sábado, 7 de novembro de 2009



07 de novembro de 2009 | N° 16148
NILSON SOUZA


Milagres

Meu calendário de mesa tem uma frase de Albert Einstein, ou atribuída a ele, pois hoje ninguém mais pode ter certeza de autenticidade alguma. De qualquer maneira, é um jogo de palavras tão bem-feito, que deve ter sido mesmo elaborado por uma mente brilhante.

Diz: “Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre”. Gostei da citação e resolvi mostrá-la a um colega de trabalho. Ele olhou distraído para a cartolina que eu tinha nas mãos e exclamou assustado:

– Meu Deus, já é novembro!

Também me espantei. Nem tinha percebido que o ano já está quase dobrando a esquina. A gente olha os dias e não vê o mês. Pensei: pode ser mesmo que tudo seja um milagre, mas passa depressa demais. Novembro sempre me causa desconforto, pois precede aquela reta final do ano em que as pessoas ficam ensandecidas, querem ir a todas as festas, querem comprar tudo o que veem, sentem-se obrigadas a dar presentes, correm mais no trânsito, estressam-se demasiadamente.

Final de ano é tempo de bipolaridade, de euforia e depressão. Sei que tudo é relativo – como diria o autor da frase –, há quem ame a agitação, mas costumo ficar desnorteado com tanto compromisso e tanta pressão. Se eu pudesse fabricar o meu próprio milagre de fim de ano, reeditaria uma cena de um dos filmes da série Super-Homem, aquela em que o herói voador faz o planeta girar ao contrário para o tempo retroceder.

Nem precisaria voltar muito. Eu nem usaria meus superpoderes para recuperar as alegrias da infância ou as aventuras da juventude. Bastaria retornar alguns dias neste calendário de papel, talvez até o início da primavera, só para que as pessoas reduzissem o ritmo de seus passos e a marcha de seus corações.

Temos pressa de quê?

Se não existem milagres, é bom que façamos as coisas devagar e bem-feitas, já que a construção do mundo depende da nossa inteligência e da nossa capacidade de realizar. Se tudo é fruto de um prodígio acima da nossa compreensão, de um sopro no barro ou de uma explosão galáctica, mais razão ainda para curtir com gosto e prazer a parte que nos toca.

Como não posso parar o planeta, nem fazer a vida recuar, faço o que está ao alcance de minhas mãos e retrocedo duas folhas do calendário. Encontro em setembro uma frase de Santo Agostinho – ou atribuída a ele, sempre é bom frisar – que talvez seja a resposta para esta angustiada reflexão: “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência”.

Tudo bem. Só não me obriguem a correr também.

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