sábado, 23 de novembro de 2019




Todos os sábados, fundamentalmente, posto as crônicas de cronistas do ZH e outros. Vejo que tem uma galera que Lê, mas não comenta. Gostaria, pelo menos, de saber, de onde são, quem são. Se não for demais, gostaria que nos comentários colocasse nome, cidade, e qual a crônica que gostou mais, assim poderei melhorar ainda mais as postagens daqui.

Obrigada...



23 DE NOVEMBRO DE 2019
LYA LUFT

O elefantinho gentil 2

Faz algum tempo, escrevi uma coluna com o título - acho eu - de "O elefantinho gentil". (Sim, preguiça de procurar.)

Uma camiseta com um elefante, flores na tromba, e o dizer, mais ou menos: "Se você não tem nada a fazer, seja gentil". Be kind. Tenho pensado muito nisso nestes dias de tanta grosseria, insulto, ódio racista ou de qualquer tipo. Até grosserias em família, muito tristes porque um lar com ambiente hostil, ou violento ou mesmo frio, possivelmente deixará cicatrizes fundas em filhos e parceiros, criando hábitos de violência ou frieza que irão prejudicar os relacionamentos futuros.

Famílias em que um tapa ou um insulto (burro, grosso, maricas, machona, sujo, relaxada, preguiçosa... e outros piores) são coisa normal são pequenos campos de batalha onde quase sempre vence o mais forte, pai, mãe, irmão mais velho, ou o mais resistente, que pode ser uma criança daquelas do tipo "pode bater, que eu não choro". E as lágrimas, os soluços retidos, vão se empilhando na alma até, um dia, talvez num futuro distante, começarem a irromper como uma represa de sujeira e sofrimento.

Mas não é só a violência física ou verbal que implora por mais bondade e bom senso: a frieza e a indiferença criam barreiras invisíveis, torres de isolamento e solidão, desamparo e insegurança - ou desconfiança de tudo e todos, criando jovens revoltados e deprimidos... talvez suicidas por desesperança.

Estamos mergulhados em transcendência, eu sempre digo e escrevo, com beleza, arte, afetos, natureza, espiritualidade e momentos de contentamento interior, mas também podemos estar isolados entre muros feios e agressivos que nos esmagam com ferocidade gelada.

E isso, se formos muito jovens, ou desinformados, ou sem arrimo e apoio, pode nos condenar a uma existência inferior, sem noção da própria dignidade e direitos. Como uma criança ou jovenzinho sem a certeza dos afetos próximos pode escapar, pode se salvar? Pois eu acredito que gestos de delicadeza, em casa, na escola, na turma, no trabalho, sejam pequenas boias de socorro que ajudam a ficar à tona d?água sem se afogar.

Não pode ser muito difícil: pai, mãe, irmãos, alguma vez trocando palavras de elogio e estímulo, um abraço inesperado, um afago no cabelo, um tapinha no ombro, alguma demonstração de que aquela pessoa é importante. Pois todos queremos ser importantes no amor de alguém, e isso deveria começar em casa.

Também na escola, no bar, na turma, no trabalho, como escrevi acima, ser gentil pode iluminar uma hora na vida de alguém, um dia, ou até modificar uma vida. Porque de repente havemos de ver, sentir, que não somos lixo, não somos ignorados e desprezados ou pisoteados, mas somos humanos, somos almas, somos destinos, somos potencialidades mil que às vezes só esperam esse momento de claridade para se encontrar, e se construir.

Então, mais uma vez: a qualquer hora, e sempre, BE KIND.
LYA LUFT

23 DE NOVEMBRO DE 2019
MARTHA MEDEIROS

A pontualidade e o amor


O que faz um romance durar? Entre as muitas vantagens de amadurecer, está a de não se preocupar mais com essas questões e simplesmente se jogar, permitir que os dias fluam, que o vento nos leve, sem ficar fuçando demais na história. Permitir que a energia pulsante da relação seja mais importante do que suas razões e porquês.


Ainda assim, tempos atrás escrevi um texto chamado "Fator de descarte", em que analisei os motivos que fazem com que as pessoas larguem de mão uma paquera (uma amiga desistiu de um cara porque ele não gostava de escutar Tom Jobim, outra costumava analisar os sapatos do sujeito - francamente, gurias). Meu fator de descarte seria a violência e a canalhice. Jamais suportaria alguém que me agredisse ou que não fosse ético, mas, se é para entrar em detalhes mais prosaicos, vamos lá: pontualidade. Taí algo que, pra mim, facilita o ajuste dos ponteiros.


Em um primeiro encontro, adoraria perguntar: você é do tipo que chega ao aeroporto quatro horas antes do voo ou com um fiapo de tempo antes do embarque? Pois é, isso pode dar uma pista sobre a aventura que nos aguarda.


Óbvio que as duas hipóteses são exageradas, mas o exagero ajuda a definir o perfil da pessoa. Ou ela é precavida (mesmo que quase morra de tédio até o momento de entrar no avião) ou é descuidada (mesmo que quase morra do coração ante a iminente perda do voo). Eu sou do tipo que leva os imprevistos em conta, então sempre chego mais cedo - em tudo o que é lugar, a qualquer compromisso. Deve ser uma espécie de tara, vá saber. Mas o fato é que prefiro esperar o voo, esperar pelos outros, esperar por tudo, e assim manter meus batimentos cardíacos sob controle. Aquela lá que vem correndo esbaforida não sou eu.


Não gosto de entrar no cinema com a luz já apagada. Não gosto de deixar os amigos aguardando num restaurante. Não gosto de ser a última a chegar numa festa: entradas triunfais não combinam comigo. Se o namorado diz que virá me buscar às 20h, às 19h45min estarei pronta. Se ele aparecer às 20h10min, ainda me encontrará sorrindo. Se ele aparecer às 20h30min, já não estarei sorrindo, e se a explicação para o atraso não for boa, talvez eu avance em sua jugular - nunca saberemos, porque nunca aconteceu. Já namorei alguns malucos, mas nunca um homem mal-educado.


Se ele gosta de Tom Jobim ou de pagode, se usa sapatos cafonas ou vive de tênis, se gosta de ler ou é viciado em rede social, tudo pode, tudo vale, tudo se ajeita - ou não se ajeita. É da dinâmica das relações. Mas pontualidade é assunto sério. O descuidado até pode se atrasar 30 minutos para buscar você pra jantar (mesmo colocando o pescoço em risco), mas tudo será perdoado se ele tiver aparecido na sua vida na hora certa.


MARTHA MEDEIROS


23 DE NOVEMBRO DE 2019
CLAUDIA TAJES

A vida visível

Primeira providência de quase todo gaúcho que se vê em São Paulo por alguns dias: fazer a ronda nas exposições do MIS, Masp, IMS e todas as outras siglas que nos permitem explorar as possibilidades - as imensas possibilidades - que cabem nas salas dos centros culturais e dos museus. Fruir a beleza, o inesperado, o perturbador, o desconhecido, coisa boa para os olhos e para a alma.

Ao sair de uma exposição, de um filme, de um livro, de um show, de um espetáculo, de uma experiência artística, enfim, dá aquela urgência de dividir o que se viu. E até o que não se entendeu. Dividir faz com que a sensação continue, fique mais forte, até. Embora a pobre cultura ande em baixa nesses dias, é ela quem abre algumas janelas que já estão dentro das pessoas, às vezes ainda fechadas, em outras só emperradas. Não faz muito, na frente do Theatro São Pedro, um flanelinha perguntou sobre o que tratava a peça em cartaz. Explicamos por cima, mezzo sem paciência, mezzo achando que o rapaz não ia entender, e a cada frase nossa ele fazia novas perguntas. Não fosse a última sessão na cidade, era de comprar um ingresso para que ele pudesse assistir. Boas intenções que já não adiantam, sou dessas.

