segunda-feira, 2 de novembro de 2015



02 de novembro de 2015 | N° 18343 
DAVID COIMBRA

O mundo é bonito


Já vi coisas bonitas na vida. Já me emocionei com a beleza do mundo. Lembro de quando me pus diante do Duomo de Milão pela primeira vez. Muito tinha lido sobre essa grande catedral gótica e estava ansioso para conhecê-la. Quando enfim pisei na praça em frente à igreja e levantei os olhos para suas paredes brancas, falhou-me a respiração. Era mais magnífica do que podia ter imaginado. E, como um bobo deslumbrado, senti os olhos umedecidos. Mas me contive. Não chorei. Sou do IAPI, afinal.


Fiquei encantado com a beleza de outras cidades. Roma, por seu significado histórico. Paris, porque Paris é Paris. E a mais bela entre todas as belas: o Rio.

Em meio a 10 arco-íris formados pelas Cataratas do Iguaçu, sentindo no peito o poder da natureza, gritei de alegria.

E também me enlevei pelo encanto de certas mulheres. Uma mulher que de repente espia o vento lá fora ou que baixa os olhos e perscruta pensativa os nós dos dedos, que observa os homens grandiosos com condescendência suave, que pendura uma vírgula de melancolia na comissura dos lábios, uma mulher assim com uma pequena tristeza dançando numa esquina da alma, essa é uma mulher para quem você olha e não consegue mais deixar de olhar.

A beleza serve para tocar o espírito.

Agora, estou vivendo numa linda região do planeta, esse gelado e luminoso norte dos Estados Unidos. Outro dia, saí a caminhar e, numa esquina, vi uma arvorezinha. Chamo-a de arvorezinha porque ela é minúscula, perto dos carvalhos imponentes da cidade. Essa arvorezinha está plantada no jardim de uma casa sem qualquer requinte, engastada numa ladeira pouco íngreme, bem na esquina de duas ruas onde não passa carro nenhum. O jardim é aberto, não tem cerca. Se você quiser, pode pisar na terra e tocar na arvorezinha. Foi exatamente o que fiz.

Havia parado a fim de admirar as folhas avermelhadas da arvorezinha. Não sei com certeza se aquilo era vermelho. Talvez fosse rosa ou roxo. Sei que era tão bonito. A copa da arvorezinha não era densa, mas era ampla, como se quisesse dar um abraço.

Foi sentindo isso, sentindo como se estivesse sendo abraçado, que entrei no jardim, me aproximei da arvorezinha e parei sob sua sombra vermelha. Toquei de leve no tronco fino. Levantei o braço. E acariciei uma folha. Virei-me, então, para continuar a caminhada, e aí vi que alguém me observava. Era uma senhora, decerto a dona da casa, parada de pé, ao lado da escada. Olhei-a, surpreso. Ia me desculpar pela invasão, mas ela falou antes. Disse, sorrindo:

– O mundo é bonito. Concordei: – É bonito...

E fui embora, agradecido e um pouco emocionado. Mas só um pouco. Sou do IAPI, afinal.

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