quarta-feira, 9 de setembro de 2009



09 de setembro de 2009 | N° 16089
MARTHA MEDEIROS


Dinheiro, vaidade e vazio

Às vezes, um pensamento se instala dentro de nós motivado pelos acontecimentos mais incongruentes. Primeiro, teve a repercussão da crônica de quarta passada, sobre a barriguinha da modelo Lizzie Muller.

A maior parte dos e-mails que recebi era de homens jurando que valorizam suas mulheres do jeito que são e que buscar um corpo perfeito é paranoia nossa, e eu acredito neles, então por que sucumbimos a um padrão irreal e fazemos loucuras para atingi-lo?

Semana passada, também soube que numa reunião de condomínio foi aprovado um orçamento de R$ 87 mil para decorar o hall e o salão de festas de um prédio. O bom gosto e o conforto de um ambiente coletivo e pouco utilizado precisa passar por uma conta abusiva?

Vou seguir tergiversando. Estive no Uruguai no último feriado e fiz um programa que nunca faço: fui ao cassino. Não me atraem os jogos de azar, mas minha filha, 18 anos recém feitos, ficou curiosa em conhecer o ambiente e topei, até porque recentemente nos divertimos vendo o ótimo filme Se Beber, Não Case, que se passa em Las Vegas. Então, lá fomos nós perder uns trocos de livre e espontânea vontade.

Mas enquanto a gente brincava de jogar, com dinheiro contado para a experiência, havia à nossa volta gente apostando alto, largando dezenas de notas de US$ 100 sobre a mesa da roleta como se aquilo não valesse nada. Perdiam, jogavam mais, perdiam mais, e não eram viciados, que vício é doença e respeito. Eram mulheres e homens gastando simplesmente porque tinham grana sobrando.

É o mesmo impulso de quem compra uma bolsa de R$ 10 mil: compro porque posso, porque quero, porque faço com meu dinheiro o que bem entender. Mas uma bolsa de menos dígitos não surtiria o mesmo efeito? A pergunta que engloba todas até agora aqui feitas: por que tanta gente está precisando de tanto?

Perfeição, beleza, luxo. Eu não seria louca de desprezar a vaidade humana. Encaro essas buscas como algo legítimo, natural e saudável – até certo ponto. Mas qual o ponto certo?

O meu limite é diferente do limite de quem se contenta com artigos de camelô, e também diferente do limite de quem só exige do bom e do melhor, sem concessões. Ou seja, “até certo ponto” é uma total abstração. Pessoas estabelecem a própria média de acordo com seu bolso e suas carências.

Sendo assim, uma medida genérica poderia ser a do vazio existencial de cada um. Será que estamos gastando em cirurgias estéticas desnecessárias, em grifes de preço imoral e em hábitos quase cafonas de tão ostensivos por um prazer pessoal genuíno, ou apenas para nos compensar?

É fato: quanto mais sem sentido está a nossa vida, mais ficamos tentados a consumir. Quanto menos admiramos a nós mesmos, mais necessitamos da aprovação alheia.

Quanto mais equivocado foi o caminho que escolhemos, mais tentamos dar a ele algum significado fictício. Quanto menos sabemos lidar com nossa solidão, mais precisamos atrair holofotes.

Passei essa semana tergiversando, como se pode notar, tudo para concluir o óbvio. Temos gastado muito e nos dado pouco valor.

Uma ótima quarta-feira para todos nós. Aproveite o dia.

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