Foi na primeira tarde em São Paulo, na saída de uma exposição, a Avenida Paulista lotada. Não estranhei um empurrão mais forte, uma multidão daquelas só poderia andar assim, aos trancos. A mochila navalhada vi no hotel, o bolsinho da frente tristemente vazio. Havia sumido o óculos de leitura que, para mim, faz uma falta danada, e que deve ter ido para a lixeira mais próxima. Foi-se também o óculos de sol quase novo. A carteira com os cartões e os caraminguás ficou a salvo, melhor guardada na outra parte da mochila. Fui sortuda, no fim das contas.

Estava lutando contra a minha hipermetropia de grau 2 para trabalhar quando chegou uma mensagem no Instagram: "Achei tua CNH na Paulista". Eu tinha colocado a carteira de motorista no bolsinho da mochila ao embarcar, e nem lembrava. Ia dar falta dela quando pegasse o avião de volta. Ou se levasse um atraque da polícia, nunca se sabe.

A Gabi, que encontrou minha CNH, também fez a gentileza de me encontrar em um café para devolver a habilitação descartada na avenida. Dela só sei que trabalha o dia inteiro e estuda de noite, que já teve os documentos roubados e que usava uma camiseta de caveira. É quase certo que nunca mais vamos nos ver, e que eu não vou esquecer dela. Pessoas que se importam com pessoas, nada melhor para devolver o alento que anda meio perdido.

Continuando com a minha fase de sorte, assisti A Vida Invisível em pré-estreia naquela noite. E até hoje, quase uma semana depois, sigo pensando no filme escolhido pelo Brasil para disputar uma indicação ao Oscar. Parasita, o sul-coreano que venceu o Festival de Cannes, é excelente, mas acho que dessa vez a gente leva.

Na saída, ainda sob o impacto do filme, e para continuar falando sobre ele, pedimos um café. O atendente entregou o meu mal fechado. Virou inteiro em mim quando peguei. Podia ser queimadura, mas ficou apenas na sujeira. Por algum problema inesperado na máquina, o cappuccino saiu frio. Era mesmo o meu dia de sorte.

Para aproveitar a maré, joguei na Mega Sena assim que acordei. Acabo de ver que não acertei nenhum número. Volto para Porto Alegre mais dura do que saí, mas no lucro. Esta é a vida visível.

CLAUDIA TAJES


23 DE NOVEMBRO DE 2019

CARPINEJAR

O pesadíssimo molho de chaves


Identifico quando minha esposa está chegando. Nem é pelo som de seus passos, ruído andaluz do salto. É pelo molho de chaves batendo na porta com os seus galhos de metal. Um molho gigantesco, como se morássemos em um castelo ou um hotel antigo.


São mais de 20 chaves. Acho que ela só vai adicionando as cópias da nova casa e acumulando as antigas. Não se desfez de nenhum endereço. Não duvido que ali não conste todos os apartamentos que já morou, todos os dentes de todas as fechaduras de sua vida.

Temos três chaves para o nosso lar, as outras não faço nem ideia do que sejam, de onde são, qual o seu passado. Se ela pudesse, penduraria junto também a sombrinha e o crachá do emprego.

Não é um molho, mas um cinto de carcereiro. O curioso é que escolheu um chaveiro espalhafatoso, dobrando o peso do objeto, com uma tripa infinita de lembranças fofas de viagens, como miniatura da cabine telefônica de Londres, de reverência a Minas Gerais, seu Estado natal (esculturas de Inhotim e Ouro Preto) e de proteção religiosa (santinhos de Santo Antônio e São Francisco), além dos controles das garagens.

Uma das possibilidades é que ela realmente quer formar algo chamativo para não perder de vista. Seria uma estratégia para combater esquecimentos. Mesmo não sendo prático para pôr no bolso, não há como não localizar rapidamente no fundo da bolsa ou no aparador.

De efeito colateral, em caso de difícil extravio, perde inteiramente os seus acessos, até o codificado do veículo.

Não sei se é um temperamento feminino colecionar as chaves num só lugar. Minha mãe era assim, minha irmã igual. Pode ser que seja um costume de quem muda de ideia e improvisa, e quer dispor dos múltiplos cenários da rotina num único conjunto. Vá que deseje buscar um documento no trabalho de repente.

Mulher pensa em tudo, e não pretende correr riscos de depender de algo que não tenha nas mãos. Previne-se de futuros arrependimentos.

A tendência barroca feminina faz sentido para quem está naturalizada a usar colares, pulseiras, brincos e anéis. O molho é apenas parte da joalheria.

Eu já separo os meus destinos à parte: trabalho, casa, carro. Jamais misturo e apenas trago comigo o que irei precisar. Mas sinto que não sou tão romântico ao abrir a porta. Ninguém percebe quando eu entro. Sou obrigado a gritar.

CARPINEJAR


23 DE NOVEMBRO DE 2019
LEANDRO KARNAL

A RAIVA COMO MASCARA

DILMA E BOLSONARO, QUANDO FALAM EM PÚBLICO, PARECEM CERRAR UM POUCO A BOCA, A FALA FICA DURA, O OLHAR, AGRESSIVO, POR VEZES. FALAM CONTRAÍDOS E, MUITAS VEZES, TUDO SOA DE FORMA AGRESSIVA. É UM MECANISMO DE DEFESA. DEVE SER ÁRDUO PARA AMBOS

Uma experiência recente me fez pensar o tema da raiva. A palavra vulgar, o gesto brusco (bater uma porta), o olhar duro: são, muitas vezes, fruto de uma discussão tensa. Claro, deveriam ser evitados, porém, eu, como tantas leitoras e tantos leitores, acuso culpa no quesito raiva e dureza com outras pessoas.

A ira é um pecado capital e me atinge muito. Não justifico, todavia explico: há temperamentos que precisam lutar mais contra a raiva. O meu é um deles. Já foi pior. Anos de terapia, toneladas de livros, reflexões e orientações: hoje consigo identificar mais rápido os gatilhos que ligam o botão da fúria. Bem provavelmente, a idade tem feito mais pela minha sabedoria do que os textos sobre "tranquilidade da alma". De alguma forma, é o "estoicismo" da maturidade. Não sei se aumenta a nossa calma ou se diminui a importância do mundo ao redor (ou até a percepção dele).

Os mecanismos que disparam a raiva são variados e têm relação complexa com o momento vivido. Em outras palavras, o fato que está acontecendo naquele instante e que parece ser o detonador da crise pode ser apenas uma fina casca a envolver coisas maiores. Querem um exemplo? Não conheço pessoalmente nem a ex-presidente Dilma nem o presidente Bolsonaro. Minha reflexão é sobre um aspecto que vejo em ambos, sem nenhuma conotação aqui de julgamento político ou de valor. Ambos, quando falam em público, parecem cerrar um pouco a boca, a fala fica dura, o olhar, agressivo, por vezes. Suponho, sem conhecer de fato, que sejam pessoas para quem a fala em público seja um desafio. Isso vale para muita gente. 

A mão se crispa, o lábio por vezes é mordido, o olhar busca um ponto neutro sem encarar as pessoas: haveria aí indícios de um desafio que incomoda os dois. Pela minha experiência, lutando com fortes questões interiores, o resultado é que Dilma e Bolsonaro falam contraídos e, muitas vezes, tudo soa de forma agressiva. É um mecanismo de defesa. Deve ser árduo para ambos. Compare-se com pessoas de perfil tão distinto do passado, como Carlos Lacerda ou Getúlio, e veremos a diferença. Ali existiam pessoas diluídas e até com afeto pelo palanque e pela exposição pública. Quando vejo nosso atual presidente e nossa ex-presidente falando, sempre penso no jovem aluno apresentando seminário: o nervosismo assume a máscara da dureza.

