sábado, 9 de janeiro de 2010



09 de janeiro de 2010 | N° 16210
NILSON SOUZA


Pandora

Quando a menina dos meus olhos fez a clássica pergunta dos finais dos filmes que assistimos juntos, eu estava tão atordoado que apenas sinalizei com as duas mãos espalmadas e um dos dedos encolhidos. Nem sei por que dei nota 9 em vez de 10 para Avatar, uma experiência de cinema absolutamente diferenciada de tudo o que eu já havia visto.

Talvez porque ainda estivesse me refazendo do susto e do constrangimento de ter me esquivado quando um artefato qualquer voou na minha direção, em meio a uma das batalhas em terceira dimensão entre terráqueos e habitantes da lua Pandora, cenário da fantástica aventura. Fiz como o Bush diante dos sapatos arremessados pelo jornalista iraquiano.

No mundo de efeitos especiais criados pelo diretor James Cameron, tudo é possível e verossímil, desde as poderosas máquinas de extermínio dos invasores até a fauna e a flora mágicas dos nativos. Nós, humanos, somos os invasores.

Estamos naquele lugar para roubar um minério valioso enterrado sob o paraíso onde vivem em absoluta sintonia com a natureza criaturas azuis de três metros de altura, cauda e narigão achatado.

Eles, os azuizões, são os índios do filme, as vítimas da ganância e da insensibilidade dos chamados civilizados. Qualquer semelhança com a conquista das Américas pelos europeus ou com as campanhas militares modernas nos países petrolíferos não é mera coincidência.

As mensagens simbólicas do filme são variadas, mas acho que a principal delas é de natureza ecológica. Tudo é deslumbrante em Pandora, as árvores gigantescas, as flores exóticas, as montanhas flutuantes e, especialmente, os animais selvagens, um mais estranho do que o outro.

O que mais impressiona é a relação dos nativos com o bicho que eles chamam de ikran, um lagartão voador, furioso e predador, que se torna dócil e obediente quando encontra o seu dono.

Ele representa o rito de passagem na vida de um guerreiro, que passa a ser respeitado pela tribo depois que consegue estabelecer uma conexão cerebral com a fera alada, para então montá-la e utilizá-la como transporte.

O povo azul utiliza suas tranças para se ligar, literalmente, à natureza.

Pandora arrasada pela brutalidade humana, como na fábula da mitologia, é uma visão tridimensional do mal, inclusive com um final reservado para a esperança – e para os próximos filmes da saga. Pelo menos na ficção, a sapatada da sensatez atinge os invasores. Nove com louvor.

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