18
de agosto de 2013 | N° 17526
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Foi mal
Quando conhecemos alguém, o mais complicado é acertar
as brincadeiras. Afinar o humor. Rir e fazer rir.
É
somente pelo riso que nos confessamos. É somente pelo riso que chegamos ao
quarto. E somente pelo riso que superamos as experiências anteriores.
Arrisco
a dizer que o humor é nossa verdadeira nudez. É quando realmente expomos os
nossos preconceitos e fragilidades. Não adianta ser simpático, bonito,
inteligente, poético, romântico, dependemos da cumplicidade da graça.
Sem
a sintonia das piadas, o casal que está se formando não vai superar as brigas e
as diferenças no futuro. Casal longevo é o que ri dos seus problemas, e não
transforma aborrecimentos em epopeias. Casal maduro é o que perdoa e segue.
O
riso é a porta de entrada de todo o relacionamento. Torna-se a parte complicada
da aproximação. Começar uma história significa conhecer as dores do outro
durante a mais pura alegria. Estará animado e, sem querer, cutucará uma
cicatriz.
O
que pode parecer natural para você pode ser de mau gosto para ela, o que pode
soar espontâneo para ela pode ser agressivo para você. Não podemos nos frear,
mas não podemos machucar. Não podemos nos censurar, mas não podemos ferir à
toa.
Precisa
se soltar, porém conservando a prevenção de que ela não vive em sua cabeça e
não se habituou ao seu tom de voz, à sua ironia, às suas preferências.
A
brincadeira estimula a intimidade. Aproxima. Apressa o abraço. Só que também
pode desencadear incompreensão e incômodo.
O cuidado
aumenta com a intensidade do relacionamento: quanto mais dependente de uma
resposta mais vulnerável nas palavras.
Você
terá que aprender a brincar, e principalmente, com o que não pode brincar.
Esta
é a senha: não podemos brincar com tudo. Ao brincar, desvenderá o que é sério e
deve manter distância. Será um trauma, será um hábito, será uma convicção.
Ela
dirá que não gosta, e não insista. Não volte mais ao assunto. Não busque se
corrigir provando que a crença dela é insignificante.
Há
um território do pensamento feminino onde não é possível debochar ou
subestimar, é uma lembrança com cerca elétrica, ninguém entra, nem ela mesma. Toda
mulher adora quem a faça rir, mas o que mais ama é quem descobre o que merece
respeito.
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