleição, e os manifestantes que pediram intervenção militar na frente dos quartéis depois de contados os votos que deram a vitória a Lula. A Copa do Mundo, iniciada dias após o segundo turno, serviu para resgatar a tradicional camiseta amarela do cativeiro político.

Até o presidente eleito se deixou fotografar utilizando o uniforme da CBF ao lado da mulher, Janja, em meio à competição. A equipe brasileira passou a concentrar a atenção e a torcida dos brasileiros, o que acabou gerando inconformidade em uma parte dos acampados pró-intervenção. Por meio de redes sociais, circularam apelos para a vestimenta padrão nos protestos substituir a chamada amarelinha por peças brancas ou camufladas.

Hermílio Santos sustenta que o clima de tensão que caracterizou 2022 também foi amplificado pelas ameaças ao sistema democrático mesmo antes dos protestos nos quartéis.

- Foi um ano de muita incerteza política, em que se gastou muita energia por não se saber se o resultado das urnas seria respeitado. Desde a primeira eleição após a ditadura, em 1989, nós jamais havíamos tido esse tipo de preocupação, que gerou instabilidade na sociedade, na economia e no setor privado - analisa o professor da PUCRS.

Outras incertezas serão carregadas 2023 adentro, como a capacidade da terceira gestão de Lula à frente do Planalto de manter a governabilidade diante da contrariedade de expressiva fatia dos brasileiros e de um Congresso em parte alinhado a Bolsonaro.

- Um dos desafios será estabelecer relações com uma parcela dos parlamentares que só conhece uma forma de lidar com governos, que é ter acesso facilitado ao Tesouro. Como manter a governabilidade sem se tornar refém do Centrão ainda é um grande mistério - sustenta Santos.

No outro lado do espectro ideológico, uma das questões para se prestar atenção ao longo dos próximos meses será a disposição de Bolsonaro de deixar para trás o fardo da derrota e se manter como líder popular da extrema direita. Nas semanas seguintes à derrota para Lula, o ainda presidente se isolou e mostrou-se triste nos poucos eventos oficiais de que participou a ponto de chorar diante das câmeras.

Para Maria do Socorro, será preciso altas voltagens de energia para manter a fidelidade da base bolsonarista sem as facilidades do poder emanado de Brasília.

- Uma coisa é ser presidente e estar pautando os assuntos do dia e da semana. Sem estar em arenas de poder, ou na mídia, teremos de ver como o clã Bolsonaro vai atuar, se vai seguir ativo nas redes sociais. A extrema direita costuma trabalhar com alta intensidade de mobilização. Sem isso, corre o risco de ir diminuindo aos poucos - acredita a professora da UFSCar.

"MODO GOBLIN"

Esta foi eleita a "palavra de 2022" pela Oxford University, na tradicional eleição realizada no Reino Unido

Significa, segundo a própria instituição, "um tipo de comportamento que é assumidamente autoindulgente, preguiçoso, desleixado ou ganancioso, geralmente de uma forma que rejeita normas ou expectativas sociais"

Trata-se de um termo que viralizou a partir de um tuíte satírico em cima de uma manchete falsa que citava a atriz Julia Fox dizendo que ela e o rapper Kanye West terminaram o relacionamento porque ele não gostava quando ela "entrava em modo goblin"

Os termos do ano segundo a Oxford University têm refletido mudanças comportamentais, e nos anos anteriores vinham sendo relacionados invariavelmente à pandemia, às turbulências políticas e às relações sociais em tempos de tecnologia digital - em 2016 foi "pós-verdade"; em 2017, "fake news"; em 2018, "tóxico"; em 2019, "emergência climática"; em 2021, "vax" (termo em inglês relacionado à "vacina")

Em 2020, foram eleitos termos específicos para cada mês, incluindo "coronavírus", "lockdown", "cancelamento", "vidas negras importam" e "impeachment" (por conta do processo a que Donald Trump foi submetido nos EUA

Expressão que se tornou cotidiana no vocabulário dos brasileiros ao longo de 2022, o orçamento secreto tinha previsão de somar mais de

R$ 19 bilhões

segundo a proposta de lei orçamentária encaminhada pelo Executivo ao Congresso. São as chamadas emendas do relator do orçamento da União, que foram objeto de debate na campanha eleitoral e de denúncias na imprensa. Já no final do ano, o STF considerou tais emendas ilegais. 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022


30 DE DEZEMBRO DE 2022
CARPINEJAR

O Brasil morreu

Pelé é sinônimo de Brasil. O Brasil morreu. Nunca imaginamos viver tal enterro, tal comoção, tal velório. 2022 será o ano em que Pelé se despediu da humanidade. É como perder a nossa explicação de país, de onde moramos, de quem somos.

Para os estrangeiros, Brasil é Pelé. Ele era o nosso visto no passaporte, nossos antecedentes, nossos pré-requisitos, nossas recomendações. Mais do que o Carnaval ou o café, mais do que o samba ou a alegria.

Era o rei eleito pelo povo, a nossa única unanimidade, o sorriso brejeiro de quem chegou no auge e não perdeu a majestade com o desenrolar da vida. Sua carreira foi perfeita. Não existe flagrante de um tropeço, uma pisada, um descuido, um escorregão, um carrinho de Pelé.

Seus olhos proféticos enxergavam o lance antes de sua consumação. Ele sabia sempre aonde a bola iria cair. Ele bailava com a bola, sua parceira de dança, até que ela pousasse no fundo das redes. Ninguém cuidou de uma bola com igual capricho e atração.

Há quem beije a bola, mas só com Pelé a bola retribuía e beijava de volta. Jamais existirá um outro Pelé - gênio vem, gênio se despede dos gramados e não há concorrente. Pelé elevou o patamar de excelência a um nível impossível de ser superado. A um patamar insuportável. Ele era um alienígena perto de qualquer mortal. O melhor do mundo não é capaz de ser o melhor de todos os tempos como ele.

