08
de maio de 2013 | N° 17426
MARTHA
MEDEIROS
Causa e
efeito
Ao
assistir à peça Arte, que esteve recentemente em cartaz em Porto Alegre, no
festival Palco Giratório Sesc, tive a mesma sensação de quando assisti a Deus
da Carnificina, não por acaso obras da mesma autora, a fantástica Yasmina Reza.
É incrível a capacidade que ela tem de criar situações que nos desconstroem.
Sem
piedade, ela evidencia o quanto somos todos patéticos. Fazemos um dramalhão por
pequenas coisas, expomos carências infantis e perdemos a compostura por nada.
Somos experts em desproporção entre causa e efeito.
Será
que um dia conseguiremos equalizar nossas reações, dar a elas uma medida exata?
Acho improvável. Vida também é teatro. Por mais humildes que sejamos ao
reconhecer nossos exageros diante de alguns acontecimentos, dificilmente
conseguimos nos conter.
Defendemos
nossas opiniões com todas as ferramentas de que dispomos: palavra, voz, gestos,
paixão, raiva. E dá-lhe atrapalhação. Agimos de forma farsesca acreditando
estar sendo espontâneos.
Fazemos
piada de assuntos graves e, por outro lado, levamos a sério as maiores
bobagens. Amamos alguém e o atacamos. Desprezamos alguém e o tratamos com
mesuras. Somos vigorosamente contra ou a favor, como se de nossas posições
dependesse nossa vida.
E chegam
a ser inocentes nossas tentativas de compreender a nós mesmos, aos outros e ao
mundo. Eu, particularmente, gosto muito dessa busca, mas sem perder a
consciência de que, onde quer que eu chegue, ainda estarei a milhões de
anos-luz da compreensão absoluta.
De
certa forma, ainda bem. O que viria depois da compreensão absoluta?
Claro
que as coisas podem ser mais simples, mas nunca serão exatas. Não há como ter
controle sobre algo em constante movimento: a própria vida. É tão grande o
número de influências, ideias, sensações e circunstâncias que nos impactam
diariamente, que nunca teremos uma verdade pronta e empacotada para lidar com
elas – e muito menos uma estabilidade emocional condizente com a experiência.
Sempre estaremos falando num tom mais alto, tentando assim nos defender contra
o susto que é ser confrontado diariamente com nossa vulnerabilidade.
O
que admiro nesses dois textos de Yasmina Reza, Arte e Deus da Carnificina, é
que ela mostra claramente o delírio de se levar a ferro e fogo situações banais,
a absurda insistência em querermos causar boa impressão e a inutilidade de nos
comportarmos como se estivéssemos diante de um tribunal.
Sendo
assim, o que nos resta? Rir. No que diz respeito às nossas relações pessoais, a
vida segue sendo mais cômica do que trágica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário