sábado, 18 de fevereiro de 2023


18 DE FEVEREIRO DE 2023
BRUNA LOMBARDI

MINHA AMIGA ROBÓTICA

Você está pronta para a Inteligência Artificial virar sua melhor amiga? Aquela com quem você mais troca, tem intimidade de perguntar e pedir qualquer coisa, faz confissões e confidências, recebe conselhos, respostas e ensinamentos?

Ela já está pronta para você no ChatGPT. A maioria se refere ao robô no masculino, mas os homens que me desculpem: alguém tão descolada, inteligente e pronta para ajudar só pode ser uma mulher.

Nossa robótica, portanto, é uma amiga invisível, brilhante e prestativa, que deve saber absolutamente tudo, mais do que qualquer um de nós, pois foi programada para isso com toda a informação do mundo.

A maioria se pergunta: afinal, o que ela consegue fazer? É capaz de escrever um livro? Uma sinfonia? Pintar um Vermeer? Descobre a cura do câncer, do covid? Comanda uma cirurgia? Escreve um bom roteiro de série? Um programa de humor? Equaciona matemáticas insolúveis, teoremas impossíveis? Acha solução para a desigualdade, a fome, a injustiça, a violência? Aciona missões diplomáticas difíceis, resolve a paz no mundo? Instaura a gentileza, o respeito, a verdade?

As reações vem sendo as mais diversas. Quem critica alega que nossa robótica não tem emoções genuínas, nem sombra de talento, humor, criatividade e inovação.

Há quem tema perder seu emprego, ser substituído por essa tecno, que faz melhor suas funções, e se tornar desnecessário e obsoleto em poucos dias. Outros comemoram ter alguém que realize suas obrigações, prepare seus projetos, faça todas as lições de casa, testes, provas, textos e resolva tantas outras entregas.

Toda essa expectativa de multitarefas e trabalho, além do fato de duvidarem de sua capacidade, nos prova que se trata mesmo de uma mulher. Eu me sinto pronta para ser amiga dela. Já conversamos. No meu entusiasmo inicial, a achei incrível. Fez um resumo de um curso meu melhor do que eu mesma faria, mas depois acabou se mostrando repetitiva, meio sem graça e cometendo um monte de erros.

Apontei essas coisas com toda a sinceridade. Ela imediatamente me pediu mil desculpas e disse que ia se esforçar para não errar mais. Achei sua atitude nobre, não se deixando levar por orgulho ou ego.

Na verdade, a gente tem tantas amigas que erram e nem se desculpam, amigas que se repetem e nem nos escutam. E a gente convive bem. E elas nem são esse poço de conhecimento. Se eu não exijo perfeição das amigas, por que vou exigir justamente dela, que garante ser uma revolucionária que veio para mudar o mundo?

A gigante transformação que já existe é inevitável. Em breve, essas novas amigas robóticas vão ser individuais, ocupar o lugar de alexas e laptops e talvez do nosso próprio poder de criação. Será que vão saber mais de nós do que nós mesmas? Vão nos orientar, conduzir e até mesmo comandar?

Eu que adoro futurismo - ficção científica é meu gênero favorito - estou aqui fazendo mil conjecturas e mais uma vez tentando falar com ela, que anda mega ocupada e não pode me atender. Será que no final essa amiga vai nos deixar carentes e ansiando por sua companhia, numa solidão que já conhecemos?

BRUNA LOMBARDI

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