sábado, 25 de novembro de 2023


24 DE NOVEMBRO DE 2023
CARPINEJAR

Menina de nossos olhos

Gramado conta com 40 mil habitantes. Recebe cerca de 7,8 milhões de turistas ao ano. Em média, acolhe 648.063 turistas por mês, 16 vezes o seu número de moradores. A expectativa de visitantes no Natal Luz tem o teto de 2,5 milhões de pessoas. A taxa de ocupação hoteleira fica em surpreendentes 90%. Não existe rival, nada igual no Brasil.

Gramado é nossa joia, nosso tesouro, nosso município simétrico e perfeito. É limpo, organizado, bem sinalizado, com prédios centrais harmônicos, mantendo a ancestralidade germânica. Oferece chocolate, comida farta e um clima romântico. Tornou-se o destino preferido das luas de mel.

Mais da metade dos passageiros que desembarcam no Salgado Filho segue em sua direção. No topo da Serra, desponta como um paraíso quentinho no inverno, em que esperamos sempre a neve cobrir as araucárias e engordamos alguns quilos (perdoados pela felicidade).

Nem uma cidade cenográfica da Globo seria tão impactante. Nosso orçamento no turismo advém principalmente da competência de seus administradores. Diante da permanente e opulenta visitação, é natural a minha preocupação com as quatro rachaduras que eclodiram em diferentes pontos: no bairro Três Pinheiros, no loteamento Orlandi, no loteamento Alphaville e na divisa entre Linha Ávila e o bairro Piratini.

Ocasionadas pelo volume ostensivo das águas pluviais no semestre, são crateras lunares assustadoras, bifurcando repentinamente o asfalto ou os caminhos internos de uma praça. O chão se abre como num terremoto silencioso.

Há uma cisão, por exemplo, com 150 metros de extensão por um metro de profundidade, na Rua Ladeira das Azaleias, que desencadeou o desabamento do prédio nas imediações durante a madrugada de quinta-feira - por mérito da prefeitura, evitou-se uma tragédia com a bendita evacuação dos moradores cinco dias antes.

Diferentemente de uma enchente em regiões ribeirinhas, em que os estragos são visíveis, perdura em Gramado o mistério do deslizamento. Pela novidade histórica da situação, ninguém ainda é capaz de determinar a extensão dessa avalanche subterrânea.

O que se sabe é que a terra se movimenta por baixo do solo. Se ela caminha ou corre, se foi um evento isolado ou é um problema de conjuntura da superocupação, não dispomos de certezas.

Deve ser um assunto prioritário do governo, a ser investigado pelas autoridades municipais. Que seja realizado um mapeamento geológico imediato e minucioso, o qual forneça tranquilidade a passeios e segurança aos hóspedes e residentes.

Gramado é a menina de nossos olhos, a cidade mais fotografada, mais filmada, mais cobiçada do Sul do país. Acaba sendo, infelizmente, a mais propícia para fake news, gerando uma boataria apocalíptica pelos grupos do WhatsApp. O mínimo incidente assume proporções épicas e distorções monstruosas, como a do colapso de sua estrutura ou de seu gradual afundamento.

Não dá para fazer alarmismo. Tampouco dá para deixar de fazer prevenção, ainda mais com a previsão de chuvas prolongadas para os próximos dois meses.

CARPINEJAR

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