sábado, 4 de outubro de 2008



04 de outubro de 2008
N° 15748 - NILSON SOUZA


Com açúcar

Eduardo Galeano, o uruguaio que escreve pelos cotovelos, e sempre bem, disse em recente entrevista que a página em branco (no papel ou na tela do computador) ainda lhe causa terror. O nosso Verissimo tem uma explicação igualmente desconcertante para o seu incomparável talento de escritor e cronista.

Diz que sua inspiração é o pânico – o pânico do prazo de entrega dos textos que assina em jornais e revistas. Sempre que enfrento estas duas situações, a página em branco e o horário de fechamento desta crônica, penso nesses monstros sagrados da escrita e nas suas curiosas confissões.

Mas quem realmente me estimula a seguir em frente é a Valeska de Assis, esposa de outro mestre das letras, o reconhecido romancista Luiz Antônio de Assis Brasil.

Galeano nem sabe da minha existência, Verissimo talvez até se detenha de vez em quando neste espaço quando olha a programação de cinema aos sábados.

Mas Valeska, que também transita com desenvoltura pelo mundo das palavras e ministra concorridas oficinas de texto, sempre encontra tempo para ler o que escrevo e para me mandar uma mensagem de carinho e incentivo.

Generosa, ela pinça uma expressão ou um parágrafo menos rotineiro e dispara e-mails açucarados de simpatia. Escrever – concluo por experiência própria – também é uma questão de auto-estima.

Outro dia recebi na editoria de Opinião um interessante artigo de um professor de filosofia sobre o sofrimento dos torcedores de futebol. Quando seu time perde, ele conta, fica pouco produtivo, foge-lhe a inspiração, custa a se recuperar.

Parece exagero, mas a frustração de uma expectativa, por menor que seja, tem o poder de nos abater. Somos assim, movidos a motivação. Uma reprimenda estraga o nosso dia. Um elogio nos eleva o espírito e nos faz ver a vida com olhos de crença e esperança.

Só não podemos nos deixar enganar: muitas vezes a crítica é mais importante do que o elogio.

Sem qualquer desconsideração às gentilezas de minha leitora e amiga, sempre aprendi mais com as críticas do que com eventuais louvações. Fico, evidentemente, envaidecido com o carinho de suas mensagens.

Mas elas servem, acima de tudo, para me lembrar que um sorriso, uma palavra gentil, um elogio sincero, um gesto de atenção, todas essas coisas simples, têm o poder de dar sentido e encanto à vida.

Ótimo sábado e um excelente fim de semana.

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