sábado, 8 de fevereiro de 2014


08 de fevereiro de 2014 | N° 17698
NICO NICOLAIEWSKY 1957-2014

Próximo ato: “Até que a Sbórnia nos Separe”

Já parte da paisagem cultural de Porto Alegre, os personagens Kraunus e Pletskaya ganharam versões animadas no filme Até que a Sbórnia nos Separe. Já finalizado e exibido em Gramado em 2013, o desenho animado está em processo de conversão para o sistema de projeção 3D, ainda sem previsão de estreia. Com a morte de Nico Nicolaiewsky, ontem, deve ser definido um novo planejamento para exibição comercial do filme dirigido por Otto Guerra e Ennio Torresan Jr.

A animação, livremente inspirada no espetáculo Tangos & Tragédias, foi gestada, originalmente, com o título Fuga em Ré Menor para Kraunus e Pletskaya. Na trama, que tem roteiro de Rodrigo John e Tomás Creus, a queda da grande muralha que cerca a Sbórnia, terra natal dos personagens Kraunus (Hique Gomez) e Pletskaya (Nico), expõe a fechada sociedade sborniana a um choque trazido pelos ventos da modernidade e pelas pessoas do continente. O embate de culturas é agravado pela ganância de um empresário do continente interessado em engarrafar o extrato da Bizuvin, cujo chá é bebida tradicional na Sbórnia.

A versão convencional da animação já foi apresentada em festivais e mostras. Segundo Marta Machado, produtora do longa, a primeira sessão pública de Até que a Sbórnia nos Separe na versão 3D deve ser em março, no Festival de Cinema de Animação da Holanda.

– É inacreditável o que ocorreu – diz o diretor Otto Guerra – Foi tudo muito rápido. Estávamos planejando a divulgação do filme. Conhecia o Nico há mais de 30 anos, é dele a trilha do meu curta O Natal do Burrinho (1984). O Nico trabalhou com muita dedicação na dublagem e na trilha do Sbórnia. A voz do Pletskaya se destaca porque, na história, o Kraunus não fala. Além do talento musical, ele tinha um timing impressionante, fez muitos improvisos no estúdio – lembra Otto.

“Achei o trabalho fantástico”, disse Nico

Desde o traço, mais tortuoso, com ângulos acentuados, a direção de arte de Eloar Guazzelli buscou dotar Até que a Sbórnia nos Separe de um visual de animação europeia – aproveitando o fato de que a fictícia ilha natal de Kraunus e Pletskaya, embora seja móvel pelos oceanos, tem uma vaga similitude com o Leste Europeu. Nico já havia manifestado mais de uma vez aprovação pelo resultado.

– Achei o trabalho fantástico. Para mim, é muito especial porque, antes de ser músico, uma das coisas em que eu gostaria de trabalhar era com animação. Fazer parte do processo foi mágico – disse ele, em entrevista em janeiro.

Abre aspas

Luciano Alabarse, diretor de teatro, coordenador do Porto Alegre Em Cena e secretário municipal de Canoas

Estive há muito pouco tempo com Nico. Nos encontramos em Canoas, no dia do concerto da Bibi Ferreira de Natal, no qual ele era um dos convidados. Essa morte pega a gente de surpresa, pois é uma perda prematura. Tangos & Tragédias é umas das coisas mais lindas já criadas no Estado. Nico foi um dos maiores compositores gaúchos, com canções geniais. Tem músicas dele que me arrepiam até hoje, como Feito um Picolé no Sol.”

Zé Victor Castiel, ator

Ele era meu amigo de uma vida inteira. Acompanhei o início do Nico no Colégio Israelita. Assisti ao primeiro espetáculo de Tangos & Tragédias no bar do IAB. Eu vinha acompanhando a doença dele, mas não esperava que tivesse um desfecho tão repentino. Nico terá um velório à moda antiga, no qual as pessoas são veladas na sua própria casa.

Vitor Ramil, músico

Foi uma notícia muita dura, porque nós sempre fomos parceiros e amigos. A gente produziu juntos o Pé de Pilão, eu, ele e o Cláudio Levitan, e colaborei com ele no Tangos & Tragédias com participações especiais. Quando comecei a tocar em Porto Alegre, ele tinha o Musical Saracura. Passamos a vida nos cruzando. Ele tinha um talento incrível, sempre com grandes achados, como seu novo trabalho, Música de Camelô. Ele era um artista muito versátil.

Juarez Fonseca,

jornalista

Nunca nenhum artista no Brasil teve tanto tempo de cartaz quanto Nico e Hique em Tangos & Tragédias: todos os anos, tinha temporada no Theatro São Pedro, e todas as apresentações sempre lotavam. Era um espetáculo de 30 anos com grande demanda, inclusive fora do Estado. Nico era uma pessoa muito cordial, sempre disposto a dialogar. Era um cara supercriativo, com várias facetas.



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