sábado, 2 de janeiro de 2010



O novo sempre vem

O Mario Quintana poetou para sempre que o tempo é só um ponto de vista dos relógios, mas, vamos combinar, fim de ano é sempre boa hora para pensar em coisas velhas, novas, velhas novidades, novidades antigas, tempo, criação, renascer e tal.

A gente tenta fazer uma limpa em dezembro, rasga a folhinha do calendário e, como em algumas cidades italianas, tenta jogar pela janela imaginária ou não o que não se quer mais do ano que passou. Tenta, né. Memória é onde as coisas acontecem muitas vezes, passado é o que aconteceu e história é o que queremos lembrar. Lembro da recente polêmica sobre arte, Bienal, dinheiro público e tal. Cada um puxando a brasa para seu assado e o público, como sempre, curtindo a troca de farpas.

Coisa antiga, mas normal, democrática, vá lá. Arte, amor, tempo, criação, amizade, sentido da vida, todo mundo está milenário de saber que são temas de difíceis e ilimitadas definições, no tempo, no espaço e nas cabeças. Quem pode dizer o que é arte hoje? O que é amor, amizade, literatura da boa e receita correta de carreteiro de marisco? No nosso mundinho globalizado, pós-moderno, fragmentado, sei lá, cada um inventa toda hora mil maneiras, formas, conteúdos.

É muita pretensão oferecer “definições definitivas” do que quer que seja. O ano novo é momento para, mais uma vez, pensar que os julgamentos mais importantes são os do tempo e os da maior parte das pessoas, ressalvados, claro, os sagrados direitos das minorias que, de vez em quando, vão se tornando maiorias no decurso da História.

As universidades, academias e os doutores têm lá seu valor, assim como as velhas e novas vanguardas, mas, ao fim e ao cabo, Dom Quixote ficou para sempre por que todo mundo é meio Quixote e meio Sancho Pança, porque foi bem escrito e o tempo assim quis. Ao contrário do que disse o outro, a História não acabou e não acabaram nem vão acabar as indagações e mistérios humanos.

Tudo bem, a vida é curta e a arte é longa, mas sempre é bom pensar que o novo sempre vem, mesmo quando nem tão novo e mesmo quando algum grego já tinha pensado no assunto. Na virada de 2010 o lance é imaginar e desejar que um desses bebês que está nascendo com sua pele e alma novas traga alguma criação boa para nós e o planeta.

Alguma bossa nova-nova, em homenagem à memória do Tom Jobim. Bom lembrar que depois da vida, a liberdade, de imprensa, criação, ir e vir etc, é o bem maior. O resto é discussão normal, humana, às vezes demasiadamente humana. Livre, criativo, polêmico e ótimo 2010 para todos nós!

Um ótimo fim de semana para vc. Aprovite este que é o primeiro de 2010

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