sábado, 17 de março de 2012



17 de março de 2012 | N° 17011
NILSON SOUZA


Condenado à fama

Joseph Kony é um bandido da pior espécie. Ele sequestra crianças para utilizar os meninos como soldados e as meninas como escravas sexuais. Líder de uma organização rebelde que opera em Uganda e em outros países africanos, o Exército de Resistência do Senhor, ele está indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por 33 crimes de guerra e por outros crimes contra a humanidade.

Uma de suas conhecidas atrocidades, segundo as investigações, é exigir que os jovens aliciados matem os próprios pais como parte do treinamento militar. Pois este homem sanguinário acaba de ser condenado a ficar famoso.

Isso mesmo, seu reinado de crimes parece estar próximo do fim exatamente porque gente da paz, como este escriba que vos atormenta o sábado com um tema tão amargo, resolveu falar nele. Tudo por conta da fórmula mágica encontrada pela organização norte-americana Crianças Invisíveis para levar o criminoso à prisão. Como ele age na África pobre e ninguém olha para o que está acontecendo lá, a ONG resolveu lançar uma campanha para dar visibilidade ao guerrilheiro.

Produziu um vídeo impressionante, que em uma semana já tinha 75 milhões de acessos no YouTube (o viral de maior sucesso da história da internet), e promoveu uma campanha de divulgação tão bem-sucedida, que envolveu personalidades do cinema e da música, além de políticos importantes e do próprio presidente Obama, que chegou a mandar instrutores militares americanos para ajudar o exército de Uganda a pegar o líder rebelde.

O objetivo de transformar o criminoso em celebridade foi plenamente alcançado, mas também está provocando reações contrárias. Vítimas de Kony, que foram mutiladas ou perderam parentes, dizem que a campanha chegou tarde demais, pois o bandido já fugiu do país. Críticos da ONG americana alegam que ela arrecadou muito dinheiro e mandou pouco para os ugandenses.

E há também os adeptos de sempre da teoria da conspiração, que atribuem a iniciativa da organização humanitária a uma suposta intenção dos Estados Unidos de invadir o país africano para ficar com o seu petróleo. Os norte-americanos, pelo seu histórico de conflitos e pela truculência de sua política externa, também estão condenados à desconfiança eterna.

Ainda que possa haver segundas intenções por trás da campanha, a verdade é que ela foi feita com inteligência e certamente ajudará a manter o bandido acuado, até que ele seja efetivamente preso e julgado por seus crimes. E todos nós, ao ler, comentar e escrever sobre o assunto, estamos ajudando a eliminar uma barbárie. Admirável e assustador mundo novo esse da comunicação instantânea!

Nenhum comentário: