sábado, 7 de fevereiro de 2015


08 de fevereiro de 2015 | N° 18067
CLAUDIA LAITANO

Martha Medeiros está em férias e retorna na edição do dia 22 de fevereiro

Românticos

Quando foi mesmo que as comédias românticas começaram a ficar tão ruins? Não chucrute-ruim, bem entendido, mas algo-que-foi-bom-três-dias-atrás-mas-ainda-dá-pra-comer ruim? (Sim, porque eu ainda prefiro uma comédia romântica medíocre a um maaaaravilhoso filme de explosões e perseguição.)

Se comédia romântica é como pizza – até quando é mais ou menos, dá pra traçar –, de uns tempos para cá elas estão todas com o mesmo gosto de molho pronto de tomate: previsíveis, burocráticas, sem tempero. Mais para Katherine Heigl do que para Katharine Hepburn, digamos assim.

E não sou só eu que estou dizendo, viu? A perda de prestígio das comédias românticas já se reflete nas bilheterias. Depois de uma década garantindo bons resultados para a indústria cinematográfica, a chama do romance começou a enfraquecer em 2012, a ponto de a produtora Lynda Obst (de Sintonia de Amor e Como Perder um Homem em 10 Dias) admitir, em dezembro, que 2014 foi o pior ano, dos seus 30 de carreira, para o gênero.

Comédias românticas, para quem não gosta, são aqueles filmes bobinhos em que duas pessoas demoram duas horas para descobrir o que todo mundo no cinema já sabe – que, mesmo brigando, eles já estão apaixonados e foram feitos um para o outro. Antes do final feliz, porém, há alguns protocolos a seguir. O casal tem que começar às turras, lá pelo meio deve começar a superar suas diferenças (sociais, morais, intelectuais...) e depois dar mais uma brigadinha antes de voltar a se entender. Ah, e se por acaso um dos dois levou um fora antes de encontrar o verdadeiro amor, é absolutamente certo que aquela terceira pessoa, em algum momento, vai voltar arrependida, pedindo para voltar. Já notou?

Há várias teses para a crise das comédias românticas. Uma delas é que desde que o sexo antes do casamento deixou de ser tabu, foi preciso inventar motivos cada vez mais mirabolantes para que o casal protagonista não fique junto logo de uma vez – ela é prostituta, ele um grande empresário; ela é uma sereia, ele é o presidente dos Estados Unidos; ela é vendedora de enciclopédias, ele é um zumbi.... Além disso, é preciso levar em conta que boa parte da demanda por romance e histórias leves e divertidas tem sido abastecida por seriados de TV – cada vez mais ágeis em transpor o espírito da época para o contexto de histórias românticas (como Friends fez pela Geração X nos anos 1990, e How I Met Your Mother ou Girls estão fazendo pela Geração Y nos anos 2010).


Aparentemente, foram as comédias românticas do cinema que ficaram mais bobas e não o interesse do público que diminuiu. Pois enquanto o sonho do grande amor não virar ficção científica, sempre vai haver público para uma boa história romântica.

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