sábado, 7 de março de 2009



07 de março de 2009
N° 15900 - NILSON SOUZA


O último leitor

As aulas estão recomeçando e os professores de literatura, como sempre fizeram desde os meus tempos de ginásio (e ginásio aqui, jovens leitores, não é uma academia de ginástica, mas sim o período de quatro anos que complementava o primeiro grau, hoje Ensino Fundamental), já apresentam suas listas de leitura obrigatória às crianças e adolescentes.

Aposto que nenhum deles está indicando Crepúsculo, Lua Nova ou Eclipse – os três títulos já traduzidos da série vampírica da americana Stephenie Meyer. Nem caberia, provavelmente.

A garotada precisa mesmo conhecer os clássicos nacionais e também os principais escritores contemporâneos, por mais entediantes que sejam alguns deles. O problema é que esta leitura compulsória, que vale nota, raramente forma leitores. Pode, inclusive, desestimulá-los a novas aventuras no mundo das letras.

É preocupante isso. Meu ofício, de contar histórias num jornal de papel, já anda meio ameaçado. Embora por aqui a gente continue segurando as pontas, com o jornal crescendo em circulação e leitura, a sinalização que vem do Exterior não é boa.

Além disso, nossos jovens, com as exceções de sempre, preferem a telinha do computador às páginas dos jornais. Outro dia, um colega de trabalho formulou uma frase que mais parecia uma sentença de morte: “No dia em que a atual geração de leitores acabar, o jornal também acabará”.

Vade retro. Mas não deixa de ser aterrorizante pensar que pode estar entre nós o último leitor – com as características que o conhecemos hoje, apreciador de um bom texto, curioso para ampliar suas informações com uma leitura aprofundada e com paciência suficiente para folhear página por página.

A garotada tem pressa, muita pressa. Quer tudo ao mesmo tempo, e agora, como se convencionou carimbá-los. No computador, meninos e meninas interagem, fazem suas pesquisas, editam seus blogs, expõem suas fotos e até mesmo suas intimidades.

É muito mais atraente do que um jornal ou um livro. Apesar disso, muitos deles aproveitaram as férias para devorar os três títulos referidos acima – respectivamente 416, 480 e 464 páginas. Que fenômeno é este?

Vou arriscar o meu palpite. Simplesmente um fenômeno chamado “interesse”. Os jovens, como aliás pessoas de qualquer idade, sentem-se atraídos por aquilo que lhes faz sentido, pelo que lhes toca o coração.

Não creio que o último leitor esteja entre nós. Creio, isto sim, que precisamos acordar nossos vampiros internos para contar histórias verdadeiramente atraentes, seja numa folha de papel ou numa tela de computador.

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