Em apenas um time, o Santos, ele marcou 1.091 dos seus 1.283 gols ao longo da trajetória, levando o clube santista a conquistar duas Copas Libertadores da América e dois Mundiais Interclubes. E ele era tão fora da curva que alcançou a marca do milésimo gol em 1969, muito antes de sua aposentadoria, em 1977.

Pelé acumulou recordes, façanhas, milagres. As torcidas adversárias frequentavam as arquibancadas para saudá-lo mais do que para torcer pelos seus times. Ele parou uma guerra civil na Nigéria, em 1969, em inédito cessar-fogo na cidade de Benin, para que situacionistas e separatistas pudessem acompanhar o ídolo em campo. Aos 17 anos, na Suécia, já brilhava numa Copa do Mundo, com dois gols na final, um deles com direito a chapeuzinho no defensor. 

Popularizou o esporte nos Estados Unidos, jogando pelo Cosmos e atraindo público de 60 mil pessoas aos estádios, algo que nunca tinha acontecido para o futebol em solo americano. Ficou famoso até pelos quase gols, como o do chute de meio de campo contra a Tchecoslováquia e a finta de corta-luz contra o Uruguai.

O tricampeão do mundo (1958, 1962 e 1970) aprendeu a se desvencilhar dos goleiros sendo goleiro na infância. Seu apelido é uma derivação oral do Bilé, como era chamado nas peladas em Bauru pelos colegas quando atuava debaixo das traves.

Talvez tenha sido um goleiro disfarçado de atacante. Talvez esse tenha sido o segredo da sua altura, transferindo aos pés a exatidão e a ciência das mãos.

Tornou-se um assombro de agilidade, elasticidade, velocidade, drible. Suas cabeçadas tinham um impulso de um arqueiro matador. Suas bicicletas tinham a coreografia de um arqueiro que trocou de lado. Ele construía pontes, viadutos, passarelas da beleza na pequena área.

Se você não viu o Pelé jogar, tudo o que você vê de sublime no futebol veio de Pelé. Quis o destino que o atleta do século partisse logo depois de uma Copa do Mundo, a maior festa do futebol. Para lembrar que esse palco sempre será dele. Se Thomas Edison inventou a lâmpada, o mineiro Edson Arantes do Nascimento inventou a luz própria. Sua camisa 10 virou luz.

CARPINEJAR

sábado, 24 de dezembro de 2022


24 de Dezembro de 2022
ENTREVISTA

"No Brasil, mulheres têm pânico de envelhecer" Mirian Goldenberg | antropóloga

Especialista fala sobre preconceito que ainda assombra quem rompe padrões

Foi mandando um "f*da-se" que a estrela pop Cher, 76 anos, rebateu as críticas que tem recebido nas redes sociais por conta do namoro com um homem 40 anos mais jovem, o produtor musical Alexander Edwards, 36. No dia 6 deste mês, a norte-americana tuitou a seguinte mensagem para uma seguidora: "Você não tem nada pra fazer?! Deixa eu explicar? F*DA-SE O QUE AS PESSOAS PENSAM".

Assim como Cher, inúmeras celebridades mulheres tornam-se alvo de inquirição minuciosa do público e de xingamentos de "velha ridícula" e "baranga" quando, do auge de seus 60, 70 ou 80 anos, optam por viver suas vidas fora do padrão esperado para o tópico velhice feminina.

Para entender por que essas figuras causam incômodo e são alvo de discursos raivosos proferidos principalmente por mulheres, Donna conversa com a antropóloga Mirian Goldenberg, pesquisadora e autora de livros sobre o tema, como A Invenção de uma Bela Velhice e Amor, Sexo e Tesão na Maturidade, este com lançamento programado para início de 2023.

Na sua perspectiva, as mulheres sentem-se mais autorizadas a tecer críticas cruéis umas às outras quando estão aprisionadas a um rótulo que diz "eu só tenho valor pela minha idade", fenômeno que ocorre com força no Brasil, onde o corpo feminino é visto como um capital.

- O que mais me angustia é que as próprias mulheres se aprisionam internamente e não aceitam as escolhas femininas, não admitem serem valorizadas por outras coisas que não a juventude, o corpo e a beleza. Porque, quando você critica uma mulher como a Cher, que escolhe um homem mais jovem, você está dizendo "seu valor só está na juventude, na beleza, no corpo e, quando você envelhece, não vale nada, é invisível". E isso não é verdade - afirma Mirian.

O que significa o termo "velhofobia", que você utiliza quando trata de casos como o da Cher?

No Brasil, principalmente, nós, mulheres, temos pânico de envelhecer e é isso que eu chamo de "velhofobia". Começa cedo e continua ao longo da vida. Tenho alunas de 25, 30 anos dizendo "ai, meu Deus, não tenho filho, marido, como é que vai ser? Vou ser uma velha...". É o fato de enxergar somente decadência na velhice que as faz condenarem outras. Mulheres que dizem "vou viver minha vida, não sou um número, não sou um rótulo, sou uma mulher e ele me ama, me trata como rainha". Por sinal, algo que encontrei em minhas pesquisas com homens que são 10, 20, 30, 40 anos mais novos que suas esposas é que eles as admiram profundamente. E nada tem a ver com corpo, beleza e idade, tem a ver com caráter e personalidade. É isso que temos que inverter. Em um dos capítulos do meu novo livro, eu falo que é uma delícia ser uma "velha ridícula?". Quando alguém me disser isso eu concordo e digo "sou mesmo e é ótimo". Porque, na realidade, esse xingamento revela que você é livre, e está fugindo dos padrões sociais que dizem que a mulher tem que ser inferior ao homem até na idade.

Por que mulheres são tão criticadas mas, quando a situação é inversa, os homens são menos hostilizados?

