sábado, 10 de maio de 2008



Brasil sobe um degrau
OCTÁVIO COSTA

Agência americana muda classificação de risco do País e abre caminho para grandes investimentos

EUFORIA A Bovespa subiu 6,3%, maior alta em cinco anos



Anotícia já era aguardada pelo governo Lula, mas veio antes do esperado. Pela primeira vez na história, o Brasil foi alçado ao grau de investimento por uma agência de classificação de risco internacional.

Na tarde da quarta-feira 30, a tradicional Standard & Poor’s (S&P), de Nova York, comunicou ao mercado que elevou a cotação do risco soberano do Brasil para a nota BBB-, o que eleva o País ao conceito de investment grade, a melhor classificação para receber investimentos estrangeiros.

A boa nova foi imediatamente transmitida pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao presidente Lula, que se encontrava em Maceió, em Alagoas, na cerimônia de posse do novo conselho diretor da Sudene. Lula exprimiu em público sua euforia. “Nós acabamos de ter a notícia de que o Brasil passou a ser investment grade.

Não sei nem falar direito a palavra, mas, se formos traduzir para uma linguagem que todos os brasileiros entendam, poderia dizer que o Brasil foi declarado um País sério, que cuida de suas finanças com seriedade”, comemorou o presidente.

No mercado financeiro, a repercussão foi igualmente exuberante. A Bolsa de Valores de São Paulo subiu 6,3%, sua maior alta dos últimos cinco anos, e o dólar despencou para R$ 1,66, a menor cotação desde 14 de maio de 1999.

Meirelles e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também festejaram. Afinal, todas as honras cabem aos responsáveis pela política econômica.

Na verdade, eles não se surpreenderam. Há muito tempo, os dois vinham cobrando das agências internacionais de rating mais coerência em relação ao status da economia brasileira.

No final de fevereiro, a presidente da S&P no Brasil, Regina Nunes, chegou a dizer que o País estava no caminho certo, mas precisava melhorar os números da dívida interna e realizar a reforma tributária. Há duas semanas, Mantega desembarcou em Nova York e manteve encontros com a firme disposição de corrigir o que considerava uma injustiça.

Levou na pasta dados que comprovavam a solidez dos fundamentos da economia nacional e, pelo visto, conseguiu convencer os interlocutores. O Brasil, finalmente, juntou-se ao México, Peru e Chile, na América Latina.

Outro ponto ganhou ênfase nas análises sobre a decisão da S&P: o Brasil foi promovido ao grau de investimento num momento de crise na economia mundial. O que serviu para comprovar a boa quadra que o País atravessa. Nas palavras eufóricas do presidente Lula, o Brasil “vive um momento mágico”.

Em linguagem mais técnica, Meirelles afirma que, ao ser concedido em dias de incerteza e instabilidade, o investment grade “mostra o aumento da resistência da economia brasileira a choques externos”.

Ele acredita que, como efeito do novo status, vai aumentar significativamente o fluxo de investimento para o Brasil, com conseqüências importantes na capacidade de gerar crescimento. “Esse dado é inquestionável”, disse Meirelles.

Desta vez, Mantega concordou integralmente: “Vamos atrair mais investimentos, o risco Brasil vai diminuir e um dos efeitos será a redução das taxas de juros, do custo financeiro, da taxa de captação para o Brasil”.

Fora da esfera oficial, a avaliação também foi bastante positiva. Paulo Godoy, presidente da Abdib, entidade que reúne a indústria de base, previu que a nova classificação do País vai impulsionar a participação dos investidores internacionais, sobretudo fundos institucionais, em investimentos nos setores da infra-estrutura.

“O grau de investimento criará grandes oportunidades de captação para as empresas brasileiras, com perfil e custo melhores”, disse ele. E completou: “Além disso, o Brasil ficará mais atrativo para o investimento direto em setores produtivos, e não somente em aplicações financeiras”.

Até mesmo o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que nos últimos tempos vem pisando no calo do governo Lula, deu uma breve trégua e reconheceu os méritos da conquista. Segundo ele, o novo status atrairá investidores institucionais de todo o mundo e possibilitará a queda das taxas de juros.

Skaf, porém, não deixou de dar uma alfinetada no Planalto. Lembrou que, quando a CPMF foi derrubada, comentou- se que a decisão iria atrasar a promoção a investment grade. “A classificação alcançada hoje e a evolução da arrecadação da Receita Federal desautorizam aqueles que pregavam o caos para a economia brasileira”, critica Skaf.

Ele não deixa de ter razão. Mas a hora é de festejar. Tudo indica que outra agência de risco de peso, a Moody’s, prepara-se para também elevar o Brasil ao grau de investimento.

Isso aumentará ainda mais a confiança dos investidores estrangeiros. E certamente significará, em linguagem direta, mais emprego e renda para as famílias brasileiras.

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