Afinal, o mundo respeita mais gente agressiva do que tímida. Sempre é um conforto aquilo que W. Reich chamou de "couraça muscular", uma atitude física que responde a uma questão psíquica.

A ira é um recurso político, claro. Mesmo entre pessoas não tímidas, ela pode ser usada para demonstrar firmeza. Socos no ar, frases duras, olhar firme: há quem veja na retórica da raiva um gesto de ação afirmativa e espírito reto. Em um país com nosso passado, brandir o chicote do feitor com cara violenta tem seu apelo de memória trágica.

Um determinado modelo de masculinidade construído ao longo de muito tempo também identifica na dureza ríspida um gesto de "macheza". Negociação, paciência, tolerância ou diplomacia parecem diminuir a testosterona do portador. Curioso que, ao identificar alguém sábio e equilibrado, indiferente ao mundo violento, equilibrado e calmo, o brasileiro tenha criado a expressão "sangue de barata", algo que não é um elogio.

O ser raivoso é, sempre, um indivíduo machucado e frágil. A denegação da dor, da inferiorização, do narciso machucado ou da inferioridade gera o gesto oposto. É sempre importante ressaltar: disfarçar dores internas com raiva e "pose" funciona como a peruca do careca: ao invés de disfarçar, atrai toda atenção para a questão que incomoda.

Tenho trabalhado comigo o desafio da tranquilidade. Sair do autocentramento e entender que sim, estou atrasado para chegar a um evento, mas a pessoa que quer uma foto não sabe e me parou por afeto, não por ódio. Estou no avião escutando, em quase êxtase, o Glória de Vivaldi. Na minha mão, um soneto de Shakespeare que leio e releio emocionado. A beleza se fecha sobre mim e sou levado ao paraíso. Nisso, alguém chega e pede que eu tire o fone de ouvido, interrompa a leitura, pare de fruir a beleza e... faça parte de uma selfie.

Bem, é o humano se manifestando, ora em Vivaldi e ora em um fã. É sábio entender que eu possa ser uma Eurídice da mitologia quase vendo a luz do sol e, de repente, puxado de volta ao mundo de Hades.

A raiva é um medo e uma máscara. Ela sempre diz muito de mim. Se tivéssemos essa consciência, interromperíamos, envergonhados, nossos acessos de raiva. "Eu já disse cem vezes que não quero assim" significa que minha importância é menor do que eu supunha; "esse cara me cortou" é sinal de que nem meu carrão foi suficiente para impor o respeito pelo qual suspiro dolorido; e, sob a frase de que "você não me escuta", há a desconfiança de que o que eu digo, de fato, é irrelevante. De todas as máscaras humanas, a raiva é a mais transparente e autoiluminada e, como tal, faz efeito oposto ao desejado.

Para os budistas, a raiva indica um apego ao eu. Para os cristãos, falta de humildade. Para os filósofos estoicos, é sinal de incapacidade de perceber as coisas como são. A quem pertence sua paz? É preciso atingir a serenidade, e isso só é possível com muita esperança.

LEANDRO KARNAL


23 DE NOVEMBRO DE 2019

FRANCISCO MARSHALL

EXPURGOS NA UFRGS

Dante Alighieri é o patrono não apenas da língua italiana, mas também do humanismo moderno; ele, que percorreu cenários místicos do cristianismo, inferno e purgatório, guiado não por santo ou profeta, mas por poeta pagão, Virgílio, que o levou às portas do paraíso, em que o aguardava não uma deusa casta, mas sim a mão de uma Beatriz amada e desejada.

Aquele mesmo Dante julgou pequena a lista dos pecados que enquadravam os cristãos medievais e acrescentou às razões da danação eterna um rol de cacoetes capaz de assombrar a sociedade em que vivia quando publicou A Divina Comédia, no início do século XIV. Nos círculos mais profundos do inferno, o oitavo e o nono, o vate pôs os piores tipos, os que fraudaram e mentiram e assim causaram a ruína dos seus; é lá que padecem merecidos tormentos aqueles que mais ofenderam à honra e à virtude.

É nas fundas fossas do inferno que o poeta cristão pôs os canalhas de seu tempo, e é lá que mesmo um prosador ateu quer ver arder os que violaram os códigos preciosos da dignidade. A obra de Dante, poema ético, canta a esperança de que um dia serão punidas as violações desonrosas, e nos anima a realizar na História o que na fantasia religiosa pode ser improvável, o juízo que alcança erros indesculpáveis e faz ver a força do tempo e da memória. Eis a chance de redimir, com consciência justa, a profanação que jamais deveria ter ocorrido. É o que a sociedade faz ao restaurar a evidência de abusos e violências e cobrar, afinal, a reparação da honra e da vida feridas por erros que não merecem o perdão oportunista do esquecimento.

Estamos falando, aqui, da memória e da História de regimes que usurparam os poderes do Estado e impuseram a força como critério, uma força cômoda e cinicamente obtida com recursos da sociedade contra a qual se voltam os ditadores, em sua sede incontida de poder e movidos pela vil obsessão de querer aniquilar a quem pensa diferentemente.

As ditaduras não alcançam seus fins sórdidos sem que as ampare um conjunto de cumplicidades, que vão do silêncio omisso dos alienados aos agentes da repressão brutal e, com eles, à colaboração de alcaguetes, as sombras sem caráter daqueles que com menos honra ainda abusam das instituições e do Estado. O dedo-duro é o personagem caricatural que deixa claro que aquele mundo de falsidade política é o cenário em que se movem os que não possuem nenhum caráter, mas querem inflar-se como paladinos, ungidos por carinhos dados por um padrinho de mão de ferro e alma podre.

As sociedades civilizadas, ao se erguerem do pesadelo das ditaduras, olham para o passado de violências inaceitáveis e dão a elas o devido lugar em julgamentos e monumentos, cenários em que o direito e a arte praticam e simbolizam o reparo necessário. Eis o que ora faz a UFRGS, ao inaugurar, em 28 de novembro de 2019, monumento aos expurgos da ditadura, obra de Irineu Garcia, de gravidade dantesca. Haverá, então e sempre, em torno da bela escultura em pedra, uma ciranda de forças que não se renderão jamais na defesa da liberdade, do direito e da democracia.

FRANCISCO MARSHALL - Historiador, arqueólogo e professor da UFRGS | marshall@ufrgs.br



23 DE NOVEMBRO DE 2019
COM A PALAVRA - UTE CRAEMER, Educadora, 81 anos

É PRECISO REPENSAR A INFÂNCIA.

Nascida na Alemanha e vivendo há décadas no Brasil, é uma grande difusora, na América Latina, da pedagogia Waldorf, ancorada na metodologia construtivista

Há mais de 50 anos vivendo e trabalhando no Brasil, a educadora comunitária Ute Craemer nasceu em uma Alemanha marcada pelo sofrimento - país que ela teve de abandonar aos 10 anos, quando os pais fugiam das complicações causadas pela Segunda Guerra Mundial. Ainda pequena, viu a miséria de perto morando em países como Egito, Paquistão e a antiga Iugoslávia. Passou a questionar qual seria sua missão na vida. E decidiu participar de programas de serviço voluntário no Exterior. Assim, descobriu que queria trabalhar com públicos diversos, criando pontes entre realidades sociais e econômicas diferentes. 

Adepta e evangelista da pedagogia Waldorf, que prega, entre outras questões, a vivência precedendo a teoria, a professora faz parte da direção da Sociedade Antroposófica no Brasil e participou ativamente dos movimentos da Aliança pela Infância e pela Humanização do Social. Ela esteve na Capital por ocasião das comemorações dos cem anos da pedagogia Waldorf, evento organizado pelo Movimento Antroposófico do RS, quando concedeu esta entrevista.

