sábado, 2 de julho de 2011



02 de julho de 2011 | N° 16747
NILSON SOUZA


Fuga para o ontem

Estive em Paris apenas uma vez, em 1998, e foi uma viagem inesquecível. Escalado para representar o jornal no centenário de uma grande fábrica de automóveis, fui recebido, juntamente com outros jornalistas que faziam a cobertura, como um príncipe árabe. Já na chegada, fomos convidados a dar um passeio numa caravana de carros antigos, uma dezena deles, todos com quase um século de fabricação e conservadíssimos.

Desfilamos pelas ruas da Cidade Luz, fomos aplaudidos pela população (quem disse que os franceses são antipáticos?) e paramos à margem do Sena, para continuarmos de barco, com direito a curtir cada uma das pontes, o museu do Louvre, a catedral de Notre Dame e todas aquelas maravilhas da capital cultural da Europa.

Não encontrei Scott Fitzgerald nem Ernest Hemingway, como o personagem do novo filme de Woody Allen, mas encontrei o próprio diretor na figura do seu sósia gaúcho, o jornalista Juremir Machado da Silva. Na ocasião, meu amigo e companheiro de ofício morava no bairro de Montparnasse e estudava na Sorbonne.

Ele e Cláudia foram meus anfitriões por dois dias, nos passeios de metrô, na visita a lugares turísticos e em longas caminhadas pelas ruas da cidade encantada. Para concluir aquela viagem extraordinária, ainda vi um jogo da Seleção Brasileira no Stade de France, na cidade vizinha de Saint-Denis, vitória de 2 a 1 sobre a Escócia. Ainda bem que não fiquei para o restante do Mundial, pois as cabeçadas de Zidane talvez me fizessem amar menos aquela cidade.

Voltei a Paris esta semana, num dos cinemas da Capital. Vi (e li, pois os diálogos são extensos) o filme em que Woody Allen faz uma declaração de amor a Paris, para dar um recado singelo: sonhe menos com o passado e viva mais o momento presente. Mas o filme contraria a mensagem. Faz sonhar do início ao fim. Paris, na verdade, é o principal personagem, mesmo com o surpreendente desfile de figuras ilustres de outras épocas.

Ainda assim, fica o questionamento: por que de vez em quando fugimos para o pretérito perfeito da nossa existência, como se lá tudo fosse sempre melhor? Talvez Freud – que também estudou em Paris – tenha uma explicação lógica para isso, baseada nas suas pesquisas da mente humana. Eu, modestamente, tenho a minha própria tese: a gente foge para o passado porque lá, em algum momento, conheceu o encantamento.

Jamais vou esquecer aquele tour na boleia de um calhambeque polido, a hospitalidade dos meus amigos gaúchos e aquela torre histórica iluminada por mil luzes, ostentando nas suas quatro faces a emblemática contagem regressiva para o novo milênio.

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