terça-feira, 8 de junho de 2010



08 de junho de 2010 | N° 16360
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


A Casa da Aldeia

Ela não é nenhum palácio, nenhuma mansão, nenhum shopping center de luxo. Em sua humildade, jaz esquecida, humilhada e ofendida, numa esquina de Cachoeira, não longe das águas do Jacuí. Sem a mínima pompa ou circunstância, atende pelo nome de Casa da Aldeia e ameaça desabar. Erguida há 161 anos, é hoje o imóvel mais antigo da cidade, fora a Igreja Matriz, e se ninguém fizer nada por ela só restarão os escombros de sua memória.

Mais do que isso, permanecerão nada além de sombras exaustas das vidas, das infâncias, dos romances que transcorreram em seu interior ancestral. Quando foi construída, recém terminava a maior guerra que já sacudiu o Rio Grande. Os lanceiros farrapos ainda guardavam as armas dos embates, certos de que haviam obtido uma paz com honra.

Longe estavam ainda as questões platinas, a Guerra do Paraguai, a abolição da escravatura e a proclamação da República. A todos esses episódios a Casa da Aldeia assistiu, como uma testemunha da História navegando no tempo.

Mas depois soçobrou. Mais de um centenar de invernos quase a puseram a pique. O que restou está precariamente preservado por tapumes e uma lona, que buscam conter sua deterioração. Segundo leio no Jornal do Povo, em 2007 a promotora de Justiça Giani Saadi obteve liminarmente a garantia de que a prefeitura desviaria o trânsito das ruas próximas, evitando assim a trepidação que poderia prejudicar sua estrutura.

Agora é outra mulher de igual coragem, a juíza Lílian Astrid Ritter, que determinou ao Município a elaboração e execução de um plano de restauração e proteção para o prédio.

A Oscip Defender delineou um plano que prevê a transformação do espaço em um ponto sociocultural, com o desenvolvimento de projetos de memória, artes, comunicação, turismo e educação patrimonial, contando com uma biblioteca comunitária e ambiente de inclusão digital. Ótimo. Em iniciativas dessa natureza, é preciso ser ousado. Mas se nem tudo for alcançado, que se crie na Casa da Aldeia pelo menos um museu, à altura do passado de Cachoeira.

Então os habitantes e visitantes de hoje poderão transitar pelos caminhos e esquinas do que já foi uma aldeia à beira do rio plantada. Conhecemos, em Cachoeira, épocas melhores. Já fomos a segunda praça financeira do Estado, já detivemos o mais moderno hospital das três Américas, já plasmamos uma ponte-barragem que não conhecia rival no mundo, já fomos a Capital do Arroz do continente.

Não custa resgatarmos um símbolo de nossa ida grandeza.

Lindo dia para você. Aproveite a terça-feira

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