A chamada primeira infância é considerada um período especial, que marca significativamente a vida de uma pessoa. O que é importante que as crianças tenham nessa fase? E o que, quando em falta, pode prejudicar seu desenvolvimento?

A primeira infância - incluindo a gestação - é o alicerce da vida. Fatores importantes são criar vínculos humanos, cantar, brincar livremente, ouvir histórias significativas, viver em um ambiente caloroso, silencioso e/ou com sons mais naturais, a voz humana, uma alimentação saudável. Palavras-chave são calor, vida, respeito à individualidade da criança e às fases do seu desenvolvimento. Assim, cria-se resiliência. Se isso não acontecer, esse alicerce pode ser recuperado, do meu ponto de vista, por meio de pessoas que ajudem a criar a força interna em uma etapa seguinte de vida, pessoas de referência que acompanham a trajetória da criança, do jovem e do adulto com amor e com compreensão de sua trajetória individual.

NO BRASIL, HÁ DIFERENÇAS GRANDES NA EDUCAÇÃO: ENQUANTO ALGUMAS CRIANÇAS TÊM ACESSO À CRECHE, A UMA BOA EDUCAÇÃO INFANTIL E A ESCOLAS BEM CAPACITADAS NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO (PRINCIPALMENTE NA REDE PARTICULAR), OUTRAS SOFREM COM FALTA DE VAGAS, DIFICULDADES DE ACESSO E FALTA DE PROFESSORES COM A FORMAÇÃO ADEQUADA (ESPECIALMENTE NA REDE PÚBLICA). QUE IMPACTO ISSO TEM NA FORMAÇÃO?

De fato, há, sim, mais acesso à educação, saúde e lazer para quem tem dinheiro. Mas o problema não é só ligado à pobreza: as crianças da classe média alta estão sofrendo cada vez mais pelo acúmulo de exigências intelectuais, que não as deixam ser criativas. Portanto, é preciso repensar a infância e atuar em conformidade com as demandas dessa idade. Isso vale para todas as crianças, ricas e pobres, de forma igual.

É POSSÍVEL APROXIMAR O APRENDIZADO DESSES DOIS PÚBLICOS EM UM PAÍS COMO O BRASIL? O QUE É PRECISO FAZER PARA QUE ISSO SE TORNE REALIDADE?

É preciso melhorar o ensino público, de modo a abarcar a maneira de ser da criança e do jovem. E, em relação ao ensino público, é preciso investir dinheiro nos educadores e na diversidade de pedagogias, e não apenas em estruturas, como em computadores, por exemplo.

A SENHORA ESCOLHEU O BRASIL HÁ DÉCADAS PARA TRABALHAR COMO EDUCADORA. O QUE A ATRAIU NO PAÍS? E O QUE A MANTÉM AQUI AINDA HOJE?

O que me atraiu e me mantém aqui é que o Brasil tem um potencial muito grande, além dos recursos naturais: são os seres humanos que aqui vivem. Por exemplo, estar aberto ao diferente, que se traduz inclusive na hospitalidade, principalmente das pessoas pobres da favela e da roça de acolher um estrangeiro. Também a mistura e o amálgama de culturas, a flexibilidade das pessoas, entre outros fatores. Vejo claramente as dificuldades e os problemas, mas, no Brasil, existe uma vontade muito grande de resolvê-los com criatividade e inteligência.

A SENHORA VEIO DE UM CONTEXTO MUITO DIFÍCIL NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA. QUE MARCAS A CONSTANTE PEREGRINAÇÃO ENTRE PAÍSES EM BUSCA DE SEGURANÇA DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL DEIXOU NA SUA INFÂNCIA?

Em primeiro lugar, meus pais conseguiram me poupar do medo que uma guerra provoca. Conseguiram criar em mim um ambiente de confiança na vida, apesar das noites passadas em abrigos antiaéreos. No pós-guerra, vivemos na Iugoslávia, no Egito e no Paquistão, e, para mim, isso significou um aprendizado do que acontece no mundo, inclusive as misérias causadas pelas guerras, por exemplo, por ocasião da separação entre Índia e Paquistão. Tudo isso gerou em mim a vontade, na idade adulta, de contribuir para o aspecto social.

UMA EXPERIÊNCIA COMO ESSA DEVE MARCAR PARA SEMPRE A VIDA DE UMA PESSOA. APESAR DE DESAFIOS COMO ESSES QUANDO AINDA TÃO JOVEM, É POSSÍVEL TER UMA VIDA FRUTÍFERA? COMO CONVIVER COM ESSAS LEMBRANÇAS, ESSAS MARCAS IMPACTANTES?

Essas marcas são importantes se houver pessoas que sirvam de referência, ou modelo, para transformar traumas em proatividade. Algo "pesado" que tenha acontecido pode ser um estímulo para transformar, por exemplo, a vida de outras pessoas que passaram por situações parecidas.

A senhora enxerga semelhanças, guardadas as proporções, entre a sua experiência, em meio a um conflito armado, e jovens que hoje convivem com a insegurança, a constante ameaça de tiros em cidades fragilizadas?

Sim. Há semelhanças no sentido da traumatização e do sofrimento causado. Mas também há diferenças. Por exemplo, é imprevisível saber onde e quando bombas, que matam e mutilam indiscriminadamente centenas de pessoas de uma só vez, vão cair. Isso também pode acontecer nas periferias, com as balas perdidas, a invasão de policiais e os tiroteios, mas, nesse caso, com alguma chance de se proteger e tentar evitar essas situações de risco.

O Brasil é um país muito miscigenado. A sociedade brasileira convive bem com as diferenças?

No Brasil, o branco, o negro e o indígena vivem dentro da mesma pessoa. Quem é afrodescendente quase sempre tem, dentro de si, uma ascendência branca e/ou indígena, em proporções variadas. Além disso, não se trata de ver somente a cor, mas também a riqueza das misturas, bem como a individualidade que pode transformar as desigualdades históricas ainda presentes. Não adianta dividir em preto e branco. O que realmente se faz necessário é resolver a desigualdade econômica.

O que a convivência com pessoas em comunidades vulneráveis mais lhe ensinou?

O aprendizado é enorme. Descobri coisas como tolerar e compreender o outro, diferente de mim; ter coragem de agir, apesar de obstáculos enormes, como violências de vários tipos, mortes assassinatos, adicção, abusos etc. Admiro as pessoas que conseguem superar isso e que, apesar de tudo, têm alegria de viver.

Com mães e pais trabalhando para sustentar a família - em alguns casos, inclusive, diante do desemprego, sem poder tirar licença maternidade ou paternidade -, as crianças têm cada vez tido menos contato com eles. De que maneira aliviar esse problema?

Se, na vida atual, o contato com os pais se torna difícil, passa a ser necessário ter uma pessoa de referência, de confiança, com contato constante. Pode ser um educador, uma professora ou cuidadora, que acompanhe a criança durante um bom tempo. Na prática, isso seria possível se, em uma classe ou uma creche, houvesse um educador que acompanhasse a criança durante vários anos, como ocorre nas escolas Waldorf. Desse modo, pode ser criado um esteio interior de confiança na criança, mesmo sem ela ter os pais muito próximos.

Outra questão muito comum é que, também por falta de tempo e por conta da exaustão, pais têm, muitas vezes, deixado os filhos pequenos assistirem vídeos, interagindo com jogos no celular: assim, eles ficam "quietinhos". Quando muito frequente, isso é prejudicial para pais e filhos?

Sim. Já está comprovado que o excesso de distração com instrumentos eletrônicos faz mal à criança. Porque aliena e não cria vínculos humanos. Existe uma história verdadeira segundo a qual a criança quer ser - e não apenas ter - um celular. A mãe pergunta: mas por que, meu filho? E o filho responde: porque você sempre conversa com ele, e não comigo. Imaginem que triste...

