sábado, 2 de maio de 2020


02 DE MAIO DE 2020
RODRIGO CONSTANTINO

Construir pontes


Dividir para conquistar é uma tática política eficiente desde os romanos. O PT lançou mão dessa estratégia e rachou o país entre ricos e pobres, negros e brancos, homens e mulheres, gays e heterossexuais etc. Demonizaram tanto os adversários, tratados como inimigos cujas intenções seriam malignas, que quando deixaram um rastro de corrupção e caos social, o ódio foi inevitável para muitos.

Em parte isso explica o fenômeno do bolsonarismo. Há uma ala movida basicamente pelo ressentimento, pela raiva, pelo sentimento de vingança. Em vez de querer construir algo positivo, predomina o desejo de destruir o inimigo. Essa turma enxerga traidores por todo canto, exige lealdade plena ao "mito" e trata com desprezo e revolta qualquer um que desvia uma vírgula de sua cartilha.

Esses bolsonaristas só se reconhecem no combate, foram forjados no conflito, e costumam esticar a corda até o limite. O risco é ela se romper. A quantidade de "traidores" não para de aumentar. Alguns pareciam, no começo, oportunistas desmascarados mesmo. Mas, com o tempo, a lista de "comunistas" ou "vendidos" foi aumentando, até incluir o ex-ministro Sergio Moro.

Aquele que era um herói nacional até "ontem" se transmutou, da noite para o dia, num pária infiltrado a ser destruído. Uma coisa é criticar a forma como Moro escolheu sair, atirando no ex-chefe, o que foi criticado inclusive pelo vice Mourão. Militares prezam a fidelidade hierárquica. Outra, bem diferente, é passar a detonar todo aquele que ainda admira Moro.

O deputado Vitor Hugo, porém, publicou mensagens de lamento pela saída de Moro dos deputados do Partido Novo e afirmou que vemos "muitas máscaras caindo". Entre os deputados estava Marcel van Hattem, do RS, um dos mais combativos defensores da agenda reformista do governo, em especial na área econômica. Vitor Hugo é ninguém menos do que o líder do governo na Câmara!

Marcel rebateu, perguntando se o intuito do líder do governo era dividir a direita para devolver o poder ao PT. Uma alfinetada legítima, já que ele, por convicção, tem sido dos mais favoráveis às pautas do governo. Paulo Eduardo Martins, deputado governista que tenta construir pontes, também desabafou: "É impressionante. Não há 12 horas de paz em Brasília". Por que será?

RODRIGO CONSTANTINO

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