quarta-feira, 4 de maio de 2011



04 de maio de 2011 | N° 16690
MARTHA MEDEIROS


Princesas, bandidos e mocinhos

Não me sinto mais segura pelo fato de Osama bin Laden, o terrorista número 1 do mundo, ter sido assassinado, a despeito de qualquer lei, num acerto de contas entre o bem e o mal.

É uma morte com forte simbologia, sem dúvida, e uma tremenda vitória política para os Estados Unidos, mas trata-se de uma desforra, de uma vingança, de um aqui se faz, aqui se paga, e não de um passo efetivo rumo a dias mais pacíficos. Seria, se tivéssemos testemunhado Obama e Osama apertando-se as mãos – uma cena que faz parte do repertório dos delírios, mas que produziria resultados mais práticos.

O rei morreu, viva o rei! Não é sempre assim? O sucessor de Osama bin Laden já deve estar articulando suas pirotecnias para honrar o líder fundamentalista.

Pra quem vê de longe, tudo isso parece enredo de gibi, mocinhos versus bandidos, mas quão distantes ainda estamos do epicentro dos acontecimentos?

Semana passada vi no jornal os destroços de um bar em Marrakesh que foi pelos ares matando quase duas dezenas de turistas. Um ano e meio atrás, eu estava sentada naquele mesmo local.

Não é uma sensação confortável, assim como tampouco me sinto 100% tranquila sendo passageira da United Airlines nos próximos dias – viajarei com minha filha justamente para Honolulu, cidade natal do presidente americano, como consta em sua tão anunciada certidão de nascimento.

Ficar em casa seria uma atitude mais cautelosa? Creio que não há segurança garantida nem em casa, nem na escola, nem no trânsito, nem no estádio, nem no bistrô da esquina. Os imprevistos nos alcançam onde quer que estejamos.

Enquanto todos nós estivermos à mercê de fanáticos religiosos, de milícias terroristas e de políticos vorazes pelo poder – citando apenas os peixes graúdos –, o mundo continuará em constante ameaça. É por essas e outras que o ritual monárquico envolvendo dois belos jovens atraiu a atenção de tanta gente. Foi pausa para descanso.

Um olhar rápido para o picadeiro não corrompe a consciência de ninguém. Não é toda hora que se é agraciado com uma dose generosa de fantasia, glamour e humor – eu, ao menos, acho engraçado que se chame de “casamento real” um enlace tão, tão onírico, tão... irreal.

A realeza não sangra, mas a realidade, sim. A paz que podemos alcançar hoje é a interior, individual, porque a paz coletiva é uma ilusão. Todas as nações têm batalhas a vencer – o Brasil tem as suas, os Estados Unidos têm as deles, o Paquistão, a Líbia.

A própria Inglaterra logo, logo será convocada a recolocar os pés no chão. Podemos até preferir seguir enxergando a vida como se ela fosse uma história em quadrinhos: ora um conto de fadas, ora um bague-bangue na favela, ora uma aventura de super-heróis. Mas, pelo menos no que se refere às questões de segurança mundial, já nada me parece tão fictício.

Nenhum comentário: