terça-feira, 7 de dezembro de 2010



07 de dezembro de 2010 | N° 16542
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Da coleção de momentos

Soa o telefone e uma voz feminina me pergunta o que achei do e-mail. Não tenho a mais remota ideia de que e-mail seja, mas respondo educadamente que achei ok. Minha amiga então se queixa de que sou um insensível. Como posso ter achado ok um recado que era uma queixa contra a vida e o mundo? Me encho então de coragem e lhe explico que ando esquecendo muitas coisas.

Li uma reportagem esses dias que parece ter sido escrita para mim. Nunca esqueço de pagar uma conta, mas 10 dias antes já me entrego a uma tortura de exata, prévia lembrança do compromisso. Apago absolutamente da memória o nome de alguém a que acabei de ser apresentado.

E na próxima vez que o vejo o trato de doutor ou professor, em ambos os casos inominado. Dos livros que estou lendo, trato de gravar o essencial, um crime, uma cena de amor, uma gafe imperdoável. E sempre me bate uma dúvida: terei fechado a porta do apartamento na saída, terei desligado o forno de micro-ondas?

Mas tudo são detalhes, pois não esqueço alguns dos mais belos momentos de minha vida.

Paris, 1980. Eu me sentia feliz pelo simples ato de respirar, vendo passar o Rio Sena de uma das mesas do Café des Beaux-Arts. Paris, mesmo ano, mesmo outono de minha primeira juventude. À saída do Le Danton, a mais linda das francesas toma minha mão e, docemente persuasiva, me convida a desvendar os mistérios que se situam entre o céu e a terra.

Berlim, 1982. Uma esplendorosa manhã de domingo e eu vendo surgir na estação de metrô de Tempelhof, no seu vestido azul, nas suas sandálias de salto, a garota que prometera me revelar todos os segredos da cidade.

Bonn, Nuremberg, Hamburgo, em diferentes anos, os encontros com as três princesas reais que iluminaram minha vida, a última delas Lady Di, que à entrada de um teatro me presenteou por três segundos com seu olhar inesquecível.

Steamboat Springs, 1984, no alto das Montanhas Rochosas, eu mostrando da janela do hotel, à mais formosa das americanas, como o paraíso havia descido ao planeta e o havia encoberto de neve.

E mais ainda os amanheceres de Roma, as flores e os livros de Barcelona, os canais de Veneza ou de Bruges, a cor violeta do Mar Báltico, os sons de um musical em Nova York. Yes, amiga, eu fui um colecionador de momentos.

Uma linda terça-feira pra vc. Para quem está de folga, aproveite a folga...As férias estão vindo ai.

Nenhum comentário: