terça-feira, 16 de junho de 2009



16 de junho de 2009
N° 16002 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


A mulher mais bela

Era um esplendor. Uso esta palavra por não conhecer outra para melhor descrevê-la.

Já descobriram que falo de uma mulher. O que não sabem ainda é que caminhava em minha direção pela Rua Duque e que se deteve diante de mim.

Será que eu podia fazer o favor de indicar-lhe onde ficava a sede do Tribunal de Justiça? Eu sabia, mas por cinco ou dez segundos a contemplei.

Era alta, tinha os cabelos dispostos num corte Chanel, seus traços não poderiam ser mais perfeitos e ela trajava roupas deliciosamente outonais. Tinha uma simplicidade elegantemente sensual de gestos. A voz era levissimamente rouca, como mandava o ar frio da manhã. E de todo o seu corpo exalava um perfume como só na França sabem decantar.

– A sede do Tribunal de Justiça? – perguntei, porque aquilo me dava uns instantes a mais para observá-la.

Gostaria que tivesse me pedido o segredo da origem do universo, o mistério do pulsar das estrelas, a explicação do enigma da vida, pois assim eu poderia distraí-la com minhas palavras e desfrutar por mais tempo de sua brevíssima companhia.

Não havia nesta cidade de Porto Alegre mulher mais bela e no entanto eu não podia retê-la.

Esclareci com palavras banais a exata direção do Tribunal de Justiça, ela me agradeceu com uma rápida inclinação de sua cabeça magnífica e retomou seu caminho.

Eu a vi afastar-se no rumo indicado como quem se separa de um milagre de encantamento e desejo. Eu a perdi como quem se distancia de um prodígio de lindeza para o nunca mais.

Essa mulher não é para mim – argumentei comigo mesmo. Essa mulher é um sonho que se move pelas ruas de minha cidade – tentei convencer-me.

Essa mulher é feita para um potentado, um filme de que só haja uma cópia, uma peça de teatro que seja a sua própria apoteose.

Jamais tornei a vê-la. Mas por vezes, nas noites quietas, suspeito que aqui vive a mulher mais formosa do mundo.

Uma ótima terça-feira,especial para você.

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