Isso quer dizer que as mulheres estão mais aprisionadas no corpo jovem como um valor. O corpo como capital na cultura brasileira funciona assim: você é mulher, então o seu maior valor é sua juventude, seu corpo, sua sensualidade e sua beleza. O homem é valorizado por outros capitais, por poder, status, dinheiro, inteligência, humor. Na Alemanha, na França, as mulheres envelhecem e saem com seus cabelos brancos, são valorizadas por outras coisas. Claro que não é só a cultura brasileira que valoriza corpo e juventude como capital, nos Estados Unidos também acontece, mas aqui é pior. Não por acaso somos a nação número um em remédios para emagrecer, moderadores de apetites, ansiolíticos, antidepressivos, cirurgia plástica e estética, botox, tintura para cabelo, e somos as que mais deixam de sair de casa quando nos sentimos velhas, feias e gordas.

Aqui é pior e, por causa disso, nós sofremos muito mais. E o sofrimento não é um fracasso individual, é cultural. Todas as brasileiras sofrem. Mesmo as libertárias, como eu, sofrem porque estão numa cultura em que a juventude é um capital e não há como você ser alienada da sua cultura.

O que falta para pararmos de reproduzir essas falas?

Sou pesquisadora há mais de 30 anos e faço o meu papel, mas sou só uma. Precisamos de mais e mais mulheres que lutem para se libertar e libertar outras mulheres. E esse "se libertar" quer dizer parar de rotular, de patrulhar e de querer colocar as mulheres em caixas de "jovem" e "velha". É deixá-las fazerem as suas escolhas. E, atenção, porque hoje também existe um movimento contrário, as novas patrulhas que dizem "tem que deixar o cabelo branco, tem que transar três vezes na semana, se não você não é feminista, não é libertária". O que eu acredito é que cada mulher pode e deve escolher o que ela bem entender, desde que não esteja agredindo ninguém. Liberdade quer dizer cada uma poder escolher envelhecer do jeito que bem entender. Quer namorar caras mais novos? Namora. Não quer namorar nunca mais na sua vida? Não namora.

Falta sororidade entre a mulheres?

Uma das coisas de que eu mais falo nos meus livros é de como as mulheres, tanto as mais jovens como as mais velhas, não aceitam diferenças, não aceitam mulheres mais livres e revolucionárias, mulheres meio Leila Diniz, que revolucionaram os comportamentos nos anos 1960 e 1970. Tudo o que estamos conversando nesta entrevista só tem sentido porque, nessas duas décadas, elas revolucionaram tudo em termos de sexo, corpo, casamento, maternidade, divórcio, pílula, prazer. São as que envelheceram e hoje têm a idade da Cher.

E elas não vão deixar de lado o que conquistaram por terem chegado à velhice, certo?

Exatamente. As mulheres que nos anos 1960 e 1970 revolucionaram tudo não vão deixar a velhice ser igual ao que era para gerações anteriores. Elas fizeram a revolução naquela época e agora estão fazendo a da maturidade, na medida em que ensinam a enxergar a beleza do envelhecimento. Porque beleza tem muito mais a ver com liberdade e felicidade do que com idade e corpo. Essa é a revolução, é mudar o olhar. Numa cultura que só enxerga beleza, saúde e produtividade nos jovens, a grande revolução vai ser tirar os óculos da velhofobia e enxergar a beleza da velhice. Essa é a grande revolução.

Letícia Paludo

24 de Dezembro de 2022
CLAUDIA TAJES

Abuela La La La

"Se minha sobrinha estivesse em casa, talvez a gente se abraçasse e eu voltasse a sentar no sofá. Mas estava sozinha, então peguei minha bandeira e saí".

Foi assim que Maria Cristina Mariscotti, 76 anos, explicou porque virou um dos símbolos da Copa dos argentinos. Ela, a Abuela La La La. Avó em espanhol, avó de toda a Argentina.

O mundo inteiro viu a senhora de cabelos brancos e máscara pulando na esquina de casa entre alguns rapazes, àquela altura não muitos, depois da vitória contra a Polônia, ainda na fase de grupos. No jogo seguinte, contra a Austrália, o número de torcedores na esquina festejando com a Abuela já era maior, até explodir nas comemorações do tri, no domingo passado.

Abuela La La La.

Maria Cristina, que nem avó é, acabou arrumando milhões de netos pelo país. Consta que argentinos de La Quiaca a El Calafate esperavam a Abuela festejar ao final dos jogos como uma espécie de prenúncio das vitórias que viriam.

E vieram.

A Abuela venceu até mesmo uma suposta maldição que pairava sobre os hermanos. Conta-se que, em 1986, o então treinador da seleção deles, Carlos Bilardo, prometeu à Virgem de Tilcara que todo o elenco voltaria ao México em peregrinação com o troféu, caso fossem campeões. A Argentina ganhou a Copa, os jogadores não voltaram para pagar a promessa e a Virgem, ao que tudo indica, cobrou o preço. Foram 36 anos de seca até o fim da urucubaca com o pênalti de Montiel.

Juntar uma santa com urucubaca é mais que ecumenismo, é uma tradução de fé.

A Abuela chegou a passar mal no dia seguinte à conquista. Enquanto Messi y sus niños comemoravam feito loucos, e os borrachos tomavam as ruas da Argentina, a pressão da abuelita foi nas alturas, quase nos índices da felicidade dela. Só por isso Maria Cristina não foi vista agitando a bandeira no alto de um semáforo, como alguns de seus compatriotas. Ficou quietinha para esperar a festa marcada para continuar na terça, com a chegada da seleção e da taça ao Obelisco.

Por aqui, torço para que a Abuela La La La seja convocada a desfilar no caminhão com os jogadores - sem esquecer do remedinho embaixo da língua, para garantir. E desde já me candidato a ser a Vovó Ó Ó Ó da próxima Copa, caso o Brasil faça o favor de nos dar a alegria que a Argentina deu a seus torcedores.