Convivendo com pais e educadores, é possível perceber o quanto se costuma criar grandes expectativas para os filhos. Não raro, isso significa inscrevê-los em diversas atividades de aprendizado (inglês, robótica, edição de vídeos...) quando ainda muito jovens, na expectativa de que absorvam tanto conhecimento quanto possível nos primeiros anos. Qual o impacto disso para a criança?

O resultado que vemos é a desvinculação de si próprio, da sua individualidade. A criança e o jovem precisam se descobrir a si mesmos. É um processo dificílimo. Mas necessário. É justamente isso que o diferencia do animal, que já vem pronto ao mundo. O longo caminho de autoconhecimento e da procura da sua tarefa no mundo têm a ver não só com conhecimentos - inglês, robótica etc. -, mas com o ócio, um tempo livre para descobrir o que está dentro de si. 

Essa procura começa quando o nenê vai descobrir seus dedinhos, vai tentar inúmeras vezes se levantar sem andador, vai aprender a ler e a escrever dentro do seu próprio ritmo; tem a ver com o brincar livre, com leituras que o jovem mesmo escolhe, com conversas com os pais, amigos, com pessoas de referência. Assim ele se torna um ser humano com opiniões próprias e ações coerentes.

A senhora defende uma vida mais "brincante". Isso serve apenas para as crianças, ou também os adultos devem procurar mais atividades de lazer na vida? Por que isso é importante?

O brincar livre promove uma criatividade que, posteriormente, como adulto, se transforma em entusiasmo de trabalhar, inclusive em prol de um ideal. O ato de brincar aquece o coração e ativa a atuação da pessoa - qualidades essenciais para a vida adulta.

Como a metodologia Waldorf tem sido recebida nos lugares em que a senhora e as associações em que trabalha a aplicam? Ela se adapta bem ao contexto brasileiro?

Brincar, ouvir histórias, ter uma pessoa de referência constante são, por exemplo, necessidades que todas as crianças no mundo inteiro almejam saciar, tanto faz se na favela ou nos meios socioeconômicos mais abastados. A pedagogia Waldorf nutre essas necessidades vitais da criança. Temos uma metodologia de formação dos educadores comunitários Waldorf baseada em suas experiências de vida, que incluem a cultura popular e, a partir disso, damos consciência ao que é adequado e para qual faixa etária. Não chegamos com teorias, mas com a prática, e a partir dela refletimos o porquê, por exemplo, do brincar, da contação de historias, da arte. 

A pedagogia Waldorf tem crescido muito ao longo desses cem anos de atuação no mundo inteiro. No Brasil, já são 89 escolas, sendo quatro delas no Rio Grande do Sul (escolas Arco-Íris, Candeia, Casa Ametista e Querência, todas na Capital). Nessas escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, comunidades se formam para assegurar espaços que atendam a essas necessidades vitais da criança através de um currículo coerente e artístico. Há grupos que trabalham em prol de compartilhar a pedagogia Waldorf e de ampliar o acesso às suas práticas a profissionais interessados para além dessas próprias escolas. Essa é uma maneira de ampliarmos as perspectivas do ato de educar e ensinar em um país que necessita de nossa consciência em relação às questões sociais.

O que mais lhe chama a atenção nas crianças brasileiras? Essa percepção mudou desde a sua chegada ao Brasil? E nos pais brasileiros, o que mais chama sua atenção?

A criança brasileira é mais ágil, voltada ao movimento, mas menos reflexiva do que uma criança alemã, por exemplo. O corpo é um instrumento de alegria para ela, além de ela ser mais ruidosa. A respeito dos pais, penso que está surgindo uma dicotomia: uns protegem demais, não deixam ela se sujar na areia, na água, no vento, enquanto outros são descuidados, e a criança fica sem proteção. Cada vez mais sinto que é preciso desenvolver nos pais uma confiança de que a proteção é necessária, mas a liberdade, também. O que é necessário é encontrar um equilíbrio para que a criança possa se desenvolver de maneira livre em um ambiente protegido, mas não estéril.

GUILHERME JUSTINO


23 DE NOVEMBRO DE 2019

ESPIRITUALIDADE

O QUE APRENDI COM O SILÊNCIO

Escrevi um livro que foi solicitado por um de meus editores. Ele deu ao livro o título de Zen: o que Aprendi com o Silêncio.

Era para ser com textos sobre momentos Zen - momentos na vida em que algo nos faz despertar. Não era para ser autobiográfico. Deveria ser impessoal. Entretanto, quando comecei a tocar as teclas do computador, histórias da minha experiência foram surgindo. Algumas alegres e leves, outras tristes e pesadas. Movimento incessante de transformações tem sido a minha experiência humana. Ensinamento de Buda: nada fixo, nada permanente. Ao querer pegar ou segurar qualquer experiência, qualquer instante, percebemos que é impossível.

Memórias se desfazem como nuvens no céu. O que é a verdade?

Tenho procurado pela verdade, sabedoria, compaixão e justiça social há muito tempo. Algumas vezes consegui certa clareza. Noutras, tudo se embaralhou novamente. Quem sou? O que é o ser humano? O que é a mente humana?

Mais do que lutar contra aspectos de mim mesma, mais do que fazer guerras contra situações da existência, brigar comigo mesma ou com outras pessoas, querer vencer as dualidades, aprendi que é preciso perceber que nada obstrui o Caminho da Libertação.

Mas é preciso ter fé - uma das cinco virtudes no Zen. As outras quatro são vigor ou determinação, mindfullness ou plena atenção, zazen ou meditação e, sabedoria ou clareza mental com discernimento correto e leveza plena de ternura por todos os seres.

Fé não pode nos ser dada por outras pessoas nem por nós mesmos. A fé é quando todo seu ser, todo seu corpo mente se torna fé. A fé está ligada diretamente com o fruto da iluminação. Fé na sabedoria perfeita é a manifestação da própria sabedoria perfeita, da clareza, da penetração no samadhi dos samadhis - onde o eu e o todo se mesclam e se reconhecem semelhantes, iluminados.

O fruto da iluminação é a fé. Um grande mestre chamado Nagarjuna (Índia, século 2) escreveu que fé é a entrada no oceano do Darma. Oceano do Darma é o oceano da Lei Verdadeira, dos ensinamentos corretos e sagrados. "Quando a fé é obtida, há a realização de Budas Ancestrais" (Mestre Eihei Dogen, Japão, 1200-1253, fundador da Ordem Soto no Japão).

Algumas pessoas consideram erroneamente que não há fé no Zen Budismo. Outras acham que fé é um sentimento inferior à sabedoria perfeita. Nos ensinamentos de Mestre Eihei Dogen, a fé e a iluminação interpenetram uma a outra, ou seja, sem uma a outra não tem sentido. Zazen, a prática da meditação sentada, exige fé pura. Fé no apenas sentar, conforme transmitido há mais de 2,6 mil anos.

Apenas sentar é penetrar o silêncio que tudo revela, assim como é. É a experiência total do momento presente. Corpo mente transcendidos e corpo mente vivos, ativos. Dualidade e unidade interpenetrando, sem obstaculizar uma a outra.

Você tem fé na mente? E o que é a mente?

Silencie suas ideias e conceitos, a trama de pensamentos inúteis. Encontre a essência da mente e se liberte de apegos e aversões.

O que você poderá aprender com o silêncio?  Só há uma maneira de saber: o grande silêncio. Mãos em prece

MONJA COEN


23 DE NOVEMBRO DE 2019
DRAUZIO VARELLA

VITAMINA B12 E OS OSSOS

Ossos robustos foram essenciais à adaptação dos vertebrados à vida terrestre. Além da resiliência à locomoção contra a gravidade, o esqueleto constitui um reservatório de cálcio a ser mobilizado conforme as necessidades do organismo.

