sábado, 3 de janeiro de 2009



04 de janeiro de 2009
N° 15838 - MOACYR SCLIAR


A Terra do Nunca, A Terra do Sempre

Uma frase inevitável nesta época é: “Parece que foi ontem que o ano começou e ele já está terminando”. Tradução: o tempo passa.

Quando a gente vê, a semana terminou, o mês terminou, o ano terminou. E, claro, a vida termina, mesmo para os imortais membros da ABL, que, como dizia Rachel de Queiroz, podem ser imortais mas não são imorríveis. É bom a gente lembrar a transitoriedade da vida.

Porque a passagem do tempo é coisa que não aceitamos, que negamos fervorosamente, e aí está o botox para comprová-lo. Essa negação tem um preço, inclusive em termos emocionais. Se a gente soubesse avaliar melhor o tempo, usar melhor o tempo, se a gente pudesse aprender com o tempo, a nossa vida seria muito melhor.

Existem duas palavras que disso dão testemunho: nunca e sempre. As duas palavras negam que o tempo passe, que o tempo mude as coisas. Correspondem a uma fantasia infantil e não é de admirar que o escritor J.M. Barrie, o criador de Peter Pan, tenha dado o nome de Terra do Nunca àquela mítica região onde as crianças jamais envelheceriam.

Também não é de admirar que o estranho Michael Jackson tenha dado esse nome ao rancho que possuía em Santa Barbara, na Califórnia, e que teria sido cenário de cenas de pedofilia – até o cantor perder a propriedade por causa de uma milionária dívida hipotecária.

De alguma maneira vivemos na Terra do Nunca. E também na Terra do Sempre. Usamos constantemente essas duas palavras. Que são, podem estar certos disso, um desastre para qualquer relacionamento. É a mulher que diz ao marido: “Tu nunca me levas para jantar fora”, é o marido que acusa a mulher: “Tu nunca perguntas como é que estão as coisas no escritório”.

É o namorado que diz à namorada: “Tu estás sempre me criticando”, é a namorada que responde: “Tu estás sempre pensando em sexo”. Essas acusações tendem a se perpetuar, porque um “nunca” puxa outro “nunca”, um “sempre” evoca outro “sempre”. Um conflito eterno, muito mais eterno que o próprio amor, que, recomenda Vinicius de Moraes, deve ser eterno apenas enquanto dure.

Claro, não são poucas as pessoas que perceberam as armadilhas contidas nessas palavras. Há uma expressão em inglês que deveria servir de antídoto ao menos para o “nunca”: “Never say never”. É título de uma canção, título de um filme do 007, e deu origem a um neologismo, cunhado pelo jornalista americano William Safire, o “never-say-neverism”, que é uma regra para escrever melhor. Exemplo: “Nunca use pontos de exclamação!” (este que termina a frase é, claro, irônico).

As palavras nos unem, as palavras nos separam. As palavras criam beleza ou geram desgraça. E deste último caso “nunca” e “sempre” são exemplos eloquentes. Querem uma boa resolução de Ano Novo? Aí vai: nunca usar o nunca, sempre evitar o sempre.

ma frase inevitável nesta época é: “Parece que foi ontem que o ano começou e ele já está terminando”. Tradução: o tempo passa. Quando a gente vê, a semana terminou, o mês terminou, o ano terminou. E, claro, a vida termina, mesmo para os imortais membros da ABL, que, como dizia Rachel de Queiroz, podem ser imortais mas não são imorríveis. É bom a gente lembrar a transitoriedade da vida.

Porque a passagem do tempo é coisa que não aceitamos, que negamos fervorosamente, e aí está o botox para comprová-lo. Essa negação tem um preço, inclusive em termos emocionais. Se a gente soubesse avaliar melhor o tempo, usar melhor o tempo, se a gente pudesse aprender com o tempo, a nossa vida seria muito melhor.

Existem duas palavras que disso dão testemunho: nunca e sempre. As duas palavras negam que o tempo passe, que o tempo mude as coisas. Correspondem a uma fantasia infantil e não é de admirar que o escritor J.M. Barrie, o criador de Peter Pan, tenha dado o nome de Terra do Nunca àquela mítica região onde as crianças jamais envelheceriam.

Também não é de admirar que o estranho Michael Jackson tenha dado esse nome ao rancho que possuía em Santa Barbara, na Califórnia, e que teria sido cenário de cenas de pedofilia – até o cantor perder a propriedade por causa de uma milionária dívida hipotecária.

De alguma maneira vivemos na Terra do Nunca. E também na Terra do Sempre. Usamos constantemente essas duas palavras. Que são, podem estar certos disso, um desastre para qualquer relacionamento. É a mulher que diz ao marido: “Tu nunca me levas para jantar fora”, é o marido que acusa a mulher: “Tu nunca perguntas como é que estão as coisas no escritório”.

É o namorado que diz à namorada: “Tu estás sempre me criticando”, é a namorada que responde: “Tu estás sempre pensando em sexo”. Essas acusações tendem a se perpetuar, porque um “nunca” puxa outro “nunca”, um “sempre” evoca outro “sempre”. Um conflito eterno, muito mais eterno que o próprio amor, que, recomenda Vinicius de Moraes, deve ser eterno apenas enquanto dure.

Claro, não são poucas as pessoas que perceberam as armadilhas contidas nessas palavras. Há uma expressão em inglês que deveria servir de antídoto ao menos para o “nunca”: “Never say never”.

É título de uma canção, título de um filme do 007, e deu origem a um neologismo, cunhado pelo jornalista americano William Safire, o “never-say-neverism”, que é uma regra para escrever melhor. Exemplo: “Nunca use pontos de exclamação!” (este que termina a frase é, claro, irônico).

As palavras nos unem, as palavras nos separam. As palavras criam beleza ou geram desgraça. E deste último caso “nunca” e “sempre” são exemplos eloquentes. Querem uma boa resolução de Ano Novo? Aí vai: nunca usar o nunca, sempre evitar o sempre.

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