sábado, 12 de junho de 2010



12 de junho de 2010 | N° 16364
NILSON SOUZA


Força estranha

Um homem de cabelos grisalhos vai cantar e encantar esta noite no Gigantinho, em Porto Alegre. E atrairá tanta gente, tantos admiradores e admiradoras, que os cronistas do futuro haverão de relatar:

De todos os lugares vinham aos milhares. E em pouco tempo eram milhões. Invadindo ruas, campos e cidades. Espalhando amor aos corações.

É fácil de prever que ele vai encarar a multidão com um sorriso tímido entre as rugas do tempo e assim se apresentará:

Eu sou aquele amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores. Aquele que no peito ainda abriga recordações de seus grandes amores.

Então, ele olhará nos olhos de todas as mulheres como se elas fossem uma só, e fará uma proposta absolutamente ousada, mas adequada para este sábado especial:

Eu te proponho nós nos amarmos, nos entregarmos, neste momento, tudo lá fora deixar ficar. Eu te proponho te dar meu corpo, depois do amor, o meu conforto, e além de tudo, depois de tudo, te dar a minha paz.

Claro que haverá um grande suspiro coletivo no ginásio. Implacável, ele adotará um tom respeitoso para lançar flechas docemente envenenadas:

Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer como é grande o meu amor por você...

Quando elas recuperarem o fôlego e enxugarem as lágrimas, ele aproximará os lábios do microfone e começará a sussurrar melodiosamente:

Este amor demais antigo, este amor demais amigo que de tanto amor viveu, que manteve acesa a chama da verdade de quem ama, antes e depois do amor. E você amada amante faz da vida um instante ser demais para nós dois.

Então, antes de arremessar botões de rosa para a plateia suplicante, ele plantará nas almas femininas o significado do gesto.

As flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudade de você.

Espalhará, porém, o perfume da esperança e deixará no ar uma visão do paraíso de todos os enamorados.

Além do horizonte, deve ter um lugar bonito pra viver em paz. Além do horizonte, existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar.

Diante dos olhares brilhantes que se acenderão, ele individualizará a promessa:

Eu te darei o céu, meu bem. E o meu amor também.

Só então ele começará a se despedir suavemente, com a mesma ternura com que se despediu outro dia de Lady Laura, misturando canção e pranto:

Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, um soluço e a vontade de ficar mais um instante.

Porto Alegre recebe hoje com muito orgulho esse homem extraordinário, cujo nome nem é preciso mencionar nesta crônica porque todos o identificam por seus versos. Ele realmente possui uma força estranha.

O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece.

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