sábado, 13 de agosto de 2011



13 de agosto de 2011 | N° 16791
NILSON SOUZA


O sorriso de Paula

Meu colega de ofício Léo Gerchmann voltou de Buenos Aires com uma lembrança inesquecível de Puerto Madero, o bairro turístico da moda na capital argentina. É uma foto. Mas a imagem não é de nenhuma das magníficas obras arquitetônicas que transformaram o porto semiabandonado num dos locais mais charmosos da América do Sul.

A fotografia mostra o próprio Léo, com sua filha Paula, de quatro anos, sobre seus ombros. A menina é linda, e o pai é a própria expressão da felicidade. Léo mantém a foto sobre sua mesa de trabalho, olha-a a todo momento e faz questão de mostrá-la para quem passa por perto.

A corujice do meu amigo se justifica, pois nada pode ser tão gratificante quanto o amor incondicional entre pais e filhos, mas a imagem também retrata o novo modelo de paternidade documentado em reportagem da última edição da revista Veja. Os pais nunca estiveram tão próximos dos filhos como nestes tempos de novos arranjos familiares.

Outro dia, saí para caminhar no calçadão de Ipanema e encontrei tantos pais empurrando carrinhos de bebês, que resolvi até fazer um ensaio fotográfico com o celular, para provar à minha mulher que não estava inventando. Ao pedir permissão aos pais para fotografá-los, ouvi comentários como este de um jovem que ajeitava dois inquietos meninos gêmeos nos respectivos assentos:

– Não troco este momento por nada no mundo!

As mães andavam longe, provavelmente fazendo compras, trabalhando ou pagando as contas. Também já vai distante o tempo em que o homem era unicamente o provedor da casa e passava ao largo das funções domésticas. E o mais interessante é que os pais não perderam aquela autoridade de quem tinha a última palavra na hora de impor disciplina.

Pelo contrário, ao assumir a condição de cuidadores parecem estar ganhando ainda mais a admiração e o apreço das crianças, dos adolescentes e dos jovens. Tanto que a garotada já não mostra ansiedade para sair de casa cedo.

Alguns especialistas dizem que o novo papel aumenta a pressão sobre os homens, que precisam ser profissionais competentes, exímios trocadores de fraldas e ainda manter a aura de autoridade disciplinadora.

Pode ser, mas eles parecem bem felizes com isso. Pelo menos é o que dá a entender o colega Léo, hipnotizado de orgulho pelo sorriso emblemático de Paula.

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