terça-feira, 9 de fevereiro de 2010



09 de fevereiro de 2010 | N° 16241
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Uma praça, uma ponte

Imaginem uma imensa pétala de altos chafarizes, iluminada por uma coleção de holofotes multicoloridos, tudo embalado por uma sintônica sinfonia de músicas clássicas.

Essa era apenas uma das atrações da Praça José Bonifácio, no coração pulsante de Cachoeira. Alinhada à Rua Sete de Setembro, ela vizinhava ainda com algumas das principais lojas da cidade, abrigava o Bar América, que era um restaurante imbatível no seu gênero, um estádio de esportes, um parque infantil, ruas e escadarias internas e, em tempos mais recuados, até o centenário Mercado Municipal, assassinado, como acaba de ser também, a Ponte de Pedra.

O Cine-Teatro Coliseu ficava a 20 metros, o Clube Comercial uns palmos além, na mesma calçada do Banco da Província.

A praça era o centro de Cachoeira e, nas noites de verão, a passarela por onde desfilavam as mais belas garotas do Estado. Não estou exagerando. Já contei em idas crônicas que nenhuma outra cidade gaúcha ostentava mais sedutora seleção de beldades. Ali nasciam namoros, noivados e um rol de casamentos. Ali os olhos se olhavam nos olhos – e era como se fosse uma declaração de amor.

Recordo de uma noite em que sentei, no passeio dos bancos mais afastados, ao lado de uma menina lindíssima. Enquanto avançavam os ponteiros do relógio do pedestal que ficava no meio da quadra, trocamos juras e confidências que, traduzidas, eram pura ternura.

Essas coisas a gente não esquece. Essas coisas permanecem contigo por toda a vida. Sinto agora, neste momento em que escrevo, a textura de suas mãos, a maciez de seus lábios.

Lembro de um entardecer, como depois nunca vi outro. Os céus de Cachoeira, contemplados ali da praça central, eram uma suave mistura de nuvens azul-claras e rosadas. A garota sentada junto a mim era loira e seus cabelos longos dançavam com a brisa que vinha do poente.

Nós nos prometemos um ao outro o paraíso, nós nos juramos paixão eterna, mas depois os caminhos da vida nos separaram. Conservo até hoje, tantos anos passados, o exato timbre de sua voz, o preciso matiz celeste de seus olhos.

Aquela praça mora dentro de mim, não do jeito que é hoje, mas com as formas que teve.

É bem como a Ponte de Pedra, que eu prefiro chamar de a Ponte do Imperador, pois que em homenagem deste foi erguida no ano de 1849.

Mas nada reconstrói uma ponte – ou revive uma igreja, um romance – sem que se lance um olhar aos muitos passados de que somos feitos.

Uma linda terça-feira para você. Aproveite o dia

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