sábado, 5 de março de 2011



06 de março de 2011 | N° 16631
MARTHA MEDEIROS


Explosão de cores

Descobri que não sou apenas do sul, do pampa, do inverno. Possuo profunda identificação com o lado supertropical do Brasil

Onde o Brasil é mais Brasil? Em cada canto do país a brasilidade se expressa a seu modo, mas o inconsciente coletivo nos remete a uma resposta única para a pergunta que abre esta crônica: o Brasil é mais Brasil onde ele foi descoberto, no sul da Bahia.

Cheguei de lá recentemente. Fiquei extasiada com o encanto de Porto Seguro, Arraial da Ajuda, Trancoso e Praia do Espelho, onde me senti dentro de um caldeirão de cores vivas e de uma rusticidade que nos remete ao melhor da vida: o simples.

Quando falo de simplicidade, não estou excluindo o bom gosto, ao contrário, ele está incluído no pacote. Nunca vi tanta beleza junta, resultado da comunhão da natureza (mar verde, falésias, coqueirais) com a matéria-prima que ela mesma fornece e que é recriada pela mão do homem: o que se convencionou chamar de artesanato. Cerâmica, palha, chita, fibras, argila, madeira, tudo se aplica à tecelagem, cestaria, mobiliário, pintura, escultura, honrando nossa herança indígena, africana e portuguesa.

É cultura popular diversificada, colorida e divertida, que mantém sua essência pura – e incentiva a nossa. Me senti conectada com as minhas origens mais ancestrais. Descobri que não sou apenas do sul, do pampa, do inverno. Apesar de ser vizinha dos países platinos, possuo profunda identificação com o lado supertropical do Brasil.

O que mais me cativou foi a harmonia do visual. Muitas vezes consideramos que o bom gosto é atributo do que é luxuoso, e não há erro nessa avaliação, porém devemos reconsiderar o que é luxo. Produtos industrializados são necessários e facilitam nossa vida, mas raramente possuem uma originalidade cativante.

O artesanato brasileiro demonstra claramente que o simplório e o sofisticado podem fazer parte da mesma família, e que o que parece pobre é mais rico do que se supõe. É preciso compreender essas concepções não no que elas têm de contraditórias, mas no que elas têm de complementares.

Ninguém aqui está descobrindo a pólvora, mas sempre é reconfortante lembrar que a elegância é um conceito fácil de aplicar no dia a dia, que ela é mais acessível do que se supõe. Claro que o chamado bom gosto é variável e que há muita coisa feia e cafona feita em nome da rusticidade, mas quando se tem um mínimo de senso estético, de informação histórica e de filtragem, impossível não se render à nossa cultura popular.

Você já foi à Bahia, nêga? Então vá.

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