terça-feira, 11 de agosto de 2009



11 de agosto de 2009
N° 16059 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Em companhia de uma dama

Talvez porque escrevo numa tarde chuvosa, fria e cinzenta, me refugio em uma manhã de minha última viagem à Europa. Depois de uma semana de rígida programação, em que todos os segundos eram preenchidos por solenidades, visitas obrigatórias, palestras e debates, se abria diante de mim um dia inteiramente livre.

Dormi mais do que eu tinha direito, tomei um longo banho com água gostosamente tépida, encarei um breakfast preparado por um cozinheiro cordon bleu e saí à rua. Fazia um dia ensolarado, luminoso, sereno – um convite a você abraçar todas as coisas boas da vida.

Preciso caminhar – considerei – e saí vencendo calçadas e quarteirões, como se ali começassem todos os rumos do universo.

E então, de repente, sem o menor aviso prévio, a rua que eu trilhava se transformou numa avenida floral. As pistas privativas dos carros e dos ônibus se alargaram, convertendo-se num imenso prado.

Não falo aqui desses prados onde correm jóqueis e cavalos. Trato de aleias, canteiros, jardins, onde repousava a alegria de viver.

Dei um ponto e vírgula em minha jornada, puxei a máquina fotográfica, comecei a retratar a lindíssima paisagem circundante.

Foi quando percebi que não estava só. Do lado oposto do gramado florido me sorriam duas damas: a loira de uns 30 e poucos anos e a menina ruiva de uns 10, que devia ser sua filha. Foi a mãe que fez um gesto que dispensava tradução: eu queria que elas me fotografassem naquele cenário encantador? Disse que sim com a cabeça e elas pediram emprestada minha câmera e me transformaram alegre e ternamente em seu modelo.

Acabo de revisitar as fotos.

Aqui estou eu contra o fundo rosado de uma cerejeira. Aqui estou eu cercado de longe por montanhas de cumes brancos, que devem ser os Alpes. Aqui estou eu na insólita companhia de um parceiro impressentido: um mínimo esquilo.

E aqui estou eu ao lado de uma dama que não é nenhuma das duas que me fotografam.

Faz sol, bate leve meu coração, e eu sou inclinado a crer que essa dama é aquela que chamam de felicidade.

Uma linda terça-feira, especialmente para você que ainda continua com suas férias compulsórias de inverno

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