Para operacionalizar essa mobilização, os vertebrados terrestres desenvolveram sistemas endócrinos encarregados de manter o equilíbrio entre as concentrações de cálcio dentro e fora das células, como é o caso do paratormônio produzido pelas paratireoides.

Outras adaptações nutricionais e metabólicas evoluíram em resposta às pressões ambientais para a manutenção do esqueleto. São exemplos a produção de vitaminaD na pele, sob a ação do sol, e algumas enzimas que dependem da influência das vitaminas D e K.

Embora nossos ossos pareçam imutáveis, as células ósseas estão envolvidas num processo constante de morte (função dos osteoclastos) e renovação (função dos osteoblastos). Em média, renovamos o esqueleto inteiro a cada 10 anos.

Em estudo publicado em 2014, Roman-Garcia e colaboradores mostraram que a deficiência de vitamina B12 afeta negativamente o desenvolvimento e a manutenção da massa óssea. Ela age como cofator para duas enzimas fundamentais no controle dos processos metabólicos requeridos pelo crescimento celular.

Os mamíferos são incapazes de sintetizar B12, dependem da ingestão de alimentos de origem animal para absorvê-la no estômago e armazená-la para a reciclagem no fígado.

Há muito sabemos que pacientes com anemia perniciosa podem ser curados com extratos crus de fígado, preparações ricas em B12. Estudos mais recentes demonstraram que o déficit prolongado dessa vitamina diminui a densidade óssea.

Essas pesquisas ajudam a esclarecer o papel da vitamina B12 no metabolismo ósseo e os mecanismos pelos quais a deficiência afeta negativamente a formação e a manutenção do esqueleto.

Para avaliar os efeitos ósseos da deficiência prolongada, o grupo de Roman-Garcia criou uma linhagem de camundongos transgênicos desprovidos de uma proteína (Gif) essencial para a absorção de B12.

A primeira geração de filhotes apresentava níveis sanguíneos de B12 baixos, porém detectáveis, suficientes para proporcionar massas ósseas próximas da normalidade. Na segunda geração, entretanto, os níveis eram indetectáveis e os animais apresentavam retardo no crescimento, densidade óssea reduzida e menos osteoblastos do que seus ascendentes.

Apresentavam, ainda, níveis baixos do fator de crescimento insulina-símile (IGF-1), achado que explica a resistência ao hormônio do crescimento e a proliferação de osteoblastos diminuída.

Essas pesquisas ajudam a esclarecer o papel da vitamina B12 no metabolismo ósseo e os mecanismos pelos quais a deficiência afeta negativamente a formação e a manutenção do esqueleto.

Novos estudos são necessários para avaliar as necessidades diárias de B12 durante a gestação, nos mais velhos e no enorme contingente de pessoas de todas as idades medicadas com os inibidores da bomba de próton, largamente utilizados para reduzir a acidez do suco gástrico nas gastritese norefluxogastroesofágico e em inúmeras situações para as quais não há indicações que justifiquem.

DRAUZIO VARELLA


23 DE NOVEMBRO DE 2019
J.J. CAMARGO

DOS NOSSOS ARREPENDIMENTOS

MUITOS SÓ PERCEBEM NO FIM DA VIDA QUE A FELICIDADE É, ANTES DE MAIS NADA, UMA ESCOLHA

Aprovado o conceito de que velhice é o intervalo decorrente entre a primeira percepção de que não há mais tempo para mudar as coisas realmente importantes da vida e a nossa morte, podemos antecipar que, por coerência, esta fase é também a lavoura existencial onde cultivamos nossos arrependimentos.

A partir daí, é fácil depreender que a consciência de que fizemos menos do que poderíamos, aliada às inevitáveis desilusões, se somam para emprestar naturalidade à vizinhança do fim.

Os modelos de convívio com esta realidade implacável é que podem ser diferentes, com espaço imprevisível e ilimitado para a irritabilidade, a indiferença, o disfarce, a fantasia e a negação. É como se cada um tentasse se adaptar ao que restou da sua vida de um jeito que seja menos doloroso, já que raramente nos aproximamos da utopia da plenitude, seja lá o que isso represente.

Brownie Ware é uma australiana inteligente, curiosa e com uma inquietude fora da curva. Ela é compositora, tem uma banda e trabalha como enfermeira. Convivendo com pacientes terminais, ela tomou a iniciativa de interrogá-los para construir a lista dos cinco arrependimentos mais frequentes.

Baseado no indiscutível poder de autenticação, que torna a proximidade da morte um momento tão intenso, pode-se dizer que este questionário traz o selo da sinceridade, obtido naquele momento crítico, em que só a verdade tem sentido:

1. "Eu gostaria de ter tido a coragem de viver a vida que eu queria, não a vida que os outros esperavam que eu vivesse." Aqui certamente estão arquivados todas as amarguras das escolhas profissionais frustradas.

2. "Eu gostaria de não ter trabalhado tanto." Esta queixa foi observada predominantemente entre homens que se sentiam em falta de não ter aproveitado mais a juventude dos filhos e a companhia de suas parceiras.

3. "Eu queria ter tido a coragem de expressar meus sentimentos." Muitas pessoas suprimiram seus sentimentos para ficar em paz com os outros. Omitir a nossa opinião por submissão corrói a autoestima e gera ressentimento.

4. "Eu gostaria de ter ficado em contato com os meus amigos." Frequentemente, os pacientes não percebiam as vantagens de ter velhos amigos mais próximos, até chegarem em suas últimas semanas de vida, quando nem sempre era possível rastrear essas pessoas.

5. "Eu gostaria de ter me permitido ser mais feliz." Esse é um arrependimento surpreendentemente comum. Muitos só percebem no fim da vida - que a felicidade é, antes de mais nada, uma escolha.

Nunca conheci um velho moribundo que afirmasse, sinceramente, não ter nenhum arrependimento. Então, sem a chance da exceção, habituemo-nos com a ideia que, se tivermos tempo de sobra, nos arrependeremos. E concentremo-nos em evitar, ao menos, aquelas mágoas capazes de acelerar o esquecimento do que gostaríamos de significar no coração dos nossos amados.

J.J. CAMARGO


23 DE NOVEMBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

A professora ruim e a professora boa

Houve, nos meus primeiros anos de colégio, uma professora que não foi boa e uma que foi ótima. Ironicamente e, sobretudo, injustamente, lembro só do nome da que não foi boa e esqueci o da ótima.

Mas é claro que não irei denunciar a não boa, só contarei que ela errou comigo. Porque já gostava de escrever, escrevia bastante e a professora, em vez de me estimular, vivia repetindo:

- Tu tens que escrever menos. Menos, menos! Que texto comprido! Falava tanto isso, que quase enjoei de escrever. Mas fui teimoso, e até hoje ganho a vida escrevendo. Toma, professora-que-não-foi-boa!

Já a outra, a ótima, da qual não recordo o nome, ela dava aulas encantadoras. Trazia textos para a classe e os interpretava junto conosco. Até hoje recordo do dia em que ela destrinchou o Hino Nacional frase a frase, mostrando como as orações às vezes eram invertidas e o sentido que havia em cada uma delas. Então, quer dizer que as margens plácidas do Ipiranga é que ouviram o brado retumbante de um povo heroico? Era isso? Que coisa maravilhosa!

Noutra vez, ela nos apresentou O Navio Negreiro, de Castro Alves, e conseguiu nos fazer compreender que o poema balançava como se estivesse sobre as ondas procelosas de alto-mar. E ela contava o que significava cada verso e descrevia o padecimento daquelas pessoas que tinham sido arrancadas de suas famílias e agora eram levadas sob ferros para um lugar desconhecido, onde seriam tratadas feito bichos.

