sábado, 7 de fevereiro de 2009



07 de fevereiro de 2009
N° 15872 - NILSON SOUZA


Viagem com rumo

Recebo da professora Esther Grossi mais um folder do seu Geempa, ONG que se dedica a formar alfabetizadores capazes de alcançar 100% de sucesso no ensino da leitura e da escrita, mesmo com turmas de classes populares. Parece milagre, neste país de iletrados.

E não deixa de ser: o milagre da boa formação profissional, o milagre da aquisição do conhecimento, o milagre do uso de teorias comprovadamente eficientes. Acima de tudo, o milagre do esforço e da humildade de professores que concordam em rever seus conceitos para se tornarem mais aptos.

Tem um barco na capa do impresso promocional, um desenho do artista ensandecido Artur Bispo do Rosário – ele mesmo um exemplo da principal tese do Geempa de que “todos podem aprender”.

Mas é o Grande Veleiro que serve de inspiração para a imagem gerada pela cabeça colorida de Esther quando compara: “A única possibilidade de um barco a vela mover-se é a presença do vento, assim como a única possibilidade de a escola ensinar a todos é uma ação docente eficaz”.

Parece um trabalho de Sísifo, empurrar ladeira acima décadas de equívocos de um ensino dissociado da realidade, que foi se tornando cada vez mais distante do interesse das crianças. Mas tenho sido testemunha do empenho dos pupilos da professora Esther na busca de estratégias que realmente proporcionem às crianças o direito de aprender.

É comovente ler o resultado desta ação educadora ousada, em textos-hipótese como este: “Era uma vez um colegio lindo como uma flor que tinha uma professora chamada Eliza ela incinava a ler e escrever...”.

O barco do aprendizado precisa enfrentar correntezas para que os tripulantes aprendam a construir o próprio conhecimento, para que descubram a melhor rota, para que saibam aproveitar o vento favorável.

Não é a professora Eliza quem “incina” a ler e escrever, como imagina o pequeno escriba. Ela só facilita as descobertas por parte de quem tem potencial para aprender.

E todos têm algum potencial. No momento em que se pretende qualificar a educação no Estado, a experiência do Geempa merece ser considerada. No mínimo, para que os professores que realmente amam a profissão possam receber de seus alunos compensações como esta frase final de um texto estreante: “Um bejo e um abaso!”.

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