Ao apagar das luzes, mais dois lançamentos para presente. Jorge Furtado, especialista em cinema e em Shakespeare, misturou ficção e história em As Aventuras de Lucas Camacho Fernandez, o primeiro tradutor do bardo para o português. Da Companhia das Letras. Ana Fonseca e Mauren Veras apresentam Direitos de Toda Leitora, em que conversam com as meninas sobre diversidade e representatividade. Da Libretos.

O Natal mais feliz do mundo, nesse 2022 que vai chegando ao fim, é o da Argentina. Que o nosso, embora sem taça, seja cheio de esperança em dias melhores para o país inteiro. Feliz Natal.

CLAUDIA TAJES

24 de Dezembro de 2022
MARTHA MEDEIROS

Todo santo dia

Cada vez que você acompanha sua mãe na consulta ao médico, que explica de novo para seu pai como enviar fotos pelo WhatsApp, que convida seu avô para uma partida de xadrez, é Natal. Basta uma gentileza, uma atenção, e você promove o ordinário a sagrado. E você achava que um único Natal era suficiente, que jamais sobreviveria a dois. Pois você vem sobrevivendo a vários.

Já não carrego dinheiro vivo comigo, mas às vezes saco algumas notas, a fim de ajudar quem está passando necessidade na rua. Outro dia dei 20 reais para um senhor parecido com o Keith Richards, e a semelhança terminava aí. Ele me disse: obrigada, hoje vou conseguir almoçar. Era uma manhã de quarta ou quinta-feira, talvez sexta, tanto faz. Anoiteceu e o sino gemeu.

Todo santo dia, você faz alguma coisa legal. Alguma coisa Natal. Empresta o livro que mais ama para alguém que talvez não vá devolvê-lo. Vai buscar um amigo no aeroporto, mesmo ele dizendo que não precisa se incomodar, que ele pode pegar um Uber. Fica com a chave do apartamento da vizinha e entra lá para alimentar o gato, enquanto ela não volta de férias. Dá uma carona no seu guarda-chuva para alguém que saiu sem conferir a previsão do tempo. Aceita o folheto que o menino entrega no sinal, para que ele sinta que a tarefa dele tem valor.

O Natal não é um dia santo para todos. Nem todos creem, ou rezam, ou se comovem, para muitos é só peru, sarrabulho e pacotes embaixo de uma árvore artificial, forçando sorrisos igualmente artificiais. Mas todo santo dia a gente pode tentar acertar no presente.

Até mesmo sozinho em casa, isolado. Poderá ser o dia especial em que você decidirá perdoar a indiferença de alguém que nunca se importou com seu sentimento. Poderá ser o dia que você desistirá de culpar um parente por uma limitação que, afinal, é só sua. O dia que você abrirá um vinho e se despedirá serenamente de um amor que se foi, sem mais tentar retê-lo. 

O dia que você apagará a postagem ofensiva que fez contra uma pessoa que apenas discordou de você. Longe de mim causar pânico, mas nós mesmos podemos provocar uns 10 Natais por dia, todo santo dia. E aguentamos sem reclamar, nem nos damos conta, afinal, não são feriados, e sim dias úteis - dias em que nós somos úteis. Dias banais em que, com uma merreca de gesto, a gente atenua a sensação de inferno e deserto que dilacera tanta gente.

Todo santo dia é Natal, qualquer dia de janeiro, abril, agosto pode trazer o espírito deste Natal badalado de 25 de dezembro, com a vantagem de não serem datas dispendiosas, obrigatórias ou repetitivas - aleluia. De jeans e camiseta, com o cabelo ainda molhado, apenas trocamos alguns presentinhos com o universo, sem estresse.

MARTHA MEDEIROS

24 de Dezembro de 2022
ARTIGOS

Duas visões sobre a gestão de Leite

Um governo com a marca do PSDB - O risco de ir na contramão do Brasil

O PSDB gaúcho chega ao seu terceiro período à frente do Palácio Piratini como um partido maduro, que certamente escreveu, na história política do Estado, um capítulo exemplar de gestão pública. Nos anos Yeda Crusius e no primeiro governo Eduardo Leite, o Rio Grande do Sul colheu resultados fiscais sólidos. Agora, com um terceiro mandato, o segundo deles consecutivo, teremos a possibilidade inédita de acelerar conquistas a partir de um ponto de partida financeiro mais equilibrado.

Podemos esperar, a partir de 2023, um governo que irá perseguir a melhoria de desempenho na execução das políticas públicas, ganhando velocidade, alcance e capacidade de execução. A situação fiscal ainda não está totalmente equacionada, mas os avanços recentes dão segurança para aprofundar a modernização da máquina e ampliar as entregas à população. Este é o sentido primordial de um governo: fazer a diferença na vida das pessoas, entregando obras e serviços capazes de transformar a realidade em que vivem.

Entre todas as prioridades, a educação receberá um tratamento especial, o que é fundamental. É a partir dela que as pessoas concretizam seus sonhos e anseios. Como deputados, estaremos ao lado desta agenda que já foi proposta e encaminhada pelo próximo governo Leite. Seremos parceiros de todas as iniciativas que visem a promover a qualificação da gestão escolar, aprimorar os processos de ensino e aprendizagem e melhorar a infraestrutura das nossas unidades de ensino. Não tenho dúvidas de que o governo irá conduzir uma das mais profundas transformações da educação que o Rio Grande do Sul já viu e, com isso, prospectar um futuro muito melhor para as gaúchas e os gaúchos.

O tema do desenvolvimento econômico também estará no centro das preocupações da próxima gestão, combinando crescimento com inovação e sustentabilidade. Os resultados obtidos neste governo que se encerra certamente terão impacto na competitividade e na geração de novas oportunidades. O próximo ciclo irá intensificar a promoção comercial do Estado, abrindo mercados, e agindo para que a economia gaúcha obtenha ganhos concretos de produtividade.

