terça-feira, 26 de dezembro de 2023


Economia em desaceleração no país

Próximo ano não deverá repetir supersafra e há dúvidas sobre tamanho do déficit fiscal e nível de investimentos de empresas

Na virada do ano, o cenário macroeconômico é marcado por incertezas e expectativas. Sem estimativa de repetir uma supersafra, o que sempre ajuda a turbinar a balança comercial e o crescimento do Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul, onde a dependência da atividade no campo é maior, as projeções apontam para um período de desaceleração.

Entre os fatores apontados pelo economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, está o cumprimento do arcabouço fiscal. O mecanismo que substituiu o teto de gastos, tornando o controle das despesas públicas mais flexível, foi alvo de manobra meses depois de sua aprovação. E, a julgar pelo orçamento aprovado no Congresso, com elevação de recursos para o fundo eleitoral e emendas parlamentares, será difícil que o país não produza novo déficit no próximo exercício, exatamente quando a meta seria zerá-lo.

- Se o déficit para 2024 superar 1%, a coisa se torna mais difícil. Até se pode falar em câmbio estável. E com uma boa safra, que não será recorde, mas estima-se que próxima da de 2023, é algo que pode ajudar. Até agora a gente só viu intenções, mas não metas sendo cumpridas ou a aplicação do consequente mecanismo, em caso de descumprimento - resume.

Apesar de ressalvar que 2023 demarcará o segundo ano consecutivo em que o Produto Interno Bruto (PIB) terá surpresas positivas, o economista, especialista em contas públicas e ex-secretário da Fazenda do Estado Aod Cunha reforça que 2024 antecipa uma redução da atividade.

Reformas

Segundo ele, uma das maneiras de reverter as projeções seria avançar com reformas, a exemplo da tributária, promulgada no último dia 21 de dezembro e que ainda precisará de regramentos. Ele destaca as modificações feitas no passado na legislação trabalhista, fator que aponta como um dos prováveis elementos capazes de manter resiliência no mercado de trabalho no país, a despeito dos últimos solavancos da economia.

- Essas reformas, assim como a autonomia do Banco Central, dão pistas de que possam ter surtido efeitos. Ainda é cedo para confirmar estatisticamente, mas o que se vê é um mercado de trabalho ainda aquecido e muita efetividade no controle da inflação - argumenta.

E é do mercado de trabalho que podem surgir as melhores surpresas para o crescimento, já que o consumo em alta é um dos elementos em que se sustenta o crescimento. Sobre outro fator, nesse caso, o investimento das empresas, pairam temores. Isso acontece porque o nível de resguardo das empresas para aportes futuros tem sido reduzido a cada trimestre e a indústria, setor intensivo em contratações e exportações, enfrenta problemas estruturais ampliados pela diminuição da confiança dos empresários.

RAFAEL VIGNA 

Nenhum comentário: