sábado, 26 de fevereiro de 2022


26 DE FEVEREIRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

NOSSA CULPA

Sobram adjetivos para designar o horror ocorrido em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro. Tudo vai além de um desastre e, por sorte, ninguém ousou chamar erroneamente de "acidente", como anos atrás em Brumadinho (MG). Em verdade, em ambos casos, houve um crime perpetrado por nosso desdém que se transforma em agressão direta à natureza.

As cenas mostradas agora pela TV percorreram o mundo inteiro, num cataclismo que parecia o apocalipse bíblico. A água, bem essencial à vida do planeta, transformada em mão criminosa que destrói, afoga ou aprisiona na lama, matando tudo o que encontre à frente. Não repetirei o que todos viram, pois o essencial é ir às causas e às origens do horror.

E aí deparamos com nossa culpa nesse absurdo desprezo pela natureza, como se ela fosse uma intrusa incômoda e não o berço e alimento da vida. O horror das chuvas de Petrópolis é uma das consequências das mudanças climáticas, tal qual a estiagem que nos afeta no sul do Brasil. Simulamos, porém, que não sabemos disso, num faz de conta infantil, e continuamos a poluir tudo ao nosso redor. Ignoramos as advertências da ciência e os alertas da ONU e do papa Francisco sobre a preservação do meio ambiente.

A situação agravou-se e os riscos cresceram no atual governo. Na área federal, Bolsonaro abriu a floresta amazônica ao desmatamento do agronegócio, desconhecendo que são terras impróprias à lavoura e à pecuária que, em dois ou três anos, estarão estéreis. Aqui, o governador Eduardo Leite (com apoio do Legislativo) mudou o exemplar Código Ambiental do Estado para facilitar agredir a natureza.

Nosso desdém vira culpa direta e, assim, nos transformamos em assassinos da vida no planeta. Em termos teológicos, matamos a obra divina da Criação e jogamos ao lixo a ciência e a própria evolução humana.

Há também outras culpas, menores mas fundamentais, como acreditar nas tais "pesquisas" de intenção de voto para presidente da República, feitas por telefone e ouvindo brevemente 2 mil pessoas como se fossem milhões de eleitores.

Essas "pesquisas" nada pesquisam, apenas induzem a decidir sobre os que apareçam na ponta, em primeiro e segundo lugares, sem mostrar jamais o que eles são ou o que fizeram, nem o que propõem. Capengas, são apresentadas como "verdades", mas são uma ficção que transforma o eleitor em um boneco.

Por que não pesquisamos o histórico e as propostas dos candidatos e não só números a esmo?

FLÁVIO TAVARES

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