sábado, 7 de maio de 2011



08 de maio de 2011 | N° 16694
MARTHA MEDEIROS


Escute sua mãe

Podemos não concordar com muita coisa do que dizem, mas suas palavras nunca entram por um ouvido e saem pelo outro

Dois meses atrás, na noite de entrega do Oscar, o diretor Tom Hooper, do premiado O Discurso do Rei, subiu ao palco para receber sua estatueta e contou a todos, em seu agradecimento, que foi sua mãe que, assistindo certa vez a uma leitura dramática, se interessou pelo texto e incentivou o filho a fazer dele um filme.

Portanto, não fosse a mãe de Tom Hooper, não haveria a consagração de Colin Firth nem nada do que estava acontecendo naquela noite. Hooper concluiu sua fala de forma bem-humorada, dando um conselho para o mundo inteiro: Listen to your mother.

Não há personagem mais rico do que as mães. Elas, sim, são as rainhas do discurso, as diretoras de cena, as figurinistas do set. E é sempre delas o corte final. Podemos não concordar com muita coisa do que elas dizem, podemos até fazer um jogo duro para deixá-las malucas, mas suas palavras nunca entram por um ouvido e saem pelo outro. O que mãe diz é lei. Jamais desistem do posto de xerifes da casa.

Eu nunca me arrependi de ouvir minha mãe, mesmo quando o que ela dizia não fechava com o que eu pensava, e isso aconteceu algumas vezes. Desde a opinião sobre um filme que eu ainda não havia visto, até um conselho sobre como agir numa situação delicada, sempre confiei no bom senso dela, não porque seja uma sábia com PhD em filosofia, psicologia, cinema ou medicina, mas porque sua sapiência é congênita, foi outorgada pela simples condição de ter parido filhos um dia.

Posso falar assim porque também sou mãe e também sou sábia diante das minhas filhas, mesmo errando como toda mãe erra. No entanto, erros maternos possuem uma ternura que os transformam em acertos póstumos. Quando uma mãe morre, vira santa na mesma hora e tudo o que ela fez – de errado, inclusive – se dilui na lembrança de que um dia houve ali um cais.

Sei de filhos e filhas que não possuem essa complacência toda diante de suas mães. Quando pergunto o que essas mães fizeram para merecer tanto descaso, geralmente ouço como resposta: “O que elas não fizeram, você quer dizer”. Mães se omitem, é verdade.

Mães são egoístas, também. Mães às vezes privilegiam o marido em detrimento dos filhos – as submissas, ao menos. Mães se atrapalham, mães se apaixonam, mães metem os pés pelas mãos, e isso nunca é retratado nos comercias de tevê. Mães são muito mais protegidas e mimadas pela sociedade do que as crianças. Mães são sempre sagradas, mesmo sendo tão triviais.

Se sua mãe é meio avoada e não enxerga um palmo na frente do nariz, ame-a, simplesmente. Mas se ela consegue ir além da página 2, não só a ame como a escute. Confie no seu sexto sentido, preste atenção no que ela diz nas entrelinhas, respeite sua vivência, acredite no quanto ela lhe conhece e lhe quer bem, aprenda com sua sensatez, aceite seus palpites.

Não é preciso assinar embaixo de tudo o que ela diz, mas, ainda assim, leve em consideração suas dicas e impressões. Radar de mãe não se despreza.

Um lindo domingo para você. Feliz Dia das Mães para todas as mamães de hoje e as de amanhã

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