sábado, 11 de julho de 2009



11 de julho de 2009
N° 16027 - NILSON SOUZA


Ofícios do passado

Encontrei dia desses na minha caixa postal eletrônica uma seleção de imagens de profissões extintas, ou quase, pela modernidade e pela tecnologia.

São pinturas belíssimas, que retratam ofícios do passado e todo o cenário de nostalgia onde eles eram exercidos por homens e mulheres que habitaram o pretérito perfeito da minha infância. Reconheci-os imediatamente.

Lá estava o marceneiro alisando carinhosamente um pedaço de madeira com a sua lixa fina, como tantas vezes vi meu saudoso tio Luizinho fazer na sua oficina de trabalho, de onde saíam cadeiras e armários de acabamento perfeito.

Quando era menino, gostava de correr entre as tábuas empilhadas e de sentir o cheiro da serragem e do esmalte que caracterizavam diferentes etapas daquele artesanato.

Na tela seguinte, deparei com um ferreiro, segurando sobre o joelho a pata de um belo cavalo branco, para aplicar-lhe os cravos da ferradura nova. Também esta cena faz parte da minha memória infantil, com cheiro e tudo.

Lembro-me muito bem do ferro incandescente arrancando fumaça do casco do animal, na moldagem do local exato onde a meia-lua de aço seria pregada. Era uma operação um tanto selvagem, que me fazia admirar a coragem e a força do ferrador, ao mesmo tempo em que me despertava compaixão pelo animal.

O sapateiro à moda antiga foi outro que me fez recuar no tempo para observar, em respeitoso silêncio, aquele homem recendendo à cola, que transformava pedaços de couro bruto em solados e saltos.

O que me impressionava naquele artífice compenetrado na sua tarefa solitária era a habilidade para pregar tachinhas sem martelar os dedos, até que a ponta da minúscula cunha entortasse no pé de ferro.

Um afiador de facas deu som e luz às minhas lembranças. Esse homem, que ainda desfila pelas periferias das grandes cidades tocando o seu instrumento ancestral, atraía a atenção da criançada como um flautista de Hamelim.

Depois, instalava-se diante de um esmeril e fazia sair faíscas dos facões e machadinhas que lhe alcançavam as donas de casa. O afiador era uma espécie de gladiador da minha infância.

Outros personagens igualmente embaciados pelo tempo completam o mosaico de saudade: um tecelão, um tipógrafo, um sineiro, um queijeiro, uma costureira, uma rendeira, todos com seus instrumentos antigos. É curioso pensar que o mundo que conhecemos hoje, incluindo este computador capaz de ligar passado e futuro, foi lapidado pelas mãos desses trabalhadores.

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