Há uma expectativa de que o governo Eduardo Leite também possa se concentrar nos assuntos relacionados à Região Metropolitana. Por conta da recuperação da capacidade de investimento, é possível buscar soluções, junto com os municípios, para os problemas crônicos da região, como a questão da integração do transporte metropolitano, que afeta o trabalhador e também os empreendedores. Além disso, a nova Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária pode atuar no sentido de encaminhar respostas confiáveis para o tema da moradia na região. Por fim, temas como o turismo e a saúde, também serão alvo de propostas de investimento nessa região.

No campo político, o novo governo do PSDB saberá articular, com o apoio da nossa bancada tucana, um ambiente de composição e colaboração com a sociedade gaúcha, notadamente dentro da Assembleia Legislativa. Iremos defender nossos pontos de vista ideológicos e programáticos, mas sempre buscando o diálogo e a conciliação. Este é nosso jeito de fazer política, é a marca do PSDB, e não iremos nos afastar desse compromisso que nos caracteriza.

O governador Eduardo Leite precisa calçar as sandálias da humildade para fazer um bom governo. Deve se dar conta de que, no primeiro turno eleitoral, mais de 75% dos gaúchos que votaram disseram "não" à sua primeira gestão. Foi uma reeleição contingente, em que a transferência dos votos de Edegar Pretto e de outros candidatos foi decisiva. Votar nele era a única maneira de evitar uma sobrevida regional ao bolsonarismo. Não me arrependo de tê-lo feito.

Mas o reinício está ruim. Contraditoriamente ao que disse na campanha sobre a centralidade do Rio Grande do Sul em seu projeto político, nem começou seu novo mandato e, noticia-se, já aceitou assumir a presidência nacional do PSDB. Presidir um partido é assumir um lado, o que é contraditório com a pretensão de unir o Rio Grande. Governar o Estado exige tempo integral, foco exclusivo e muita dedicação. Caso se confirme a condição de presidente nacional do PSDB, minha interpretação é de que haverá uma meia renúncia, o que não é nada bom para iniciar um governo. Pior: Leite assumirá a pretensão de se transformar em um líder nacional de oposição, o que, evidentemente, não é o melhor caminho para o Rio Grande resolver os seus problemas. Um governador não se elege para ser oposição; ao contrário, precisa estabelecer, em nome de todos os gaúchos, as melhores relações possíveis com os outros entes federados.

As más notícias não param por aí. Ao apoiar a manutenção do calendário de privatização da Corsan, contra todas as mensagens vindas do novo governo federal, sugere que dará continuidade a uma política de entrega do patrimônio público, o que colocará nosso estado na contramão do Brasil. Um sinal, também, de que a tendência é termos mais do mesmo, o que, é bom lembrar, não obteve apoio majoritário na eleição. Aparentemente, essa ideia reiterada de que o mercado e a venda ou concessão dos ativos públicos resolvem os problemas do Estado estará novamente no núcleo das políticas que serão desenvolvidas.

Leite não apresentou qualquer projeto de desenvolvimento até agora. Continuará confiando apenas nas forças do mercado para que o Rio Grande do Sul cresça? Essa política, como se sabe, ao contrário da expansão e qualificação de serviços públicos, aposta sempre em restringir ao máximo a presença do Estado. Assim, os limites do teto de gastos estadual, aprovado no âmbito das negociações do Regime de Recuperação Fiscal, devem ser a âncora da gestão, impedindo qualquer ampliação de investimentos em áreas fundamentais do Estado, como saúde e educação. Essa mesma visão orienta também a ideia de que o piso salarial regional - que impacta 1,5 milhão de gaúchos - não pode ser valorizado, o que indica a continuidade da política de arrocho sobre os salários dos que mais precisam, ao contrário do que o novo governo federal anuncia, com uma política de crescimento real do salário mínimo nacional nos próximos quatro anos.

Para que não nos acusem de um ceticismo intolerante, importa ressaltar como positivo o compromisso do governador eleito com o processo democrático, o que é um valor importantíssimo. Mas o Rio Grande do Sul, como se sabe, precisa de muito mais do que um discurso em defesa da democracia, embora as práticas participativas de um passado recente fossem, também, bem-vindas. É preciso cuidar dos que mais precisam, com políticas públicas inclusivas e garantidoras de direitos. Essa seria a nossa expectativa com um bom governo. A realidade, porém, sinaliza algo bem menos satisfatório.

 Líder da bancada do PT 2023/24 Deputado estadual eleito pelo PSDB -LUIZ FERNANDO MAINARDI VALDIR BONATTO

 
24 de Dezembro de 2022
LEANDRO STAUDT

Memórias de Natal

Nenhuma data superaoNatal no meu baú de memórias. Provavelmente, vocêstambém estão carregados de lembranças. O Papai Noel provoca fascínio nas crianças, mesclando alegria, medo, euforia e ansiedade. Mesmo em meio a tanta s emoções,éimpressionante a capacidade dos pequenos observarem os detalhes. Por muito pouco, não fui desmascarado pelos pés em um Natal. Minha afilhada Ana Clara, então com dois ou três anos, comentou que o Papai Noel usava ostênis iguais aos do dindo.

Pensando bem, eu também fiz a mesma descoberta quando tinha os meus oito ou nove anos. O Papai Noel que pisou em um dos meus pacotes de presente usava relógio igual ao do meu tio Beto. Bingo!

Sherlock Holmesficaria com inveja da minha astúcia.

Sem shopping na minha cidade, víamos o Papai Noel na frente das maioreslojas do comércio de rua de Novo Hamburgo. Com balas dentro de um saco, era parada obrigatória na década de 1980. Outra lembrança de Natal é dos passeios de carro nos anos 1990. Com o Plano Real e a chegada das luzinhas produzidas na China, casas ficaram iluminadas como nos filmes norte-americanos. Em família, percorríamos os bairros em busca das melhores decorações. Não posso me esquecer das missas. Vestindo roupa de domingo, quem sabe uma nova ganhada na noite anterior, a igreja era o destino na manhã do dia 25 de dezembro.

