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sábado, 7 de novembro de 2009
Buffett e seu novo brinquedo
No maior negócio de sua carreira, o megainvestidor compra a principal ferrovia dos Estados Unidos – uma aposta no futuro dos trens e da economia americana
Luís Guilherme Barrucho - Ilustração Rob
Tal como seus antepassados, que recorreram às ferrovias para desbravar o Oeste dos Estados Unidos no século XIX, Warren Buffett decidiu investir seu futuro nos trens. Apostou alto. Na semana passada, o empresário de 79 anos realizou o maior negócio de sua carreira ao comprar a totalidade das ações da principal ferrovia do país, a Burlington Northern Santa Fe, por 26,3 bilhões de dólares.
Dono de um repertório de frases cáusticas, Buffett afirmou logo após o anúncio da aquisição: "Isso só está acontecendo porque meu pai não quis me comprar um trenzinho quando eu era criança".
Longe de ser motivada por uma frustração infantil, a investida de Buffett deverá render polpudos lucros a seus acionistas. Em primeiro lugar, porque a recuperação da economia americana elevará a demanda por transportes de carga. Além disso, o encarecimento do petróleo e a busca por alternativas menos poluentes tornarão o frete ferroviá-rio ainda mais vantajoso em relação ao rodoviário.
"Coloquei todas as minhas fichas no futuro da economia americana", disse Buffett ao fechar a transação. É um voto de confiança de um dos mais visionários investidores do mundo não apenas em seu país, mas também na retomada de um setor que havia perdido importância desde a popularização dos veículos e aviões.
As ferrovias perderam gradativamente espaço. Atualmente, enquanto os caminhões carregam 68% das mercadorias que circulam nos Estados Unidos, os trens restringem-se a 15%. No Brasil, que optou pelo modelo americano de estímulo à indústria automobilística na década de 50, os trilhos também foram desprezados. Desde aquele período, a extensão da malha diminuiu 30%.
Agora os Estados Unidos – e também o Brasil, onde os investimentos decuplicaram depois das privatizações feitas na década passada – voltam a se render aos trens. Contribui para essa redescoberta o fato de que as locomotivas ganharam tecnologia e velocidade, além de ser o meio mais barato de transportar grandes quantidades de mercadorias dentro do território de um país.
Segundo a Association of American Railroads, com um galão de combustível (3,8 litros) um trem movimenta 1 tonelada de carga por 740 quilômetros. Em caminhões, essa distância cai para 180 quilômetros.
"As ferrovias tornaram-se mais atrativas ao oferecer um bom retorno financeiro aliado à preocupação ambiental", afirma Rodrigo Vilaça, diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários.
O investimento também cabe na estratégia de Buffett, que prefere alocar seus recursos em atividades tradicionais – ele nunca aplicou em companhias de internet, por exemplo – e que sejam bem administradas.
Diz Paulo Fernando Fleury, da UFRJ: "A Burlington Northern mudou a forma de gerenciar ferrovias nos Estados Unidos. Ela incorporou a lógica do mercado ao aprimorar a qualidade do serviço e a eficiência de custos". Isto é, o tipo de brinquedo que hoje faz a alegria de Buffett.
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