sábado, 24 de junho de 2017



24 de junho de 2017 | N° 18880 
DAVID COIMBRA

Quem inventou o sanduíche aberto


Para o que que é bom laranja? Como laranja todos os dias. Depois do Timeline, no meio da manhã, vou ali para a minha sacada acompanhado por uma laranja da Califórnia e uma faquinha de serra. Descasco a laranja e aprecio gomo por gomo, olhando as crianças que brincam na praça em frente. Trata-se de um momento de paz, sem dúvida. Mas o que meu combalido corpo ganha com isso, além da óbvia vitamina C? É o que gostaria de saber.

Meu filho agora está nesta fase. À mesa de jantar, quando a comida aterrissa na frente dele, ele começa a perguntar:

– Pra que que é bom feijão?

– Ah, o feijão tem ferro, te dá força, é um alimento importante, embora seja o que mais causa gases.

– Gases? – Pum.

Ele cai na gargalhada e passa a gostar ainda mais de feijão.

Portanto, devido aos deveres pátrios, tenho de estar informado sobre as propriedades dos alimentos. Tento me lembrar do que minha mãe e minha avó diziam ou do que eventualmente ouço por aí.

Segundo minha avó, a abóbora engrossa as pernas. As mulheres comiam abóbora por esse motivo, antes. Hoje não mais. Hoje é um tempo de pernas esguias.

O bife, se servido às dez da manhã, junto com um cálice de vinho do porto misturado a uma gema de ovo, acaba com qualquer anemia. Bife de fígado também é engrossador de sangue, mas quem vai comer bife de fígado?

A banana, diz minha mãe, evita câimbras.

Leite, todo mundo sabe, é ótimo para a solidez dos ossos.

Li em algum lugar que o tomate serve para prevenir contra o câncer de próstata, mas tem de ser o tomate do molho, não o da salada. Muita bolonhesa, pois.

O peixe, por ter grande dose de fosfato, ativa a memória. Quanto mais peixe você comer, mais inteligente você fica. E tem o ditado clássico: “An apple a day keeps the doctor away”. Quer dizer: se você comer uma maçã por dia, não precisará ir ao médico. Será? Devo trocar a laranja pela maçã? A laranja, bem sei, previne gripes, mas uma por dia deve proporcionar outros benefícios. Quais são? Outra: ainda não descobri por que raios a gente precisa comer alface. A alface me irrita.

Dias atrás, os cientistas revelaram que a cerveja ou o chope fazem o mesmo efeito do Tylenol. Isso me encheu de alegria. Botei todos os Tylenols fora. Até já intuía essa capacidade do chope, se você quer saber. Chope com sanduíche aberto, então, deve ser um poderoso analgésico. Você sabia que o sanduíche aberto é uma invenção porto-alegrense? Pois é! Meus amigos Neca e Admar Barreto contam que a criadora foi a mãe do Fred, que foi dono de famosos restaurantes alemães, entre eles o Bier Stube e o Max und Moritz. Esse genial acepipe foi servido ao público pela primeira vez em outro bar alemão, o Urso Branco, que se situava na Pinto Bandeira.

O problema é que, com a popularização, o sanduíche aberto se vulgarizou. Porque o verdadeiro sanduíche aberto não é apenas pão com queijo e presunto cortado em quadradinhos. Não! São indispensáveis o critério e a criatividade. O verdadeiro sanduíche aberto jamais é seco, ele foi adrede preparado, ainda que sempre no mesmo dia do seu consumo. E ele é variado, ele tem de um tudo, da cobertura simples, com um fio de azeite de oliva e um tomate vermelho, feito uma tapa, até a indispensável carne de porco.

Por sinal, criei um prato, certa vez, e entrei para o cardápio do velho Jazz Café, então dirigido pelo meu amigo Atílio Romor. Eram lâminas de lombinho de porco bem temperadas, servidas com pão preto, adornadas por eventual mostarda. “Lombinho à Coimbra”, estava escrito no menu, para gáudio meu. Tanto, que nem me importava com a brincadeira recorrente de meus amigos:

– Vamos comer o lombinho do David?

Para o que é bom lombinho, sanduíche aberto e chope todos os dias? Você não sabe? Eu sei: é bom para a alma. Lâminas de lombinho, o verdadeiro sanduíche aberto, chope gelado e amigos em torno à mesa. Definitivamente, bom para a alma.

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