Nada supera as lembranças dos presentes. Como nasci no Natal,sempre ganhei dois presentes. A primeira bicicleta veio aos cinco anos, uma BMX Pantera de pneus amarelos. Nas pedaladas iniciais, mesmo com rodinhas, caí sobre espinhos. Lembro-me como se fosse hoje da enfermeira Clarinda, nossa vizinha, retirando um por um todos que ficaram pelo meu corpo. Mesa de botão, videogame e outros brinquedos inesquecíveis da infância também vieram com o Papai Noel.

O Natal é especial pela reunião das famílias.

Mas também pode ser um momento de tristeza e saudade, principalmente daqueles que já não estão mais conosco. Nas crianças, pode surgir a frustração de não receber o presente desejado.

É aprendizado para a vida.

Chegamos a mais um final de ano. Talvez vocês viajem para casa de familiares ou os recebam. Momento para viver o presente e reviver o passado, quem sabe revirar as gavetas dos álbuns de fotografias.

Espero que seja uma festa de boas lembranças paraofuturo. Feliz Natal!

LEANDRO STAUDT

24 de Dezembro de 2022
ENTREVISTA

"O que precisa ser reestruturado e ficou pendente é o IPE Saúde"

EDUARDO LEITE Governador reeleito do Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul nunca havia reeleito um governador. O que esperar do segundo mandato?

O diferencial é conhecer as engrenagens e ter capacidade de fazer ajustes rapidamente. Usamos a transição para ajustes em secretarias, posições de chefias e lideranças, melhorando postos transversais, que tocam em várias secretarias, e cargos técnicos que são a espinha dorsal do governo. Tudo para melhorar a performance. O desafio do primeiro governo era o equilíbrio das contas. O do segundo é o desempenho, a entrega das políticas públicas. Quero um governo com mais efetividade.

Mudar secretários não ameaça esse avanço, à medida que entram pessoas que não conhecem a máquina pública?

Não. Por mais que se troque secretários, por questões técnicas ou políticas, a coordenação de governo segue a mesma. E mais abaixo na estrutura, muitos nomes permanecerão em posições estratégicas.

O senhor era contra a reeleição dizendo que o segundo mandato é pior do que o primeiro. Como evitar que isso ocorra?

Estou muito entusiasmado para o segundo mandato. Conseguimos virar a chave de conseguir pagar as contas em dia e, pelo tanto que vejo, temos condições de fazer mais. O desafio é não permitir que a vitória se transforme em conforto e nos desafiarmos a sermos uma evolução. O tambor que o governador tem que bater é para que o governo não perca o ritmo e possa acelerar.

O senhor teve a maior base de apoio que um governador já desfrutou. Agora a oposição está maior. Como aprovar projetos polêmicos?

No primeiro mandato, endereçamos logo nos primeiros meses os projetos com mudanças mais profundas. No próximo ciclo de governo, não prevejo algo nessa dimensão, o que nos dá perspectiva de um relacionamento menos tensionado.

Quais são os projetos que o senhor pretende enviar à Assembleia na largada do ano legislativo, quando se aproveita o capital político conferido pelas urnas para aprovar medidas mais polêmicas?

O que precisa ser reestruturado e ficou pendente é o IPE Saúde, para que a gente possa dar sustentabilidade ao plano. Ele é importante para um milhão de vidas, mas também relevante nos hospitais e clínicas credenciadas.

As mudanças já estão definidas? Terá aumento nas contribuições?

É uma reorganização. Pode ter redução para alguns e alíquotas maiores para aqueles com maior demanda. Há estudos prontos, mas não me debrucei porque estive focado na estrutura da máquina e na composição das posições-chave do governo. A gente ainda vai conversar com os sindicatos para que, na abertura do ano legislativo, em fevereiro, possa ter um projeto que chegue na Assembleia com o máximo de entendimento.

O senhor passou quatro anos pedindo compreensão ao funcionalismo, que ganhou 6% de reajuste. Agora o senhor, o vice e secretários ganharão aumento de 40%. Virão ainda aumentos para CCs. Não é contraditório?

Não é correto fazer a comparação. Professores tiveram o salário inicial aumentado em 75% nos últimos quatro anos. Policiais militares, civis e outras carreiras tiveram reestruturação que gerou aumento substancial nos anos recentes. A remuneração do governador é a mesma há oito anos. O que se busca é colocar a remuneração de quem responde por um orçamento bilionário em patamares condizentes com as atribuições. Um delegado de 4ª classe, um coronel e um procurador do Estado recebem R$ 29,5 mil. Esse foi o patamar escolhido para um secretário, até para que possamos recrutar pessoas que são disputadas no mercado.

Quando o senhor terminará a montagem do secretariado?

Estamos avançando bem e acho que logo deveremos ter a maior parte da composição fechada.

A Secretaria de Segurança Pública entra na negociação política?

Não. A Segurança, a Educação e a Saúde devem estar sob olhar técnico. A gente procura alguém que tenha experiência e entendimento para coordenar uma área em que tivemos grandes avanços.

Como o senhor recebeu a investigação da secretária de Saúde, Arita Bergmann?

Há um inquérito na Polícia Federal, houve busca e apreensão. Não podemos confundir com condenação, há o direito à defesa e torço para que tudo se esclareça e não surja desvio de conduta. Não farei julgamento apressado para condenar nem absolver. Como qualquer agente público, ela está submetida à necessidade de prestar contas, especialmente se há dúvida.