Saí da aula impressionado com o Navio Negreiro, imaginando as cenas descritas com tanto vigor por Castro Alves:

"Era um sonho dantesco... o tombadilho. Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...".

A partir daquele dia, passei a me interessar pela história da escravidão no Brasil. O problema é que não conhecia muitos livros acerca do tema e, bem, não contávamos com as bênçãos da internet, esse poço sem fundo de conhecimentos e ressentimentos. Então, ia aprendendo devagar.

Uns cinco ou seis anos depois dessa aula da professora ótima, ouvi O Mestre-Sala dos Mares, de Aldir Blanc e João Bosco. Essa música é um clássico da MPB, é muito bonita. Foi gravada por Elis Regina. Teve a letra mutilada pela censura do regime militar, mas o que sobrou dava pistas do tema tratado. Já na época não foi difícil descobrir que o mestre-sala dos mares era o gaúcho João Cândido, que, entre 22 e 26 de novembro de 1910, liderou a Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro.

Estamos diante de uma efeméride, portanto, e por isso escrevo hoje a respeito. Tenho muito a dizer sobre João Cândido, um herói do Brasil, mas, neste momento, queria fisgar um naco da música de João Bosco. É o comecinho, que diz assim:

"Há muito tempo, nas águas da Guanabara,

O Dragão do Mar reapareceu. Na figura de um bravo marinheiro. A quem a História não esqueceu".

Ao ouvir esse verso, voltaram-me à mente as aulas da professora ótima e quis desenlear a letra. Quem era o Dragão do Mar que havia reaparecido na pele de João Cândido nas águas da Guanabara?

Pesquisei. E deparei com uma figura luminosa da história brasileira, um cearense chamado Chico da Matilde, mulato, descendente de escravos, que comandava os jangadeiros de Fortaleza. Pois em meados do século 19, quando a escravidão ainda ardia na pele do Brasil, Chico da Matilde recusou-se a levar escravos em suas jangadas e jurou:

- Ninguém mais vai transportar carne humana no Ceará!

Graças a ele, e a outros abolicionistas, evidentemente, o Ceará foi o primeiro Estado brasileiro a abolir a escravidão. Por conta dessa façanha, Chico da Matilde tornou-se famoso, seu nome era respeitado até na capital, o Rio de Janeiro, e foi assim que passaram a chamá-lo de "Dragão do Mar".

Que belo título, "Dragão do Mar"!

É um radiante pedaço da história do Brasil, algo para nos orgulhar. Sim, sim, também temos do que nos orgulhar!

DAVID COIMBRA


23 DE NOVEMBRO DE 2019
VARIANDO

Evitando o suicídio

Encontrei umas colegas para trocarmos ideias sobre intervenção em escolas quanto à prevenção do suicídio. Eram de Goiânia, estavam preocupadas com o aumento do número de casos locais e chocadas com a precocidade de dois deles, na faixa dos 12 anos.

Infelizmente não avançamos quanto a estratégias de prevenção. Concordamos que os casos, ao contrário do senso comum, não necessariamente estão na esfera da depressão, e que não fazem um conjunto. Examinando posteriormente os atos, eles não revelam padrão, o que torna difícil ter práticas profiláticas.

Não encontrei um conselho aos colégios, mas aos pais formularia um: ensine a seus filhos como navegar pela tristeza, pelas frustrações, pelas más notícias. Criamos filhos com um escudo protetor e encenamos cenários demasiado positivos do mundo que os espera.

Faz sentido protegê-los da crueza em um primeiro momento, eles nem teriam condições de entender, e é preciso desenvolver uma confiança básica no mundo, para não criar fóbicos. O problema é que levamos isso longe demais. Na puberdade, que é quando perdemos o controle do que chega aos filhos, eles estarão sem anticorpos para digerir o mundo que os invade. Algumas depressões adolescentes são um desencanto, uma ideia de que foram enganados, e querem de volta o paraíso perdido. Descobriram, de um só golpe, as mazelas humanas.

No cerne da condição humana, existe uma angústia inevitável. Ela advém de nos sabermos mortais, de perceber nossa animalidade subterrânea, de reconhecer as limitações da existência. As religiões, e boa parte das filosofias, nasceram para minimizar esse fato. Quando somos pais, douramos momentaneamente a pílula, mas alguns acreditam no próprio conto de fadas que inventaram. Em vez de se manterem adultos, identificam-se com os filhos que vivem nessa provisória e necessária fantasia. Essa operação de negação é que cria o ambiente infantilizado de que padecemos e os adolescentes despreparados para o mundo.

É preciso dizer aos filhos sobre nossa própria impotência. Não somos deuses que tudo resolvem, como eles acreditaram durante um tempo. Com o fim da infância, queira-se ou não, chega o desafio da sexualidade, da sociabilidade, da disputa de prestígio, da capacidade de decodificar e resolver problemas seus e alheios. E nós não estaremos junto. Ele vai se valer do que lhe foi passado.

Não procure pautas tristes para falar com os filhos, mas não fuja de uma que cruzar. Elas chegam. É impossível estar de fora do tema da morte, das doenças, das injustiças, dos desencontros amorosos, da angústia de viver. Converse, pense junto, em como seguir no rumo e arranjar coragem quando a vida torna-se adversa. Assim não vão se sentir sozinhos, nem únicos, nem traídos quando enfrentarem o quinhão de infelicidade e tristeza que o destino fornece a todos.

MÁRIO CORSO


23 DE NOVEMBRO DE 2019
FLÁVIO TAVARES

LIÇÃO DE CASA

O direito à vida - e a viver em paz - não é, apenas, combater o bandido de rua e impedir a corrupção. O crime maior vai além e, às vezes, nem percebemos que é mais profundo até.

Agora, aqui no Estado, o direito a viver em paz das futuras gerações depende da Assembleia Legislativa. Só os deputados podem evitar que as alterações ao Código Estadual do Meio Ambiente - propostas pelo governador - degradem nossas terras, ares e águas. Nosso Código atual é modelo até no Exterior. Nasceu do consenso, em nove anos de consultas e debates entre geólogos, biólogos, botânicos, agrônomos e empresários e virou lei em 2000.

O governador Leite quis alterá-lo em "urgência", sem debates no Legislativo. Recuou porque o Tribunal de Justiça atendeu ao pedido de deputados de diferentes partidos e demonstrou que contrariava a Constituição. Propostas em nome da "modernização", as modificações facilitam a degradação e são o oposto do que dizem ser. É o caso do "autolicenciamento", em que a própria empresa declara que o futuro empreendimento não afetará o meio ambiente.

Após a tragédia de Brumadinho, MG, é possível pensar assim?

Lá, dias antes do horror, a Cia. Vale (maior mineradora do país e segunda no mundo) garantia "normalidade total na mina". Se o equívoco (ou a falcatrua) ocorreu com empresa de porte, o que esperar de empreendedores menores, aqui?

Podem errar até na boa-fé.

A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) reúne técnicos de alta qualificação que jamais foram chamados a opinar sobre as mudanças ao Código.

Por que excluí-los? Preservar o meio ambiente é defender a vida na Terra, ameaçada pela falsa visão de "progresso", como vem alertando o papa Francisco.

A mina de carvão a céu aberto, em banhados junto ao Jacuí, a 12 quilômetros de Porto Alegre e que, em 10 anos, pode tornar o Guaíba um rio morto, é o caso concreto de falso progresso.

"Hoje, lucros e perdas são mais valorizados do que vidas e mortes, mas o lucro de uma empresa não pode estar acima do valor infinito da nossa família humana", advertiu o Papa, reunido com ministros de Economia no Vaticano.

Será o Papa um enfadonho que insiste e repete por ser "chato"? Ou é guardião do futuro ao insistir no perigo dos combustíveis fósseis, como o carvão?

