quarta-feira, 17 de junho de 2009



17 de junho de 2009
N° 16003 - MARTHA MEDEIROS


Minhas filhas com Madonna

Deixei minhas duas filhas na porta do hotel para passarem a tarde com a Madonna, como se Madonna fosse uma espécie de ex-marido que tivesse o direito à guarda compartilhada. No final da tarde, quando fui buscá-las, veio a notícia: Madonna não as devolveria nem naquele horário, nem no dia seguinte, nem nunca. Adotaria as crianças. Adotaria as minhas crianças.

Meu coração veio até a boca, eu sentia meu rosto pegando fogo. O que aquela loira mequetrefe estava pensando que era? Que bastava chegar aqui no Brasil, fazer uni-duni-tê e levar pra casa uns brinquedinhos?

Ela já tinha seu menino Jesus, sua Lola, seu Rocco, seu filhinho africano, que ideia era essa agora de capturar duas adolescentes gaúchas com endereço fixo e família constituída?

Armei um escândalo. Chamei os colegas aqui do jornal, exigi a presença de um juiz, de um promotor, de um delegado, de um psiquiatra e de um atirador de elite. Me avisaram que o William Bonner já estava a caminho e que faria entradas ao vivo no Jornal Nacional. O hotel estava cercado.

Eu passava torpedos alucinados pro celular da minha filha maior, pedindo que ela tivesse calma e que cuidasse de sua irmã mais nova, que a situação era absurda mas que eu duvidava que Madonna fizesse algum mal a elas. Aliás, estranhava a cantora não ter confiscado o aparelho.

Será que minhas duas meninas haviam sido trancafiadas num cubículo, sozinhas, apavoradas? Será que estavam sendo obrigadas a ouvir Give it 2 Me sem parar? Chamei também um representante dos Direitos Humanos: tortura, não.

Eu bufava. Maldita hora em que aquele juiz não permitiu que a cantora adotasse a pequena órfã de Malaui, a essa hora estaríamos todos em casa, tomando uma sopa quente e se preparando para ir pra cama, mas não, o juiz achou que a menina estava sendo bem tratada no orfanato e não permitiu que ela partisse com qualquer uma para Nova York, e agora eu é que tenho que arcar com os caprichos dessa desvairada.

A madrugada avançava e eu perdi o contato com minhas filhas. Todos me diziam: pode desistir, ela levará as gurias com ela. Foi então que tive uma violenta arritmia cardíaca e acordei.

Eu não arrisco afirmar qual é a coisa mais chata do mundo, porque a lista é grande, mas ouvir o sonho de alguém está certamente entre os top-ten. A pessoa pode ter sonhado algo muito engraçado, doido ou significativo, mas para o ouvinte será sempre um suplício.

Freud não devia estar batendo bem quando inventou de estimular a interpretação dos sonhos, só podia estar de provocação com os colegas. Não condeno aquela cochiladinha que todo psicanalista dá durante as consultas.

Sonho é uma ficção fajuta, é uma história em cima do muro, não aconteceu e ao mesmo tempo tem um componente de realidade: aconteceu, sim, só que dentro de uma cabeça, esse território obscuro. É um roteiro sem começo nem fim, mal dirigido e sem nenhum interesse para o interlocutor que está ali, coitado, ouvindo tudo há 15 minutos. Se você faz questão de divulgar as criações absurdas do seu inconsciente, conte apenas o trailer.

Esta semana soube que Madonna finalmente teve autorização para adotar a pequena Mercy James, também de Malaui. Acho que agora posso dormir sossegada.

Tenhamos todos uma ótima quarta-feira - Aproveite o dia minha amiga.

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