24 de Dezembro de 2022
CARTA DA EDITORA

Direto do Litoral

A cobertura da temporada de verão começou! Seguindo uma tradição de mais de duas décadas, desde a última quinta-feira a Redação Integrada de ZH, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho conta com uma equipe de profissionais no Litoral Norte. A repórter Karine Dalla Valle, o fotógrafo Jefferson Botega e o motorista Alex Rabello estão em Capão da Canoa para acompanhar a chegada dos veranistas e trazer as dicas sobre o trânsito nas rodovias que levam aos balneários.

A partir do dia 26, também teremos equipe na praia de Tramandaí. Até o dia 26 de fevereiro, serão 18 pessoas que irão se revezar nessas praias, além da retaguarda na Redação Integrada, que conta com profissionais produzindo e editando os conteúdos que chegam do Litoral.

Mas antes de se iniciar a cobertura oficial, ao longo do mês de dezembro apresentamos aos nossos leitores e ouvintes a preparação das cidades dos litorais Norte e Sul para a temporada mais esperada do ano e também uma radiografia das estradas.

- A expectativa é alta, pois devemos ter menos restrições relacionadas à pandemia. Os jornalistas que farão parte desta cobertura estão ansiosos para colocar o pé na areia e contar as tendências, as comidinhas que todo mundo quer provar nos quiosques, o que será a "febre" vendida pelos numerosos ambulantes, mas também estão com a missão de fazer reportagens sobre temas como infraestrutura, segurança pública e saúde - diz Rosângela Monteiro, editora responsável pela cobertura de verão na Redação Integrada.

Em janeiro e fevereiro, também estaremos no Litoral Sul. Vamos mostrar as atrações do próximo ano, como uma rota recentemente inaugurada, que começa em Rio Grande e vai até o Chuí e que está toda identificada para o turista aproveitar.

Os conteúdos de verão estarão em ZH e também no site e aplicativo de GZH.

Nesta sexta-feira, o jornalista Eduardo Bueno escreveu a sua última coluna em ZH e GZH. Conforme o próprio colunista relatou, em 2023 assumirá novos projetos.

A partir do dia 30, o espaço será ocupado todas as sextas-feiras pelo jornalista Daniel Scola. Sucesso aos dois.

Dione Kuhn

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022


23 DE DEZEMBRO DE 2022
CARPINEJAR

Sempre terá sido cedo

Quando morre alguém com mais de 85 anos, não somos tocados pelo mesmo pesar, pela mesma compaixão. Não nos afeta tanto. Não nos escandalizamos com o obituário. Não mergulhamos no pasmo e no espanto de querer logo descobrir como aconteceu o desenlace. Internalizamos a causa natural.

Costumamos justificar que viveu bem, que viveu muito. A velhice parece ser um atenuante para o fim. Como se o luto de um ente querido na terceira idade doesse menos, já que ele teve a sorte de viver por um longo tempo.

É um preconceito, ou talvez uma defesa moral contra o impacto do luto. Justamente devido à longevidade de quem ama, você é capaz de sofrer o dobro. Tem mais memória para lembrar, tem mais momentos juntos para sentir falta, tem mais experiências em comum.

A figura se mostrava com tamanha pontualidade, com tamanha assiduidade em seu dia a dia, que você nem acreditará no seu repentino desaparecimento. Acabará vítima de uma avalanche emocional, soterrado pelo vazio. Lágrimas virão aos borbotões, pesadas como cristais.

Quanto mais vive uma pessoa, maior o nosso apego, maior a fortuna que ela nos deixa de gestos e palavras. O repertório para a saudade será gigantesco, terá um baú de cenas inesquecíveis, um testamento imenso de lições, um relicário de detalhes da convivência, um manancial de conselhos, passando por manias até registros inteiros de conversas.

Por isso, sentimos tanto a partida de um vô ou de uma vó. Jamais naturalizamos as suas despedidas. São abruptas e inconsoláveis, mesmo que eles já tenham um histórico de doenças e de internações. A razão não sustenta o coração, a previsibilidade não suaviza o choque.

Apesar da consciência da finitude deles, não estaremos preparados para enfrentar a profundidade de suas lacunas. Representam nossas raízes, com seus tentáculos de ternura espalhados por baixo do chão de nossos princípios.

Não se tem noção de até onde as raízes se estenderam dentro de nós. E se atravessaram, de modo subterrâneo, ruas inteiras da nossa personalidade? Só podemos enxergar a árvore, a aparência da árvore, não as raízes. Elas tornam-se visíveis unicamente após o tombamento do tronco.

A constância dos laços, portanto, aumenta a tristeza do adeus. Você se acostumou com aquela presença. Até a julgava eterna. É difícil admitir que ela não estará mais aqui oferecendo o conforto de um abraço ou o aconchego quente das mãos dadas. 

Na morte, somos sempre crianças, não importando a idade ou o tamanho do caixão. Sempre terá sido cedo.

CARPINEJAR


23 DE DEZEMBRO DE 2022
ARTIGOS

CIÊNCIA QUE TRANSFORMA

Ao longo da história, a Igreja Católica e suas instituições se constituíram como espaços de referência em educação. Mesmo mantendo força e relevância, é preciso reafirmar essa formação de excelência, especialmente quando falamos em Educação Superior. Como espaço privilegiado de geração e difusão do conhecimento, a PUCRS é hoje uma instituição de vanguarda para a promoção da ciência no Brasil. Alcançar o conceito 6 na Avaliação Quadrienal da Capes, melhor resultado de sua história, comprova sua relevância: são 16 programas de pós-graduação com excelência internacional.

Uma trajetória acadêmica requer dedicação, foco, orientação e, se o percurso for fruto de uma escolha pessoal e profissional, reverte-se em desenvolvimento de potencial. Essa perspectiva, da relação entre formação e impacto social, caracteriza as instituições que têm como ethos a confessionalidade católica e a identidade comunitária. A partir dos inúmeros avanços tecnológicos, temos hoje a possibilidade de alavancar ações de ensino, pesquisa e extensão de maior sinergia e articular com agentes da sociedade e as demais universidades.

