quarta-feira, 29 de outubro de 2008



29 de outubro de 2008
N° 15773 - MARTHA MEDEIROS


O anjo e o diabo

A cena é recorrente em desenhos animados e filmes publicitários. Uma pessoa está na dúvida entre seguir um caminho ou outro. Subitamente, escuta a voz de um anjinho assoprando boas dicas em um de seus ouvidos.

No instante seguinte, escuta a voz de um diabinho recomendando selvagerias. O anjinho geralmente está certo, mas as dicas dele são desprovidas de adrenalina. O diabinho geralmente está errado, mas possui idéias excitantes. A quem obedecer?

O anjinho diz para um cara: “Que história é essa de sair do trabalho no meio da tarde? Você sempre foi responsável, não coloque em risco sua boa imagem por causa de uma aventura”.

O diabinho contra-argumenta: “Ninguém vai morrer se você sair mais cedo – e a bonitona que você conheceu quer pegar um avião logo mais à noite: e se ela for a mulher da sua vida?”.

O anjinho: “Esquece isso, você perderá a chance de ser promovido por causa de uma escapulida que vai pegar supermal com seu chefe” .

O diabinho: “Seu chefe não tem aquelas pernas!!”.

O anjo e o diabo brigam incessantemente, e essa é uma das razões pelas quais a vida pode ser divertida: se a gente tivesse certeza de tudo, qual seria a graça?

Eu geralmente sigo os conselhos do meu anjo porque ele enxerga a longo prazo. O diabo tem mais humor e mais ousadia, mas ele não prevê conseqüências, vive o agora, o imediato: sempre acha que vamos morrer amanhã. Não é diabo à toa.

São dois grilos falantes que não decidem por nós, mas nos ajudam a tomar atitudes razoavelmente equilibradas. Geralmente eu aproveito um pouco do que cada um deles me sussurra e transformo em outra coisa, em um terceiro pensamento: o meu.

Essa história de anjinho e diabinho me veio à cabeça por causa do Lindemberg, o sujeito que manteve em cativeiro as meninas Eloá e Nayara no seqüestro mais destrambelhado do ano.

Ao se comunicar com os policiais, ele avisava que tinha um anjo e um diabo orientando-o. Pode-se imaginar que o anjo pedia que ele liberasse as meninas, enquanto que o diabo lhe sugeria detonar com tudo.

A gente sabe a quem ele deu ouvidos. Nem ao anjo nem ao diabo, pois são apenas duas figuras metafóricas da nossa consciência, e que consciência tinha aquele desajustado? Ele seguiu a orientação do seu abandono.

Agiu conforme o que recebeu da vida: um pai e uma mãe que por nenhum momento deram as caras, nem durante, nem depois do seqüestro, e pior: tudo indica que nem antes.

Anjinhos e diabinhos nos divertem e instigam, mas a gente conduz nossos atos, a sério, de acordo com os sussurros que nos chegam da infância. Se não vem nada de lá, só nos resta detonar com tudo.

O meu anjo está avisando que não posso perder o show do Frejat, sexta, dia 31, na Reitoria da UFRGS, ainda mais que seu disco novo, Intimidade entre Estranhos, traz nossa primeira parceria musical.

Adivinha o que o diabo me sussurrou: que vai também! Então, todo mundo lá.

Aproveite a quarta-feira - Namore - Ame - Uma ótima quarta-feira a todos nós.

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