terça-feira, 12 de junho de 2012



12 de junho de 2012 | N° 17098
CLÁUDIO MORENO

Para durar mais que o bronze

Écom uma ponta de inveja que Aulo Gélio, um dos mais pitorescos cronistas da Antiguidade, registra o amor extraordinário de uma mulher por seu marido – segundo ele, “superior àquelas paixões que a literatura imortalizou, superior a tudo aquilo que se possa esperar da ternura humana”.

Por 25 anos, na cidade de Halicarnasso, capital de uma das províncias do império Persa, Mausolo levou uma vida feliz ao lado de sua rainha, Artemísia. Além de esposo dedicado, era amado por seu povo e temido pelos inimigos – as duas qualidades essenciais dos bons reis de antigamente.

Em perfeita harmonia, o casal se dedicou a embelezar sua cidade, enchendo-a de esculturas famosas e de templos e edificações de mármore polido.

Quando Mausolo morreu, Artemísia mandou emissários à Grécia para contratar os arquitetos, escultores e artesãos de renome que quisessem participar da construção de um túmulo grandioso para o marido, ao qual esperava se juntar em pouco tempo – um monumento que eternizasse o amor de um pelo outro e a dedicação de ambos à arte e à beleza.

A construção tinha quase 50 metros de altura e ostentava elegantes colunas em toda a volta, entremeadas com relevos assinados pelos mais célebres artistas gregos. Mas como nem mesmo o sólido mármore resiste ao implacável desfile dos anos e dos séculos, Artemísia resolveu construir outro monumento, desta vez com o material mais duradouro de todos, e promoveu um concurso literário.

O prêmio, uma elevada soma em ouro, atraiu a Halicarnasso oradores e filósofos tão famosos quanto Isócrates e seu discípulo Teopompo, que celebraram, por escrito, a memória de Mausolo.

Pois ela tinha razão; o túmulo, apesar de aclamado pelos historiadores como uma das sete maravilhas do Mundo Antigo, não chegou a nossos dias. Mil e quatrocentos anos depois, já abalado por sucessivos terremotos, foi descoberto por cruzados da ordem dos Cavaleiros de São João, que entraram no sepulcro e, depois de admirarem por algum tempo as belíssimas colunas e as cenas representadas nos relevos, quebraram tudo, moendo o mármore para alimentar os fornos em que faziam cal.

Artemísia, no entanto, tinha conseguido romper para sempre a barreira do esquecimento, legando para todas as línguas do Ocidente a palavra “mausoléu”, que imortalizou o nome de Mausolo – agora sim, um monumento imperecível de uma rainha apaixonada por seu rei e do amor que os uniu.

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