Mais do que nunca, as instituições são conclamadas ao protagonismo, ao seu papel inerente e de vanguarda em geração, armazenamento, disponibilidade e transferência de conhecimento. A relevância da Educação Superior se manifesta também no compromisso estabelecido para a promoção da inovação, do desenvolvimento sustentável, do bem-estar e da coletividade. Por isso, a responsabilidade social conecta-se com o modus operandi e com a identidade institucional de uma IES, perpassando desde o projeto educativo até as práticas de gestão, retroalimentando saberes e fazeres da comunidade acadêmica.

O século 21 nos coloca diante de um conhecido dilema: de que forma a educação poderá contribuir para a resolução dos problemas complexos e das diferentes necessidades econômicas, culturais, políticas e sociais? A pesquisa, por si só, tem um inestimável valor, mas quando aplicada aos desafios e aos problemas reais da sociedade, revela-se potente e protagonista, tornando factível sua razão de ser e existir. A pesquisa produz ciência e a ciência transforma a sociedade e as pessoas para melhor. 

MANUIR MENTGES (VICE-REITOR DA PUCRS)

23 DE DEZEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A PRIVATIZAÇÃO DA CORSAN

Sempre que um serviço público essencial passa para a administração privada, os contribuintes são tomados por duas preocupações plenamente justificadas: a possível elevação do preço das tarifas e a qualidade do atendimento à população. Esses aspectos foram debatidos e esclarecidos na entrevista concedida à Rádio Gaúcha pelo vice-presidente da Aegea, holding que arrematou a Companhia Riograndense de Saneamento em leilão realizado na última terça-feira, na B3, a bolsa de valores oficial do Brasil, em São Paulo.

Embora a assinatura do contrato ainda dependa de decisões judiciais, a desestatização da companhia que fornece água e saneamento para mais de 300 municípios gaúchos representa um avanço no sistema de concessões e habilita o Rio Grande do Sul para o atendimento do Novo Marco Legal do Saneamento no país, que estabelece o ano de 2033 para a universalização dos serviços de água e esgoto. Se fosse mantido o modelo atual - público -, o Estado não teria recursos para cumprir o plano de investimentos da companhia e dificilmente poderia expandir a prestação dos serviços para a parcela da população ainda desassistida.

Vai custar mais caro ter água e esgoto de qualidade no Rio Grande do Sul? Como bem esclareceu o vice-presidente da Aegea, Leandro Marin, as empresas concessionárias de serviço público não detêm o poder de definir as tarifas por conta própria. Estão submetidas a regras bem definidas e ao controle das agências reguladoras. Por isso, a atenção dos contribuintes deve se voltar para a Agência Nacional de Águas (ANA) e para a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados no Rio Grande do Sul (Agergs), que precisam atuar tecnicamente para que os valores cobrados sejam corrigidos pela inflação, como se comprometeram as partes envolvidas no processo de privatização.

Por ser a primeira privatização de uma companhia estadual de saneamento no país, a transferência da administração da Corsan para o consórcio Aegea está sendo acompanhada com lupa por outras unidades da Federação que também têm dificuldades para cumprir as metas do Novo Marco Legal do Saneamento. A legislação federal determina que, dentro de 10 anos, 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% à coleta e ao tratamento de esgoto. No caso do RS, será necessário um investimento estimado em R$ 13 bilhões para garantir eficiência operacional e atendimento à população. Não havia, portanto, alternativa mais sensata e viável do que a concessão.

Ninguém ignora que alguns obstáculos ainda precisam ser removidos, entre os quais estão o litígio jurídico com as prefeituras que se recusam a participar do acordo e a resistência de parte dos trabalhadores da companhia, especialmente por causa da deficitária Fundação Corsan, que dá assistência previdenciária aos funcionários. São questões importantes, mas que podem ser resolvidas com diálogo e bom senso de parte a parte.

O fundamental é que o tabu foi superado graças à visão pragmática do atual governo e à compreensão da Assembleia Legislativa, que debateu exaustivamente o projeto e autorizou a privatização. Num momento de revisão do papel social do Estado, o Rio Grande dá um bom exemplo ao país.



23 DE DEZEMBRO DE 2022
ACERTO DE CONTAS

Menos uma livraria de calçada

Fundada em 1956, a Livraria Aurora fechou as portas. Ela ficava na Rua Marechal Floriano Peixoto, número 505, no Centro Histórico. Gabriela Luizelli, neta do fundador, disse que não estava mais conseguindo pagar as contas apenas com a venda de livros.

- O nosso foco eram os usados. Até vendíamos novos, mas muita coisa mudou com a competição com sites como Amazon e Mercado Livre. Eu e minha mãe acabamos colocando dinheiro nosso de outras rendas para manter o negócio - conta ela, que assumiu a gestão da livraria após perder o pai por complicações do coronavírus, em 2021.

Perto do endereço, o colégio Bom Jesus Sévigné trazia muitos clientes, porém as leituras obrigatórias e os livros didáticos passaram a ser fornecidos direto pelas editoras. O foco até chegou a mudar, trazendo gibis e jogos de videogames antigos para as prateleiras. Com a decisão de fechar, é feita uma queima de estoque com livros até por R$ 2, que agora continua no site, com um acervo de cerca de 60 mil itens.

Origem

O fundador, Sétimo Luizelli, trabalhava na Livraria do Globo, na Rua dos Andradas. Lá, conheceu Ondina, freguesa que virou esposa. Em 1955, já casados, estiveram na primeira edição da Feira do Livro de Porto Alegre com um estande e, desde então, sempre participaram. Um ano depois, abriram na Rua Marechal Floriano Peixoto a primeira Livraria Aurora. Tiveram três filhos, que seguiram tocando o negócio e chegaram a ter outras duas unidades no bairro, mas ambas já foram fechadas.

ACERTO DE CONTAS