sexta-feira, 3 de outubro de 2008



03 de outubro de 2008
N° 15747 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Memórias de um escritor

A história que melhor se conta é a história da própria vida. Acabei de comprovar mais uma vez essa verdade percorrendo as 228 páginas de Memórias de um Escritor de Província, de Sérgio da Costa Franco.

O gênero é pouco cultivado no Brasil. No Rio Grande, tanto quanto me lembre de momento, só se destacam mesmo Borges de Medeiros e seu Tempo e A Aliança Liberal e a Revolução de 1930, de João Neves da Fontoura, e Solo de Clarineta, de Erico Verissimo.

Mas há um divisor de águas entre essas obras. João Neves, sem deixar de lado o pronome eu, transita de uma narrativa pessoal, a de sua mocidade, para um painel dos fatos e das coisas deste Estado e deste país, que se confunde com a História. Já Erico é predominantemente confessional, embora sem esquecer a sua circunstância.

Sérgio, por seu turno, segue esta última escola, e com tal maestria, que prende o leitor a cada frase, parágrafo e capítulo. É assim que o acompanhamos de Jaguarão, onde seu pai foi barbaramente assassinado, à transferência para Porto Alegre, cenário de uma drástica mudança de vida.

A família de classe média alta teve de contentar-se com um porão na Rua Gen. Cipriano Ferreira, no Centro, e logo com um bangalô na José de Alencar, no Menino Deus.

A descrição dessa infância no final dos anos 30 é um dos pontos altos das memórias. Não me atrevo a tentar reprisá-las, nem reinventar os mínimos apartamentos que se seguiram, pois esta não é uma crônica de recriação do que já está exemplarmente escrito.

Não me tenta também imergir na aventura juvenil do Partido Comunista. Sinto apenas alguma vontade de reproduzir o absurdo incidente da prisão de Sérgio pelos emissários da redentora. Mas igualmente disso nada direi, ou privarei você que me lê dos detalhes de um episódio de insensatez.

As Memórias de um Escritor de Província são antes de tudo ricas de detalhes e acontecimentos. A única coisa que lhes falta são páginas a mais. Pois, quando se chega ao trecho final, vem junto o impulso de retornar às primeiras linhas.

Uma ótima sexta-feira, especialmente a você e um ótimo fim de semana.

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