Nossos deputados não podem ignorar que as ameaças futuras começam hoje. Se a Assembleia é "a Casa do Povo", por que não ouvir o povo, convocando os especialistas?

O poder político não pode se omitir no perigo. O futuro se constrói com os atos de hoje, nunca do amanhã.

Escrevo do Rio de Janeiro e, assim, não pude perguntar ao governador na reunião-almoço da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa, ADCE, em que expôs seus planos, dois dias atrás.

Fica a lição de casa a todos.

FLÁVIO TAVARES - Jornalista e escritor


23 DE NOVEMBRO DE 2019
DUAS VISÕES

A construção do futuro

Vivemos um momento de mudanças estruturais no Estado, que passam pela educação. Planejamento, metas, otimização de recursos, investimento na aprendizagem do aluno, no empreendedorismo e na inovação. Esses pontos nos acompanham desde o início do governo, seguem conosco e nos mantêm firmes e ativos na busca pelo que mais desejamos: que é oferecer um ensino público de qualidade para os nossos mais de 800 mil estudantes.

Os últimos meses foram de construção. Qualificamos o trabalho das coordenadorias regionais de educação, com a seleção de profissionais técnicos; lançamos o programa Jovem RS Conectado no Futuro, que valoriza, apoia, dá visibilidade e estimula os projetos feitos com os professores nas escolas, além do protagonismo juvenil; otimizamos recursos e modernizamos a gestão escolar, com o aplicativo Escola RS, que mostra em tempo real a frequência dos estudantes, permitindo um olhar dos pais, e da comunidade escolar, sobre as avaliações e o desempenho. 

No RS Seguro, programa transversal do governo, estamos agindo em 80 escolas das 18 cidades com altos índices de vulnerabilidade. Em parceria com a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia, as escolas gaúchas receberão internet de alta qualidade nos próximos meses. Aplicamos recentemente a avaliação do SAEB, com a participação de mais de 300 mil estudantes.

Desde o início do governo, nos mantivemos abertos ao diálogo. Por meio do Projeto Seduc em Missão, visitamos os polos regionais de educação, ouvimos as demandas dos diretores, acolhendo e valorizando o que é feito em uma iniciativa inédita. Estivemos lado a lado. Recebemos inúmeras vezes os representantes do sindicato. Ouvimos as reivindicações, procuramos soluções. As portas continuam abertas, com um propósito maior: os nossos alunos. Esse é o perfil do governo.

A falta de planejamento e de um olhar para o futuro, bem como as opções de governantes quanto às prioridades, nos trouxe à situação atual. Agora, precisamos agir. As mudanças são urgentes e necessárias. O plano de carreira do magistério data de 1974, com leis complementares e que foram se adaptando diante de interesses do passado. 

Mas agora só existe um interesse: o Rio Grande do Sul. Nós, gestores, somos passageiros. É necessário coragem para enfrentar as dificuldades. O Rio Grande do Sul só será grande se os nossos desejos convergirem para as melhorias. E a educação é o principal deles.

FAISAL KARAM - Secretário de Estado da Educação |gabinetese@seduc.rs.gov.br


23 DE NOVEMBRO DE 2019
ACERTO DE CONTAS

Logística para sustentar a expansão

Rede de materiais de construção, a Lojas Quero-Quero definiu a construção de mais dois centros de distribuição na Região Sul. O investimento tem por objetivo dar sustentação à expansão da empresa de varejo. Além das 50 lojas novas abertas neste ano, serão inauguradas outras 70 em 2020, criando 1,3 mil empregos.

Os centros de distribuição ficarão em Sapiranga (RS) e Corbélia (PR). As obras devem começar ainda em 2019 e terão aporte financeiro total de R$ 55 milhões. As instalações devem gerar mais de 150 empregos diretos e indiretos durante a construção.

No caso de Sapiranga, o novo centro de distribuição da Quero-Quero é uma mudança de endereço em busca de maior espaço e agilidade nos processos. Em Corbélia, a ideia é fazer uma expansão geográfica, já que será o primeiro centro fora do Rio Grande do Sul. A cidade fica em uma rota estratégica para ampliação da rede. Ambos têm inauguração prevista para 2021.

No final do ano passado, a empresa já havia anunciado a construção de uma nova unidade do centro de distribuição em Santo Cristo, cidade natal da Quero-Quero. A obra de R$ 30 milhões está sendo finalizada e a operação começa em fevereiro próximo.

As novas áreas serão mais amplas e modernas, conta o presidente, Peter Furukawa. A empresa destaca, inclusive, que os funcionários terão espaços para capacitação nos locais.

Juntas, as três novas unidades garantirão o abastecimento de cerca de 600 lojas, acompanhando o ritmo acelerado de abertura de novas filiais da rede, que já conta com 340 pontos de venda.

A Quero-Quero foi fundada em 1967. Em 2008, foi comprada pelo fundo de investimentos Advent, que trouxe a sede para Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre.

Há vagas para chefes

O Mercado Livre instalará um centro de distribuição em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, e está em busca de profissionais para vagas de emprego estratégicas dentro da estrutura da empresa. Empreendimento antecipado pela coluna, a operação será a terceira do Brasil mantida pela gigante do comércio online, que tem sede na Argentina.

São cerca de 25 vagas para cargos como gerentes, supervisores, analistas e outras posições de liderança. Quem está fazendo a seleção é a Place Consultoria e RH e, para se candidatar às oportunidades, é necessário realizar cadastro no site www.placerh.com.br/Oportunidades.

O início da operação no Rio Grande do Sul está previsto para o primeiro trimestre de 2020. A área total é de quase 50 mil metros quadrados, com faturamento estimado de R$ 450 milhões nos próximos cinco anos. O pavilhão fica em um condomínio logístico na RS-118.

Finanças pessoais | Esgote a negociação

Marcada para a próxima sexta-feira, a Black Friday está chegando. Se você já anotou os preços, comparou bem no dia da liquidação, escolheu o que e onde comprar, a coluna explica que é bem possível que você consiga economizar ainda mais. A dica é pedir um preço mais baixo negociando a forma de pagamento. O lojista paga uma taxa para a operadora do cartão de crédito ou débito que pode virar um desconto caso o cliente opte por pagar com cheque, transferência bancária ou até mesmo com dinheiro na mão. Também é bom para o comerciante, que tem acesso mais rápido ao pagamento.

Há lojas de Porto Alegre que chegam a oferecer 30% de desconto, ou seja, vale muito a pena. No entanto, até mesmo os sites de grandes redes de varejo têm disponibilizado preços menores para formas diferentes de pagamento.

Termômetro | Trimestre acomodado

A economia do Rio Grande do Sul encolheu 1,1% no terceiro trimestre. Calculado pelo Banco Central (BC), o Índice de Atividade Econômica Regional do Rio Grande do Sul (IBCRRS) já traz o ajuste sazonal na comparação com o segundo trimestre de 2019.

Apesar de ter registrado um primeiro semestre de destaque no país, a economia gaúcha dava sinais claros de que não tinha começado bem a segunda metade do ano. Conforme os dados do IBGE, os três setores tiveram desempenho negativo de julho a setembro.

Comércio -1,4% -  Serviços -1,2% - Indústria -2,9%

Quando a comparação é com o terceiro trimestre de 2018, a economia do Rio Grande do Sul também aponta recuo. O IBCRRS fica em -0,4%.

Setembro até trouxe crescimento sobre agosto, de 0,14%. No entanto, não devolve nem a queda do mês anterior, ficando em 139,65 pontos, que é o segundo menor patamar do ano. Atrás, obviamente, só de agosto. O melhor desempenho da economia gaúcha em 2019 foi alcançado em março. "Acomodação" foi o termo usado pelo BC no último relatório regional ao se referir ao Estado.

GIANE GUERRA